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Mulheres no Oceano

Atualizado: 24 de jul. de 2020

Por Raphaela Duarte, Andreliza Roberta Terciotti de Oliveira, Yonara Garcia, Thais R. Semprebom, Mariana P. Haueisen e Douglas F. Peiró


Acesse a publicação original aqui


Mulheres cientistas em treinamento pela NASA, em 1975. Fonte


Existem grandes descobertas científicas realizadas por mulheres na ciência, mas nem sempre são elas que se destacam. Uma das áreas em que estão bastante presentes é a Biologia Marinha. As mulheres também amam os oceanos e cuidam deles.


Quantas cientistas mulheres você conhece por suas grandes descobertas? Poucas? Nenhuma? Sempre existiram mulheres cientistas que fizeram grandes descobertas para a ciência, mas devido à desigualdade de gênero, poucas foram reconhecidas pelo mundo. Em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres, 8 de março, uma data que representa a luta pela igualdade dos gêneros, selecionamos três grandes biólogas marinhas para que você se inspire nestas incríveis profissionais.


Rachel Louise Carson

Fonte: PublicDomain/WikimediaCommons.

Rachel Carson nasceu em Springdale, Pensilvânia, Estados Unidos, no dia 27 de maio de 1907. Foi uma das pioneiras na conscientização ambiental moderna, com publicação de livros e artigos sobre o meio ambiente.

Rachel estudou na Faculdade da Pensilvânia para Mulheres, atual Universidade Chatham. Inicialmente ingressou no curso de Língua Inglesa, mas, em janeiro de 1928, transferiu para Biologia, onde graduou-se com honras em 1929. No outono de 1929 ela continuou estudando zoologia e genética na John Hopkins University, após um curso de verão no Laboratório de Vida Marinha. Nesta mesma universidade, obteve o título de mestre em Zoologia, em 1932. Apesar de ter a intenção de investir no doutorado, em 1934 ela deixou John Hopkins para dar aulas e ajudar a família.

Sua carreira como bióloga marinha começou no United States Fish and Wildlife Service como escritora. Reconhecida por várias revistas, ela se tornou escritora em tempo integral em 1950. No ano seguinte, escreveu o livro The Sea Around Us, que se tornou um best-seller e ganhou o National Book Award. Seus dois próximos livros, The Edge of the Sea e Under the Sea Wind foram sucesso de vendas também. Essa trilogia explora a vida marinha, desde a zona litorânea até as profundezas. O seu livro mais conhecido é o Silent Spring, ou Primavera Silenciosa, de 1962, em que Rachel descreve os efeitos nocivos de pesticidas, especialmente o DDT, no meio ambiente.

Rachel faleceu no dia 14 de abril de 1964 devido a um infarto, provavelmente causado pela sua situação frágil, uma vez que tratava de um câncer de mama em metástase desde 1960.


Marta Vannucci

Fonte: IOUSP

Marta Vannucci nasceu em Florença, Itália, no dia 10 de maio de 1921, e se estabeleceu no Brasil em 1930 com sua família. É considerada uma das maiores especialistas em ecossistema de manguezais.


Em 1943 formou-se em História Natural e, após um ano, defendeu sua tese de Doutorado em Ciências pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, sob orientação do professor Ernst Marcus, zoólogo renomado mundialmente. Desde então, passou a ser sua assistente no Departamento de Zoologia da mesma faculdade. Em 1946 foi convidada para trabalhar no Instituto Paulista de Oceanografia (IPO) pelo professor russo Wladimir Besnard. Em 1951, ambos conseguiram que o Instituto fosse incorporado na Universidade, quando então surgiu o Instituto Oceanográfico, como uma Unidade de Pesquisa da USP (IOUSP). Atuou fortemente na Seção de Oceanografia Biológica, setor de invertebrados marinhos, e dedicou-se arduamente no estudo do plâncton, publicando mais de 100 trabalhos.


De 1964 a 1969, Marta esteve na direção do IOUSP, dedicando-se à construção do prédio do Instituto, na organização dos cursos de pós-graduação e negociando o Navio Oceanográfico “Prof. Wladimir Besnard”, que realizou diversas expedições com pesquisadores e alunos, colaborando com coletas e pesquisas do Instituto até o ano de 2008.


Marta assumiu, em 1970, o cargo de perito em oceanografia pela UNESCO em Cochin, no estado de Kerala, sul da Índia, e a partir de 1974 interrompeu suas atividades no IOUSP. Pela UNESCO, contribuiu com expedições marinhas, conferências internacionais, organização de laboratório de triagem de plâncton (México) e com centenas de trabalhos científicos. Publicou diversos livros, sendo um dos mais famosos “Os manguezais e nós”, de 1999, que retrata a importância desse ecossistema para a subsistência das zonas costeiras e produção de nutrientes para fauna e flora. Aposentou-se pela UNESCO em 1989 e atualmente vive em São Paulo.



