Resultados da Busca
512 resultados encontrados com uma busca vazia
- Esportes ao ar livre e Conservação ambiental: Uma onda boa de se pegar
Por Malu Abieri e Débora Camacho Ilustração de Malu Abieri O esporte é, há muito tempo, considerado uma eficiente ferramenta de transformação social. Espalham-se pelo Brasil exemplos de projetos que utilizam o esporte para mudar a realidade de crianças e jovens em diferentes situações sócio-econômicas. Mas será que o esporte também pode ser uma ferramenta de transformação ambiental e auxiliar na conservação do oceano? Para falar desse assunto conversamos com a Letícia Parada, Educadora Física e idealizadora de um projeto que “envolve a aplicação de tecnologia para o reaproveitamento de resíduos plásticos encontrados em praias, ao mesmo tempo em que a prática de esportes é fomentada lançando mão da educação ambiental” (se quiser conhecer mais sobre o andamento do projeto da Letícia, clique aqui ) “Movida pelo oceano”, definida pela própria Letícia em sua página pessoal no Linkedin, a Educadora Física conta que sua relação com o esporte, através da prática ou consumo de conteúdos, começou muito cedo e aos 14 anos não tinha dúvidas da profissão que iria seguir. Apesar das práticas de esportes ao ar livre, como o surf, a sua relação profissional com a área de ecologia no entanto só surgiu mais tarde, levando-a realizar o mestrado em ecologia. Sua primeira linha de pesquisa, no entanto, estava voltada a entender o impacto da poluição atmosférica na saúde humana durante a prática de exercícios físicos. De fato há estudos que mostram que a prática de exercício em ambientes poluídos trazem riscos à saúde e redução do desempenho¹,² e entender cada vez mais essa relação é essencial para adoção de medidas de prevenção e elaboração de políticas públicas voltadas ao tema. No entanto, como muitas leitoras acadêmicas aqui irão entender, o projeto de Letícia não saiu como o esperado, e ela teve que “se reinventar” para cumprir com as obrigações de uma bolsista, ela precisava entregar algum resultado. Foi assim que Letícia caiu na face oposta dessa moeda. Se de um lado a prática de esporte em um meio ambiente saudável é essencial para a saúde humana, do outro lado pergunta-se: A atividade física pode ser usada como um ferramenta de educação ambiental para a conservação do meio ambiente? E essa pergunta teve que esperar um pouquinho mais até o seu projeto de doutorado. Surfista da Praia Grande em São Paulo, Letícia percebia no curto caminhar até o mar uma grande quantidade de lixo, sendo ainda pior nas segundas-feiras, ou seja, após o final de semana (ou após feriados) quando as praias estavam ainda mais cheias. E, assim como muitos frequentadores assíduos da praia, começou a catar esse lixo para jogar fora, e percebia que muitas pessoas se interessavam e se sentiam estimuladas a participar dessas “coletas” junto a ela. No início era algo pontual, até participou de alguns “desafios” de um “Instagrammer” internacional onde o perfil que coletasse maior número de lixo ganhava pequenos prêmios, como camisetas. Mas ainda assim, algo a incomodava muito: o destino desse lixo. “Não tem um ciclo … Que retorna de alguma forma e traz um benefício maior do que só a retirada do lixo. Que é um benefício a retirada do lixo… Mas quando ele é retirado dali, ele vai para um aterro, vai se misturar com areia e dificilmente será separado para ganhar uma nova vida”. Com o fim do mestrado, Letícia embarcou em diversas aventuras e percebia que a questão do lixo era grave em todos os lugares que visitava, e o “desejo de transformar esse resíduo de praia, independente de onde estivesse, …, e se tornar algo útil e que fosse relacionado ao esporte, foi crescendo”. E assim teve mais um “click” para o seu projeto de doutorado. O lixo plástico sujando as praias e a Letícia fazendo a diferença, coletando esse material e reconectando as pessoas. Imagem 1: licença Canva, Imagem 2 cedida por: Letícia Parada. No início, Letícia tentou fazer a reciclagem de forma bem “caseira”, cortando à mão os plásticos e usando “forninho” elétrico. Nesses primeiros testes ela percebeu diversas questões a serem aperfeiçoadas para melhor reciclagem e moldagem dos produtos. Atualmente, está concretizando a sua própria usina de reciclagem, montada em parceria, onde consegue realizar todas as etapas da reciclagem, desde a separação do material por tipo e cor, até a moldagem de diferentes objetos, como as tão famosas pranchinhas de mão. A surfista percebeu que o engajamento seria ainda maior quando as pessoas se sentissem mais conectadas ao ambiente e até mesmo ao lixo transformado que fora retirado daquele mesmo lugar. Ao ver uma raquete de frescobol ou até mesmo um raspador de parafina feito a partir da reciclagem de materiais encontrados na praia, os frequentadores se sentiam ainda mais envolvidos em não apenas dar o destino correto ao lixo, mas também coletar o que já estava na praia. Leticia e sua prancha de mão de tampinhas recicladas. Imagem cedida por: Letícia Parada Além disso, Letícia também se questionou se os esportistas ao livre tinham maior engajamento e conscientização ambiental, não apenas vendo a natureza como um objeto de uso mas sim como parte dela. Alerta de “spoiler”!! Os resultados preliminares mostram que sim! Pessoas que praticam esportes ao ar livre se sentem mais responsáveis em manter aquele ambiente limpo, livre de resíduos. Desde esportes aquáticos, como surfistas que trazem lixos das águas em seus bolsos, até os esportistas de areia, como jogadores de vôlei e “beach tennis”, que se preocupam em se ferir com as tampinhas e palitos, o engajamento é ainda maior quando estamos conectados àquele ambiente. Cada vez mais estudos mostram os benefícios das atividades físicas, principalmente praticadas ao ar livre, em contato com a natureza. Agora é a nossa vez de trazer os benefícios à natureza da nossa presença, nos conectando e tirando dela a nossa bagunça. #ParadaNoMar #Upcycling #ElaNoMar #Menos1Lixo #Esporte #EsporteEConservacao #BatePapocomNetuno #LigadasMulherespeloOceano #RessoaOceano Esse texto foi produzido em parceria com o projeto Rede Ressoa Oceano, Liga das Mulheres pelo Oceano e Bate-Papo com Netuno. Sobre a Entrevistada Profissional de Educação Física e Esporte, mestre em Ecologia e doutoranda em Ciência e Tecnologia Ambiental. Apaixonada pelo mar e pelas ondas, fundou o “Ela No Mar”, primeiro e único canal de bodysurf do mundo no YouTube ( clique aqui para conhecer mais do canal). Minha vida é pautada na natureza e sou movida especificamente pelo oceano. É ele quem me encoraja a aceitar desafios e superar meus limites, desempenhando o papel de uma bússola tanto no âmbito pessoal quanto profissional. Meu propósito é educar pessoas para que reconheçam o oceano como elemento essencial à vida humana e assim possam tornar-se agentes da transformação positiva da natureza. Sobre as autoras Maria Luiza Abieri é Bióloga e Mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente, atua como colaboradora do Bate-Papo com Netuno e bolsista CNPq na Rede Ressoa Oceano. A inserção do Bate-Papo com Netuno à Ressoa Oceano amplia ainda mais a rede, promovendo a divulgação científica e a visibilidade das ciências do mar e cultura oceânica através de informações científicas de qualidade, baseadas em uma linguagem acessível e lúdica. Débora Camacho Luz é Bióloga, formada pela Universidade Federal de Rio Grande (FURG), membro da Liga das Mulheres Pelo Oceano e bolsista CNPq DTI na Rede Ressoa Oceano. A Ressoa Oceano é uma rede formada pela Liga das Mulheres Pelo Oceano, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da UNICAMP (LabJor), a Cátedra da Unesco pela Sustentabilidade do Oceano e a Ilha do Conhecimento. Essa rede tem como objetivo promover a ciência e a cultura oceânica para além do litoral e centros de pesquisa, conectando cientistas e jornalistas para a abordagem do tema nos meios de comunicação e investindo em projetos e iniciativas de comunicação sobre o oceano. Referências | Para saber mais: Canal “Ela no Mar” https://www.youtube.com/c/elanomar #VidaDeCientista #MaluAbieri #ParadaNoMar #Upcycling #ElaNoMar #Menos1Lixo #Esporte #EsporteEConservacao #LigadasMulherespeloOceano #RessoaOceano
- A storyteller called otolith and fisheries biology
By Natasha Travenisk Hoff English edit by Carla Elliff *post originally published in Portuguese on October 8, 2020 In addition to being time tellers, how can otoliths help in fisheries biology? Illustration by Joana Ho. In the world of bony fish, otoliths can be considered true storytellers: these calcified structures , present in the form of three pairs ( sagitta, lapillus and asteriscus ) in the fish's head and responsible for balance and sound perception, they grow in layers of carbonate and protein with daily deposition (like an onion, you know?). These structures allow us, scientists, to make inferences about their eating habits, what type of environment they were born in, whether they migrate, among many other possibilities. The most common and well-known use is in fish growth studies. In the post “ How to know the age of a fish and other things... ”, Chat with Neptune editor, Claudia Namiki, talks about what otoliths are and how much information these small structures carry. Side view of the inner ear of a teleost fish, including the position of the three pairs of otoliths (sagitta, asteriscos and lapillus), and their location in the head. (Illustration by Natasha Travenisk Hoff, license CC-AS-BY 4.0). Generally, those who start working with otoliths begin their studies by analyzing the growth of their rings during their undergraduate or master's degrees, moving on to other types of analysis later... I only started my work with otoliths during my doctorate, in 2015, analyzing their shape and chemical composition applied to fisheries oceanography! Everything was effectively new to me, which represented a great personal and professional challenge! And the most interesting thing is that these little structures always bring me new curiosities, applications, questions... and that makes me want to know more about them every day! What I bring to you today was a chapter from my doctorate, recently published in the Journal of Applied Ichthyology, in which we sought to evaluate, through the shape of the otolith, the population structure of the bigtooth corvina ( Isopisthus parvipinnis , a cousin of the weakfish that is widely caught even though it is not a target species or having much commercial value), from the northern coast of the state of São Paulo to Santa Catarina, divided into five sub-regions, at two very different times: in 1975 and 2018/2019. In other words, we wanted to know if the species has different population units (or fishery stocks) and if these varied over these 43 years, speculating about the causes of these variations. But “how important is this?”, you ask. When we talk about fisheries management, knowledge about different stocks helps us organize fishing and assess the possibility of recovering a species in the face of very intense exploitation ( overexploitation ), whether or not this species is the targeted species, or changes to the natural environment or due to human action. For example, if the population of a species is restricted to the Santos region, it would be much more vulnerable than if it were distributed across the coast of São Paulo. This is the bigtooth corvina (Isopisthus parvipinnis, Sciaenidae) and a map containing the locations where the individuals I analyzed were captured