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Festa das bruxas no oceano


E para entrar neste clima de Halloween, que tal falarmos de alguns monstrinhos do mundo submarino?!


O mundo submarino é composto por uma imensa diversidade de organismos, desde os mais minúsculos organismos do plâncton às enormes baleias azuis, dos mais fofos, como o polvo Dumbo, aos mais feios, como o blobfish (lembre dele em nosso post Quem estuda o feio, bonito lhe parece). E no mês de outubro, quando comemoramos o Halloween, no Brasil conhecido como o Dia das Bruxas, resolvemos fazer uma pequena lista dos bichos mais assustadores do fundo do mar. Aproveitem a leitura e se inspirem para, quem sabe no futuro, usar fantasias bem originais!

Fonte: Polvo Dumbo (esquerda) e Blobfish (direita).



Peixe Diabo Negro do Mar

Em 1995, saía na capa da revista Time o Peixe Diabo Negro do Mar, o espécime que se tornaria o símbolo do mar profundo. Este peixe é uma espécie abissal, conhecida pelo nome científico Melanocetus johnsonii pertencente a ordem dos Lophiiformes. Ocorrem em profundidades mesopelágicas em águas tropicais e temperadas em todo o mundo. Possuem uma espécie de “vara de pesca” que termina em uma bolha que emite uma luz como uma isca, atraindo as presas em direção aos seus temidos dentes afiados. Esta luminosidade é possível graças à simbiose com bactérias bioluminescentes. Machos e fêmeas são muito diferentes. As fêmeas podem medir até 20 cm de comprimento, com cabeça e boca bem grandes. Já os machos tem o corpo mais simples, são bem menores que as fêmeas (chegando a medir apenas 2,9 cm, pouco maior que uma moeda de 1 real) e são incapazes de sobreviver sozinhos, vivendo como parasitas nas fêmeas. Ao encontrar uma fêmea, o macho morde sua barriga e se funde ao seu corpo, recebendo dela nutrientes e suprimento de sangue e fornecendo uma fonte permanente de espermatozóides. Recentemente, pesquisadores do Instituto de Pesquisa do Aquário da Baía de Monterrey, na Califórnia, conseguiram filmar uma fêmea de 9 cm. As filmagens foram realizadas a 600 metros de profundidade no cânion submarino de Monterrey, na costa da Califórnia, sendo a primeira vez registrado em seu habitat natural.



Esse misterioso predador também já foi vilão no cinema. Se você já assistiu ao filme Procurando Nemo, vai se lembrar desse monstruoso peixe que Dory e Marlin encontram no fundo do mar. No filme, em meio a escuridão, eles são atraídos pela isca de luz do Diabo Negro do Mar, mas ao perceberem o monstro que estava por trás, nadam rapidamente para não serem capturados por esse feroz predador e, assim, continuarem as buscas por Nemo.


Lula vampira do inferno

A lula vampira do inferno (Vampyroteuthis infernalis), é o único representante vivo da Ordem Vampyromorphida, pertencentes ao grupo dos cefalópodes. São organismos pequenos, atingindo tamanho máximo de 28 cm. Ocorrem em grandes profundidades (normalmente entre 600 e 1200 m) em águas temperadas e tropicais dos Oceanos Pacífico, Atlântico e Índico. Nestas profundidades, a luz solar é fraca ou ausente, a quantidade de oxigênio é baixa e a temperatura varia entre 2° a 6°C. Apesar de possuírem uma taxa metabólica muito baixa e viverem sob concentrações de oxigênio também extremamente baixas, estes animais são capazes de se deslocarem com velocidades relativamente altas, utilizando principalmente suas aletas para se deslocarem, ao invés do jato propulsão, como outras lulas. Embora escassos, alguns estudos verificaram que estes animais se alimentam de copépodes, camarões e cnidários, mas a maior parte de sua energia é obtida por meio de detritos (partículas não-vivas que se originam nas camadas superiores do oceano e que precipitam em direção às camadas mais profundas). De acordo com a presença dos bicos da lula vampiro no estômago de alguns animais, foi observado que estes organismos são predados principalmente por pinípedes (focas, leões-marinhos, lobos-marinhos e morsas), baleias e peixes bentopelágicos. O nome lula vampiro do inferno foi dado devido a algumas características morfológicas como sua pele escura, a presença de uma membrana entre os tentáculos que dão a impressão de uma capa e os olhos vermelhos (dependendo da iluminação). Para o naturalista e explorador William Beebe (1926), a lula vampira do inferno é como “um polvo muito pequeno, mas terrível, preto como a noite, com mandíbulas brancas marfim e olhos vermelho sangue” ("a very small but terrible octopus, black as night, with ivory white jaws and blood red eyes"). Que medo! Mas de acordo com alguns estudos do comportamento, elas não passam de um animal dócil. Uma dica de leitura muito interessante, de autoria do filósofo Vilém Flusser e do biólogo/artista Louis Bec, é o livro chamado Vampyrotheuthis infernalis, uma mistura de filosofia/ciência/fábula que discute o quão distante estamos nós humanos dos animais.


