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GEOARRETADAS

Mulheres arretadas que trabalham divulgando as Geociências no ensino médio de escolas públicas baianas


Por Ana Cecília Rizzatti de Albergaria Barbosa

Imagem com o fundo gradiente azul e verde, a palavra “Geoarretadas” em preto posicionada no centro e acima com os seguintes desenhos em branco: balão de diálogo com três pontos, uma folha, um erlenmeyer, uma menina, um livro e uma lupa.

Mulheres são minoria nas ciências exatas e isso todo mundo já sabe. Mas, como mudar? Pensando nisso, professoras do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia criaram o GEOARRETADAS, um programa de extensão onde as Geociências são apresentadas a alunas e alunos do ensino médio, incentivando meninas de escolas públicas da Bahia a entrarem neste fascinante mundo.

Cientistas mulheres são geralmente sub-representadas, principalmente dentro das ciências exatas. Nestas, é comum a valorização da imagem masculina, desestimulando as mulheres a seguirem suas carreiras. Os pesquisadores Renan Ramos e Samara Tedeschi, da UNESP e UFSCar, analisando a participação das mulheres no corpo docente e na produção científica do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP de Rio Claro, verificaram uma baixa representatividade e, consequentemente, menor produção bibliográfica feminina em cinco dos sete departamentos analisados. O mesmo foi observado por professoras do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia, onde somente 31% dos docentes são mulheres. Essas professoras também observaram que as taxas de evasão das graduandas eram mais altas, agravando a baixa representação feminina não apenas na área acadêmica, como também no mercado de trabalho. Pensando nisso, essas professoras se reuniram e criaram o programa de extensão “GEOARRETADAS: despertando a vocação de meninas para as Geociências na Bahia”.


O GEOARRETADAS nasceu em 2018 através de uma ideia da Profa Simone Moraes, com ajuda da Profa Tatiane Combi. Inicialmente, tinha-se como pretensão ministrar palestras sobre as atualidades e aplicabilidades das Geociências em nosso dia a dia para estudantes do sexo feminino matriculadas em escolas públicas de Salvador. Entretanto, após conversas com a Secretaria da Educação do Estado da Bahia, verificou-se a necessidade da divulgação das Geociências a estudantes de ambos os gêneros. Assim, optou-se por ministrar o curso para todos os interessados das escolas públicas parceiras. No entanto, para incentivar as alunas a seguirem o caminho das geociências, as ministrantes e monitoras desse curso deveriam ser mulheres. Assim, as alunas de ensino médio que participassem do grupo poderiam se sentir representadas.


A primeira edição do GEOARRETADAS aconteceu em 2019. No total, 7 professoras e 13 alunas de graduação e pós-graduação se envolveram no projeto. Dois colégios participaram das atividades, levando ao Instituto de Geociências da UFBA mais de 70 inscritos; a maioria do sexo feminino. As aulas aconteceram em 8 sábados, começando pela manhã e indo até o final da tarde. Nesses dias, falou-se aos alunos sobre a UFBA e seus programas de assistência estudantil, bem como o que é Oceanografia, Geologia, Geofísica e Geografia. Além de uma apresentação sobre o que cada profissional faz, foram apresentados aos alunos temas geocientíficos relevantes para a sociedade, bem como foram realizadas atividades práticas. Percebia-se nitidamente o interesse dos alunos em todas as aulas, incluindo a surpresa de alguns em saber que a UFBA realizava este tipo de pesquisa e que seus cursos eram acessíveis para eles. No final do curso, os alunos desenvolveram a produção de recursos didáticos, com a publicação de um jornal falando sobre os temas das geociências que eles aprenderam.

Figura 1: Atividades práticas realizadas com alunos do Ensino Médio no Projeto GEOARRETADAS. (Fotos: Simone Moraes)

Figura 2: Jornal desenvolvido pelos alunos do Ensino Médio de escolas baianas participantes do GEOARRETADAS de 2019. (Figura: Simoe Moraes)


Em 2020 e 2021, por causa do isolamento ocasionado pela pandemia do COVID-19, as atividades presenciais foram suspensas. Mas nada abalou as GEOARRETADAS, que se reuniram novamente mudando um pouco o formato do projeto. As professoras envolvidas optaram por fazê-lo remotamente, mas dessa vez voltado a professores do ensino médio. A intenção era incentivá-los a incluir temas relacionados às geociências em suas aulas. As inscrições foram abertas para todos os professores de escola pública da Bahia. No primeiro ano, foram ministradas palestras com temas de interesse geral, como Antártica, poluição, tectônica de placas, mudanças climáticas, entre outros. No final, os cursistas realizaram a construção de recursos didáticos relacionados a um ou mais dos temas ministrados. Esses recursos foram construídos de maneira que eles pudessem usar em suas aulas. Em 2021, optou-se por escolher um tema comum de abrangência às quatro áreas das Geociências e que tivesse impacto nos alunos do ensino médio da Bahia: poluição. A Geologia trabalhou com eles um caso de rejeitos de mineração em um município da Bahia. A Oceanografia tratou do derrame de petróleo que aconteceu na costa nordestina em 2019. A Geofísica explicou sobre métodos geofísicos para estudos de aterros e lixões. A Geografia explanou sobre a contaminação dos alimentos por pesticidas utilizados em plantações de grande porte. Nesse ano, os cursistas também realizaram a construção de materiais didáticos que pudessem ser usados depois em suas aulas. As docentes e monitoras envolvidas no curso fizeram uma cartilha que está sendo editada e será distribuída a escolas da Bahia.