in 1975 and 2018/2019 in the coastal region of the states of São Paulo, Paraná and Santa Catarina. Photo and map: Natasha Travenisk Hoff, license CC-AS-BY 4.0. The shape of the otoliths of each species is unique and, therefore, very useful in studies on the feeding habits of organisms that feed on fish, but the factors that determine this shape have not yet been completely understood. What is known is that there is a strong genetic component, which determines the general shape, but that there is also variability related to sex, age, diet, environmental conditions, and other factors such as water temperature, depth, type of substrate (mud, sand, gravel, etc.). Due to all these influences, population units were found to be recognizable and distinguishable through the variations in otoliths of the same species! Example of different shapes of otoliths. Source: COSS – Brasil ( http://usp.br/cossbrasil/glossario.php ), license CC-BY 3.0. And these variations were observed by us, not only spatially, but also between the two periods studied. Look what we found: In 1975, the bigtooth corvina formed a single population unit. Even living in environments with different oceanographic characteristics, whether under the influence of large estuaries in the south of São Paulo and Paraná (Cananéia and Paranaguá, respectively), or due to the resurgence phenomenon, which affects the north of São Paulo and the region of Santa Catarina. In 2018/2019, a new condition was observed, with the formation of four population units: one in the north of SP, another in the center of SP, a third between the south of São Paulo and Paraná, and a fourth in Santa Catarina. And what could be the causes for such changes? We attribute this differentiation between locations and years to the different ecosystems and oceanographic processes found in the study area, and to changes in the coastline, which have altered the contribution of river waters to the coastal environment in the last 40-50 years, as we can see in the figure below. Evolutionary scheme of the mouth of the Guaraú River (near the collection site in Peruíbe, SP) in the years 1966, 1973, 1981 (Tessler et al., 2006, available at www.mma.gov.br/publicacoes-mma ) and 2020 (Google Maps). Fish, like all living beings, are capable of adapting to natural environmental changes or those induced by human action through modifications in their physiology and behavior, which are not necessarily related to genetic changes, but which directly affect reproduction, morphology or survival. For this reason, it is important to emphasize that our results are not necessarily evidence of genetic differentiation. The use of otoliths to evaluate fish stocks in Brazil is still in its infancy and no other Brazilian species had been approached in the way we did, comparing samples so old with current ones. As this was the first analysis with this species, it is also important that other methods are tested to support and/or challenge the results obtained. Spoiler alert: the analysis of the chemical composition of these same otoliths presented very similar results, but with more confidence in the distinction of population units and also distinguished Santa Catarina from the other locations studied in 1975. In itself, this study raises many other questions, such as: 1. Did this same process happen with other species? 2. Can we see any impact on fishing, given that stocks can behave in different ways in the face of fishing pressure? 3. Could the decrease in the number of bigtooth corvina captured recently be a reflection of this process? It could be, since the species occurs as an accidental capture and little attention is directed to it and so many other species in the same situation. 4. Knowing that changes in the coastal zone due to human action can directly and indirectly impact fish populations, what can we, as a society, do in the face of these changes? Be a critical citizen: seek to know the origin of the fish you consume (why does meat need seals to be sold while fish does not?); whether they are threatened species; support local fisheries; if the sewage of the coastal city you like to visit is treated or the condominium/building/house you are staying in by the sea has a license... Anyway, it is clear that there are natural variations occurring in the ocean that could lead to this distinction between populations, but we have to be aware of the influence that our society exerts (and more so every day!) on different ecosystems, and take responsibility for changes that improve these relationships between human beings and the environment, especially the marine environment! --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- References or reading suggestion Coleção de Otólitos de Peixes Teleósteos da Região Sudeste-Sul do Brasil (COSS – Brasil). Site: www.usp.br/cossbrasil/ Hoff, N.T., Dias, J.F., Zani-Teixeira, M.L., Correia, A.T. 2020. Spatio-temporal evaluation of the population structure of the bigtooth corvina Isopisthus parvipinnis from Southwest Atlantic Ocean using otolith shape signatures. Journal of Applied Ichthyology, 36: 439-450. doi.org/10.1111/jai.14044 Tessler, M.G., Goya, S.C., Yoshikawa, P.S., Hurtado, S.N. 2006. São Paulo , in Muehe, D. (org.), Erosão e progradação no litoral brasileiro. Brasília: MMA. pp. 297-346. www.mma.gov.br/publicacoes-mma Vignon, M. 2012. Ontogenetic trajectories of otolith shape during shift in habitat use: Interaction between otolith growth and environment. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, 420-421(2012):26-32. doi:10.1016/j.jembe.2012.03.021 Volpedo, A.V., Vaz-dos-Santos, A.M. 2015. Métodos de estudos com otólitos: princípios e aplicações. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: PIESCE - SPU. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- About the author Passionate about the sea, music (playing or dancing, I've even given ballroom dancing classes!), and family. I am an oceanographer with a degree from the University of São Paulo, and a master's degree in Science (Oceanography, area of concentration in Biological Oceanography) from the Oceanographic Institute of the University of São Paulo. Currently, I am in the final phase of my doctorate at the same institute, with inorganic chemistry, fish ecology, otoliths, and biotic integrity of fish communities being my main lines of research. Contato: tashahoff@gmail.com #FisheryStocks #Otoliths #IsopisthusParvipinnis #MarineScience #Oceanography #FisheryBiology #MarineBiology #Fisheries #NatashaHoffChat
- 20º COLACMAR e 8º CBO: novos rumos para eventos sobre Ciências do Mar. Será mesmo?
Por Natasha Travenisk Hoff Entre os dias 13 e 16 de agosto, oceanógrafos, biólogos marinhos e todos os apaixonados pelas Ciências do Mar se reuniram em Itajaí (Santa Catarina - Brasil) para a realização do 20º Congresso Latino-Americano de Ciências do Mar e 8º Congresso Brasileiro de Oceanografia . Foram mais de 2.400 inscritos e, é claro, que o Bate-Papo com Netuno não poderia ficar de fora: tivemos um pôster intitulado “ O papel da Divulgação Científica no incentivo às oportunidades de trabalho nas Ciências do Mar ”, no qual fui autora em parceria com a nossa editora Juliana Leonel. Neste trabalho, mostramos como a atuação do Bate-Papo com Netuno, enquanto plataforma de Divulgação Científica das Ciências do Mar, pode ir além da difusão do conhecimento científico, influenciando e acolhendo, principalmente as mulheres, nas suas escolhas profissionais. Como a vida acadêmica também é a escolha de muitas/os estudiosos do mar, ressaltamos a importância da Rede de Compartilhamento de Experiências na Pós-Graduação . Nossa editora, Natasha T. Hoff, na apresentação do pôster "O papel da divulgação científica no incentivo às oportunidades de trabalho nas Ciências do Mar". Foto cedida por Natasha T. Hoff com licença CC BY NC-ND. Aproveitamos o evento, ainda, para reunir nossas integrantes Carla Elliff, Luiza Soares e eu, Natasha Hoff! Pode parecer simples, mas a equipe do Bate-papo com Netuno divide-se entre cinco estados brasileiros e um encontro entre os membros da equipe é raro. Luiza Soares, Natasha T. Hoff e Carla Elliff, editoras do BPCN, no evento. Foto cedida por Natasha T. Hoff com licença CC BY NC-ND. O evento contou com uma parte cultural muito bacana, com a presença de artesãos e apresentações, como a do grupo “ Tartaruga-de-mamão ”, projeto de extensão do IFSC campus Itajaí que trabalha o tema da preservação marinha usando personagem da cultura catarinense (como o Boi de Mamão ), e que encantou o público de todas as idades! Mas duas coisas chamaram atenção no evento… A primeira diz respeito à participação das mulheres . Logo na cerimônia de abertura, ficou clara a falta de representatividade feminina: uma mesa composta por nove homens e apenas UMA mulher. Um detalhe é que a maioria das pessoas presentes, participantes do evento, eram mulheres. Irônico, não?! Quando questionado no instagram do evento, eles disseram que “tinha uma mulher”. Como se não bastasse a baixa diversidade na mesa de abertura, ao chamar a única mulher ali presente para fazer sua fala, trocaram seu nome pelo nome de um homem na mesma instituição. Ela, com todo jogo de cintura possível para manter o decoro, respondeu ao ocorrido com algo próximo a “é tão incomum chamar mulheres para compor essas mesas que até trocam os nomes na hora, né?!”. Ovacionada pelo público presente! Confesso que isso ficou martelando em minha cabeça e decidi fazer uma estatística básica sobre os convidados (palestrantes e ministrantes) e pasmem: mais de 70% deles eram homens ! E isso sem considerar os simpósios temáticos… Esse desequilíbrio fala muito sobre a invisibilização de mulheres nas ciências , a dificuldade de mulheres alcançarem (e se manterem) em cargos de liderança , a necessidade de superar essa deficiência nos nossos eventos científicos e de combater o machismo estrutural no ambiente de trabalho . O segundo ponto que me chamou a atenção foi a quantidade de famílias com crianças andando pelo evento. Achei muito legal de ver, mas o fato é que, se havia os dois responsáveis presentes, é mais provável que se revezaram para assistir alguma palestra enquanto o outro cuidava da cria. Triste realidade para eventos de tamanha relevância, mas que que ainda não entenderam a necessidade de oferecer “Espaço Kids”, como foi feito na Semana Nacional de Oceanografia de 2023 . Há alguns anos, isso talvez não fosse notado ou questionado, mas, queridos organizadores, o mundo está mudando! Demorou, mas esse momento chegou… esperamos ver maior equidade nos próximos eventos oceanográficos, que também considerem as necessidades das famílias e cuidadores solo! #NetuniandoPorAí #MulheresNaCiência #CiênciasDoMar #COLACMAR2024 #CBO2024
- São Paulo Ocean Week 2024
