Por Juliana Bomjardim
Imagem: Artem Podrez - Pexels - (CC0 1.0)
Os materiais plásticos, quando descartados incorretamente, causam grandes impactos no meio ambiente, especialmente no ambiente marinho. Um produto plástico demora em média 450 anos para se decompor de forma natural e completa; nesse meio tempo o plástico produzido e usado no continente acaba “encontrando o caminho” até os rios e oceano, cerca de 8 milhões de toneladas de plástico entram no oceano todos os anos. O problema é tão grave que, segundo um estudo chamado The New Plastics Economy: Rethinking the future of plastics, divulgado no início de 2016 pelo Fórum Econômico Mundial e produzido pela Fundação Ellen MacArthur, se continuarmos a produzir materiais plásticos no ritmo atual, em 2050 haverá mais plástico nos oceanos do que peixes.
Lixo descartado irregularmente em zona costeira (Fonte: U.S. Fish and Wildlife Service Headquarters, CC.BY 2.0).
Não é surpresa que todo esse plástico ameace o equilíbrio de ecossistemas e a sobrevivência de animais marinhos. Albatrozes, tartarugas, baleias e peixes, por exemplo, consomem produtos plásticos, pois os confundem com alimentos; esses produtos não são digeridos e acumulam-se no estômago. O acúmulo pode ser tão grave ao ponto de impedir a ingestão de comida ou perfurar a parede estomacal desses animais. Adicionalmente, além de ingeri-los, os animais também podem ficar presos e/ou se ferir com os resíduos plásticos.
Tartaruga com resíduo plástico preso na região da face (Fonte: Domínio Público). Carcaça de albatroz mostrando o acúmulo de plásticos no estômago (Fonte: Chris Jordan, via U.S. Fish and Wildlife Service Headquarters, CC.BY 2.0). Foca presa em rede de pesca (Fonte: NOOA, CC.BY 2.0).
A quantidade de plástico nos oceanos é tamanha que temos regiões chamadas de “ilhas de plástico”. Nelas, o plástico, especialmente microplásticos, acumula-se em determinados pontos do oceano e mares devido à ação das correntes marítimas, resultantes dos ventos e do movimento de rotação da Terra.
Esses pontos estão espalhados pelos mares e bacias oceânicas de todo o planeta, porém, atualmente, existem cinco principais pontos onde ocorre o acúmulo de plástico, estes pontos são os maiores e mais preocupantes e coincidem com os principais giros oceânicos: Atlântico Norte; Atlântico Sul; Índico; Pacífico Norte e Pacífico Sul.
Principais giros oceânicos. 1: Giro do Pacífico Norte. 2:Giro do Oceano Índico. 3: Giro do Pacífico Sul. 4: Giro do Atlântico Sul. 5: Giro do Atlântico Norte. (Fonte: The Ocean CleanUp, Editorial Use Only)
As correntes marinhas nas regiões dos giros arrastam parte dos produtos plásticos - que boiam - para seu interior. Esse padrão de movimentação foi observado em um experimento da NASA divulgado em 2015. Nele, a movimentação de bóias lançadas no oceano - usadas para rastrear correntes, temperatura e salinidade - foi acompanhada e um modelo de migração foi criado. Nele podemos observar que as bóias lançadas, com o tempo tendem a migrar para os cincos giros oceânicos. Veja no vídeo abaixo a movimentação das bóias e o modelo criado.
Experimento de visualização do acúmulo de materiais nos giros oceânicos (Fonte:Scientific Visualization Studio - NASA).
O giro do Pacífico Norte detém a maior concentração de plástico no oceano e recebe o nome de Grande Porção de Lixo do Pacífico (Great Pacific Garbage Patch). São cerca de 79 mil toneladas de lixo, cerca de 1 milhão e seiscentos mil metros quadrados de detritos boiando e sendo movimentados pelo giro. Nele, há duas zonas principais de concentração, ou duas “ilhas”, uma na região leste do giro e outra na região oeste.
