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Quando o amor pela ciência consegue superar a ignorância

Atualizado: 22 de mai. de 2021

Por Alessandra Pfuetzenreuter

Ilustração feita por Alexya Queiroz


Uma boa parcela dos brasileiros sonha em um dia se formar em um curso de graduação. Seja por exigência dos pais ou por lutas e ambições próprias. No meu caso foi por lutas próprias. Quando eu decidi seguir na área ambiental, em 2013, inspirada em fazer parte daquele grupo que estava se propondo a salvar o mundo, enquanto todos os noticiários eram de desastres, poluição marinha e morte de milhares de baleias.


Vim de uma família onde meu pai estudou até o ensino fundamental e minha mãe até o ensino médio e técnico. Meu pai sempre trabalhou de pedreiro e sempre foi muito bom no que fazia, o pouco estudo que teve o ajudou em tudo o que foi preciso para desenvolver sua profissão. Minha mãe, logo que terminou os estudos, começou a trabalhar em uma empresa, assim como é o desejo de muitos pais ainda hoje para seus filhos.


Bem, eu sempre quis estudar.


Minha vida toda, a escola sempre foi meu “porto seguro” pois era quando estava longe dos problemas domiciliares (mas isso é assunto para outro dia). A escola, me trazia paz, brincadeiras, eu tinha uma melhor amiga, e lembro que toda sexta-feira era dia de levar seu brinquedo preferido e o meu era um Ursinho Carinho, que tinha uns 15 cm. Meus pais nunca entendiam por que, sempre que me mandavam dormir, eu ficava com uma frestinha da porta aberta, onde entrava uma mínima luz e eu ficava lendo os livrinhos da escola. E assim foi minha infância.


Sempre estava envolvida nas atividades de ciência, de laboratório e vivia na biblioteca. Nunca fui a melhor aluna, talvez porque desde cedo tinha a responsabilidade de cuidar de meus irmãos mais novos, o que acabava tirando um pouco do meu tempo de estudar e brincar. Minhas brincadeiras acabavam sendo fazer as “lições de casa” que as professoras passavam.


Na adolescência saí cedo de casa (ainda mais para os padrões atuais), com 18 anos, sem nenhum preparo, o que me impediu de continuar a estudar, pois precisava trabalhar para me alimentar. Acabei começando uma faculdade aos 22 anos, mas não consegui continuar por falta de estrutura e dinheiro. Anos mais tarde, acabei voltando para a casa de meus pais, e comecei a faculdade novamente. Acordava às 4h da manhã para pegar ônibus, ir para outra cidade, estudar, voltava, trabalhava até as 22h da noite, e quando chegava em casa, era só o tempo de tomar um banho e fazer as atividades que precisava para entregar no outro dia.


E assim foi... até que um dia, meu pai começou a gritar comigo porque eu ficava com a luz acesa para fazer as atividades da faculdade. Eu passava o dia fora de casa, estudando e trabalhando, e só tinha esse horário para fazer as minhas atividades, e mesmo assim ele não entendia e brigava comigo. Foi assim que resolvi sair de casa, novamente...


Fui morar com uma amiga do curso de graduação na cidade onde era a faculdade. Comecei a trabalhar em um bar, à noite, para pagar aluguel e comida, e foi assim até conseguir um estágio no Projeto Babitonga Ativa, onde aprendi muito sobre questões acadêmicas, profissionais e pessoais também. Esse estágio deu suporte mínimo financeiro para me manter, e que durou 4 dos 5 anos de faculdade. Nesse tempo, foram tantos os perrengues! Tive que me mudar umas 20 vezes em 4 anos, sem contar a casa que pegou fogo e uma casa com morcegos...


Mas essas são outras histórias.


Onde eu gostaria mesmo de chegar, é, em primeiro lugar, não é fácil passar anos em uma faculdade contando moedinhas para sobreviver. No meu caso, que não tive ajuda de meus pais, que pelo contrário, só me colocaram mais desafios, mesmo assim me formei... Com todo orgulho do mundo, chamei eles para a minha formatura, que não foi das mais glamourosas, mas para mim foi uma super conquista. Conquista que consegui porque encontrei (enfim) um parceiro que me apoiou em tudo que eu acreditava, e me deu forças para terminar meu curso... Pois até então, as únicas palavras que eu escutava (de meu pai/mãe, e ex-namorados) era “isso não dá futuro”, “vai ser o quê da vida? Professora?”, “quando vai começar a ganhar dinheiro?”, “quando vai achar um emprego de verdade?”, “está na hora de você crescer e ter responsabilidades”, entre outras tantas.


E minha resposta para essas negativas, sempre foi “eu sou alguém, eu tenho responsabilidades, eu faço muita coisa, e que professor(a) é a profissão mais valiosa do mundo”, mas em pensamentos, para mim, porque nunca tive coragem de afrontar essas opressões.


E mesmo assim, com um super apoio de meu namorado, entrei para o mestrado. Me formei mestra, mas o reconhecimento veio apenas de pesquisadores, como eu, e de alguns amigos, que também sabem de como é difícil essa vida acadêmica, principalmente no Brasil. Meus pais, souberam dessa minha nova conquista, mas nem se importaram.


Eu sigo, agora rumo ao doutorado, pois mesmo com tantos desafios, ainda acredito que a pesquisa e ciência no Brasil, mesmo não valorizada, ainda precisa ser feita, e precisamos mudar essa visão, precisamos valorizar, e ainda mais nos valorizar por fazer algo tão incrível, e que é capaz de mudar para melhor a vida das pessoas.

 

Sobre a autora:

Sou Alessandra, me formei em biologia marinha pela Univille, atualmente trabalho pesquisando assuntos relacionados à gestão costeira. Adoro o mar e toda a força que ele nos dá. Sou jogadora gamer nas horas vagas e meu jogo preferido é Final Fantasy XIV. Se quiserem me acompanhar ou entrar em contato sigam meu Facebook (Alessandra Pfuetzenreuter). Abraços, a todos e a todas e que sempre tenhamos força para continuar.








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