Por Débora Camacho Luz e Malu Abieri
Ilustração de Maria Luiza Abieri
Então é Natal e uma “tsunami de plástico” vem aí, é o que apontou a ONU em 2018¹, e apesar de não termos dados específicos para o Brasil, é o que podemos esperar nas festas de final de ano. Desde a embalagem da lembrancinha do amigo oculto, até aos enfeites de natal, passando pela ceia, tudo aponta que o consumo e descarte de resíduos nessa época do ano tende a aumentar. Segundo a Associação Brasileira de Supermercados, um dos setores que mais consome plástico no Brasil², em 2021, o aumento no consumo das famílias brasileiras no mês de dezembro foi de 20%.
Uma coisa é certa, reduzir o consumo é a forma mais eficaz de evitar que toneladas de resíduos plásticos parem no oceano e consumir conscientemente reduz o desperdício. No entanto, conscientizar 8 bilhões de pessoas, com diferentes culturas e em diferentes lugares do planeta não é uma tarefa simples, há toda uma estrutura econômica e cultural a ser modificada. É necessário, portanto, que movimentos sejam realizados em termos de regulamentações e acordos internacionais. O Tratado Global Contra a Poluição Plástica, por exemplo, que foi nosso tema no mês de junho, tem como objetivo transformar a economia global do plástico em um período bastante rápido. Além disso, no Brasil, um projeto de lei (PL 2524/2022) está em votação para regulamentar a Economia Circular do Plástico³.
Estas regulamentações, por mais ambiciosas que sejam, no entanto, levarão certo tempo até mostrarem resultados efetivos. Segundo a Natalia Grilli, membro da Liga das Mulheres pelo Oceano e que esteve acompanhando as negociações do Tratado Global desde o começo, um dos maiores desafios atualmente é justamente cumprir o prazo estipulado para finalização do tratado. Além disso, conflitos de interesse de diversos países podem tornar o tratado pouco eficiente na redução da produção de plástico, medida que daria um retorno mais rápido para a solução do problema. Esperar que apenas projetos de leis e regulamentações tratem somente do resíduos plástico, no entanto, não será viável.
Diante destes desafios e do eminente aumento no descarte de lixo plástico que se aproxima com as festas de final de ano, vale a reflexão: Será que é possível promover uma mudança positiva desde já? Eu pessoalmente acredito muito no trabalho de formiguinha e que as grandes mudanças começam em pequenas escalas. Então, diria que sim, que pequenas mudanças de hábitos iniciados no núcleo familiar, na roda de amigos ou na comunidade, tendem a tomar grandes proporções que geram também grandes impactos positivos. Diante disso listo abaixo algumas dicas para que façamos das festas de final de ano uma verdadeira celebração da vida:
Sabe aquela velha tradição, que é amada e odiada por muitos, e está sempre presente nas festas de final de ano da firma? Sim, ele mesmo, o Amigo Oculto! Que tal inovar na lembrancinha buscando marcas de impacto positivo, de trabalhos artesanais e feito por mulheres, com matéria prima sustentável? Um produtinho de beleza em barra e/ou zero plástico, uma ecobag estilosa, uma garrafinha reutilizável prática, por exemplo. Como consequência você ainda pode apresentar um produto legal e promover uma mudança de hábito de longo prazo de seu amigo, eu diria que isso seria o maior presente!
Ainda na onda dos presentes, vamos às crianças e seus olhinhos brilhando ao receber um pacote com um objeto ainda desconhecido dentro. Se por um lado essas datas são bastante criticadas por incentivar um consumismo insalubre nos pequenos, por outro, podemos resignificar e aproveitar a “magia” para promover a descoberta de novos mundos. Então que tal investir em presentes criativos, que promovam experiências sensoriais e convidem as crianças a interagir com a natureza, e claro, sem plástico?
Mas não é só de presentes que se vive as “tradições de final de ano”, reunir a família e os amigos numa mesa cheia de comidinhas gostosas é, para muitos, a parte mais prazerosa das festas. E é justamente na mesa que a geração de plástico está mais presente, em especial os maiores vilões, o plástico de uso único. Nesse sentido é essencial fugir dos copinhos, pratinhos e talheres descartáveis, e isso não for possível buscar aqueles feitos de papel (compostável), madeira ou bambu. Aliás, um kit festa reutilizável, com pratinho, copo, talheres e canudos parece uma ótima opção de presente. Não?
O exagero na quantidade de comida também é um problema comum, especialmente em nossa cultura, isso no entanto além de gerar o desperdício de alimento, também é uma fonte real na produção de plástico. Saber dosar as quantidades é essencial, mas além disso também vale evitar o consumo de processados e embalados e optar por alimentos naturais.
E os enfeites? Essa fonte de plástico quase passa despercebida! Mas a dica aqui é usar mesmo a criatividade, procurar enfeites reutilizáveis, de materiais naturais e feitos de forma artesanal é uma ótima alternativa para quem gosta de ter a casa decorada para receber o pessoal. Quem sabe não pode se tornar uma atividade pré festividades reunir a família para produzir os enfeites em casa?
Por último, uma dica para quem está buscando novas fontes de renda ou simplesmente quer ajudar a resolver questões como essa. Que tal olhar para tudo isso como oportunidade de criar produtos e oferecer serviços que tragam soluções a estes problemas e impactem positivamente na sociedade?
As dicas são simples e mostram que, de forma criativa e com muito cuidado, é possível mudar o hábitos e impactar nossa rede. De pouco em pouco podemos espalhar essas sementinhas e fazer muito. Então aproveitem suas festas sem plásticos e celebrem todas as formas de vida!
Esse post foi produzido por uma parceria entre: Liga das Mulheres pelo Oceano, Bate-papo com Netuno e Rede Ressoa Oceano.
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Autoras:
Débora Camacho Luz
Débora Camacho Luz é Bióloga, formada pela Universidade Federal de Rio Grande (FURG), membro da Liga das Mulheres Pelo Oceano e bolsista CNPq DTI na Rede Ressoa Oceano. A Ressoa Oceano é uma rede formada pela Liga das Mulheres Pelo Oceano, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da UNICAMP (LabJor), a Cátedra da Unesco pela Sustentabilidade do Oceano e a Ilha do Conhecimento. Essa rede tem como objetivo promover a ciência e a cultura oceânica para além do litoral e centros de pesquisa, conectando cientistas e jornalistas para a abordagem do tema nos meios de comunicação e investindo em projetos e iniciativas de comunicação sobre o oceano.
Maria Luiza Abieri
Maria Luiza Abieri é Bióloga e Mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente, atua como colaboradora do Bate-Papo com Netuno e bolsista CNPq na Rede Ressoa Oceano. A inserção do Bate-Papo com Netuno à Ressoa Oceano amplia ainda mais a rede, promovendo a divulgação científica e a visibilidade das ciências do mar e cultura oceânica através de informações científicas de qualidade, baseadas em uma linguagem acessível e lúdica.
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Referências | Para saber mais
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