É cada vez mais comum a saída de brasileiros para estudar e/ou pesquisar no exterior, quer seja durante a graduação ou durante a pós-graduação. Todo mundo já ouviu falar de pessoas que tiveram experiências maravilhosas no exterior, outras que tiveram algumas frustações e desapontamentos. A decisão de sair do conforto de casa, ficar longe da família, dos amigos, nunca é fácil. Para nós mulheres, muitas vezes o intercâmbio deixa de acontecer porque o marido não pode acompanhar, ou porque tem a escola do filho. Eu tive a sorte do meu marido ter aceitado embarcar nessa aventura comigo, e como no momento estou morando nos Estados Unidos, resolvi compartilhar com vocês minha experiência e dar algumas dicas, para tentar ajudar aqueles que pretendem estudar e/ou pesquisar no exterior.
A idéia de fazer a dupla titulação surgiu no final do meu mestrado, quando o convênio entre o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP) e a Universidade de Massachusetts (UMASS) estava ainda sendo assinado. Alguns professores da UMASS foram para o Brasil divulgar a faculdade, o programa, e desde o principio já quis participar, pois muito me interessou a história de fazer um único doutorado e sair com os dois diplomas...
Cheguei em New Bedford - Massachusetts (EUA) em agosto de 2014 e confesso que o povo americano foi algo que de cara me surpreendeu. Apesar daquele aspecto mais frio típico de qualquer estrangeiro, foram bastante solícitos e prestativos. Não esperem abraços, beijos e a recepção brasileira, mas com o tempo você vai se sentido acolhida. Me ajudaram a arrumar um apartamento e praticamente o mobiliei de graça, cada dia era alguém me oferecendo alguma coisa... Além do mais, os alunos do instituto onde estou marcam happy hour praticamente a cada 15 dias, me acolheram no Thanksgiving, Natal, festa de Halloween etc.
Bem, mas vamos ao que interessa, a faculdade. É fácil perceber que sim, eles tem dinheiro, sim eles tem equipamentos e sim, eles tem bons professores e pesquisadores. Mas sinceramente, nada que não seja encontrado pelo Brasil em diversos institutos também. Mas a idéia desse post não é comparar instituições do exterior versus brasileiras, isso daria um outro post e uma outra discussão. O que pretendo com esse post é fazer comparações mais culturais e do nosso dia a dia.
Uma das coisas que estranhei é o fato de não ter propriamente uma hora de almoço, sair um grupo para almoçar é bem raro e, quando acontece, é marcado com bastante antecedência. A grande maioria leva marmita e, ou come rapidinho na copa, ou come na frente do computador mesmo. Eu particularmente sempre vou pra copa na esperança de ter alguém disposto para um papinho. Outra diferença é não ter hora do café, aquele outro momento que você sabe que vai encontrar amigos para um outro bate papo. Em compensação, às 17 horas todo mundo já foi embora, então você tem o resto do dia pra ir pra academia, happy hour, compras etc... e nesse momento sim vão socializar com você. Senti isso nítido, local de trabalho é trabalho, lazer é lazer.
Essa distinção entre trabalho e social ficou bem nítida no dia em que fui ao NOOA (National Oceanic and Atmospheric Administration) me encontrar com um pesquisador que conheci em um congresso em Miami em 2013 e encontrei novamente com ele em Quebec em 2014. Nossas conversas no congresso sempre foram como amigos e ele se mostrou bastante interessado no meu trabalho e disposto a ajudar. Cheguei no NOOA esperando que fôssemos tomar um café, prosear, e depois discutir o trabalho. Mas não, chegando já fui direto para a sala de reuniões, meu “amigo” chegou com mais dois pesquisadores que brevemente se apresentaram e já pediram para eu apresentar meu projeto, o que eu estava pesquisando. Foram três horas de discussão do meu trabalho, bastante produtivas, que culminaram numa parceria que mantenho até hoje. Porém, o bate papo que eu estava esperando que fosse acontecer, como sempre acontecia quando encontrava esse pesquisador nos congressos, não aconteceu.
Outra coisa que acho que quem vem para o exterior fazendo dupla titulação deve aproveitar é a oportunidade de cursar disciplinas, coisa que somente um “sanduíche” não te oferece. É interessante ver como é tratada uma disciplina no exterior. Por exemplo, todo dia antes da aula você já tem que ter lido o capítulo correspondendo ao tema, ter assistido as aulas online (sim os professores gravam vídeos e colocam online) e na aula mesmo é só uma revisão rápida e discussão.
Por aqui também se tem seminário toda semana, um ótimo momento para ver pessoas e não tomar café sozinho, além dos seminários serem sempre interessantes... Fico feliz de um dia ter seminário de alguém do Woods Hole, outro de alguém do MIT, Harvard, NOOA (se você nunca ouviu falar nessas instituições vale a pena um google, todas são instituições de peso na área da oceanografia). Acho importante aproveitar o momento no exterior para fazer contato com outros pesquisadores e ampliar o network.
Outra dica que dou para qualquer pessoa indo para um país que tenha um inverno mais rígido é se programar para chegar no verão. Dessa maneira você chega ainda quentinho, sol brilhando, e se estiver no hemisfério norte pegará todo o outono. Não tem como não se apaixonar pelo outono, ver todas as árvores mudando de cor e as folhas caindo, até o cheiro fica diferente. Quando o inverno chega você tem que mudar totalmente tua rotina, não dá mais para andar tranquilamente, tudo fica branco e cinza, e o pessoal não para de reclamar que todo dia tem que limpar o carro pra sair, do frio etc... Mais uma boa razão para fazer tua chegada no verão, você já terá feito amizades e durante o inverno será convidada para jantares e cervejinhas na casa de amigos, que passa a ser a programação principal em dias de frio e nevasca. Mas para nós, “gringos”, é uma experiência única e linda. Até ficar duas horas tirando neve do carro ou andar pela rua como se fosse um rink de patinação no gelo passa a ser divertido. E por fim chega a primavera, e a cada grau que a temperatura aumenta você percebe a mudança no rosto das pessoas, todos voltam a sorrir.
O mais importante de lembrar é que você que é o peixinho fora d’água, então não espere que eles se acostumem com você, mas sim você que deve se acostumar com eles, com seus modos e culturas. Tente sempre ver o lado positivo das coisas e das pessoas, tentando não reclamar de tudo que aparecer... Aproveite o momento para abraçar todas as oportunidades, todos os eventos, seminários e trabalhos que aparecerem. O interessante é voltar para o Brasil com a bagagem cheia de novos aprendizados e histórias.
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