Nos dias 18 a 22 ocorreu o maior evento de Cultura Oceânica da América, a SP Ocean Week . Esse evento, anual e GRATUITO, visa promover ações de comunicação, divulgação científica e educação ambiental sobre o Oceano através de uma programação diversa, interativa e que abrange todas as idades. Nós, do Bate-Papo com Netuno, não poderíamos ficar de fora! Jana del Favero participou de um painel intitulado “ Cultura Oceânica | Um oceano inspirador e envolvente ” ao lado do Rodrigo Thomé (Euceano), Natalia Ghilardi-Lopes (UFABC) e Germana Barata (LabJor e Ressoa Oceano), e do lançamento do livro do “ Uma Onda de Mulheres pelo Mar ”, editado pelas incríveis Leandra Gonçalves e Patricia Furtado de Mendonça, no qual teve a honra de contribuir com um capítulo. Essa obra fala sobre a força feminina, a inclusão, a diversidade e a busca incansável por um futuro mais sustentável para nossos mares através de histórias poderosas de mulheres de várias regiões do Brasil. E olha que a Jana não estava sozinha. Ela estava acompanhada do seu fiel companheiro, o Suvaco, personagem de seis livros infantis que buscam conectar crianças dos diversos ambientes marinhos. A dupla participou de três contações de histórias e distribuiu 200 livros “ Suvaco, o oceano e uma viagem no tempo ” para as escolas inscritas e todos que participaram das contações. Dizem por aí que além de fotos e autógrafos, Suvaco distribuiu carisma e muitas lambidas. Claudia Namiki participou do painel “ Recomendações dos Signatários do Compromisso para o Futuro do Oceano - Sociedade civil ”, ao lado de Luana Seixas (Instituto Meros do Brasil), Oscar Lopes Luiz (Instituto Neo Mondo), Laura Piatto (Instituto Monitoramento Mirim Costeiro) e Fernando Assanti (Instituto Selo Social), onde conversaram sobre os avanços conquistados pela Década, suas limitações, e apontaram caminhos para o futuro, focando principalmente na ampliação da comunicação o grande público e com os tomadores de decisão. Além disso, Cláudia e as alunas e alunos do IOUSP levaram exposição “Pequenos Notáveis: Histórias dos Seres Microscópicos que Sustentam Toda a Vida no Oceano" que nos convida a mergulhar no universo microscópico marinho, revelando a importância vital dos seres marinhos microscópicos para o equilíbrio dos ecossistemas oceânicos. A mostra é fruto do Projeto de Caracterização Regional da Bacia de Santos (PCR-BS), coordenado pelo CENPES PETROBRAS e liderado pela USP, com a colaboração das universidades brasileiras UNIFESP, UFPR, UFRJ e UFF. Natasha Hoff participou da Barraca do Peixe, atividade do Laboratório de Ecologia da Reprodução e do Recrutamento de Organismos Marinhos do Instituto Oceanográfico da USP ( @ecorrep.iousp ). Nesta atividade, voltada para crianças, adolescentes e adultos, busca-se apresentar estruturas morfológicas de peixes, tubarões e raias; e suscitar discussões sobre consumo consciente de pescado, petrechos de pesca e ecologia. E não poderíamos deixar de falar da emocionante entrega do Prêmio Marta Vannucci para Mulheres na Ciência do Oceano . Nossa editora Carla Elliff, premiada na categoria Jovem Cientista na primeira edição do prêmio, participou mais uma vez do comitê de seleção representando o Bate-Papo com Netuno. Neste ano, reconhecemos e celebramos as trajetórias profissionais de duas brilhantes cientistas do mar: Zelinda Margarida de Andrade Nery Leão e Marina Nasri Sissini. Ainda dá para assistir à gravação deste momento, que inclui um bate-papo com as premiadas, no YouTube da Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano . Um evento como a SP Ocean Week, repleto de informação e arte, é essencial para deixar o oceano marcado nas mentes e nos corações das pessoas, e assim cumprir um dos grandes objetivos da Década, de tornar o oceano conhecido e valorizado por todos . Já estamos ansiosas pela próxima edição em 2025! Esperamos você por lá! 😉 Confira alguns momentos da SPOW 2024!
- Uma sonequinha embaixo d'água: será que os peixes dormem?
Por Natasha Travenisk Hoff É fato que tentamos humanizar quase todos os processos na natureza. Será que podemos fazer o mesmo com o "sono" dos peixes? Você gosta de dormir? É daquelas pessoas que dorme "como uma pedra" ou que acorda com qualquer barulhinho ou luz? Poucas horas de sono são suficientes ou, se o despertador não tocar, o mundo pode acabar, mas você não sai da cama? Para nós, seres humanos, dormir é uma parte essencial da vida! Uma boa noite de sono nos permite ter um dia bacana, de bom humor... Inclusive, para neurocientistas e pesquisadores do sono, mesmo que sem muitas evidências concretas, dormir é um componente vital para os animais e a privação de sono pode ser letal! Mas será que, no oceano, os peixes também dormem como a gente? Antes de responder esta pergunta, acho importante definirmos o que é "dormir" e quais os processos fisiológicos envolvidos nessa ação. Pois bem, para entender o conceito e comparar com outros termos que podem confundir um pouco as coisas. A primeira distinção que deve ser é entre sono e ritmo circadiano, relacionado à variação nas funções biológicas, que se repete regularmente em ciclos de, aproximadamente, 24 horas. A maioria dos animais precisa ajustar sua atividade às condições ótimas de disponibilidade de presas, ameaça de predadores, oportunidades sexuais, temperatura e outras variáveis que afetam sua sobrevivência e que variam com o período do dia (como exemplo, temos as migrações verticais diárias do zooplâncton descritas aqui ). O ato de dormir persiste mesmo em animais que não apresentam ciclo circadiano! Outros termos que podem ser confundidos são descanso, torpor e hibernação. O primeiro refere-se a um estado de atividade reduzida sem perda de consciência ou redução acentuada da responsividade. O torpor é um mecanismo de economia de energia dos animais, em que reduzem sua taxa metabólica, batimentos cardíacos e, até mesmo, a temperatura corporal por um período menor que 24 horas. Quando esse período de torpor perdura por dias ou semanas, chamamos de hibernação. Finalmente, então, temos que o sono é definido como um estado de imobilidade rapidamente reversível e de responsividade sensorial bastante reduzida. A tal "vontade" de dormir é influenciada pela regulação circadiana e histórico prévio de sono-vigília. Os osciladores circadianos, como os olhos e a glândula pineal, são acionados por sinais ambientais, comumente ciclos naturais de luz-escuridão, para atuar como marcapassos para o tempo adaptativo do sono e da vigília. Além disso, ele é regulado homeostaticamente, ou seja, o sono perdido é compensado com um aumento na necessidade de sono, dormindo-se mais e mais profundamente. Conseguiram perceber as diferenças? Seguimos então... Em relação aos peixes ósseos - actinopterígios -, a maioria dos estudos foca em espécies não marinhas. Mas algo é unânime: os peixes não têm pálpebras, assim, não podemos esperar que eles fechem os olhos para uma sonequinha, certo! Um dos peixes mais estudados são os peixes-zebras, que habitam ambientes de águas interiores, como os rios. Eles têm comportamento diurno e não nadam enquanto dormem, permanecendo praticamente imóveis próximos da superfície. Seu ciclo de sono é regido por mecanismos circadianos, com redução e irregularidade nas taxas respiratórias. Em um segundo momento do sono, acontece algo similar a fase do ciclo de sono chamada de REM (do inglês Rapid Eyes Movement = movimento rápido dos olhos), observado nos mamíferos: observa-se atonia muscular, ou seja, a perda temporária do tônus muscular, e aumento na variabilidade da frequência cardíaca, na ausência de movimentos oculares, o que os diferencia dos mamíferos. Estudos comportamentais realizados com espécies recifais das Bermudas, ilhas britânicas no Oceano Atlântico norte, e de águas interiores mostraram que peixes, como muitas espécies da família Labridae (budiões) e Scaridae (peixes-papagaio), também dormem. Alguns padrões encontrados foram: redução da locomoção e das taxas respiratórias, enterramento em substrato arenoso (onde permanecem inativos até o amanhecer), os organismos são facilmente manuseados sem resposta, entre outros. Uma curiosidade sobre os budiões é que, algumas espécies, produzem algo como uma “cápsula” composta por muco, dentro da qual permanecem durante a noite. Ou seja, eles produzem algo similar a um saco de dormir! Demais, não é mesmo? Algumas vantagens dessa “cápsula” é que ela oferece proteção contra predadores, mascarando seu cheiro, e funcionando como uma barreira física, que dá tempo para que o peixe adormecido acorde e reaja à invasão. Registro de budião em sua “cápsula”, realizado pelo Projeto Budiões. Como os movimentos oculares durante o sono estão relacionados ao sono REM em mamíferos, pássaros e talvez lagartos, algumas observações de movimentos oculares durante períodos de quiescência (inatividade) sustentada em peixes de recife das Bermudas suscitaram a possibilidade de um estado semelhante ao sono REM em peixes ósseos. No entanto, não há novos registros desse comportamento desde 1969, então, não podemos fazer uma afirmação em relação a isso. Estudos realizados com espécies de mais de 20 famílias de elasmobrânquios (raias e tubarões), apresentaram também algumas evidências de que esses organismos dormem, tais como a organização circadiana, a imobilidade e redução na consciência. Alguns comportamentos semelhantes a dormir já foram registrados em tubarões: espécimes de tubarão-lixa e tubarão-de-Port-Jackson já foram observados descansando em uma caverna rochosa, enquanto tubarões-limão são conhecidos por ficarem imóveis no fundo arenoso por longos períodos de tempo. Já os tubarões-de-pontas-brancas-de-recife, geralmente descansam em grandes congregações intraespecíficas (de tubarões de uma mesma espécie). Mas nem toda soneca se faz à noite na natureza, sabia? Algumas espécies que vivem associadas à superfície de fundo, como os tubarões-chifre ( Heterodontus francisci , oceano Atlântico norte) e o tubarão-gato ( Cephaloscyllium ventriosum, oceano Pacífico ocidental), foram observadas dormindo durante a maior parte do dia, seja na natureza ou em cativeiro. Para eles, os comportamentos natatórios e alimentares iniciam-se ao anoitecer. Infelizmente, há ainda muitas incertezas acerca do comportamento de sono dos actinopterígios e elasmobrânquios, em função da diversidade filogenética, e da dificuldade de registrar a função cerebral na água e reproduzir o habitat desses organismos em cativeiro. Ainda, muitas dúvidas também surgem devido ao fato de muitos estudos não poderem ser reproduzidos, algo que deve ser assegurado em estudos científicos. Portanto, querido amigo que me enviou a pergunta "peixes dormem?" em uma caixinha de perguntas do Instagram, há indícios de que os peixes, sejam eles actinopterígios ou elasmobrânquios, dormem, sim, só não necessariamente esse processo acontece da mesma forma como acontece conosco! Referências ou sugestão de leitura: Kelly, M.L.; Collin, S.P.; Hemmi, J.M.; Lesku, J.A. 2019. Evidence for sleep in sharks and rays: behavioural, physiological, and evolutionary considerations. Brain, Behavior and Evolution, 2019(94):37-50. DOI: 10.1159/000504123 Siegel, J.M. 2008. Do all animals sleep? Trends in Neuroscience, 31(4):208-213. DOI: 10.1016/j.tins.2008.02.001 Sobre a autora: Oceanógrafa, mestre e doutora em Oceanografia, na área de concentração Oceanografia Biológica, pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP), com período sanduíche em Portugal, no CIIMAR (Universidade do Porto). Atualmente, é pesquisadora de Pós-Doutorado no IOUSP e editora voluntária do Bate-Papo com Netuno. A Oceanografia entrou em sua vida muito cedo, quando tinha apenas 12 anos. Desde então, sua curiosidade a leva para novos e diferentes caminhos a cada nova empreitada. Acredita que o diferencial da Oceanografia é justamente a multidisciplinaridade. Assim, tem experiência com análises climatológicas, química inorgânica de sedimentos, unidades de conservação, integridade biótica da ictiofauna, estoques pesqueiros, análises morfométricas, otólitos e, desde 2021, entrou no mundo da paleoecologia! #Peixes #Elasmobrânquios #TubarõesERaias #CicloCircadiano #Sono #PeixeDorme #Ictiofauna #CiênciasDoMar #DivulgaçãoCientífica #NatashaHoff
- Vortices: do physics and biology communicate with each other?
