Por Carla Elliff
Quando pensamos nos oceanos, algumas palavras-chave costumam vir à mente: água salgada, peixes e a cor azul. Mas e se eu te dissesse que a cor vermelha tem uma história talvez mais interessante para os oceanos que a cor azul?
Cores são nossas percepções da luz refletindo sobre diferentes materiais. Quando vemos um objeto amarelo isso significa que, entre todas as cores que a luz branca carrega, é aquele tom de amarelo que aquele objeto reflete de volta, enquanto as outras cores são absorvidas. A luz é composta por ondas eletromagnéticas, que são ondas resultantes de fontes de energia elétrica e magnética juntas. Essas fontes podem ser desde um micro-ondas na sua cozinha, ou até o nosso Sol, por exemplo.
Esquema do reflexo da cor de um objeto e a absorção das outras cores (Fonte: Bate-Papo com Netuno com licença CC BY SA 4.0)
Mas o que faz uma cor ser diferente da outra?
Assim como outros tipos de ondas, as ondas eletromagnéticas se propagam com variadas frequências e oscilações. Isso determina o comprimento delas, que é uma das características mais importantes para entendê-las. Como falado no começo, tanto as ondas emitidas pelo seu micro-ondas quanto as ondas vindas do Sol são do mesmo grupo. Mas, a não ser que você desenvolva superpoderes, você nunca verá cores saindo enquanto sua pipoca estoura!
Acontece que existe uma variação muito grande de possíveis frequências e comprimentos de ondas eletromagnéticas. Nós humanos conseguimos ver apenas uma pequena porção delas, que se encaixam no que chamamos de espectro visível. Fora desse intervalo de comprimento de onda, temos ainda as ondas ultravioleta e o infravermelho, por exemplo.
Variação de ondas eletromagnéticas de acordo com sua frequência e comprimento. Na imagem, infravermelho (IR) (Fonte: Wikimedia com licença CC BY-SA 3.0)
Aqui, vamos focar no nosso espectro visível. Ele é composto pelas cores vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e violeta. Esta é a ordem dos comprimentos de onda do mais longo (vermelho) ao mais curto (violeta) e essa informação faz toda a diferença para os oceanos.
Como sabemos, o oceano é um grande corpo d’água e, já que a água é mais densa que o ar, é mais difícil para a luz se propagar. Apesar da luz solar conseguir, em certas condições, alcançar profundidades de até 1.000 m, ela raramente ultrapassa 200 m. A partir daí temos um mundo escuro, que exige adaptações incríveis para a sobrevivência dos seus habitantes. Porém, muito antes de toda luz acabar, alguns comprimentos de onda “enfraquecem” e se perdem pelo caminho. É como se a profundidade do oceano aos poucos fosse filtrando a luz, cor por cor.
Esquema da perda de comprimentos de onda da luz solar de acordo com a profundidade, em metros, no oceano (Fonte: Bate-Papo com Netuno com licença CC BY SA 4.0)
A primeira cor a ser perdida é o vermelho. Isso acontece porque ele tem um comprimento de onda mais longo, o que significa que ele tem menos energia. Com menos energia, a onda enfraquece mais rapidamente e deixa de se propagar. O resultado disso é que a partir desse ponto no oceano, onde o comprimento de onda não chega, a cor vermelha simplesmente não é mais visível.
Porém, o fato dela não ser mais visível não a torna menos popular! Na realidade, ser um peixe vermelho nessa profundidade do oceano, traz uma vantagem incrível para sua sobrevivência: você se torna quase invisível para seus predadores e para suas presas. Sem uma outra fonte de luz, objetos e seres vermelhos nesse caso vão ter uma coloração azul-acinzentada que se mistura com a cor do seu entorno, funcionando como uma excelente camuflagem.
Esse é o caso de muitas espécies de organismos marinhos. Por exemplo, o peixe-relógio (Hoplostethus atlanticus) que vive entre 180 e 1.800 m de profundidade em diversas regiões do planeta. Ele é predado por tubarões, moreias, e parentes do bacalhau e da cavala. Ser quase invisível é uma ajuda e tanto…
O peixe-relógio, um importante recurso pesqueiro, estampando um selo das Ilhas Faroé (Fonte: Wikimedia em domínio público).
A cor de muitos organismos marinhos é uma adaptação que depende de qual posição na coluna d’água eles vivem. (Ilustração: Catarina R. Mello com licença CC BY SA 4.0)
Entender como as ondas eletromagnéticas da luz solar se propagam no oceano também responde uma pergunta clássica: por que o oceano é azul?
Vídeo demonstrativo da perda das cores no oceano (Link de acesso)
Dentro do nosso espectro visível, o comprimento de onda mais curto (e, portanto, com mais energia) seria o violeta. No entanto, o violeta que normalmente imaginamos, num tom entre lilás e roxo, é na realidade uma mistura de frequências de ondas. A luz solar contém bem menos ondas nessa frequência. O tom mais no fim do gradiente do nosso espectro que é refletido pelos oceanos é o anil, um azul profundo. Ou seja, os oceanos são azuis pela mesma razão que qualquer outro objeto tem sua cor: eles refletem melhor essa tonalidade devido às suas características físicas, enquanto absorvem as outras. Um mar mais verde pode ser o resultado de uma floração de microalgas, que afetam a forma como a luz é refletida. Da mesma forma, a foz do rio Amazonas é escura, amarronzada, por conta da cor refletida pela grande quantidade de partículas de sedimento ali presentes, que foram trazidas pela água doce.
Diferentes cores do oceano (Foto1: Catarina Ruiz - Ubatuba/SP; Foto2: André Pálóczy - Costa do Rio de Janeiro/RJ; Foto3: Jana del Favero - Ilha de Marajó/PA, com licenças CC BY SA 4.0)
E aí? Vai tentar enxergar os peixes vermelhos invisíveis na próxima vez que vir um mar azulzinho?
Formatado por: Catarina R. Mello
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