Por Jana del Favero e Carla Elliff
Quem são os corais?
Os corais são organismos do filo Cnidário (mesmo filo das águas-vivas). Eles começam sua vida como larvas que assentam sobre algum substrato, tornando-se recrutas. Com algumas exceções, corais tendem a crescer formando colônias. Isso quer dizer que uma única “cabeça” de coral é composta por centenas ou até milhares de indivíduos vivendo em conjunto. Além disso, a maioria das espécies de coral constroem exoesqueletos calcários. Esses exoesqueletos são a principal base para a formação da estrutura rochosa que tanto admiramos, os recifes de coral.
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Nem todo coral tem a capacidade de formar recifes. Porém, como este post é focado neste ecossistema, vamos explorar apenas aqueles que são considerados construtores.
Zooxantelas: os melhores amigos dos corais
O coral e as zooxantelas têm uma importante interação biológica, chamada mutualismo ou simbiose. Os corais garantem proteção contra a predação dessas microalgas e fornecem nutrientes essenciais (através de suas excretas) para que realizem a fotossíntese, enquanto as zooxantelas fornecem oxigênio e material orgânico (alimento) produzidos pela fotossíntese ao coral. Dessa forma, um cuida do outro.
A interação entre as zooxantelas e corais faz com que grande parte da ciclagem dos nutrientes ocorra nos próprios recifes de corais. Esta ciclagem de nutrientes interna é de importância primordial na manutenção da produtividade do recife em mares tropicais, que são tipicamente oligotróficos (pobre em nutrientes). Por isso recifes de coral são hotspots de biodiversidade, como um oásis no deserto.
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As zooxantelas vivem dentro do tecido do coral em uma relação de simbiose
(Fonte: Smithsonian Institution)
Temperatura e turbidez
Além da disponibilidade de nutrientes, a temperatura e a transparência da água também são importantes reguladores para o desenvolvimento dos recifes. Aqui vemos novamente como a relação de simbiose entre os corais e as zooxantelas é crucial para o sucesso não só de uma colônia de coral, mas para um recife inteiro.
A temperatura limita o crescimento de corais e recifes. Águas com temperaturas abaixo de 18 °C são frias demais para esses ecossistemas e acabam provocando a morte das zooxantelas. Esse limite influencia a distribuição de recifes de coral não só com relação às zonas tropicais e subtropicais, mas também com relação a qual lado do continente vamos encontrá-los. Recifes de coral tendem a ser mais extensivamente desenvolvidos ao longo das bordas orientais dos continentes (ou seja, o lado ocidental dos oceanos), pois estes são banhados por correntes quentes equatoriais dos giros de circulação oceânica (releia os posts sobre correntes aqui). Isso explica em parte o porquê de vermos tantos recifes no lado caribenho do Oceano Atlântico, mas tão poucos no lado africano, por exemplo.
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Os pontos vermelhos do mapa indicam a ocorrência dos principais
recifes de coral do mundo (Fonte: NOAA)
Por outro lado, temperaturas altas também são prejudiciais, pois levam à expulsão das zooxantelas do corpo dos corais. Essa é uma das principais causas de um fenômeno chamado branqueamento. Ao perder as zooxantelas presentes nos seus tecidos, os corais ficam brancos, pálidos. Porém a cor é apenas uma indicação do processo, o perigo mesmo para o coral está no fato de terem perdido seu principal fornecedor de alimento. Apesar de ser um processo reversível, é um fenômeno muito estressante e pode levar os corais à morte. Em 2016, uma onda de calor nos oceanos causou branqueamento seguido de mortalidade em massa em recifes de coral em diversos locais do planeta. O documentário Chasing Coral retrata muito bem como esse processo ocorre e seus efeitos devastadores sobre o ecossistema recifal.
Com relação à transparência da água, sabemos que águas turvas (ou seja, com alta turbidez) são pouco favoráveis para o desenvolvimento de corais. Isso é porque águas turvas/escuras, em geral, têm muito material particulado. As partículas em suspensão interferem na taxa fotossintetizante das zooxantelas, pois bloqueiam a passagem de luz. Assim, menos luz é absorvida pela água e luz é essencial para a fotossíntese pelas zooxantelas.
Além disso, essas partículas podem ser de sedimento presente na água que, ocasionalmente,podem se depositar aos poucos em cima do próprio coral. Mesmo uma fina camada de sedimento pode ser o suficiente para soterrar e matar esse animal. No entanto, algumas espécies, como a Montastrea cavernosa, têm mecanismos de defesa bem eficientes para suportar essa condição e conseguem se limpar desse material nocivo. Adaptar para sobreviver!