By Filipe Pereira English edit by Carla Elliff *post originally published in Portuguese on November 5, 2020 Illustration by Joana Ho . We humans are terrestrial animals. It is therefore natural that we are more familiar with continental environments than with oceanic ones. Therefore, to show how the physics of the oceans can affect the lives of the organisms that live there, especially the primary producers, I will begin our discussion by drawing a parallel between the oceanic subtropical gyres and terrestrial forests. Primary producers , such as plants and algae , also called photosynthetic organisms, are essential for the functioning of most food chains on the planet. They are the only living beings capable of transforming the energy of sunlight into the chemical energy that drives life on Earth by producing organic matter (food) through photosynthesis . In order to carry out photosynthesis, they need light, water, carbon dioxide and nutrients . In terrestrial environments, the incidence of light is usually not a major problem, and the availability of carbon dioxide is much less so. What usually limits the growth of terrestrial plants is the availability of water and nutrients. Under ideal conditions, water and nutrients are within reach of the plants’ roots and they can thus thrive. In the marine environment, however, the main photosynthetic organisms are, for the most part, microscopic and transported by currents, known as phytoplankton . Of course, water is not a problem in the sea, nor is carbon dioxide either. The limiting factors for the growth of marine phytoplankton are, therefore, light and nutrients. Seawater has the property of absorbing light very efficiently . At a depth of just a few meters, the ocean is already a dark environment and therefore incapable of sustaining photosynthetic organisms. In other words, the only habitable zone for phytoplankton is a thin surface layer that rarely exceeds 100 m in depth and is called the euphotic zone , where there is enough light to sustain the photosynthesis of these organisms. Nutrients are rapidly consumed by phytoplankton in the euphotic zone and therefore have low concentrations at the ocean surface. On the other hand, part of the organic matter produced sinks and is remineralized (decomposed) and transformed into nutrients again at greater depths. Since nutrients are not greatly consumed below the euphotic zone, they are found in higher concentrations at greater depths. Diagram showing the distribution of water, light, and nutrients on land and in the ocean. Photosynthesis occurs in well-lit regions on both land and in the ocean. The difference is that on land, vertical transport of nutrients is done by the plants themselves, while in the ocean, this depends on physical processes to bring nutrients to the euphotic zone. OM denotes organic matter, and H2O represents liquid water. License CC 4.0 BY-SA. See, we have a problem here: in the large subtropical gyres , which correspond to most of the oceans and are illustrated in the figure below, the greatest concentration of nutrients is at depth, far from the reach of primary producers. In other words, surface concentrations of nutrients are low and therefore there is no great growth of phytoplankton communities. This makes the gyres less productive than coastal regions, for example. Global map of satellite-measured surface chlorophyll (SeaWiFS), the areas circled in red show the major subtropical gyres with lower chlorophyll concentrations. Chlorophyll concentration is an indirect way to estimate the amount of phytoplankton present in the water. Adapted from https://earthobservatory.nasa.gov/images/4097/global-chlorophyll . NASA. Since light is abundant at the surface and the highest concentrations of nutrients are below the euphotic zone, only physical phenomena occurring in these regions can alter these environmental conditions. There is no way to make light go deeper, so only when nutrient-rich waters are somehow brought to the surface can the growth rate of phytoplankton increase. These conditions, of increased nutrient concentration at the surface, allow the ecosystem to become more productive relative to the average state, as discussed above. This is where ocean physics is essential to better understand how these organisms can thrive in these ecosystems . We can think that physical processes condition the environment where these organisms live. When we talk about physical processes, we are basically referring to water movements . These movements are horizontal : transporting phytoplankton to regions that are more or less favorable for their growth or trapping them in a limited area; and vertical : they can alter the concentrations of nutrients available to phytoplankton if the velocities are upward, or pushing these organisms out of the euphotic zone if the velocities are downward. Several physical processes can affect the ecology of the surface layers of the ocean. One of the most studied mechanisms are mesoscale vortices . These are the phenomena responsible for oceanic weather (as in weather forecasting) and can be roughly understood as the marine version of hurricanes and atmospheric typhoons. These structures are hundreds of kilometers in size and are common in the ocean. They can be easily seen from satellite data on temperature, sea level and even chlorophyll concentration, the pigment responsible for photosynthesis in primary producers. Vortices are areas of high or low oceanic pressure and consist of circular movements, being in geostrophic balance, that is, they are large enough for their dynamics to be governed by the Earth's rotation. They are classified as anticyclones when they rotate in the opposite direction to the Earth's rotation, acting as high-pressure centers, or cyclones when they rotate in the same direction as the Earth, acting as low-pressure centers. Diagram of cyclonic and anticyclonic vortices in the southern hemisphere. F is the force generated by the pressure difference between the center and the edge of the vortex (always points to lower pressure), this force is balanced by the force C generated by the Earth's rotation (Coriolis force). This is the geostrophic balance, and generates velocities V that rotate around the centers of high (anticyclone) and low (cyclone) pressure. The pressure at the center of the vortex implies vertical velocities (w) downward (red arrow) in the anticyclone, and upward (blue arrow) in the cyclone. The vertical scale of the surface elevation is exaggerated for better visualization. License CC 4.0 BY-SA . Okay, but how do these phenomena influence the growth rate of phytoplankton? Get this, a high-pressure center implies an “accumulation” of water in the vortex. This weight pushes the water downwards, causing the nutrient-rich water to be carried even further to the bottom; inhibiting the growth of phytoplankton. In the opposite situation, in a cyclonic vortex, the low pressure generates upward vertical velocities, bringing waters that are richer in nutrients to more superficial and more illuminated regions, which can favor the growth of these organisms. The phenomena I presented earlier would be the ideal situations shown in oceanography books, but it is not uncommon to find cyclonic vortices with low productivity and anticyclonic ones with high… 😅😅😅. The interaction of the vortex with the wind, for example, can invert the sign of the vertical velocities in the first meters of the water column, generating an effect opposite to that expected: cyclonic vortices with downward vertical velocities and anticyclonic ones with upward vertical velocities! Other smaller phenomena that commonly occur at the edges of vortices, called sub-mesoscale phenomena, can greatly intensify the vertical velocities at the edges of vortices, and these can present higher concentrations at the edges than at their centers. What we want to show with this “flood” of information is that the ocean is a complex and chaotic system . Several processes are happening at the same time, and the sum of all these phenomena results in what we observe in nature. Okay, that's all really cool, right? But why should we understand it? Remember that these organisms are the basis of marine food webs . Imagine subtropical gyres as large deserts; mesoscale vortices would be oases where there is high primary production. They end up attracting other larger organisms, such as fish, due to the greater availability of food. Understanding the dynamics of these processes can be important for fisheries management in some regions, for example. In addition, the photosynthesis of marine primary producers is an important way of sequestering carbon from the atmosphere (as are forests), and is a key factor in understanding the carbon cycle on our planet and, therefore, has significant effects on the climate . Ultimately, understanding the distribution and ecological dynamics of marine phytoplankton is directly affected by ocean movements , and has important implications for human activities and certainly affects our way of life. *the ocean has an average depth of 4 km. Suggested reading: McGillicuddy Jr, D.J., 2016. Mechanisms of physical-biological-biogeochemical interaction at the oceanic mesoscale. Annual Review of Marine Science , 8 , pp.125-159. (doi : 10.1146/annurev-marine-010814-015606 ) Mahadevan, A., 2016. The impact of submesoscale physics on primary productivity of plankton. Annual Review of Marine Science , 8 , pp.161-184. (doi: 10.1146/annurev-marine-010814-015912 ) About Filipe Pereira: Filipe is from Bahia, originally from Alagoinhas. He has always been curious about how the Earth works and decided to be a scientist since the third grade of elementary school. He began his studies in biology at the State University of Feira de Santana (UEFS), but soon realized that he was looking for a more interdisciplinary education. He went to the Federal University of Bahia (UFBA) to study oceanography, where he was encouraged to go to the University of São Paulo (USP), where the course would have a stronger foundation in physics. He graduated in oceanography in 2017 from USP, and is currently studying for a PhD in Physical Oceanography in the Dual Degree Program in Marine Sciences between USP and the University of Massachusetts Dartmouth. He mainly studies the dynamics of oceanic and coastal fronts at the mesoscale and sub-mesoscale, and their effects on plankton ecology. In addition to being passionate about the Earth, he loves aquariums and music, and is a singer in the USP Todo Canto Choir as a baritone. #Oceanography #MarineScience #EarthScience #Vortices #Phytoplankton #Ecology #Guests
