Lugar de lazer, habitat de muitos seres vivos e escritório de surfistas e pesquisadores. Não importa como é utilizada, e nem a cor e a profundidade do mar ou extensão da faixa de areia: o termo praia é usado livremente para falar geograficamente da parte da superfície terrestre que toca o mar. Pensando assim, o termo representa desde ambientes de praias oceânicas abertas, com alta energia de ondas, até ambientes estuarinos, extremamente protegidos. Existem também praias de ambientes de água doce, mas não falaremos neles por aqui.
Apesar dessa amplitude de significados, de maneira geral, pode-se considerar praias arenosas como áreas do litoral abertas para o mar, com sedimento inconsolidado que é constantemente retrabalhado pelas ondas. Esses ambientes dominam a maior parte da linha de costa dos trópicos, como aqui no Brasil, e regiões temperadas.
O que conhecemos popularmente como areia é em sua maioria uma mistura de partículas irregulares de quartzo, com fragmentos de conchas e detritos derivados de fontes marinhas e terrestres. No entanto, o termo “areia” na verdade se refere ao tamanho do grão (que varia de aproximadamente 0,1 mm a 2 mm), indiferente da composição, que pode ser muito variável. Areias podem ser mais finas ou mais grossas, a depender, por exemplo, do grau de ação das ondas: as praias protegidas têm partículas de areia mais finas do que as expostas, pois a energia das ondas só é suficiente para ressuspender e transportar grãos de pequeno porte. Além disso, existem praias que são formadas não só por areia, mas também por grãos de outros tamanhos.
Existe um gradiente em tamanho de partícula entre cascalho, areia e lama, com a lama sendo composta de partículas bem mais finas (chamadas silte e argila) e depositada em áreas de pouca movimentação das ondas, como nos estuários. À medida que o tamanho de partícula aumenta, o sedimento é então chamado de cascalho (veja mais sobre sedimentos marinhos nesse post). Estes substratos de partículas grandes não retêm água por causa de sua alta porosidade. Essa característica contribui para uma ausência ou baixa diversidade de vida em uma praia de cascalho.
Divisões de uma praia
A praia está subdividida em inúmeros ambientes: a zona de antepraia, que se estende da zona de arrebentação, onde as ondas começam a quebrar, até a zona de espraiamento, onde a praia é coberta e descoberta com o aumento da onda, formando um espelho d’água em alguns casos.
À medida que o ciclo das marés cobre e descobre a praia, a zona de antepraia avança e retrocede. A região entre a zona de arrebentação e a zona de espraiamento, a chamada zona de surfe é onde a maior parte de energia de onda se dissipa - e onde os surfistam surfam. A berma é caracterizada pela proeminente deposição de sedimentos carreados pelas ondas, constituindo um acúmulo de areia que mantém uma superfície superior plana e uma inclinação relativamente íngreme em direção ao mar. A zona costa afora é o mar aberto que se encontra ao largo da zona litorânea, e a zona do pós-praia é a região compreendida entre a crista do berma até o início das dunas.
Classificações das praias
As praias arenosas são classificadas de acordo com as sua declividade e a intensidade da quebra das ondas, já que a quantidade de energia liberada na arrebentação condiciona a distribuição dos grãos de sedimento. Assim, elas podem ser classificadas em:
Refletivas: possuem grande declividade, tamanho de grãos maior e incidência de ondas com alta energia sobre a face da praia;
Dissipativas: apresentam uma extensa região de quebra de ondas, onde a energia vai se dissipando. Na face da praia a energia de ondas é baixa, com granulometria mais fina e pouca declividade;
Intermediárias: abrangem todas as praias que ficam entre os extremos dissipativos e refletivos.
Veja fotos desses diferentes tipos de praias aqui.
Biodiversidade das praias
Os animais necessitam de adaptações especiais para viver em um ambiente onde substrato é fisicamente instável, já que os grãos de areia são continuamente movido pela água. O deslocamento contínuo da superfície de praias expostas exclui a possibilidade de morada para grandes espécies sésseis e grande epifauna (animais que vivem na superfície de um substrato do fundo marinho). Além disso, as praias de areia contêm relativamente baixas concentrações de matéria orgânica, o que significa que há menos disponibilidade de alimento para algumas espécies.
Mas nem tudo é problema! Por outro lado, a areia funciona como um tampão contra grandes flutuações de temperatura e salinidade e como capa protetora para intensa radiação solar. Assim, organismos que se enterram nas areias são mantidos úmidos e protegidos. Embora existam diferenças no ambiente e na distribuição de espécies, os padrões de zonação não são tão claros quanto em costões rochosos (falaremos sobre costões rochosos em um próximo Descomplicando). A zonação nas praias arenosas é dinâmica e variável, pois quando a maré sobe, muitas populações mudam suas posições podendo ir em direção ao pós-praia ou procurando abrigo.
Viu quanta informação cabe em uma praia? E agora, quando for a uma você irá olhá-la de maneira diferente?!
Passei por aqui para saber o tamanho de um grão de areia, que pode variar muito pelo que entendi., E tentar, talvez sem sucesso calcular quantos grãos de areia podem existir nas praias para rebater um argumento que sugere que existem mais estrelas no universo que grãos de areia nas praias...