Por Naira Silva
Estes pequenos (na maioria dos casos) seres vivos entraram na minha vida em 2006, quando cursava o segundo ano do Bacharelado em Oceanografia no IO (USP, SP). Durante uma aula de Ecologia, timidamente pedi estágio no Laboratório de Sistemas Planctônicos (LAPS) e a paixão surgiu ao olhar para o plâncton oceânico vivo, recém-retirado da água do mar, ao auxiliar no doutorado do Profº Dr. Mauro de Melo Junior (também ex-aluno do IO-USP, que hoje ainda estuda o plâncton, só que lá em Pernambuco).
O plâncton vivo é um verdadeiro espetáculo de cores, formas e movimentos! É tão diferente de tudo que conhecemos que todos deveriam dar uma “espiadinha”, pelo menos uma vez na vida! De lá para cá ele sempre esteve presente no meu dia a dia de alguma forma: neste exato momento, por exemplo, estou rodeada por vidrinhos de organismos planctônicos que vieram de águas bem distantes (do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, PE, Brasil). Amigos de longa data devem recordar que eu já falava sobre eles nos corredores do colégio, mas confesso que foi uma surpresa ter tido a oportunidade de realmente trabalhar um pouquinho com estes fantásticos organismos.
Mas o que você sabe sobre o plâncton? Será que eles realmente têm algo em comum com o “Plankton” (termo equivalente na língua inglesa) do Bob Esponja? Como “planctóloga” (uma pessoa que estuda o plâncton, dentre outras coisas ;)), acredito que devemos ser gratos ao biólogo marinho Stephen Hillenburg, criador da série O Bob Esponja, por ter tornado o malvado Sheldon “Plankton” tão popular. Biólogo e fascinado pela vida marinha desde a infância, Stephen abraçou várias iniciativas até conseguir unir as três áreas de foco nas quais encontrou motivação e exibiu talentos: artes, biologia marinha e divulgação científica1.
O quadrinho precursor da série (chamado “A zona Entre marés” em português) foi criado na década de 80, enquanto o autor lecionava Biologia Marinha no Ocean Institute (Califórnia, EUA). Encurtando a história, foram quase dez anos para que as suas estranhas criaturas ganhassem vida na telinha1. Sua persistência presenteou a nossa geração com um personagem que tornou mais fácil tocar no assunto em diferentes contextos; um mérito indiscutível! Em qualquer “googlada” pelo termo “plâncton” ele estará por lá exibindo seu sorriso maquiavélico. E até nas redes sociais não tem para ninguém! Ele é o “#plankton” mais famoso!
Eles já estiveram por aqui no nosso primeiro post (acesse aqui), onde a Catarina ilustrou os principais questionamentos por trás de uma pesquisa científica centrada neste tema, navegaram com a Izadora, que explicou como eles podem representar um problema de saúde pública em nossos portos (acesse aqui) e também marcaram presença no depoimento da Lilian (acesse aqui). Então, se você perdeu algum detalhe, antes de passear pelos outros posts, vamos recapitular:
O termo “plâncton” representa uma grande categoria (assim como insetos, por exemplo) que reúne um conjunto diverso de organismos. Esta junção é possível devido a uma característica principal em comum: possuem reduzida capacidade de locomoção, de forma que são “carregados” ou “flutuam” passivamente no ambiente aquático que habitam. Existem seres planctônicos vegetais (fitoplâncton), as microalgas, e animais (zooplâncton). Aqui estamos conversando sobre o reino de Netuno, mas organismos planctônicos podem ser encontrados em todos os ecossistemas aquáticos! Se considerarmos todos os seus variados tamanhos: seres uni e pluricelulares, incluindo bactérias, protozoários e vírus (teremos um post sobre eles em breve), apenas uma gota de água do mar pode esconder uma infinidade de seres vivos! Mas eles não são sempre microscópicos, ok? As medusas que você está vendo no layout do blog, por exemplo, também são consideradas planctônicas devido à sua baixa capacidade de deslocamento. Sempre que olho para uma paisagem marítima, penso ser difícil imaginar que exista tanta vida em um ambiente tão silencioso!
