Por Bruna Sanches e Jéssica Bonfim
Apesar das mudanças climáticas parecerem algo muito distante e que, no fundo, preferimos acreditar que isso nunca irá nos afetar, ela está acontecendo há algum tempo e já faz parte da nossa realidade. Se não dermos a devida atenção a este problema, iremos sofrer cada vez mais as suas consequências.
Você pode estar se perguntando, mas como as minhas atitudes podem causar impacto no planeta?”. Uma das respostas está mais próxima do que imaginávamos: o plástico!
A poluição por plástico e os impactos das mudanças climáticas são dois temas que saem cada vez mais do ambiente acadêmico e se tornam presentes na mídia e em rodas de conversas do dia a dia. Porém, eles são normalmente tratados como problemas distintos, inclusive são poucos os estudos que trazem uma conexão entre os dois. Esses dois temas estão fundamentalmente ligados de três maneiras: 1) a produção de plástico depende fortemente da extração de combustíveis fósseis e do consumo de recursos finitos, diretamente relacionados com as emissões globais de gases de efeito estufa; 2) o clima influencia na distribuição da poluição por plásticos, que se espalha ainda mais com o aumento de eventos climáticos extremos e inundações; 3) o aquecimento global por si só é capaz de causar diversos impactos no ambiente (como aumento do nível do mar e derretimento das calotas polares), mas quando somado à poluição por plásticos, os efeitos sobre os organismos e ecossistemas marinhos podem ser catastróficos.
Fonte: traduzido de Ford et al. (2022), com licença CC BY 4.0.
Um exemplo de como plásticos e aquecimento global estão conectados: em 2015, a produção de plástico emitiu mais de um bilhão de toneladas métricas de dióxido de carbono (CO2). Isso representa mais de 3% das emissões globais de CO2 oriundas da queima de combustíveis fósseis. Em comparação, seria o equivalente a encher quase 200 trilhões de balões de aniversário apenas com CO2.
Então, a solução seria substituirmos todo plástico de origem de combustíveis fósseis pelos feitos à base de biomassa?! Na prática, não é algo tão simples assim! Como esse material alternativo é derivado de biomassa, é preciso terra para cultivar e crescer as matérias-primas necessárias para a fabricação. Para substituir a demanda de plásticos usados globalmente, seriam necessários 61 milhões de hectares para o plantio de matérias-primas de plástico à base de biomassa, uma área maior que a da França. Sem contar o impacto à biodiversidade com o uso dessa terra para plantações em tamanha escala.
Além disso, os plásticos à base de biomassa não são necessariamente biodegradáveis; alguns são, mas outros apenas se degradam em condições industriais específicas ou, ainda, nem se degradam pois são feitos do mesmo polímero oriundo do petróleo (mas aqui com origem vegetal). Embora os plásticos biodegradáveis possam mitigar problemas relacionados à persistência no ambiente por meio da biodegradação, este processo deve ocorrer em condições controladas em um ambiente de compostagem para poder colher os benefícios do composto produzido.
Esse é apenas um dos exemplos dos inúmeros estressores ambientais antrópicos, que, somados aos efeitos físicos das mudanças climáticas, podem intensificar ainda mais seus impactos, como o aquecimento global, aumento do nível do mar, aumento da ocorrência e intensidade de eventos climáticos extremos, derretimento de geleiras, entre tantos outros. Por isso, é importante estarmos cientes do nosso papel como indivíduo e sociedade, e sempre buscarmos informações confiáveis e atuais sobre o nosso planeta, que, afinal, é o nosso único lar!
Pequenas mudanças no nosso dia a dia podem fazer a diferença, como a troca de plásticos de uso único ou limitado (como garrafas e garfos de plástico) para itens possíveis de serem utilizados diversas vezes como garrafas de vidro ou metal, utensílios de metal e até produtos menstruais reutilizáveis que estão disponíveis no mercado. Além de ser uma forma de economizar dinheiro, você ajuda o planeta evitando a produção e descarte excessivo de plástico no ambiente.
Em 2019, houve um grande destaque na mídia para a implementação de leis em diversos estados do Brasil proibindo o fornecimento de canudos de plástico em estabelecimentos comerciais, sendo o objetivo desses projetos de lei contribuir na luta para diminuir a quantidade de plástico descartada no ambiente. Apesar dos canudos terem sido o centro dessa luta, plásticos feitos de polipropileno (incluindo os canudos) representam apenas 4% do plástico produzido no mundo, então por que esse foco apenas no canudo se há tantos outros itens feitos desse material? Eles são exemplos de como as pessoas podem, de alguma forma, participar dessa luta contra a poluição com escolhas simples do dia a dia. Afinal de contas, é necessário começar de algum jeito.