Grande Porção de Lixo do Pacífico (Fonte: NOAA, Domínio Público - Tradução livre).
Engana-se quem acha que as ilhas de plástico podem sempre ser observadas facilmente, elas são formadas especialmente por micropartículas de plástico (pedaços menores que 5 mm), conhecidas como microplásticos, distribuídas de forma desigual na superfície, na coluna d’água e até no sedimento marinho, sendo que apenas os resíduos maiores, na superfície, podem ser encontrados e removidos com maior facilidade.
À esquerda: região do oceano que faz parte de ilha de plástico. À direita: partícula de microplástico. (Fonte: NOAA, Domínio Público)
Os desafios para limpeza deste tipo de região são grandes devido à imensa extensão do giro e aos movimentos das correntes. O acúmulo de plásticos, microplásticos e outros materiais particulados estende-se verticalmente e horizontalmente na coluna d'água.
Como a maioria do lixo é composto por microplásticos seria necessário filtrar grandes porções de água para a remoção dessas partículas, além de ser uma tarefa que exige um esforço hercúleo os riscos podem ser maiores que os benefícios, pois ao filtrar a água estaríamos filtrando parte da vida marinha ali existente. Os pedaços maiores podem ser visualizados e removidos com mais facilidade e algumas empresas e organizações, como a The Ocean Cleanup, participam desse processo de limpeza.
Sistema de limpeza de lixo marinho acumulado (Fonte:The Ocean CleanUp, Editorial Use Only).
A remediação in situ, mesmo de pedaços maiores, é algo de difícil realização e também pode ter impactos negativos na fauna local, sendo que a melhor forma para diminuir o problema é a adoção de ações preventivas, como a redução do consumo de produtos plásticos e a reciclagem. No Brasil, a responsabilidade pela destinação correta de resíduos sólidos deve ser compartilhada entre indústria, comércio, cidadãos e prefeitura, sendo regulamentada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos e contando com instrumentos importantes, como a Logística Reversa.
Além disso, é possível apoiar organizações que trabalham para limpar nossos oceanos, como a já mencionada, The Ocean Cleanup e a Exxpedition, uma organização composta por mulheres que realizam expedições para explorar a poluição plástica nos oceanos, ajudando a investigar as causas e propor soluções para o problema. No verão de 2020, o projeto Kaisei, liderado por Mary T. Crowley, presidente e fundadora do Ocean Voyage Institute, removeu 170 toneladas de redes de pesca e plástico do Giro do Pacífico Norte, demonstrando a importância desse tipo de organização para a limpeza dos oceanos.
Apoie uma organização, compartilhe informações nas redes sociais, vamos juntos cuidar dos nossos oceanos.
Bibliografia:
AGENDA, Industry. The New Plastics Economy Rethinking the future of plastics. 2016. Disponível em: http://www.alternativasostenibile.it/sites/default/files/WEF_The_New_Plastics_Economy.pdf. Acesso em: 12 ago. 2021.
BRASIL. Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) - Lei nº 12.305/2010. IBAMA, 2021. Disponível em: http://www.ibama.gov.br/residuos/controle-de-residuos/politica-nacional-de-residuos-solidos-pnrs. Acesso em: 12 ago. 2021.
MARINE Debris Program. Garbage Patches. NOAA, 2021. Disponível em: https://marinedebris.noaa.gov/info/patch.html. Acesso em: 12 ago. 2021.
MARINE Debris Program. The Truth About Garbage Patches. NOAA, 2016. Disponível em: https://blog.marinedebris.noaa.gov/truth-about-garbage-patches. Acesso em 12 ago. 2021.
SCIENTIFIC Visualization Studio. Garbage Patch Visualization Experiment. NASA, 2015. Disponível em: https://svs.gsfc.nasa.gov/4375. Acesso em: 12 ago. 2021.
WHAT is The Great Pacific Garbage Patch? The Ocean CleanUp, c2021. Disponível em: https://theoceancleanup.com/great-pacific-garbage-patch/. Acesso em: 12 ago. 2021.
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