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Macrofauna de praias arenosas e sua importância em estudos ambientais


Praias arenosas são consideradas ambientes de transição entre os ecossistemas marinho e terrestre e constituem um dos ambientes mais dinâmicos que existem, onde os depósitos sedimentares estão em constante movimento devido, principalmente, à ação das ondas, marés e ventos. Elas são responsáveis pelo fornecimento de diversos bens e serviços ecossistêmicos, como sustentação da pesca costeira, atividades recreativas, turismo, proteção da linha de costa, entre outros (leia mais sobre praias aqui).

Na imagem temos uma praia arenosa em um dia de sol com céu sem nuvens. No canto esquerdo há um costão rochoso e acima dele uma vegetação. A praia está vazia, com algumas pessoas caminhando.

Praia Grande, Ubatuba, São Paulo. Foto: Yonara Garcia/CC BY 4.0


Apesar de parecer um ambiente desértico, as praias arenosas podem apresentar uma grande diversidade de espécies. Elas são ecossistemas localizados na região entremarés (faixa que vai desde o nível de maré-alta até o nível de maré-baixa) e compostos por organismos microscópicos e macroscópicos, sendo que muitos vivem enterrados entre os grãos de areia, durante toda a vida ou parte dela. Neste ambiente são encontrados organismos de diversos filos, como cnidários, moluscos, artrópodes, equinodermos, vertebrados etc.


Os organismos bentônicos são aqueles que vivem sobre ou dentro do substrato. A relação com o substrato varia entre os distintos organismos bentônicos, uns o usam para fixação, outros cavam, outras ainda andam sobre ele e há os que apenas nadam na sua superfície; mas, indiferente da relação, o que não muda é que eles nunca se separam do substrato. Entre os organismos bentônicos de praias arenosas, a macrofauna (organismos maiores ou iguais a 0,5 mm) desempenha um importante papel na arquitetura trófica desses habitats, apoiando consumidores de ordem superior como aves marinhas e peixes. Além disso, contribuem para reciclagem de nutrientes nas praias e para a aceleração de processos de remineralização de nutrientes. Esse grupo é composto, principalmente, por táxons de invertebrados, em especial moluscos, crustáceos e poliquetas.

Tatuí no centro da imagem sobre a areia com tons mais escuros
Caranguejo maria-farinha olhando diretamente para o fotógrafo. Ela se encontra por cima da areia de tons claros.
Tubo de poliqueta formado por diversos materiais como pedaços de conchas, folhas e algas. Ele se encontra sobre areia fina com tom acinzentado.

Exemplos de organismos bentônicos de praias arenosas: Tatuí (Emerita analoga). Pavel Kirillov/ CC BY-SA 2.0. Caranguejo Ocypode quadrata, conhecido como maria-farinha. Silvio Tanaka/ CC BY 2.0. Tubo de um poliqueta, constituído de diferentes materiais, dependendo da espécie, usado principalmente para proteção dos organismos, podendo ser encontrado enterrado na areia. James St. John/CC BY 2.0.


Os organismos da macrofauna bentônica são utilizados como indicadores ambientais eficientes para avaliação e monitoramento em ecossistemas aquáticos por responderem a distúrbios naturais e antropogênicos, onde sua presença, ausência e quantidade indicam a magnitude desses impactos. Isso se deve a algumas características, como: (i) abundância em todos os sistemas aquáticos; (ii) capacidade de locomoção limitada ou nula; (iii) ciclo de vida longo; (iv) ampla variedade de tolerância a vários graus e tipos de poluição e (v) funcionam como integradores das condições ambientais, isto é, estão presentes antes e após eventos impactantes. Desta forma, macroinvertebrados bentônicos podem ser considerados “organismos sentinelas” em ambientes aquáticos.


Um bom exemplo de organismos bioindicadores é o tatuí ou tatuíra. Estes organismos são pequenos crustáceos decápodes filtradores, muito abundantes na região entremarés de praias arenosas, sendo que entre as espécies presentes no Brasil, a espécie Emerita braziliensis é encontrada desde o Espírito Santo ao Rio Grande do Sul. Há alguns anos atrás, diversos veículos de comunicação fizeram um alerta sobre o desaparecimento dos tatuís nas praias cariocas. Em uma matéria publicada pela Veja Rio, em julho de 2012, com o título “Salvem os tatuís”, o pesquisador Dr. Ricardo Cardoso declarou como a população desses organismos vinha decaindo nos últimos anos: “Biólogo da UNI-Rio, Ricardo Cardoso realiza, há quinze anos, levantamentos regulares sobre a presença do Emerita brasiliensis (seu nome científico) nas praias do Rio. Ele descobriu que em 70% do litoral a população de tatuís hoje em dia é insignificante. Numa recente coleta, em Copacabana, sua equipe encontrou, em 3 quilômetros de busca, apenas um tatuí.” Assim, a queda populacional desse crustáceo pode ser um indicativo de que tal ecossistema esteja degradado, devido a fatores como poluição marinha, atividades recreacionais e ocupação desordenada da zona litorânea, e, se nenhuma medida for tomada para melhorar as condições daquele ambiente, em médio e longo prazo podem haver consequências, como perda de biodiversidade.


Assim, a partir de monitoramentos, levantamentos da macrofauna bentônica de praias arenosas é possível compreender os efeitos, alterações, que as ações humanas têm gerado nos ecossistemas costeiros.



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