Ademais dessas ações individuais, já existem ações criadas por grandes instituições como governos, empresas e ONGs sendo implementadas por todo o planeta para também diminuir o impacto dos plásticos no oceano, como:
Eco Barreiras: estruturas flutuantes cujo objetivo é segurar itens próximos da superfície, dentre eles o plástico devido ao seu peso. Podemos encontrar esse método inclusive no Brasil, por exemplo, em um rio que passa por Porto Alegre – RS e outras cinco cidades importantes economicamente que, no ano em que foi implementada, em 2016, retirou 500 toneladas de plástico do canal;
Foto do Projeto Eco Barreiras, com licença CC BY-SA 4.0.
Projeto Ecoboat/Renove: desenvolvido no Rio de Janeiro, o barco já coletou 40 mil toneladas de resíduos sólidos da superfície do mar, sendo esse lixo trazido para o continente para ser triado e reciclado, dando um final adequado para os materiais;
Seabin Project: criado por dois surfistas na Austrália, o equipamento consiste numa “lixeira” flutuante de baixa manutenção que, desde sua implementação, já capturou 4 mil toneladas de resíduos do oceano, sendo esse material coletado passível de ser utilizado para a fabricação de novos Seabins, criando um efeito dominó de reciclagem.
É lógico que há também iniciativas que vão além de retirar o lixo que já chegou no oceano e que todo mundo pode ajudar. Podemos cobrar por políticas públicas, como por exemplo o Projeto de Lei Pare o Tsunami de Plástico, adquirir produtos de projetos inovadores, como os da Marulho, que além de retirar as redes fantasma das praias, atua diretamente com comunidades locais, e sempre repensar o próprio consumo: Meu shampoo não pode ser em barra para evitar o descarte de mais uma embalagem? Minha bucha para lavar louça não pode ser vegetal? E se eu testar utilizar calcinhas absorventes ou copinhos ao invés de usar um monte de absorvente todo mês? Essas são apenas algumas entre tantas outras mudanças que podemos realizar no nosso dia a dia.
Todas essas ações são exemplos de atitudes que podem e estão sendo tomadas por diferentes atores da sociedade para manter o planeta habitável para nós e os demais seres vivos que nele vivem. Então, trago a pergunta para você, leitor, quais ações estão sendo feitas por instituições públicas ou governantes na sua cidade? E o que você pode fazer para ajudar com os problemas das mudanças climáticas?
Referências
BBC News Brasil. Mundo declara guerra ao canudo plástico, vilão do meio ambiente. [S. l.], 8 jun. 2018. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-44419803. Acesso em: 20 jun. 2024.
Beegreen. Conheça algumas soluções inovadoras para retirar lixo dos oceanos. Meio Ambiente Notícias, 12 dez. 2019. Disponível em: https://beegreen.eco.br/solucoes-para-retirar-lixo-dos-oceanos/. Acesso em: 20 jun. 2024.
Helen V. Ford, Nia H. Jones, Andrew J. Davies, Brendan J. Godley, Jenna R. Jambeck, Imogen E. Napper, Coleen C. Suckling, Gareth J. Williams, Lucy C. Woodall, Heather J. Koldewey, The fundamental links between climate change and marine plastic pollution, Science of The Total Environment, Volume 806, Part 1, 2022, 150392, ISSN 0048-9697, https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2021.150392.
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Sobre as autores
Bruna Sanches é formada em Oceanografia pelo Instituto Oceanográfico da USP, onde trabalhou com poluição marinha por metais em organismos e sedimentos ao longo do litoral do Brasil, além de questões relacionadas à segurança alimentar e bioacumulação. No mestrado, continuará o trabalho analisando metais em organismos marinhos da Antártica.
Jéssica Bonfim é Oceanógrafa pelo Instituto Oceanográfico da USP. Durante a graduação trabalhou com poluição por metais em sedimentos, e o uso de radioisótopos para análise de taxas de sedimentação e geocronologia. Atualmente, é mestranda em Geofísica pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, onde trabalha com o mapeamento de uma geleira na Antártica a partir de dados de anomalia de gravidade.
Bruna e Jéssica elaboraram este texto como projeto da disciplina “Oceano e Criosfera em um clima em mudança”, ministrada pela Prof.ᵃ Dr.ᵃ Renata Nagai e o Prof. Dr. César Barbedo Rocha, do curso de Bacharelado em Oceanografia do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo.
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