Agora, em 2022, prevê-se a execução do projeto novamente de maneira presencial para estudantes do ensino médio de um colégio público de Salvador. Até o momento, a execução desse projeto de extensão tem sido um sucesso, nos três formatos que ele já foi realizado. Nesses três anos, houve diversos elogios feitos tanto pelos alunos quanto pelos professores do ensino médio que participaram das atividades propostas. Além disso, vale destacar que muitos dos cursistas dos dois últimos anos pediram que a atividade se tornasse uma especialização, considerando as possibilidades que ela pode criar. Mas, o principal indicador do sucesso está na entrada de alunas que participaram das atividades de 2019 nos cursos ofertados pelo Instituto de Geociências da UFBA. Isso mostra que o objetivo inicial do projeto está sendo cumprido. O trabalho conjunto de mulheres retadas, como as que fazem parte do GEOARRETADAS, consegue inserir mais mulheres nas Geociências e demonstrar a sua importância para a sociedade.


Esperamos que nosso projeto inspire outras mulheres retadas a divulgarem a Geociências em suas cidades.

 

Referências ou sugestão de leitura:


Ramos, Renan Carvalho; Tedeschi, Samara Pereira. A participação das mulheres na produção científica da UNESP, câmpus de Rio Claro. Caderno Espaço Feminino, 28(1):140-151 2015


Silveira, Camila; Ferreira, Gabriela, Souza, Alicia Aparecida de. A representação feminina nas ciências exatas de uma universidade federal. Revista Feminismo, 7(3):32-46, 2019.


Naideka, Naiani; Santosa, Yane H.; Soares, Patrícia; Hellingera, Renata, Hacka, Thayna; Orth, Elisa S. Mulheres cientistas na química brasileira. Química Nova, 43(6):823-836, 2020.

 

Sobre a autora:

Sou oceanógrafa, pela Universidade de São Paulo, com mestrado e doutorado em Oceanografia, pela mesma Universidade. Realizei um período de estágio sanduíche na Universidade de Bremen (Alemanha) e realizei pós-doc na PUC do Rio de Janeiro, ambos com geoquímica marinha.


Desde 2014, sou professora do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal da Bahia, onde sou apaixonada pela docência e ciência. Além de trabalhar com uma área muito linda, minha profissão me proporcionou muitas coisas, como ótimos amigos, experiências e viagens para lugares incríveis. Nestes, posso incluir: Antártica, ilhas remotas, outros países e cruzeiros oceanográficos. Trabalho com Oceanografia Química e Geoquímica Marinha, onde minhas principais linhas de pesquisa são: poluição marinha, biomarcadores de contaminação e análise de processos da matéria orgânica. Desde que comecei a docência, venho incentivando minhas alunas a se posicionarem no mercado de trabalho, principalmente naqueles espaços onde a maioria dos atuantes são homens. Estou envolvida com o projeto GEOARRETADAS desde sua criação. Em 2021, ganhei um prêmio da L’oreal, UNESCO e ABC para mulheres nas ciências (“For Woman in Science”), dentro da área química.


Desde pequena, sempre tive uma relação muito boa, de amor mesmo, com o mar. Já falava que iria fazer oceanografia ou biologia marinha, desde os meus 11 anos. Nas feiras de ciências de minha escola, sempre apresentava alguma coisa voltada para os oceanos. Já no colegial, ganhei menção honrosa num programa de ciências da UNESCO apresentando um trabalho sobre espessantes tirados de algas marinhas. Quando criança, fiz curso de vela, e na adolescência, de mergulho. Mantive esses hobbies por muito tempo. Agora, adulta, estou me aventurando no surf. Além disso, quando possível, gosto muito de correr na orla (ajuda a manter o corpo saudável e descansa a mente) e de levar meu filhote para brincar nas ondas e areia das praias baianas, no intuito dele ter o mesmo gosto que os pais pelo mar e o respeito pelo meio ambiente.


E-mail: cecilia.albergaria@ufba.br, Instagram: @ana_ce83, @geoarretadas.


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