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Pellets: como chegam no mar?

Por Camila Andreussi e Juliana Leonel

Ilustração de Luiza Soares


Os pellets são partículas plásticas com tamanho médio entre 1 a 5 mm - ou seja, são microplásticos - que têm formatos diversos (esféricos, ovóides ou cilíndricos) e coloração variada, embora os transparentes/brancos sejam os mais comuns. Todo pellet é um microplástico, mas nem todo microplástico é um pellet. Continue lendo o post que você vai entender melhor.

À esquerda foto de um pellet (esfera branca de 5 mm de diâmetro) na areia da praia. À direita imagem com 20 pellets com diferentes graus de amarelamento.

Pellets na praia e exemplos de pellets com diferentes níveis de amarelamento. Fontes: Camila Andreussi e Daniele G. Zanetti com licença CC 4.0 BY SA.


Mas por que eles são produzidos?


Pellets plásticos são resinas termoplásticas que têm papel fundamental na cadeia produtiva do plástico. A produção de um item plástico (cadeiras, canudos, sacolas etc) envolve as seguintes etapas:

  1. Extração e refino do petróleo bruto que dará origem à nafta (composto oriundo da destilação do petróleo e a principal matéria-prima da indústria petroquímica);

  2. A nafta será usada para produzir monômeros (pequenas moléculas) na indústria de primeira geração;

  3. Os monômeros darão origem aos polímeros (grandes moléculas geradas a partir da repetição dos monômeros) e diversos deles serão manufaturados na forma de pellets. Isso ocorre na indústria de segunda geração;

  4. As indústrias transformadoras (também chamadas de indústrias de terceira geração) irão fundir e moldar os pellets para a fabricação de itens plásticos diversos.

imagem ilustrativa da polimerização do poliestireno. À esquerda o desenho de um molécula de um do monômero de estireno seguida do desenho de uma flecha. Sob a flecha a palavra “catalizadores”. A flecha aponta para um polímero de poliestireno.

Exemplo de monômero (estireno) e exemplo de polímero (poliestireno)


Durante a fabricação, uso, manejo e transporte dos pellets, ou seja, ao longo de toda cadeia produtiva ocorrem perdas acidentais de alguns (ou muitos!) pellets que têm como destino final o ambiente marinho. Essas perdas podem ser crônicas quando ocorrem sempre, mesmo que em pequena quantidade. Nesse caso, os pellets se perdem devido a problemas no seu manejo, seja durante o manuseio e/ou transporte. Mesmo quando os pellets são perdidos em regiões continentais afastadas da costa eles irão, eventualmente, chegar no ambiente marinho através do escoamento fluvial e pluvial. No entanto, em função do uso de processos automatizados, as perdas de pellets que ocorrem nas indústrias são mínimas e, mesmo quando acontecem, há medidas de recuperação desse material, que geralmente são vendidos para reciclagem. Adicionalmente, algumas empresas certificadas usam um sistema de contenção, ao utilizar canaletas retentoras de pellets, por exemplo, impedindo a chegada do material ao sistema de drenagem pluvial.


Dentre as etapas da cadeia de pré-consumo dos plásticos que envolvem os pellets, os terminais portuários se destacam por manusear grandes volumes de pellets (tanto na chegada quanto na saída das cargas) que, tanto durante a transferência a granel para os contêineres como durante a navegação, podem ser perdidos diretamente para o ambiente marinho. No Brasil, os principais portos com relação à importação e à exportação de pellets, são o Porto de Santos (SP) e o Porto de Itajaí (SC), sendo que no ano de 2021 mais de 500 mil toneladas de pellets foram importados pelo porto catarinense.

Imagem esquemática mostrando as fontes de pellets para o ambiente marinho. São elas: rios, praia, acidentes com embarcações, escoamento urbano, indústrias de pellets e de outros produtos plásticos e transporte de pellets por caminhões .

Diferentes formas do pellet chegar no ambiente marinho. Fonte: Juana Bozetto com licença CC 4.0 BY SA.


As perdas de pellets também podem ocorrer de forma pontual - e massiva, quando ocorre um acidente, levando à entrada de grandes quantidades de pellets no ambiente em um curto espaço de tempo. Um exemplo disso foi o acidente que ocorreu em maio de 2021 após o incêndio que resultou no afundamento da embarcação X-Press Pearl, no Oceano Índico. Neste acidente, 87 contêineres contendo cerca de 1680 toneladas de pellets caíram no mar. Parte dos pellets foi levada para a costa e contaminou as praias ao redor de Sri Lanka, a outra parte continuou a flutuar na superfície do mar e estima-se que serão transportados e poderão impactar também a costa leste da Indonésia, Maldivas e Somália. Além dos impactos ambientais, esse grande desastre resultou também em perdas econômicas ao afetar a pesca e o turismo.


Embora derrames massivos tenham um grande impacto, as perdas crônicas não podem ser ignoradas devido ao seu potencial de contaminação a médio e longo prazo. Uma vez no mar, os pellets tendem a permanecer na superfície (são menos densos que a água do mar) e são expostos a ação de ventos, ondas e correntes marinhas que irão transportá-los. Como eles têm uma alta capacidade de dispersão, eles podem percorrer grandes distâncias. Parte deles irá então chegar nas zonas costeiras e acaba encalhando nas praias. Em razão disso, praias arenosas de todo o globo lidam com a poluição por pellets, desde regiões portuárias até regiões remotas.

Imagem ilustrativa de alguns processos que afetam os pellets quando eles chegam no ambiente marinho. São eles: ingestão pela biota, fragmentação, sedimentação, transporte pelo vento, ondas e correntes e deposição na costa.

Processos que afetam os pellets quando eles chegam no ambiente marinho. Fonte: Juana Bozetto com licença CC 4.0 BY SA.


Os pellets representam uma ameaça aos organismos (como aves e tartarugas), pois podem ser ingeridos causando danos físicos, tais como sufocamento e falsa sensação de saciedade. Além disso, na superfície dos pellets podem aderir contaminantes orgânicos e metais, que podem ser tóxicos para os organismos que entram em contato com estes pellets.


A próxima vez que você for à praia e se deparar com essa bolinha brilhante na areia, vai se lembrar do grande caminho percorrido - de uma indústria até o mar…

 

Para saber mais, sugerimos o seguinte vídeo:


 

Sobre Camila:

Meu nome é Camila Andreussi, tenho 26 anos e moro em Floripa - SC. Não sou manezinha. Eu nasci no interior do Paraná (bem longe do mar), mas foi durante o ensino médio (já morando em Floripa) que eu descobri que existia um curso todo dedicado a estudar o mar. Foi amor à primeira vista e desde então sigo nessa caminhada. Sou oceanógrafa e mestranda em Oceanografia na UFSC onde faço parte do Laboratório de Poluição e Geoquímica Marinha (@lapogeo.ufsc). O foco da minha pesquisa é a poluição marinha por resíduos plásticos. Além da minha pesquisa esse tema se tornou parte da minha vida. Atualmente sou voluntária da @parley.tv, uma organização que visa a proteção do oceano. E visando a divulgação científica, criei uma coleção didática de resíduos plásticos coletados em ilhas @ilhadeplástico.


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