Por Thaiane Santos
Sabia que tem plástico em todo lugar no mundo? Em praias, no meio dos oceanos, até nas regiões polares! O uso dos plásticos aumentou rapidamente durante o século 20 pelas suas características como baixo custo, alta durabilidade, flexibilidade, baixa densidade e por ser resistente ao calor. Essas características permitem várias formas de fabricação e usos. Pense em quantos tipos de plástico você conhece. Inúmeros né? Dê uma olhadinha no ambiente em que você está e veja quantos itens de plásticos tem por perto. Muitos! Quando um tipo de plástico não é reutilizado, e descartado de forma incorreta, ele pode chegar em praias e em mar aberto! Sabe aqueles pratinhos de isopor que a gente compra no supermercado? Assim, como todos os itens feitos de plástico, ele não some na natureza! Da mesma forma que o isopor, vários tipos de plástico têm baixo valor comercial para a reciclagem de cooperativas. Por isso são descartados junto com o lixo comum, de forma incorreta.
Já se tem conhecimento de que o plástico presente nos oceanos pode ser resultado da falta de controle desses resíduos em terra. Quando o plástico está presente no meio marinho ele vai se quebrando em pedacinhos menores, dando origem aos microplásticos. Esses pedacinhos de plásticos nos oceanos representam um risco para os animais marinhos que podem ingerir ou aspirar essas partículas por engano. Estudos recentes comprovam que 73% dos peixes do oceano Atlântico ingerem microplásticos. Entre esses peixes são tipos comuns na nossa alimentação, como o atum.
O fim dessa rota do plástico (casa >> lixo >> oceano), quando não é a ingestão pelos animais marinhos, é o acúmulo em praias, e mais de 95% do lixo nas praias brasileiras é plástico! Saber para onde vai e de onde vem esses fragmentos plásticos é muito importante para avaliar o tamanho do impacto gerado no planeta por nós humanos, que coloca em risco o meio ambiente e a nossa própria saúde! Também ajuda na criação e implantação de políticas de monitoramento e soluções para o lixo marinho! O mais legal é que essa ajuda pode ser dada por qualquer pessoa disposta a pegar um pouquinho de areia em qualquer praia e enviar para a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Esse tipo de pesquisa que conta com uma mãozinha da sociedade é chamado ciência cidadã. É uma forma nova de fazer ciência pelas universidades, envolvendo o meio acadêmico com pesquisadores e a participação popular. Esses estudos têm como ator importante o cidadão voluntário que pode ajudar a fazer ciência em qualquer lugar do mundo gastando bem pouquinho. Já pensou como seria difícil uma pessoa ficar viajando pelo país para pegar um pouquinho de areia nesse mundão de praias que existem? Com a ciência cidadã todo mundo pode colaborar, fazendo sua parte na coleta de dados colaborativos sobre lixo marinho no mundo e ainda ser um cidadão cientista!
A gente aqui do LEGECE (Laboratório de Ecologia e Gerenciamento de Ecossistemas Costeiros e Estuarinos) na UFPE criou o projeto “Poluição marinha, microplásticos e ciência cidadã” para fazer esse estudo de monitoramento de lixo marinho. Quer saber como colaborar? É bem fácil! Dá para curtir uma praia e ainda dar uma mãozinha pra gente! Basicamente a gente precisa que você pegue 3 amostras de areia que são raspadas de forma bem superficial numa área específica. Antes de pegar a areia precisamos que você posicione o celular na altura do quadril (foto 1) e depois na altura dos joelhos (foto 2) para fotografar a área onde vai pegar a areia. Depois é só guardar a areia e enviar pra gente junto com as fotos.
Aqui tem algumas instruções:
A areia deve ser coletada na linha do deixa (aquela marquinha na areia onde ficam acumulados folhas, conchas, algas, galhos e todo tipo de lixo, inclusive vários tipos de plásticos!). Depois é só marcar na areia com uma régua um quadrado (30 x 30 cm). Aí tira foto da área marcada nas duas alturas (quadril e joelhos) com o seu celular mesmo. O único cuidado é não fazer sombra dentro do quadrado na hora da foto. Ah, e não tem hora e nenhuma maré específica para coletar a areia. Recomendamos fazer isso pela manhã para sair uma foto com luz boa, sem sombra, já que durante a tarde uma luz forte ou baixa do sol não ajuda a tirar uma foto legal da areia.
Em seguida, com ajuda de uma pá ou espátula, raspe a areia e guarde em saquinhos com fechamento do tipo “ziplocks”. Não indicamos usar colher porque cava a areia e acaba pegando mais do que precisamos. Queremos aquela parte bem superficial, bem pouquinha areia, raspada de forma bem leve. Tudo o que tiver dentro do quadrado tem que ser guardado dentro do saquinho (folha, canudinho, tampinhas, isopor etc). Se não tiver esses saquinhos pode usar de outro tipo (o que tiver em casa), também pode usar embalagem de marmita de alumínio que é bem levinha pra carregar.
Você vai repetir isso em 3 áreas. A distância entre os 3 pontos é variável, depende do tipo de praia (se é uma praia larga ou uma praia estreita), pode ser de 10 a 15 passos. As 3 áreas de coleta (3 quadrados) são 3 amostras diferentes que devem ser guardadas em embalagens separadas e identificadas (amostra 1, amostra 2, amostra 3). Só mais uma coisinha: observe se nos dias anteriores à sua ida à praia teve alguma chuva forte, que causa ondas mais fortes podendo deixar mais resíduos na praia. É importante notar se é uma praia limpa, se está suja, se tem alguma fonte de lixo visível, bares e restaurantes (praia turística), esgoto (praia urbana), ou é uma praia mais deserta, com natureza preservada. Depois da ajuda, quando tiver com os saquinhos de areia, entre em contato com a gente para combinar como vamos pegar as amostras e as informações que precisamos.
Vamos ajudar a ciência e a natureza? Se torne um colaborador voluntário!
Contato:
microplasticscience@gmail.com
thaay.santos@gmail.com
mfc@ufpe.br
Sobre Thaiane Santos:
Oceanógrafa pela Universidade Federal do Pará, atuou no Laboratório de Biologia Pesqueira e Manejo dos Recursos Aquáticos e tem experiência em estudos com biomarcadores bioquímicos por atuar no Laboratório de Toxicologia fazendo pesquisa de poluição aquática e estresse oxidativo em vertebrados e invertebrados estuarinos da Amazônia. Atualmente é mestranda na Universidade Federal de Pernambuco, faz parte do grupo LEGECE (Lab. de Ecologia e Gerenciamento de Ecossistemas Estuarinos e Costeiros) onde trabalha com monitoramento de microplásticos em praias desenvolvendo metodologia de citizen science.
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