- Greenwashing
Por Juliana Leonel Você já deve ter visto diversos produtos (ou propagandas) usando os termos sustentabilidade, green , ecologicamente correto, eco-friendly etc em embalagens na cor verde, com desenhos de folhas ou outras formas que remetem à natureza. O uso cada vez mais disseminado desses termos em produtos, propagandas, discursos, documentos etc, pode ser fruto do greenwashing . Mas o que é isso? Greenwashing (ou lavagem verde) é a técnica de usar ideias ambientalistas para criar uma imagem pública responsável, vender mais produtos dando aos consumidores a impressão de melhor desempenho ambiental ou benefícios ambientais de um produto/serviço, ou mostrar uma responsabilidade ambiental que não corresponde às ações. Ela é aplicada por empresas, ONGs, pessoas, governos, instituições etc. A técnica não é novidade e é usada desde a década de 80. No entanto, ganhou muito mais espaço na última década e é identificado em milhares de produtos. Mas qual o problema do greenwashing ? Além de gerar confusão nos consumidores, o aumento no uso de técnicas de greenwashing pode ter efeitos negativos sérios na confiança do consumidor e do investidor em produtos verdes. Exemplos de greenwashing relacionados ao oceano: 1. Calçados e roupas feitos de garrafas PETs retiradas do oceano. A iniciativa até parece interessante e vende bem. No entanto, representa uma percentagem tão - mas tão pequena - em relação aos demais produtos destas marcas que usam plástico virgem que fica a pergunta “Qual o real impacto dessa iniciativa?”. Além disso, depois que o PET é usado para produzir fibras (para tênis, camisetas etc), ele não pode ser mais reutilizado ou reciclado - como acontece com as garrafas - e precisa ser descartado ou em aterros sanitários ou incinerado. Também é importante citar que há empresas que dizem que alguns dos seus produtos são feitos de plásticos retirados do mar, mas nas entrelinhas explicam que apenas uma pequena percentagem (10-20%) do plástico usado naquele material veio da reciclagem e o restante é plástico virgem. Outras dizem que usam plásticos que “estavam indo para o mar”, mas o que isso significa? Eles tiraram plástico efetivamente do ambiente ou eles usaram plásticos que foram direcionados para a reciclagem? E por fim, o que estas empresas têm feito para reduzir realmente o uso de plástico ou para tornar seus produtos mais duráveis e, consequentemente, diminuir a quantidade de produtos descartados? 2. Mineração do fundo do oceano. Em nome da transição energética - e, consequentemente, de frear o aquecimento global - empresas (e governos) têm defendido que é necessário liberar a exploração de nódulos polimetálicos no fundo do oceano. Embora seja necessário diminuir o consumo de combustíveis fósseis, isso deve ser pensado não só no modo de substituir uma forma de energia por outra, mas mudando hábitos. Por exemplo, se trocarmos todos os carros movidos a gasolina por carros elétricos, estaremos criando outro problema ambiental grave. O que precisamos é investir em transporte público, repensar as cidades para que as pessoas não precisem se deslocar por grandes distâncias e possam usar meios de transporte alternativos (como bicicletas). Com relação à produção industrial, temos hoje um sistema que incentiva o consumo exacerbado que precisa ser repensado não só por questões climáticas, mas também para diminuir a exploração de recursos ambientais e dos trabalhadores. 3. Selos em pescados. Selos que atestam que determinado peixe foi retirado do oceano usando técnicas menos destrutivas e com menor geração de descarte de pesca . No entanto, várias denúncias mostram que diversas organizações responsáveis por esses selos não estão realmente fiscalizando como está ocorrendo a pesca e manejo das espécies. E se você quiser mais exemplos, sugiro a leitura deste texto sobre plásticos biodegradáveis . Sobre a autora: Formada em oceanologia na FURG com doutorado em oceanografia química pela USP. Entre um trabalho, uma bolsa e um intercâmbio passou também pela Unimonte, UFPR e UFBA, Texas A&M University, Health Department of New York, Heriot-Watt University e da Stockholm University. Atualmente é professora adjunta na UFSC. Trabalha com poluição marinha, principalmente contaminantes sintéticos e resíduos sólidos. Mas também atua na geoquímica estudando o ciclo do carbono no ambiente marinho. Desde abril/20 tem se aventurado como mãe do Ian. Não abre mão de cozinhar e experimentar novos sabores, mas não sem antes estudar os processos/química que tornam um prato possível. Também gosta de viajar, ler, fazer trilha e tomar um banho de mar (ou cachoeira). Participa do BPCN desde 2018 como editora e é a chata dos "direitos autorais" e quer que todos usem/produzam material livre com licença creative commons . #JulianaLeonel #Descomplicando #Greenwashing #Oceano #Plástico
- “Casa” pra quem precisa!
Por Pedro Freitas de Carvalho A Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) divulgou que em 2024, infelizmente, atingimos a marca de mais de 100 milhões de desabrigados no mundo e mais de 700 mil no Brasil. Vale a pena dizer que esse número tende a aumentar devido ao avanço dos oceanos e rios sobre as comunidades litorâneas e ribeirinhas, como consequência do aquecimento global, que promove o aumento de chuvas e o derretimento de geleiras. Esse é um assunto muito sério que deve ser tratado com a devida importância pelos governantes de todo o mundo. Lendo o título e este parágrafo, você pode ter pensado: Será que acessei o site errado!? Calma!!! Para além de nós, humanos, a moradia servindo de abrigo também é uma questão para diversos organismos marinhos. Alguns exemplos são o peixe conhecido como maria-da-toca ou gobião-de- pedra ( Bathygobius soporator – Figura 1a), que usa fendas de rocha do costão como refúgio, ou o caranguejo-uçá ( Ucides cordatus - Figura 1b), que constrói a sua moradia no solo do manguezal. Até mesmo em animais pequeninos que vivem na coluna de água e são carregados pelas correntes marítimas, o zooplâncton, há um grupo de organismos que constroem suas “casas”. Mas, antes de falarmos desses organismos e a função dessas “casas” é necessário entender algumas coisas. Figura 1: a. Bathygobius soporator – nome vulgar, maria-da-toca ou gobião-de- pedra. Fonte: Wikimedia Commons/ Flickr upload bot / com licença CC-BY-2.0. b. Ucides cordatus – nome vulgar, caranguejo-uçá. Fonte: Wikimedia Commons/ Leoadec / com licença CC-BY-SA-3.0. Os principais e mais numerosos grupos do zooplâncton compõem um nível fundamental da cadeia alimentar marinha, como consumidores primários, onde esses organismos se alimentam principalmente de fitoplâncton. Desta forma, transferem a energia e a biomassa dos produtores primários (fotossintetizantes) para os níveis mais elevados da cadeia trófica , como peixes e crustáceos. A biomassa do fitoplâncton é muito disputada entre esses consumidores, o que promove diferentes estratégias na captura desse importante alimento. Mas, o que isso tem a ver com casa e moradia...? Aguenta aí! Parece que estamos meio perdidos, mas chegaremos lá! A alimentação é fundamental para a sobrevivência de uma espécie, pois nesse processo os organismos adquirem energia para manter o seu funcionamento e para realizar atividades essenciais, como reprodução e locomoção. Segundo a teoria de Darwin, o sucesso na sobrevivência possibilita uma maior capacidade reprodutiva da espécie, passando essa característica vantajosa aos seus descendentes, fazendo com que esses permaneçam no ambiente evitando assim o seu processo de extinção, através da seleção natural. Observando a figura 2, vale enxergar a relação do tamanho dos organismos e o seu aparato de filtração para captura de fitoplâncton. Fazendo uma breve análise, qual desses principais organismos do zooplâncton estaria mais suscetível à extinção, baseado na proporção entre o tamanho do indivíduo e a superfície do aparato de filtração de organismos fitoplanctônicos? Qual deles teria uma menor eficiência de captura? Figura 2: A – Apendiculária ( Oikopleura longicauda ), A1 – Comprimento da espécie, A2 - aparato de filtração (Boca); B – Copépode ( Euchaeta spp.), B1 - Comprimento da espécie, B2 - aparato de filtração (Antena); C – Doliolídeo ( Doliolum nationalis ), C1 - Comprimento da espécie, C2 - aparato de filtração (Sifão oral). Fonte: Atlas de Zooplâncton da Bacia de Campos . Fotos do autor. Sem querer induzir uma resposta, mas já induzindo, você provavelmente observou que as apendiculárias teriam uma menor vantagem na captura de alimento do que os outros dois animais mostrados na figura 2. Será mesmo? E se eu falar pra vocês que em um estudo recente publicado em uma excelente revista em 2023, a pesquisadora dinamarquesa Cornelia Jaspers e colaboradores, mostraram que as apendiculárias estão entre os organismos gelatinosos mais numerosos do zooplâncton , tanto em águas costeiras como oceânicas?! Esses animais possuem uma taxa de crescimento extraordinária, alimentando-se de organismos de diversos tamanhos e de diferentes grupos do fitoplâncton, levando uma vantagem competitiva entre os demais grupos zooplanctônicos. O estudo vai além, dizendo que as apendiculárias correspondem ao segundo grupo mais abundante e importante do zooplâncton, ficando somente atrás dos copépodes (crustáceos), e que a sua taxa de crescimento supera a de qualquer outro animal, sendo um dos maiores contribuintes na produção de carbono no ambiente marinho. O estudo ainda traz uma previsão: futuramente, com um aumento, já observado, na quantidade de animais gelatinosos, as apendiculárias se tornarão os organismos zooplanctônicos mais abundantes no ambiente marinho, substituindo os copépodes na transferência de energia na cadeia alimentar. Então, como um organismo com a boca de um tamanho tão limitado, tem uma importância fundamental na biomassa e produtividade da comunidade planctônica? E, o mais intrigante, o que isso tem a ver com a “casa”? Observando a figura 3, talvez as coisas comecem a fazer algum sentido. As apendiculárias possuem uma estrutura secretada por elas mesmas