Ponto fundamental ressaltado pela Catarina: 0 Plâncton = 0 Peixes! A matemática é simples assim! Seres planctônicos (animais e vegetais) são a base de todas as cadeias alimentares marinhas e em algum momento, direta ou indiretamente, serviram de alimento para todos os “frutos do mar” que chegam fresquinhos à sua mesa. Além disso, muitos animais marinhos adultos também já pertenceram ao zooplâncton algum dia.
Como assim? Muitos peixes, crustáceos e moluscos possuem fases larvais que se encaixam perfeitamente na característica mencionada acima. Porém passam apenas sua infância/juventude no plâncton recebendo outras denominações à medida que vão amadurecendo. Quando um organismo para a sua vida inteira no zooplâncton ele é conhecido como holoplâncton, enquanto que organismos que passam apenas fases iniciais do ciclo de vida são chamados de meroplâncton. Os indivíduos meroplanctônicos são verdadeiras “sementes” lançadas à imensidão oceânica. No caso dos peixes, por exemplo, pouquíssimas larvas sobrevivem até a fase adulta (lembra das larvinhas da Cássia? acesse aqui). Por tudo isso e um pouquinho mais, conhecer bem estes organismos, isto é: quem são, por onde andam e como se comportam; é uma das chaves para a conservação da biodiversidade em nossos oceanos!
E quanto ao vilão Sheldon Plankton? Arrisco-me a dizer que ele se parece muito com um ser zooplanctônico. E se pudéssemos perguntar para Stephen, certamente ele tentou atribuir características antropomórficas a um copépode (Figura B na imagem acima)! Copépodes são super populares no plâncton, pois são os crustáceos microscópicos mais abundantes na maioria dos oceanos. Você conseguiria imaginar que existem cerca de 1 × 1021 deles nadando por aí3? Dá até medo, mas é verdade! E também é provável que existam mais copépodes do que insetos no Planeta Terra4! Não vou me estender muito, pois eles vão pintar novamente por aí na sexta-feira (post da convidada Sabine Schultes). Neste vídeo do TEDs (pelo Projeto Crônicas do Plâncton) além dos aspectos conceituais apresentados anteriormente, também é possível observar a incrível diversidade do plâncton marinho! Não deixe de assistir: Todos os peixes são plâncton (All fish is plankton).
Netuno indica:
* A natureza escondida5. Texto muito interessante sobre o plâncton marinho: http://www.oeco.org.br/frederico-brandini/17094-oeco-14538
* Vídeos:
- Crônicas do plâncton: http://www.planktonchronicles.org/en/ ainda sem tradução, o Projeto Crônicas do Plâncton combina arte e ciências para mostrar a diversidade do plâncton marinho. As imagens são tão belas que é difícil indicar uma crônica preferida! A ideia foi concebida dentro do contexto do Projeto Tara Oceans e as filmagens obtidas na escuna Tara, na qual a colunista Catarina já embarcou (acesse aqui).
- Plâncton Safari: http://www.planktonsafari.net também em língua inglesa, este portal disponibiliza diversos vídeos do plâncton marinho gravados com câmeras de alta frequência (“supercâmeras”).
* Imagens:
- Cifonauta: http://cifonauta.cebimar.usp.br/ um dos maiores bancos de imagens de organismos marinhos do Brasil, com fotografias surpreendentes do plâncton marinho, disponibilizadas sob a licença de uso Creactive Commons (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/deed.pt_BR
- Fotos e vídeos podem ser compartilhados e reutilizados para fins não comerciais, sem necessidade de autorização prévia, desde que fonte e autoria sejam citadas de maneira adequada; e seja distribuída uma licença igual ou similar à esta). Uma valiosa ferramenta para divulgação científica!
* Acredite! Eles existem! E você pode coletar o seu☺!
- http://chc.cienciahoje.uol.com.br/sopa-de-plancton/Tradicionalmente esses organismos são coletados com um equipamento conhecido como “rede de plâncton”: nada mais que uma peneira no formato ideal para “filtrar” uma grande quantidade de água que permita concentrar o plâncton. Neste artigo de divulgação você pode encontrar uma dica bacana de como comprovar que eles realmente existem! Eu testei o “método da meia-calça” e realmente funciona! É possível coletar muitos indivíduos ainda que na zona de arrebentação da praia.
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