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Spam acadêmico



Considero que seja praticamente um rito de passagem na carreira acadêmica receber um email como o seguinte:


Prezado(a) Dr. Carla Ellif [te chamam de Dr., mesmo que não seja, e costumam errar a digitação do seu nome/sobrenome],

Cumprimentos!

A [Nome de uma Editora ou Revista] está com um processo de submissão aberto para a composição do e-book INTERNACIONAL em formato digital intitulado "Uniting Knowledge Integrated Scientific Research for Global Development" [ou algum outro título genérico que pode ter ou não a ver com sua área de pesquisa].

Após avaliar cuidadosamente o seu trabalho [mencionam o título de algum resumo de congresso de sua autoria], temos o prazer de informar que seu artigo está alinhado com nossos critérios e está apto a ser incluído em nosso livro.

Gostaríamos de ressaltar que o prazo para aceitar este convite é até [prazo bem curtinho]. Atualmente, nossa taxa de publicação é de [algumas centenas de reais] POR CAPÍTULO ACEITO.

Caso decida aceitar este convite, basta responder a este e-mail e enviaremos mais informações para dar continuidade ao processo.

Atenciosamente,

[Fulano]

[Nome da Editora ou Revista]


À primeira vista, você pode se sentir lisonjeado por ter tido um trabalho seu selecionado para virar um artigo ou capítulo de livro! Afinal, no meio acadêmico, as publicações são basicamente nossa moeda corrente. Porém, sinto por jogar um balde de água fria no seu entusiasmo, mas isso é provavelmente o caso de Spam Acadêmico.


No concorrido mundo de publicações, editoras e revistas predatórias encontram um solo fértil para se alastrar. No geral, estas revistas cobram pela publicação de artigos e não contam com o processo de revisão criteriosa por pares, necessário para garantir ciência de qualidade. São máquinas de produção acadêmica vazia, que atraem pesquisadores desavisados e outros que estão dispostos a ignorar os limites éticos para benefício próprio.


Os riscos de se cair em um golpe desses incluem gastar dinheiro para uma publicação que nunca vai sair, gastar dinheiro para uma publicação que de fato sai, mas que não tem valor científico algum, desgastes à sua reputação, entre outros.


E como seu email entra numa lista dessas? Bom, nossos dados estão em todos os cantos da internet. Um livro de resumos de um congresso legítimo pode virar a fonte de informação sobre autores, seus e-mails e seus resumos apresentados. Pronto!


Infelizmente, não tenho dicas de como evitar a chegada desses e-mails maliciosos (que inclusive podem conter links perigosos – NUNCA clique em nada num email de remetente desconhecido!), porém posso dar umas dicas de como identificar um convite real de um golpe:


  1. Primeiro é importante entender que ser convidado para publicar algo ou ser palestrante em um congresso (sim, o spam acadêmico também pode ser sobre isso) é algo que simplesmente não acontece quando se está no início da sua carreira. Até para pesquisadores com muitos anos de experiência é raro receber um convite direto, direcionado a você com esse pedido. Muito mais comum é você receber divulgações para chamada de artigos em edições especiais de revistas, que não irão massagear seu ego.

  2. Você já ouviu falar da editora/revista que está te fazendo esse convite? Jogue no Google o nome dela para ver quais os resultados que aparecem. Também existem sites de verificação próprios para identificar revistas predatórias. Nesta matéria aqui você encontra uma lista bem legal!

  3. Observe se há erros na grafia ou frases que soam estranhas no contexto acadêmico. Por exemplo, uso de muitos pontos de exclamação, palavras rebuscadas incomuns ou gírias informais (às vezes as duas coisas ao mesmo tempo), entre outros.

  4. Converse com seus colegas sobre o convite recebido. Já vi casos de gente bem experiente caindo em golpes desse tipo, então compartilhar a informação é essencial para todos se prevenirem.


Uma dica extra é guardar os melhores spams acadêmicos recebidos, só para dar risada depois! Aliás, se você é do tipo que adora um TED Talk, precisa assistir este sobre o que acontece quando se responde um email de spam!

Se você está cansado de se deparar com tanto spam acadêmico e quer ajudar outros pesquisadores a evitarem esse tipo de revista, você pode ajudar a identificar esses periódicos. O Ibict e o MCTI acabaram de lançar uma pesquisa para fazer um mapeamento de revistas predatórias. É só acessar o link para o formulário.


Aqui embaixo estão alguns dos spams acadêmicos que recebi e guardei, com anotações minhas apontando as melhores partes. Divirtam-se e tenham cuidado com os golpes!!

 

Sobre a autora


Carla é oceanógrafa pela Unimonte com mestrado e doutorado em geologia pela UFBA. Pelas andanças da pós-graduação passou pela Universidad da Cantabria na Espanha, UFSC e FURG. Atualmente é pesquisadora pós-doc no Instituto Oceanográfico da USP.


​O que mais gosta é a interdisciplinaridade dos oceanos. Já trabalhou com biologia pesqueira, recifes de coral, serviços ecossistêmicos, modelagem hidrodinâmica, gestão costeira, mudanças climáticas, geodiversidade, lixo no mar... e acredita que tudo está conectado!








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