chamada de oikoplasto , também conhecida como “casa” ou “ house ”, em inglês. Essa casa feita de muco serve como um filtro, onde o fitoplâncton, bactérias e outras partículas que servem de alimento ficam presos, assim como em uma rede de pesca. O seu tamanho interno é fundamental para a capacidade que esses organismos têm de se alimentar de diversas partículas, de grupos distintos de seres vivos (microalgas, protozoários, bactérias e vírus) muita das vezes inacessível para os outros filtradores do zooplâncton. Dessa maneira, a captura de presas de uma variada gama de tamanhos dá uma vantagem na obtenção de alimento para as apendiculárias sobre outros animais do plâncton. Figura 3: Esquema e foto de uma Apendiculária, Oikopleura dioica com a casa ou oikoplasto. a = aparato de filtração, b = tamanho do organismo. Fonte: Modificado de Jaspers et al., 2023 com licença CC BY-NC-ND 4.0. Demorou, mas talvez agora você tenha entendido a relação da “casa” com capacidade de alimentação das apendiculárias no ambiente marinho. Ao contrário dos humanos, da maria-da-toca e do caranguejo-uçá, a “casa” para as apendiculárias nada tem a ver com moradia, e, sim, com o aumento da capacidade da alimentação, o que pode estar ligado também com a baixa probabilidade de extinção desses organismos do ambiente e com a alta importância dos mesmos no funcionamento da cadeia alimentar marinha. E você acha que acabou? Ainda não! De quebra, as casas já entupidas pelo excesso de partículas, perdem a sua eficiência de filtração e são constantemente liberadas pelas apendiculárias. Essas casas, que são sete vezes maiores que o tronco do animal, possuem uma natureza proteica que serve como uma das principais fontes alimentares para outros organismos zooplanctônicos que estão na superfície e em outras profundidades da coluna de água, sendo considerada um elemento bastante frequente na neve marinha (pequenas partículas de matéria orgânica que precipitam da superfície para o fundo do oceano, parecido com uma neve mesmo). Agora, se algum dia você, caro leitor, tiver a oportunidade de observar um exemplar de apendiculária proveniente de uma coleção biológica, em lupa ou microscópio, através de uma visita a um laboratório de zooplâncton ou a uma exposição, dificilmente vai encontrar esse organismo com uma “casa”, como a observada na figura 3. Isso porque, quando as apendiculárias se sentem ameaçadas por predadores, ou pelas redes de coleta, elas se livram das suas casas que são um peso para carregar na hora da fuga, apesar de úteis para a alimentação. Organismos com “casas” são observados vivos em cultivos, normalmente através de vídeos ou fotos. Ufa!!! Acho que depois de tudo isso fica evidente a importância de conhecer cada vez mais esses fascinantes organismos do Filo Tunicata, Classe Appendicularia. Se vocês quiserem mais informações, sugiro os sites: Vídeos: https://planktonchronicles.org/en/portfolio/larvaceans-their-houses-are-nets/ ; fotos e características das principais espécies do Atlântico Sul: http://www.intranet.biologia.ufrj.br/lizi/cat.zoo/index.html . Também sugiro leituras mais aprofundadas de artigos científicos recentes, abordando características das apendiculárias (Jaspers et al., 2023) e como está o conhecimento atual e a distribuição do grupo na costa brasileira (Rocha et al., 2024). Referências: ACNUR, (2024). Dados sobre refugiados. Acessado em: https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugiados . Acesso em 06/05/2024 . Heneghan, R. F.; Everett, J. D.; Sykes, P.; Batten, S. D.; Edwards, M.; Takahashi, K., I.; Suthers, I. M.; Blanchard, J. L.; Richardson, A. J. (2020). A functional size-spectrum model of the global marine ecosystem that resolves zooplankton composition. Ecological Modelling, 435, 109265. Jaspers, C.; Hopcroft, R. R.; Kiørboe, T.; Lombard, F.; López-Urrutia, Á.; Everett, J. D.; Richardson, A. J. (2023). Gelatinous larvacean zooplankton can enhance trophic transfer and carbon sequestration. Trends in Ecology & Evolution. DOI: 10.1016/j.tree.2023.05.005. Rocha, R. M.; Lotufo, T. M. C.; Bonecker, S.; Oliveira, L. M.; Skinner, L. F.; Carvalho, P. F. C.; da Silva, P. C. A. (2024). A synopsis of Tunicata biodiversity in Brazil. Zoologia 41: e23042. DOI: 10.1590/S1984-4689.v41.e23042. Sobre o autor: Formado em ciências biológicas, mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é pesquisador do Laboratório de Zooplâncton e Ictioplâncton da UFRJ. Trabalha na identificação e ecologia de organismos zooplanctônicos marinhos, mais especificamente com organismos gelatinosos tunicados. Busca entender como as espécies do zooplâncton respondem a questões ecológicas e de qualidade de água. Além disso, se aventura como curioso fazendo registros fotográficos do zooplâncton nas horas vagas. O seu maior prazer é ser pai, em processo de aprendizado ainda. Gosta de música velha, insiste em praticar esporte e adora jogar conversa fora com os amigos. #CiênciasDoMar #Convidados #AnimaisMarinhos #Zooplâncton #Casa #Alimentação #Apendiculária #TeiaTrófica #BiologiaMarinha #OceanografiaBiológica #AnimaisFiltradores #Plâncton
- Oxigênio negro: mais um segredo desvendado no fundo do mar
Por Juliana Leonel Um dos assuntos mais comentados da semana passada foi a descoberta do processo de geração de oxigênio ( dark oxygem = oxigênio negro) no fundo do oceano sem a intervenção de organismos . Essa descoberta é muito importante, porque traz questionamentos sobre o início da vida aeróbica (aquela que depende de oxigênio) na Terra e também sobre a exploração de minerais do fundo marinho. Antes de falar mais sobre o estudo em si, vamos revisar alguns conceitos já conhecidos. Até o momento, sabíamos que a geração de oxigênio livre (O2, que é o oxigênio que respiramos) só era feita por reações mediadas por organismos, tanto os fotossintetizantes (que utilizam a luz como energia) como os quimiossintetizantes (que usam a energia oriunda de reações químicas, como a oxidação de alguns substâncias inorgânicas, como nitrato e sulfato). A maior parte da produção de oxigênio é feita por organismos fotossintetizantes, pois a quimiossíntese é realizada por um grupo pequeno de organismos que se encontram em locais específicos. Por isso, locais sem a presença de luz - como o fundo do oceano - costumam ter valores mais baixos de oxigênio (quem leva o oxigênio até lá são as massas de água ). Sabendo disso, quando os equipamentos do grupo de pesquisadores liderado pelo Prof. Andrew Sweetman (da Associação Escocesa para Ciências Marinhas) detectou oxigênio sendo produzido na escuridão do fundo do mar, há 10 anos, eles achavam que o resultado era problema nos sensores que estavam utilizando. Depois de quase uma década e várias calibrações, revisões nos equipamentos, novas medições e uma série de experimentos para assegurar que o oxigênio não vinha de outros locais (bolhas, água intersticial, organismos quimiossintetizantes etc), eles finalmente entenderam que era a presença de nódulos polimetálicos que estava produzindo oxigênio . Mas com isso acontece? Primeiro vamos entender o que são os nódulos polimetálicos… Estes nódulos polimetálicos são produzidos por concreções (agrupamento) de minerais presentes na água do mar que se depositam ao longo do tempo de forma relativamente concêntrica em volta de um núcleo (que pode ser partículas de sedimento, por exemplo - similar ao que ocorre na formação de um pérola). Com o passar do tempo - e de forma muito lenta, mas muito lenta mesmo (= milhões de anos) - podem atingir algumas dezenas de centímetros de diâmetro. A composição dos nódulos varia dependendo da região de formação, mas os elementos mais abundantes costumam ser o manganês e o ferro (por isso, costumam ser chamados também de nódulos de ferro-manganês). No entanto, eles são ricos em outros elementos também, como cobalto, níquel, magnésio e elementos terras-raras (exemplos: neodímio, lantânio, samário) - elementos essenciais para baterias e eletrônicos em geral. Por isso, os nódulos polimetálicos são tão cobiçados pelas empresas de mineração que vêem neles uma importante fonte de minerais. À esquerda temos a imagem de apenas um nódulo polimetálico, uma estrutura similar a uma rocha. À direita temos a imagem de diversos nódulos espalhados no fundo do oceano. Imagem à esquerda: Fonte: Wikipédia com licença CC BY-SA 3.0. Imagem à direita: Fonte: Wikipédia em Domínio Público Entre um dos usos desses minerais está a produção de baterias. E é exatamente esse “efeito de bateria” que é responsável por separar os componentes da água ( H2O ) e liberar oxigênio em sua forma livre (O2). Isso ocorre, porque os elementos presentes no nódulo (como cobalto, lítio, níquel) irão produzir uma corrente elétrica capaz de fazer eletrólise (nome bonito para separação dos componentes da água). Para testar essa hipótese o grupo do Prof. Andrew Sweetman colocou os nódulos em câmaras fechadas e monitorou a quantidade de oxigênio. Após 2 dias, a quantidade de oxigênio nas câmaras havia triplicado! Estes experimentos foram feitos tanto in situ (no fundo do mar) como ex situ (em laboratório). Eles também conseguiram detectar que a quantidade de oxigênio formada tem relação com a quantidade de nódulos presentes na região. Quanto mais nódulos, maior a corrente elétrica. Com essa descoberta, algumas perguntas/reflexões começam a ser feitas: Quão importante é este oxigênio para as comunidades bentônicas do fundo oceânico? Como a mineração dos nódulos polimetálicos pode afetar a geração deste oxigênio e os organismos que dependem dele? É crucial obter respostas para essas perguntas antes que a exploração de metais em mar profundo se intensifique. A descoberta do oxigênio negro é mais um exemplo de como ainda sabemos pouco sobre o mar profundo e como há muita coisa incrível acontecendo a milhares de metros abaixo da superfície do oceano. Sobre a autora: Formada em oceanologia na FURG com doutorado em oceanografia química pela USP. Entre um trabalho, uma bolsa e um intercâmbio passou também pela Unimonte, UFPR e UFBA, Texas A&M University, Health Department of New York, Heriot-Watt University e da Stockholm University. Atualmente é professora adjunta na UFSC. Trabalha com poluição marinha, principalmente contaminantes sintéticos e resíduos sólidos. Mas também atua na geoquímica estudando o ciclo do carbono no ambiente marinho. Desde abril de 2020 tem se aventurado como mãe do Ian. Não abre mão de cozinhar e experimentar novos sabores, mas não sem antes estudar os processos/química que tornam um prato possível. Também gosta de viajar, ler, fazer trilha e tomar um banho de mar (ou cachoeira). Participa do BPCN desde 2018 como editora. É a chata dos "direitos autorais" e quer que todos usem/produzam material livre com licença creative commons . #JulianaLeonel #OxigênioNegro #CiênciasDoMar #FundoOceânico #MarProfundo #Mineração
