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Internacionalizar é preciso!

Atualizado: 4 de jun. de 2020


Olá a todos, a postagem de hoje é sobre uma das grandes vantagens em se tornar cientista: conhecer o mundo! Desde quando era apenas uma adolescente eu já sonhava em viajar para outros lugares, conhecer novas culturas, ver lindas paisagens, enfim, conhecer nossos vizinhos nesse planeta que é tão grandioso e ao mesmo tão pequeno. Eu nasci no interior da Bahia e sempre senti falta de ter acesso maior à cultura, de poder visitar museus, de poder viajar para outros lugares além de Subaúma nas férias de janeiro.


Uma das motivações para me tornar cientista dos mares foi a oportunidade que nós temos de trabalhar diretamente com a natureza. Então, por mais que eu não achasse que iria viajar para muito longe de casa, pelo menos meu trabalho me permitiria viajar para alguma praia paradisíaca de um modo diferente do turista comum (mesmo que fosse na Bahia, minha terrinha). Quando viajamos para coletar nossos dados temos uma oportunidade única de conhecer um lugar do jeitinho que ele é. Uma experiência bem diferente do modo engessado, tão comumente propagado pelas agências de turismo.

Pôr do sol visto do barquinho de pescador alugado para as coletas durante o mestrado (Fonte: Catarina R. Marcolin com Licença CC BY SA 4.0).

Quando viajamos para coletar, podemos conhecer não somente as paisagens turísticas, mas vamos a recantos muitas vezes inexplorados, conhecemos as pessoas que ali vivem, descobrimos um pouco da sua cultura e podemos nos conectar com essas pessoas de forma mais verdadeira e não apenas através de relações de compra e venda de produtos e serviços. É possível descobrir um pouco da história de vida dessas pessoas e de como elas se relacionam com seu vilarejo, com a natureza, com a vida. 


Além disso, fui descobrindo que é extremamente importante para um cientista ter oportunidades de interagir com pesquisadores de outros países, de vivenciar o dia a dia em laboratórios com rotinas completamente diferentes da sua instituição de origem. Portanto a ciência me ajudou a preencher esse “vazio“, essa necessidade que eu tinha de consumir cultura e de conhecer o mundo.


Durante o doutorado, foi quando tive as melhores oportunidade em termos de internacionalização. Durante minha entrevista de seleção, a comissão de seleção da pós-graduação do IO-USP me informou que era muito importante que eu me esforçasse ao máximo para fazer um doutorado-sanduíche, ou seja, passar alguns meses trabalhando em um laboratório fora do Brasil. Ainda fiquei sabendo nesta ocasião que havia bolsas suficientes para isso e que internacionalização é um item muito importante para a avaliação de qualidade dos cursos de pós-graduação feita pela CAPES.


Nos últimos anos, o Brasil vivenciou um período muito bom para os estudantes de graduação e pós-graduação em termos de internacionalização. Muitas bolsas foram concedidas para estudos temporários no exterior e eu fui contemplada com uma delas durante para fazer doutorado-sanduíche, bem no começo do programa Ciência sem Fronteiras. 


Apesar deste programa ser importantíssimo, é relevante destacar que estar na USP, associada a um pesquisador produtivo e reconhecido internacionalmente (conheça mais sobre nosso laboratório aqui), fez toda a diferença na minha formação acadêmica. Então, além de trabalhar com um tema que me fascina, tive acesso à tecnologias inovadoras e pude viajar bastante. 

Nunca achei que pudesse ver com meus próprios olhos um gêiser em plena atividade na Islândia (Fonte: Catarina R. Marcolin com Licença CC BY SA 4.0)..

Passei não apenas quatro meses fazendo doutorado-sanduíche nos EUA em College Station (Texas) como também fiz um curso na Noruega e outro na Islândia sobre temas correlacionados à minha tese e participei de dois congressos internacionais, fazendo apresentações orais do meu trabalho, em Pucón, Chile, e em New Orleans, EUA. Tem mais informações sobre essas experiências (só as divertidas) no blog catviajandoporai

You can do it! (Fonte: Catarina R. Marcolin com Licença CC BY SA 4.0).

Além de viajar pelo mundo eu também participei de embarques em navios oceanográficos para coletar os dados do meu projeto de doutorado. Passei muitos dias ao mar, navegando com outros pesquisadores e com a tripulação desses navios. Um dos embarques mais marcantes aconteceu a bordo de um veleiro como parte do projeto Tara Oceans, com uma equipe internacional, num projeto liderado por franceses. 


Foi através destas experiências, entre outras, que fui aprendendo ao longo do caminho sobre como trabalhar de forma mais eficiente, sobre como me comunicar de forma adequada com outros pesquisadores, usando linguagem correta, e de aprimorar técnicas para escrever artigos científicos em inglês. Além disso, pude conhecer vários cientistas apaixonados pelo que fazem, pessoas inspiradoras, que se divertem enquanto fazem seu trabalho e nos ajudam a superar os desafios que surgem ao longo desse processo. 


Mas todo bônus tem um ônus. Houve uma ocasião em que não pude embarcar em um dos projetos associados ao meu doutorado simplesmente por ser mulher, pois o navio da marinha destacado para o embarque não aceitava mulheres. A justificativa era que o navio não tinha “instalações adequadas” para mulheres. Não é incomum ouvirmos na nossa área que mulheres não são bem-vindas num embarque oceanográfico porque não carregam peso como deveriam e que, portanto, isso acabaria sobrecarregando algum homem. Mas isso definitivamente não condiz com a realidade. Conheço diversos homens que enrolam no trabalham e mulheres que trabalham muito, e vice-versa. E tenho certeza que você também conhece, dentro da sua realidade.



Além de ter de lidar com esse tipo de pré-conceito, diversas vezes ouvi pessoas questionando meu estilo de vida, pois desse jeito eu não conseguiria “segurar um homem”. Foi interessante enquanto eu estava fazendo sanduíche nos EUA como conheci vários casais onde os homens estava passando uma temporada no exterior, acompanhados de suas mulheres, enquanto o contrário não era visto. Não conheci uma única mulher que tinha levado seu acompanhante nesse período.  


Infelizmente ainda é comum essa visão de que a mulher que prioriza seu trabalho está destinada a ficar "encalhada", "pra titia".


Muitos dos amigos e familiares já não acreditavam que meu relacionamento a distância durante o doutorado (eu morava em São Paulo e ele em Salvador) pudesse dar certo, ainda mais sabendo que eu passava até 15 dias embarcada num navio acompanhada por uma maioria de homens. Além disso, eu já estava fazendo 30 anos e ainda não havia casado, muito menos tido filhos. O quesito filhos é o único que me causa ainda um pouco de aflição, pois quanto mais adiamos, menores nossas chances de engravidar. E se engravidamos no meio do caminho, nos tornamos menos competitivas para o mercado de trabalho como cientista, arriscando o tão almejado emprego na universidade. (leia mais sobre isso no post da Jana Quando colocar filhos no cronograma?)


Mas apesar das dificuldades em ficar longe da família, amigos, namorado/marido, sempre tive apoio dessas mesmas pessoas para perseguir meus sonhos e me tornar uma profissional melhor. E só tenho a dizer que valeu a muito pena e que continua valendo! Hoje tenho 33 anos, estou casada, sem filhos no cronograma, buscando o tão almejado emprego e ainda com muito desejo de continuar viajando (literal e filosoficamente), aprendendo cada vez mais sobre esse mundão que me fascina.


Até o próximo bate-papo com Netuno.


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