Sylvia Earle

Fonte: Susan Middleton/Flickr (CC BY-NC 2.0)

Sylvia Alice Earle nasceu em 30 de agosto de 1935 em Gibbstown, New Jersey, Estados Unidos. Curiosa, como uma cientista nata, desde pequena adorava explorar a natureza e era fascinada por todas as formas de vida que ali viviam. Aos 13 anos mudou-se para a Flórida, dedicou-se aos estudos e ganhou uma bolsa de estudo na Florida State University. Durante a graduação aprendeu a mergulhar, recebendo certificado de mergulho autônomo. Sylvia se especializou em botânica e se formou em 1955. Neste mesmo ano, matriculou-se no mestrado em botânica na Duke University.


Após o mestrado, casou-se e começou uma família, mas não deixou de explorar a vida marinha. Em 1964, quando seus filhos tinham dois e quatro anos, Sylvia fez parte da expedição da National Science Foundation no Oceano Índico, durante seis semanas. Em 1966, completou seu Ph.D. em ficologia (estudo das algas), também na Duke University. Com sua crescente carreira, ela se tornou pesquisadora na Universidade Harvard e diretora residente do Cape Haze Marine Laboratories, na Flórida. Em 1968, grávida de quatro meses, viajou a trinta metros abaixo das águas das Bahamas no submersível Deep Diver. Em 1969, inscreveu-se para participar do projeto Tektite, onde os cientistas viveram por semanas em um laboratório no fundo do oceano, a 15 metros de profundidade.


Apesar de sua grande experiência com mergulho, possuindo mais de mil horas de pesquisa debaixo da água, Sylvia não pode participar do Tektite I, pois algumas pessoas não aceitaram uma mulher viajando com homens em uma longa expedição científica. Mas em 1970, Sylvia liderou o Tektite II, uma expedição exclusivamente feminina, abrindo precedentes para que futuras expedições aquáticas incluíssem mulheres em suas equipes. Earle liderou mais de 100 expedições submarinas durante sua carreira, acumulando mais de 7 mil horas subaquáticas. Suas missões científicas a levaram a lugares como as Ilhas Galápagos, a China e as Bahamas.


Bióloga marinha, escritora, empreendedora, atualmente Sylvia Earle é exploradora da National Geographic Society, fundadora da Sylvia Earle Alliance (SEA) / Mission Blue, fundadora da Deep Ocean Exploration and Research Inc. (DOER), presidente do conselho consultivo do Harte Research Institute e ex-cientista-chefe da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA).


Ainda existem muitos nomes que poderíamos citar, tanto por suas histórias de luta quanto por seus grandes feitos na ciência. As mulheres sempre estiveram presentes nas Ciências do Mar trazendo descobertas, novas conquistas e defendendo a vida marinha. E se você ainda quer conhecer novas histórias, a UNESCO lançou o projeto “Mulheres cientistas marinhas compartilham suas histórias” (“Women marine scientists share their stories), no qual promove a igualdade de gênero por meio de histórias de cientistas marinhas, no intuito de encorajar jovens mulheres a seguir a carreira das ciências do mar.

 

Em homenagem ao dia das mães, o Bate-papo com Netuno escolheu este texto por trazer três mulheres, biólogas marinhas e mães! Marta Vanucci e Sylvia Earle se tornaram mães durante a trajetória de suas carreiras. Já Rachel Louise Carson, apesar de não ter tido filhos biológicos, precisou se tornar mãe e provedora. Em 1934, durante a grande depressão, abandonou a pós-graduação para procurar emprego e ajudar no sustento da família. Com a morte de seu pai, em 1935, Carson se dedicou a cuidar de sua mãe e, dois anos depois, com a morte de sua irmã, assumiu a responsabilidade de cuidar de suas duas sobrinhas. Até que em 1957, mais uma tragédia familiar aconteceu, uma de suas sobrinhas morreu aos 31 anos, deixando um filho de 5 anos, Roger Christie. Carson adotou Roger e se mudou com a mãe idosa para Silver Spring, Maryland, onde, apesar dos percalços, continuou a se dedicar aos estudos sobre ameaças ambientais específicas.

 

Bibliografia:

Academy of Achievement. Sylvia Earle, Ph.D. Disponível em: http://www.achievement.org/achiever/sylvia-earle/#biography. Acesso em: 11 mar. 2019.


Canal Ciência. Cientistas Brasileiros Notáveis. Disponível em: http://www.canalciencia.ibict.br/notaveis/livros/marta_vannucci_38.html. Acesso 19 de fev. de 2019.