- Levando a Antártica para as ruas de São Paulo
Por André Calloni Souza Ilustração: Joana Ho Minha história começou em 2016, quando entrei na graduação em Oceanografia. A princípio, eu não queria fazer faculdade. Tudo mudou quando um amigo do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, o IOUSP, me falou sobre uma faculdade que estudava praias, baleias e o mar profundo. Então, eu enfiei uma ideia bem fixa na cabeça: agora, eu preciso fazer USP, e comecei a trabalhar como bartender para pagar o cursinho. Consegui passar e, logo no primeiro ano, consegui uma bolsa de estágio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), no Laboratório de Bioluminescência Marinha, sob a orientação do Prof. Anderson de Oliveira. Foi ali que me apaixonei pela pesquisa. Durante esse período, senti uma vontade crescente de trabalhar com invertebrados marinhos. No terceiro ano, conversei com o Prof. Paulo Sumida, que me aceitou em seu laboratório. Trabalhei com ofiuróides (serpentes-do-mar) e escrevi meu trabalho de graduação (TG) sobre eles, além de participar de diversos projetos. Fora do laboratório, fiz vários trabalhos paralelos, como bartender , modelo, ator e professor particular. Quando estava próximo de concluir meu TG, surgiu uma oportunidade no projeto BECOOL (Conexões bentônicas em altas latitudes do hemisfério sul; em inglês, BEnthic COnnections Of high southern Latitudes ), que estuda os impactos das mudanças climáticas na fauna de fundo da Antártica. Foi uma mudança drástica, trocando a análise morfológica por horas de vídeo e processamento de dados com programação em R. Gostei tanto que participei da Operantar 42, uma expedição à Antártica para coletar imagens na enseada Martel, momento que transformou minha carreira. Coleta de imagens na enseada Martel, na Antártica, pelo projeto BECOOL, do Instituto Oceanográfico da USP. Fonte: André Calloni Souza com licença CC BY NC-ND Minha namorada Tamara, que trabalha no financeiro da maior agência de publicidade digital do país, sempre me incentivou a criar conteúdo digital de divulgação científica. Eu hesitava, mas decidi tentar quando pisei pela primeira vez em outro país através do meu trabalho como oceanógrafo. Ao longo da viagem, os vídeos foram ganhando cada vez mais acessos, cada vez eu recebia mais mensagens de jovens curiosos, querendo saber desde como era a nossa comida na estação, até se realmente existiram pirâmides alienígenas enterradas no gelo. E assim, em dois meses, consegui alcançar a marca de 33 mil seguidores , unindo a Ciência e minhas práticas anteriores como modelo, editor de vídeo e produtor musical. Quando a expedição acabou, enfrentei um novo desafio: continuar produzindo conteúdo sem a paisagem única da Antártica. E a resposta, novamente, veio da minha namorada Tamara. A cada curiosidade oceanográfica aleatória que eu contava pra ela no café da manhã, ela me respondia com um olhar provocativo: “Sabe quem não sabe disso? Seus seguidores”. Esses comentários fizeram minha ficha cair: às vezes, a gente fica tão acostumado a conviver com outros cientistas e falar de assuntos tão específicos, que esquecemos que, muitas vezes, a coisa mais simples e aparentemente óbvia para nós é extremamente interessante para o público leigo, seja lá de qual área da Oceanografia estamos falando. Além disso, os jovens principalmente de periferia, já desestimulados pela realidade socioeconômica em que vivem, que muitas vezes levam horas e mais horas no transporte público para voltar de subempregos, e que possuem a curiosidade nata sobre assuntos relacionados ao oceano (existem muito mais jovens assim do que vocês imaginam), chegam em casa, abrem o YouTube ou o TikTok, e se deparam com diversas notícias falsas (as famosas Fake News ) sobre a Antártica, desinformações e lendas, escritas para lucrar com adsense nas diversas plataformas e redes sociais, que é a exibição de anúncios nos conteúdos digitais. E aí um jovem que poderia, através de um sonho, se motivar a estudar, seguir a carreira acadêmica, e eventualmente se tornar um cientista, acaba se perdendo em vídeos sobre alienígenas escondidos, discos voadores e doenças antigas enterradas no gelo, os quais giram todos em torno de um único ponto: NINGUÉM PODE IR PRA ANTÁRTICA . Decidi, então, não só continuar com os vídeos, mas expandir. Divulgação científica presencial e em escolas, preferencialmente públicas. E, desde então, uma vez por semana eu vou no museu do Instituto Oceanográfico da USP, pego emprestadas algumas amostras de organismos marinhos e sigo para as escolas do bairro onde eu moro, na Vila Nova Cachoeirinha, para apresentar uma palestra sobre o que é a Oceanografia, o que estudamos, o que fazemos e como a questão do aquecimento global na Antártica afeta diretamente a vida de todos nós. Palestra em escola da Vila Nova Cachoeirinha (São Paulo - SP). Fonte: André Calloni Souza com licença CC BY NC-ND Acho importante destacar, a todos os cientistas que pensam em fazer o mesmo, a importância de saber conversar com os jovens, especialmente na periferia. Então, não adianta chegar com papo técnico de cientista, isso não vai despertar o interesse. Agora pergunta quem já virou o ano na Praia Grande ou já foi no baile da plataforma (em Mongaguá) pra você ver se pelo menos uns 10 não vão levantar a mão. Fala pra eles que se o gelo da Antártica derreter, todo o litoral paulista fica embaixo d’água. Abra sua palestra falando sobre o salário inicial de um Oceanógrafo num concurso da Petrobrás. Pode ter certeza que a atenção dos alunos será capturada imediatamente. E para os colegas de profissão, será um prazer apresentar o laboratório de vocês e o que fazem no meu perfil do Instagram (@dehcalloni). Será um prazer auxiliar na produção de conteúdo digital de divulgação científica. Existe muita gente interessada no nosso trabalho, só precisamos rever a forma com que apresentamos o mesmo, e assim, em breve, quem sabe não temos os cursos de oceanografia cada vez mais cheios e diversos?! Sobre o autor: André Calloni Souza tem 27 anos, é Oceanógrafo, e trabalha com ecologia bentônica na Baía do Almirantado. Além disso, produz conteúdo digital no Instagram sobre Oceanografia, Antártica e questões ambientais em geral. #Antártica #VidaDeCientista #Cientistas #DivulgaçãoCientífica #CiênciasDoMar #Convidado #DehCalloni #Oceanografia
- Far beyond our eyes: microplastics at the bottom of the sea
By Gabriel Stefanelli Silva English edit by Carla Elliff *post originally published in Portuguese on July 23, 2020 When I started reading about plastic in the ocean, in the distant year of 2011, I was still at the beginning of my degree in marine biology. At that time, we already knew that there were large amounts of litter – and not just plastic – floating around. The existence of these concentrations of garbage in places where marine currents form large gyres had strong media coverage, with the Great Pacific Garbage Patch (GPGP) being the largest concentration of marine garbage in the world. To give you an idea, the GPGP covers an area of approximately 1.6 million km², the size of the state of Amazonas! Can you imagine? Although many people think that these concentrations are islands of trash, they are actually a “soup” made up of various types of debris. Most of it is made up of microplastic , plastic particles that measure between 5 mm and 1 µm – sometimes you can't even see them with the naked eye! Located between California and Hawaii, the GPGP is so heterogeneous in its waste distribution that along its length we can find everything from a lot of litter to little or no litter at all. But despite being famous, the GPGP is just one of the points where marine litter accumulates – so where does the rest go? Extent of the Great Pacific Garbage Patch (GPGP), between California and Hawaii. The figure shows that there are two “garbage gyres” in the Subtropical Convergence Zone. The western gyre is less extensive and is located near Japan. (Source: NOAA Marine Debris Program , public domain) Six years later, when I finished my master's degree on freshwater fish, I decided to return to my roots and delve deeper into marine litter in my doctoral project. I found an article published in 2016 about a group of British scientists led by Dr. Michelle Taylor (who continues to be a great reference in the field), about the first report of microplastic ingestion in deep-sea animals, and that made me very excited! I contacted Professor Paulo Sumida from the Oceanographic Institute of the University of São Paulo (IO - USP) and we started working on some ideas. Paulo's laboratory is the only one specialized in the deep sea in Brazil, and it seemed ideal to me to carry out a project on garbage in these very remote regions of the ocean. The deep sea, since it began to be studied at the end of the 19th century, is still a great place for exploration research! And when it comes to plastic waste, we see a lot floating on the surface, but we have very little idea about where it all ends up... What we already know is that much of the material that floats on the surface ends up sinking due to the action of marine currents and the accumulation of microorganisms, which increase the density of particles. Eventually, this litter reaches the bottom sediment and becomes trapped between grains of mud and sand. This means that animals that feed on deposited material, such as sea cucumbers, and filter feeders, such as shellfish, are extremely susceptible to ingesting microplastics. Paulo and I then decided to carry out an analysis of the ingestion of this material along the deep-sea food web, checking whether a particle ingested by a given organism could be transferred to its predator, a phenomenon known as biomagnification. This means that animals at the base of the web (or at a lower trophic level), even though they are unable to ingest a large amount of microplastic, could cause an accumulation of