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2023: o ano em que me tornei bolsista da FAPESP

Atualizado: 7 de nov.


Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi… e consegui me tornar uma bolsista da FAPESP!

 Ilustração: Natasha T. Hoff


Para quem não conhece, a FAPESP é a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, uma das principais agências de fomento à pesquisa científica e tecnológica do país. Apesar de estar ligada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, sua autonomia é garantida por lei. A FAPESP possui um orçamento anual que corresponde a 1% do total da receita tributária do estado de São Paulo, apoiando e financiando a pesquisa, o intercâmbio e a divulgação da ciência e da tecnologia produzida no estado. 


Desde quando entrei na graduação, em fevereiro de 2008 (sim, faz um tempinho!), ouvia falar sobre as famosas bolsas da FAPESP, que, desde sempre, eram consideradas uma remuneração mais adequada aos pesquisadores, mas muuuuito difícil de conseguir. Ou seja, a impressão que tínhamos era que, se piscássemos torto, isso já seria motivo para não termos uma bolsa aprovada por esta famosa agência de fomento… 


Logo no meu primeiro ano de graduação, não gostava do modo desrespeitoso como uma determinada professora agia e isso ficava bem claro na hora de estudar ou fazer quaisquer atividades da disciplina, e acabei sendo reprovada. Pronto: nunca vou conseguir uma bolsa da FAPESP! Na minha cabeça de pessoa ansiosa, a partir deste momento, basicamente, ter um projeto aprovado pela FAPESP era simplesmente algo inatingível. 


Foram cinco anos de graduação (com uma reprovação), dois anos e meio de mestrado e quase seis de doutorado (Longo? Pois é! Mais um motivo para não conseguir bolsa… Culpa da COVID também, mas, dos males, o menor: eu e minha família estivemos seguros no período crítico da pandemia!). Quando estava finalizando o doutorado, nem pensei em submeter um projeto para a FAPESP, mas tive um projeto aprovado em um edital de Pós-Doutorado Júnior do CNPq! Dentre os cinco aprovados na nossa área, eu era a única pessoa que não havia feito nenhum Pós-Doutorado (Pós-Doc, para os mais íntimos) antes, a única recém-saída da Pós-Graduação. Seria esse um primeiro sinal? 


Só que a bolsa de Pós-Doc do CNPq dura apenas um ano! Um mísero ano… é tanto trabalho para escrever, submeter, esperar aprovação, enviar mais documentos (se quiser saber mais sobre a vida de Pós-Doc, clique aqui)… E um ano passa voando! E precisamos já pensar em pedido de prorrogação, escrever outro projeto - sufoco novamente! Consegui dois meses de prorrogação: mais um respiro! E depois? Depois, a minha vida teve uma reviravolta e alguns problemas familiares me desestabilizaram de uma tal forma no segundo semestre de 2022, que 2023 foi um ano de reconstrução, para juntar os caquinhos que me formam e voltar a seguir… para qualquer rumo que fosse!


Apesar de o primeiro projeto não ter dado muito certo (dizem que, apesar da frustração, o não-resultado também é um resultado), consegui desenvolver, além de atividades de extensão e ensino, outras atividades nessa mesma linha de pesquisa e um treinamento, que me renderam novas ideias! Demorei sete longos meses entre juntar cacos e finalizar o novo projeto! Perdi o prazo de dois editais por conta disso, estava sem bolsa há nove meses… Minha única opção naquele momento? Tentar submeter o novo projeto para a FAPESP. Eu não achava que ele fosse bom o suficiente para a FAPESP. E quando seria? Feito! Submetido! Foram três meses até receber uma resposta. Ansiedade lá em cima, saldo bancário lá embaixo, e pensando “ninguém é aprovado de primeira, será que até 2024 sai?” Desespero… 


Até que no dia 06 de outubro, eu estava no aeroporto, correndo de um terminal para o outro, sozinha, indo para um congresso científico no Chile, cujos custos foram financiados coletivamente (Obrigada, amigos!), e recebi um e-mail com o título “Divulgação de resultado de despacho”. Por que fazer isso com o coração da ansiosa? Aprovada? De primeira? Sem eu precisar chorar? Eu não acreditava… Chorei sozinha num corredor… Chorei quando liguei para a minha irmã… Chorei em um misto de emoções: alegria, alívio, incredulidade… Depois de 13 anos achando que eu não era boa suficiente, me tornei bolsista de Pós-Doc da FAPESP!


Mas esse texto não é apenas para dizer o quão aliviada eu poderei respirar ao longo dos próximos dois anos e o quanto foi difícil tomar coragem e me submeter ao julgo da FAPESP… Chamou minha atenção que os dois assessores evidenciaram minha participação em atividades de extensão, como é o caso da minha atuação como editora voluntária no Bate-Papo com Netuno:


“As diferentes atividades de extensão que participa revela um trabalho bastante interessante e necessário junto à população.”


“A candidata tem uma ótima experiência embarcada e foi bastante ativa em atividades de extensão.”


Legal, não? Talvez, isso represente uma mudança, ou o início de uma mudança… o início de uma maior valorização das atividades voltadas à transmissão do conhecimento para a população e não apenas da superprodução de artigos científicos. Quem sabe!


Assim, finalizo meu post agradecendo ao Bate-Papo com Netuno pela oportunidade de crescimento e aprendizado, e a todos que me ajudaram e incentivaram a tentar e não desistir de um sonho (inclusive àqueles que colaboraram com o financiamento coletivo para que pudesse participar do congresso no Chile)! Sigo em 2024 me reconstruindo financeiramente e mentalmente, ainda juntando alguns caquinhos, mas uma coisa é certa: eu fui capaz de me tornar uma bolsista da FAPESP! 


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Sobre a autora


Natasha T. Hofff é oceanógrafa, mestre e doutora em Oceanografia, na área de concentração Oceanografia Biológica, pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP), com período sanduíche em Portugal, no CIIMAR (Universidade do Porto). Atualmente, é pesquisadora de Pós-Doutorado no IOUSP. A Oceanografia entrou em sua vida muito cedo, quando tinha apenas 12 anos. Desde então, sua curiosidade a leva para novos e diferentes caminhos a cada nova empreitada. Acredita que o diferencial da Oceanografia é justamente a multidisciplinaridade. Assim, tem experiência com análises climatológicas, química inorgânica de sedimentos, unidades de conservação, integridade biótica da ictiofauna, estoques pesqueiros, análises morfométricas, otólitos e, desde 2021, entrou no mundo da paleoecologia. Ama sua família acima de tudo e a música em todas as suas formas. Sendo oceanógrafa, é apaixonada pelo mar: desfruta, aprende e respeita! Sempre gostou de escrever e já adorava preparar posts para o Bate-Papo com Netuno antes mesmo de compor a equipe de editoras!




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