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Em mares revoltos

Atualizado: 24 de jun. de 2020

Desafios, soluções e oportunidades frente à pandemia, na perspectiva de jovens pesquisadores em ciências marinhas


Por: Luciana Shigihara Lima e colaboradores*

A pandemia de Covid-19 impôs uma nova realidade social e acadêmica aos pesquisadores em todo o mundo. O campo da ciência marinha foi impactado de várias maneiras, desde o cancelamento de atividades de laboratório e de campo em terra ou no mar. Muitos jovens pesquisadores, vinculados a programas de pós-graduação, estão enfrentando problemas relacionados à carreira acadêmica, além de impactos psicológicos negativos decorrentes do cenário nacional e global. Diante da conjuntura atual, publicamos recentemente um artigo científico na revista Frontiers in Marine Science, onde reunimos informações sobre os desafios, soluções e oportunidades para pesquisadores de pós-graduação no nosso campo de atuação, e discutimos os desafios relevantes de curto e longo prazo causados ​pela pandemia. Nele falamos, por exemplo, sobre como a interrupção abrupta de atividades presenciais nos centros universitários e eventos científicos tem afetado a vida acadêmica dos cientistas, principalmente em início de carreira, na área das ciências do mar.


Este novo cenário apresenta desafios em diferentes níveis: seja pela readaptação da dinâmica pessoal ou familiar, seja pelo redimensionamento de projetos e pesquisas. O trabalho em laboratório e as coletas de campo ficaram limitados, gerando eventuais atrasos com impactos diretos na experimentação e na aquisição de resultados. As soluções oferecidas por universidades e fundações de pesquisa variam, sendo que as melhores envolvem extensões de projeto e salário. Um outro contratempo foi o replanejamento de projetos de pesquisa em que atividades de campo foram congeladas, ou, até mesmo, excluídas do plano de trabalho, dada a dificuldade e incerteza associada ao período de isolamento social.


Dentre as soluções e ações imediatas para dar continuidade às atividades acadêmicas, o suporte on-line, por meio de encontros de trabalho e conferências, tem sido amplamente utilizado desde o início do isolamento. Ferramentas on-line, tanto de comunicação como de gerenciamento de projetos, têm diminuído distâncias e possibilitado o trabalho de forma remota. O aumento das ofertas de cursos de forma remota tem permitido a continuidade de estudos e especializações neste período. A combinação do uso dessas ferramentas pode possibilitar o aumento da produtividade e permitir a continuidade de projetos; inclusive, podem seguir sendo utilizadas no período pós- pandemia, tornando a pesquisa mais aberta e inclusiva. Contudo, as soluções mencionadas acima implicam que o acesso à internet seja universal, o que não é usual em diversas partes do mundo.


A vida pessoal também pode afetar a produtividade acadêmica. A dinâmica familiar foi afetada quando crianças em idade escolar tiveram de se adaptar ao sistema de ensino em casa, e a divisão (ou falta de divisão) de tarefas domésticas pode afetar desproporcionalmente as mulheres, e assim aumentar ainda mais a desigualdade de gênero na ciência. Outro fator a se considerar é a estrutura psicológica de cada um diante da pandemia, e a consequente perda de motivação. Os distúrbios de saúde mental podem aumentar entre a comunidade estudantil durante esse período, agravando algo que já era problemático (veja as referências deixadas abaixo para mais informações sobre o assunto). Felizmente, têm sido disponibilizados, por algumas instituições, recursos gratuitos de aconselhamento on-line para enfrentar este cenário. Tempos incertos como este afetam cada um de maneira única e é complicado medir e considerar cada caso individualmente. Uma interferência inesperada durante a pesquisa pode resultar em impactos negativos ao longo da carreira, independentemente do tópico da pesquisa.


Quadro com um resumo dos desafios, soluções e oportunidades para pós-graduandos nas ciências do mar (Traduzido de Pardo et al., 2020, licença CC BY SA 4.0).


O trabalho “Advancing Through the Pandemic From the Perspective of Marine Graduate Researchers: Challenges, Solutions, and Opportunities” (autores: Juan C. F. Pardo, Debra Ramon, Gabriel Stefanelli-Silva, Isa Elegbede, Luciana S. Lima and Silas C. Principe) recém-publicado na revista científica Frontiers in Marine Science discute esse tema e pode ser acessado aqui. Nele compilamos algumas oportunidades na área marinha (cursos, eventos científicos, cargos acadêmicos) para nos aproximarmos, mesmo que de maneira remota, e para apresentar plataformas que podem auxiliar no desenvolvimento e na divulgação da ciência. As ações colaborativas que possibilitam o enfrentamento conjunto podem, assim, minimizar as consequências dos problemas enfrentados.


Como contribuição deste trabalho, lançamos uma conta no Twitter (Marine Graduate Opportunities - @mar_opps) para servir como um repositório de oportunidades em ciências do mar. Gostaríamos de convidá-los também a postar e compartilhar oportunidades nas mídias sociais com a hashtag #marineopps, e assim serão publicadas também em nossa conta. Apesar de ser uma pequena contribuição, esperamos que isso aumente os esforços para avançar na carreira acadêmica de graduados de ciências marinhas durante esse período. Acreditamos que, se trabalharmos juntos, podemos crescer apesar desse grande desafio.

 

Para saber mais:

Andrews, E. J., Harper, S., Cashion, T., Palacios-Abrantes, J., Blythe, J., Daly, J., et al. (2020). Supporting early career researchers: insights from interdisciplinary marine scientists. ICES J. Mar. Sci. 77, 476–485. doi: 10.1093/icesjms/fsz247


Levecque, K., Anseel, F., De Beuckelaer, A., Van der Heyden, J., and Gisle, L. (2017). Work organization and mental health problems in PhD students. Res. Policy 46, 868–879. doi: 10.1016/j.respol.2017.02.008


Zhai, Y., and Du, X. (2020). Addressing collegiate mental health amid COVID-19 pandemic. Psychiatry Res. 2020:113003. doi: 10.1016/j.psychres.2020.113003

 

Sobre a autora:

Sou Mestre (2019) e doutoranda em Sensoriamento Remoto, técnica em Hidrologia (2009) e Engenheira Hídrica (2016). Atualmente estou vinculada ao Laboratório de Estudos do Oceano e da Atmosfera (LOA), no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Busco estar sempre alerta às oportunidades que me forneçam novas experiências e desafios. Movida pelos porquês, amo estar com os pés na água - doce ou salgada (literalmente), e as mãos no livro!


 

*Esse post contou com o apoio e a revisão dos demais autores do trabalho publicado: Juan Carlos Farias Pardo, Gabriel Stefanelli-Silva e Silas Candido Principe.

 


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