CNPq. Pioneiras da Ciência no Brasil. Disponível em: http://www.cnpq.br/web/guest/pioneiras-da-ciencia-do-brasil. Acesso 20 de fev. de 2019.


IOUSP. A mulher que navegou nos mares do mundo – Marta Vannucci. Disponível em: http://www.io.usp.br/index.php/noticias/10-io-na-midia/716-a-mulher-que-navegou-nos-mares-do-mundo-marta-vannucci. Acesso 15 de fev. de 2019.


LEAR, Linda. The Life And Legacy Of Rachel Carson. Disponível em: <http://www.rachelcarson.org>. Acesso em: 15 mar. 2019.



The Nature Conservancy. The Conservancy and Dr. Sylvia Earle. Disponível em: https://www.nature.org/en-us/about-us/where-we-work/united-states/florida/stories-in-florida/florida-dr-sylvia-earle-ocean-advocate/. Acesso em: 11 mar. 2019.


Varela, G. A. Gênero e trajetória científica: as atividades da cientista Marta Vannucci no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (1946-1969)¹. Niterói, v.13, n.1, p. 123-142, 2. sem. 2012.


Wikipedia. Rachel Carson. Disponível em: https://en.m.wikipedia.org/wiki/Rachel_Carson. Acesso em: 05 mar. 2019.


Woman in History. Rachel Carson. Disponível em: https://web.archive.org/web/20120808015112/http://www.lkwdpl.org/wihohio/cars-rac.htm. Acesso em: 05 mar. 2019.

 

Sobre os autores:


Raphaela Duarte

Mestranda em Ecologia Aplicada pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) – Lavras, MG – Brasil. Graduação em Ciências Biológicas (Bacharelado) pela UFLA. Graduação sanduíche nos Estados Unidos pelo College of Charleston, Charleston – SC. Graduação à distância no Programa Especial de Formação Pedagógica de Docentes pela Universidade de Franca (UNIFRAN). Especialização em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Editora assistente do Projeto Biologia Marinha Bióicos. Desde que entrei na graduação me identifiquei com a biologia marinha, e apesar de não estar perto do mar sempre procuro saber sobre o assunto e interagir com pessoas, instituições e cursos nessa área. Gosto principalmente de divulgar essas informações, pois acredito que o conhecimento é o nosso maior poder e ferramenta de educação ambiental.



Andreliza Roberta Terciotti de Oliveira

Sou bióloga formada pela UFSCar campus Sorocaba. Sou professora colaboradora no Projeto Biologia Marinha Bióicos, dedico-me na redação de artigos para Revista de divulgação científica. Sou apaixonada pelo mundo marinho, principalmente pela fauna, e gosto de compartilhar com as pessoas meu conhecimento e minhas experiências.






















Thais R. Semprebom

Sou bióloga formada pela UEL e tenho mestrado em Botânica pelo IB/USP. Sou professora e autora de materiais didáticos, além de dedicar-me à divulgação científica. Gosto de ajudar as pessoas a pensar na Ciência e entendê-la, para que possam compreender melhor o mundo em que estamos e, assim, viver de forma mais consciente e harmoniosa com o ambiente e a vida!











Mariana P. Haueisen

Graduanda em Ciências Biológicas na PUC Minas. Participa do programa de Residência Pedagógica e trabalha com cartografia no Laboratório de Tratamento da Informação Biológicas do Departamento de Ciências Biológicas. Desenvolve trabalhos de biogeografia de tubarões no Laboratório de Tratamento da Informação Espacial do Programa de Pós-Graduação em Geografia da PUC Minas. Tem interesse e experiência na área da Biologia Marinha com foque em tratamento da informação e ecologia.



Douglas F. Peiró

Sou Biólogo Marinho. Paulista, caiçara por opção (referência aos habitantes da zona costeira do Estado de São Paulo e alguns outros Estados). Fundador e Coordenador do Projeto Biologia Marinha Bióicos de educação e divulgação científica de Biologia Marinha. Possuo pós-doutorado pela Université de Poitiers na França. Doutorado em Biologia Comparada de animais marinhos pela Universidade de São Paulo, com doutorado sanduíche na University of Louisiana at Lafayette nos EUA. Mestrado em Biologia Comparada de animais marinhos pela Universidade de São Paulo. Especialização em docência de Biologia Marinha. Graduação em Ciências Biológicas (Bacharelado e Licenciatura Plena). Tenho me dedicado há 18 anos à Biologia Marinha e ao ensino, tendo participado de inúmeras expedições científicas no litoral e também de cruzeiros oceanográficos nos Brasil e no exterior. Também atuo como professor de nível superior há mais de dez anos; atualmente sou docente do Projeto Bióicos e da Universidade Federal de São Carlos.


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