Peixe-bruxa

O peixe-bruxa faz parte da Classe Myxini e, apesar de ser classificado por alguns pesquisadores como vertebrado, não possui nem vértebras nem ossos (Heimberg et al., 2010; Nelson et al., 2016). De acordo com Theodore Uyeno, da Universidade Estadual de Valdosta (Geórgia, EUA), a partir de um estudo que analisou o DNA desses organismos, o peixe-bruxa é considerado um vertebrado que perdeu as características do uso da coluna. No lugar da coluna ele possui uma corda de cartilagem (notocorda), que em nós, humanos, aparece apenas na fase embrionária. Pertencem a classe Myxini e são encontrados em águas frias em ambos os hemisférios.São criaturas primitivas, semelhantes às enguias, sem escamas, com corpo cilíndrico e alongado possuindo movimento parecido ao de uma cobra. Não possui mandíbula nem estômago. Possui vários corações e pelo menos duas vezes mais sangue em seus corpos do que outros peixes. Contam com quatro pares de tentáculos de detecção dispostos em torno de sua boca. A boca contém duas fileiras paralelas de dentes fortes e pontiagudos, que são presos a placas dentais ásperas. Apesar de possuírem apenas a arcada dentária superior, esses animais possuem uma mordida poderosa! Por meio de alguns estudos, pesquisadores sugeriram que esse peixe é capaz de morder, pois se enrola para formar nós, principalmente próximo da cabeça, que junto com a arcada superior prende e espreme o alimento. São quase cegos, com olhos rudimentares que são capazes de detectar a luz, mas têm sentidos bem desenvolvidos de toque e cheiro. Apelidados de “urubus marinhos”, passam a maior parte de suas vidas no fundo dos oceanos se alimentando de peixes mortos e moribundos, mas também atacam pequenos invertebrados, tendo como seu prato favorito carcaças de baleias. Além disso, foi observado que estes peixes ainda são capazes de absorver nutrientes pela pele. Uma característica notável desses animais é a capacidade de secretar uma espessa camada de muco sobre a pele que serve tanto como uma mecanismo de defesa como uma arma de caça. O vídeo abaixo mostra o momento que esses peixes encontram uma carcaça no fundo do mar. É quase que um ataque zumbi de tão voraz e por isso eles merecem estar em nossa lista.

Tubarão-duende

Se você já assistiu MIB: Homens de Preto, vai notar a grande semelhança desse animal aos alienígenas do filme. Esse é o Mitsukurina owstoni, também conhecido como tubarão-duende. Este peixe de águas profundas possui uma ampla distribuição, com registros no Oceano Pacífico, Atlântico e Índico. Sua aparência incomum tem como destaques seu focinho alongado e achatado, que se projeta no topo de sua cabeça, parecido com uma pá, e uma boca protuberante, com dentes longos e finos, capaz de se estender para frente sob o focinho ou se retrair para uma posição sob o olho. Acredita-se que o focinho plano tenha a função de detectar os sinais elétricos fracos emitidos pelas presas. Pode chegar até 3,9 m de comprimento. De acordo com análises de conteúdo estomacal, pesquisadores descobriram que eles se alimentam principalmente de peixes, lulas e crustáceos.


Este tubarão não é um hábil nadador, então, ao detectar uma presa, ele se move lentamente em direção a sua comida e, no momento do ataque, ele projeta sua mandíbula para frente, de forma abrupta e bem rápida, puxando a presa para dentro de sua boca. Apesar de raramente capturado, esta espécie não é considerada ameaçada (no status na Lista Vermelha do UICN ele é considerado como “Preocupação Menor”), visto que na maioria das vezes em que é pescado é apenas como uma captura acessória (não intencional) de redes de arrasto em águas profundas, principalmente na costa do Japão. Em 2011, o tubarão-duende foi capturado acidentalmente por um barco de pesca na costa do Rio Grande do Sul. Este exemplar foi doado ao Museu Oceanográfico da FURG (Universidade Federal do Rio Grande), sendo o segundo exemplar a integrar a coleção científica do país.

Apesar de alguns organismos das profundezas serem bem “horripilantes”, todos são importantes para o ecossistema marinho. Já imaginou se eles se organizassem para fazer uma festa de Halloween no fundo dos oceanos? Acho que as fantasias mais tenebrosas que apareceriam seriam de homens e plásticos, que são as maiores ameaças para a existência deles. Então, aproveite sua festa, mas faça sempre a sua parte, para que deixemos de ser os verdadeiros monstros da vida marinha. Feliz Dia das Bruxas!

 

Referências:


HEIMBERG, Alysha M. et al. microRNAs reveal the interrelationships of hagfish, lampreys, and gnathostomes and the nature of the ancestral vertebrate. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 107, n. 45, p. 19379-19383, 2010.


NELSON, Joseph S.; GRANDE, Terry C.; WILSON, Mark VH. Fishes of the World. John Wiley & Sons, 2016.


Robison, B. H., Reisenbichler, K. R., Hunt, J. C., & Haddock, S. H. D. (2003). Light Production by the Arm Tips of the Deep-Sea Cephalopod Vampyroteuthis infernalis. The Biological Bulletin, 205(2), 102–109. doi:10.2307/1543231


ZINTZEN, Vincent et al. Hagfish feeding habits along a depth gradient inferred from stable isotopes. Marine Ecology Progress Series, v. 485, p. 223-234, 2013.




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