As formas dos recifes
Falando em sobrevivência do mais apto, durante a viagem do navio Beagle na década de 1830, Charles Darwin observou três tipos básicos de recifes de coral e formulou uma hipótese de formação que os relacionava. Segundo Darwin, a formação dos recifes é iniciada com o assentamento das larvas de coral com natação livre nas bordas submersas das ilhas ou continentes. Com crescimento e expansão desse coral, um recife em franja é formado ao longo da costa ou em torno de uma ilha. Este tipo de recife é o predominante no Mar do Caribe. Se o recife em franja estiver conectado às bordas de uma ilha vulcânica ou à outra massa de terra que está submergindo lentamente, os corais que compõem o recife continuam a crescer para a superfície (permanecendo na área com luz) e uma barreira de corais pode eventualmente se formar.
Recifes em barreira são separados da terra por uma lagoa, como o Grande Recife em Barreira da Austrália. Os atóis, por sua vez, marcam o último estágio deste processo geológico. Com o passar do tempo, a ilha vulcânica do exemplo que demos começa a sucumbir a processos erosivos. Isso quer dizer que ela vai diminuindo em altura até submergir abaixo do nível do mar. Nesse cenário, o recife de coral é deixado como um anel em torno de uma lagoa (ex. Atol da Rocas, localizado no litoral do Rio Grande do Norte - o único atol do Atlântico Sul).
Apesar de este ser apenas uma entre várias opções de evolução para os recifes de coral, até hoje usamos essa classificação descrita por Darwin para descrever a história evolutiva de alguns recifes.
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Nem só de corais vive um recife
Quando o recife se desenvolve, densas colônias de corais se misturam para formar uma intrincada rede de habitats que fornecem diversos nichos especializados para outros organismos. Daria para escrever uma enciclopédia se fossemos listar os tipos, cores, tamanhos, formas, estruturas especializadas, habitats e comportamentos de todas as espécies da fauna que habitam os grandes recifes. Para se ter uma noção, apesar dos recifes de coral cobrirem menos de 0,1% da área total dos oceanos do mundo, quase um quarto da fauna marinha conhecida é encontrada em recifes durante alguma fase de sua vida, ressaltando sua importância ecológica e econômica.
Todos esses organismos que ocupam o recife ajudam a moldá-lo. Por exemplo, o budião (também chamado de peixe-papagaio) tem um papel muito importante: ele se alimenta de algas que competem com os corais. Sem ele e outros peixes herbívoros, o recife poderia ser tomado por algas, que oferecem um ambiente muito menos complexo e que não é capaz de suportar toda a vida que depende daquele local.
Além disso, a própria estrutura de carbonato de cálcio que forma os recifes não é feita apenas por esqueletos de corais. Organismos como esponjas, moluscos e até algas do tipo incrustantes colaboram na construção do recife, secretando carbonato de cálcio para se fixarem e viverem uma vida séssil.
Saiba mais sobre o jardineiro dos recifes, o Budião, nesse vídeo:
Impactos e conservação dos recifes
Por estarem em regiões rasas e próximas à costa, os recifes de coral são muito vulneráveis às ações humanas. Crescimento urbano desordenado, descargas de poluentes, turismo descontrolado e pesca predatória são alguns exemplos das ameaças a esses ecossistemas tão importantes.
Mesmo longe do foco desses impactos muitas vezes crônicos aos recifes costeiros, infelizmente até recifes remotos também mostram sinais de degradação, principalmente devido a mudanças climáticas. Esse fenômeno traz diversos riscos. O aumento da temperatura média dos oceanos é frequentemente o primeiro problema que pensamos, causando branqueamento e estresse aos corais. No entanto, a acidificação dos mares é outro assunto importante nessa discussão. Com mais CO2 nas águas, os oceanos se tornam mais ácidos e isso dificulta a formação da estrutura carbonática do recife e a torna frágil. Combinado a isso, há o aumento na frequência e intensidade de tempestades também causado pelas mudanças climáticas. Um recife já fragilizado é menos capaz de suportar uma tempestade, sofrendo quebras e demorando muito tempo para se recuperar.
Ações urgentes são necessárias para garantir a conservação desse ecossistema. Medidas para diminuir a emissão de gases do efeito estufa devem ser promovidos, além de melhorar a gestão da nossa zona costeira. O lado bom é que as ações que precisamos para ajudar os recifes de coral são os mesmos que precisamos para ajudar mais um monte de ecossistemas! Aquelas dicas de sempre como diminuir o uso do carro, ser um consumidor consciente, não desperdiçar recursos, e tratar bem nosso meio ambiente continuam valendo. Além disso, cobrar de nosso poder público ações efetivas é essencial.
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