waste in the digestive tracts of their predators when consumed in large numbers, and so on. When they die, top predator organisms could also return the microplastic to the environment and restart the process. Over time, these litter ingestion cycles become increasingly serious and more harmful to the ecosystem. Microfiber (indicated by white arrows) found in shellfish. (Source: photo by Paulo Ferraz, license CC 4.0 SA-BY) Example of biomagnification of plastic microfibers (in blue) from the consumption of contaminated organisms along a marine food chain. From bottom to top, there is an increase in the trophic level of organisms, starting with zooplankton microcrustaceans, passing through fish and ending with a predatory bird. (Source: Gabriel Stefanelli, license CC 4.0 SA-BY) Working with the deep sea – and ocean research as a whole – can be challenging. Part of my doctorate involves scientific cruises, and my first onboard expedition was to a location more than a thousand kilometers off the coast of São Paulo. At the end of five days of travel, with violent seas (and a lot of vomiting), we had a problem with the nets and it was not even possible to collect any samples. Fortunately, there is always a plan B and today I already have material from other expeditions, including animals collected since the 1980s and which are part of the Prof. Edmundo F. Nonato Biological Collection of the Oceanographic Institute of the University of São Paulo. Putting together all the material I have available, there is more than 30 years of information about pollution in the ocean. Tricky, but very interesting! Shelves of the Prof. Edmundo F. Nonato Biological Collection (ColBIO) from the Oceanographic Institute of the University of São Paulo (Source: photo by Gabriel Monteiro, license CC 4.0 SA-BY) I'm almost halfway through my PhD, and fittingly almost half of the organisms I analyzed had at least one microfiber inside them. And while we wait for the university's activities to resume to analyze these microfibers, we continue to see news about marine pollution. Last month a study was published showing that plastic that has been lying on the seabed for more than 20 years remains preserved as new and provides an environment that is conducive to microorganisms that would not normally be in that area, which can pose major threats to the functioning of the deep-sea environment. Also recently, a new species of amphipod – a type of crustacean – was discovered from the deep sea that was collected with microplastic in its stomach. The species even received a symbolic name, Eurythenes plasticus , and is just another example of how the litter we produce reaches remote locations in the ocean, from the poles to the deepest regions of the planet. It really surprises me how plastic, especially in the form of micro and nano particles, is permeated in the marine environment, and that even the fish on the table in so many homes can be contaminated by a pollutant that we can't even see clearly! The times we live in seem truly desperate; is it possible to get something positive out of this situation? Precisely because it is readily appealing, the topic of marine litter has promoted waves of mobilization for greater care for the environment. One of the recent pieces of evidence was the ban on plastic bags and straws here in São Paulo and in other states in Brazil. Among other initiatives, we also have a ban on single-use plastic items in Europe, projects to recover abandoned fishing nets in the USA, and strategies for youth participation in combating plastic pollution in Asia. This is the best time for discussions about the anthropogenic impact on nature, and we can’t leave this for later. It is now that we have the potential to change people's perception of how we are capable of altering – for worse or better – the environment, one microplastic at a time. Or, if we prefer, one less microplastic at a time! Litter on a beach in São Vicente, coast of São Paulo. (Source: photo by Fernando De Grande, license CC 4.0 SA-BY) Suggested complementary literature: https://science.sciencemag.org/content/368/6495/1140 https://www.nature.com/articles/s41598-020-66361-7 About the author: I've been interested in the ocean (and the deep sea) since I was a child. I graduated in biology, completed a Master’s degree in ecology, and I am halfway towards a PhD in oceanography. My primary area of research is ecology, with a dash of pollution and ocean education and literacy activities. I'm a fan of Pokémon, I like to cook for my favorite environmentalist, and annoy Tapioca and Dominique, my cats. If you have any questions, comments or suggestions, you can send them to gabrielstefanelli@hotmail.com . #Microplastic #DeepSea #MarineLitter #Pollution #MarineScience #Guests
- Como uma cientista deve se vestir?
Por Juliana Leonel “Professora Juliana veio vestida de aluna hoje.” “Está indo à praia, Professora?” “Olha lá, ela vem para a universidade de bermuda.” Essas são apenas alguns dos comentários que já ouvi sobre como me visto. Na primeira, estava de calça jeans, camiseta e tênis; na segunda com uma saia longa e estampada; e na terceira com uma bermuda que ia até o joelho (e tenho certeza que se estivesse de saia - mesmo que fosse uma mini-saia - não teria causado tamanha surpresa no interlocutor). Apesar de serem frases que foram expressadas de forma passiva-agressiva com o intuito de diminuir minha competência profissional a partir de como me visto, não há nada de novo nelas. A "cobrança" silenciosa - ou nem tanto - por um código de vestimenta adequado (segundo quem?) a ser seguido pelas mulheres não é algo recente. Pelo contrário, talvez só recentemente começou a diminuir a demanda para as cientistas vestirem-se de forma austera (= discreta e se assemelhando aos homens). Na década de 1950, para estudantes do ensino médio americano, a imagem de um cientista era de um homem, de meia idade (ou idoso) que usa óculos e trabalha de jaleco em um laboratório; com ou sem barba, mas sem muita atenção para sua aparência. Três décadas depois, as coisas não tinham mudado muito, e as crianças continuavam descrevendo os cientistas como homens (e brancos) e meio desleixados com a aparência. Todas essas descrições tiveram um papel importante no delineamento da imagem da mulher cientista; a começar pelo fato que a ciência não deveria ser exercida por mulheres. E, por isso, qualquer uma que quisesse traçar esse caminho tão "não-natural" para as mulheres, deveria fazer todo o possível para não ser reconhecida como tal. O irônico aqui é que, apesar do cientista ser descrito como alguém sem muita atenção a sua aparência, das mulheres era cobrado que houvesse tal atenção, mas com o objetivo da mesma se camuflar nesse universo dominado por homens. No seu livro “O Feminismo Mudou a Ciência”, Londa Schiebinger afirma que “as mulheres bem sucedidas em campos tradicionalmente masculinos geralmente assimilam ou são assimiladas a códigos masculinos de honra”. No século XIV, Novella d'Andrea dava aula atrás de uma cortina para "não distrair os estudantes com sua beleza"; no século XVIII, a matemática Sophie Germain só teve "acesso" à educação superior porque usou o nome de um homem. Mais recentemente, no século XX, a química Geri Richmond foi aos poucos abandonando seus vestidos, esmaltes, maquiagem e até mesmo sua loção para mãos com receio que o cheiro fizesse as pessoas a sua volta lembrar que ela era uma mulher. Da mesma forma, a astrônoma Anne Kinney deixou seus vestidos da moda de lado - pois estavam chamando muita atenção - e passou a usar apenas calça jeans e camisa xadrez. Professora de direito Novella d'Andrea Ao mesmo tempo em que ter uma “aparência feminina” poderia ser um problema, cientistas também foram criticadas por não exibirem os atrativos/características esperados em uma mulher: James Watson expressou que Rosalind Franklin poderia ser mais atraente caso se vestisse melhor; a matemática alemã Emmy Noether era chamada de “der Noether” (“der” é pronome masculino em alemão) porque era uma grande pesquisadora e isso não era “esperado” de uma mulher; logo, precisam transformá-la em um homem. Matemática Emmy Noether Ainda hoje, mesmo com códigos de vestimenta menos rígidos, muitas mulheres seguem certos padrões para evitar tanto serem desacreditadas como para evitar comentários/olhares de cunho sexual: há aquelas que preferem nunca usar roupas justas ou curtas; outras preferem cores mais sóbrias ou “terninhos”; algumas preferem estar sempre bem vestidas e maquiadas para não serem lidas como desleixadas. Os padrões mudam entre as diversas áreas da ciência, mas a verdade é que ainda existe julgamento sobre como mulheres se vestem ou se portam. É muito importante enfatizar que toda a reflexão até aqui foi do ponto de vista de mulheres cientistas brancas e com exemplos dos EUA e da Europa. No caso de pesquisadoras afrodescendentes, há ainda um outro código ao qual devem se enquadrar para serem aceitas: assimilar a imagem de mulher branca. Da mesma forma, mulheres islâmicas também precisam se encaixar aos “padrões ocidentais”. Um exemplo disso são as leis francesas que proíbem o uso da burca e do lenço em locais públicos (incluindo instituições de ensino) e até mesmo nas escolas. Ainda que haja um movimento para mudar isso, não podemos negar que temos um longo caminho pela frente. Sobre a autora: Formada em oceanologia na FURG com doutorado em oceanografia química pela USP. Entre um trabalho, uma bolsa e um intercâmbio passou também pela Unimonte, UFPR e UFBA, Texas A&M University, Health Department of New York, Heriot-Watt University e da Stockholm University. Atualmente, é professora adjunta na UFSC. Trabalha com poluição marinha, principalmente contaminantes sintéticos e resíduos sólidos. Mas também atua na geoquímica estudando o ciclo do carbono no ambiente marinho. Desde abril/20 tem se aventurado como mãe do Ian. Não abre mão de cozinhar e experimentar novos sabores, mas não sem antes estudar os processos/química que tornam um prato possível. Também gosta de viajar, ler, fazer trilha e tomar um banho de mar (ou cachoeira). Participa do BPCN desde 2018 como editora e é uma das responsáveis pela página no twitter. É a chata dos "direitos autorais" e quer que todos usem/produzam material livre com licença creative commons. #JulianaLeonel #MulheresNaCiência #Feminismo #RosalindFranklin