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- Mesa - Redonda: “Desafios das Mulheres nas Ciências”
As editoras do Bate-papo com Netuno, Jana del Favero, Claudia Namiki e Amanda Bendia, coordenaram em junho de 2018, durante a Semana Mundial do Meio Ambiente do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP), uma mesa redonda sobre os desafios das mulheres nas ciências do mar. Esse assunto tem sido tema de diversos posts no blog e inclui desde problemas de assédio moral e sexual até como conciliar carreira e planejamento familiar. Após uma introdução do tema pela nossa editora Jana del Favero (link da apresentação abaixo), o tema foi amplamente discutido pelas professoras Rosalinda Montone (oceanografia química), June Ferraz Dias (oceanografia biológica) e Ilana Wainer (oceanografia física), e pela acadêmica Patrícia Cedraz do Coletivo Thethis do IOUSP. Para assistir a apresentação: https://www.youtube.com/watch?v=IBwcirmis-s Para acessar os slides: https://prezi.com/p/0bppeypvufmt/mulheres-na-ciencia/ #netuniandoporai #janamdelfavero #mulheresnaciência #iousp
- POP(s) – e não estamos falando do estilo musical…
Por Juliana Leonel Poluentes orgânicos persistentes (carinhosamente conhecidos como POPs) é um grupo de compostos de difícil degradação, que bioacumulam na malha trófica, podem ser transportados por correntes atmosféricas e oceânicas e são tóxicos para os seres vivos (incluindo o homem). Para diminuir/controlar o uso dos POPs, em 2001, representantes de diversos países se reuniram em Estocolmo (Suécia) para firmar um acordo chamado Convenção de Estocolmo, que foi validado em 2004 com 151 países como signatários. A princípio 12 compostos foram considerados POPs e os países signatários concordaram em proibir o uso de nove deles, limitar o uso do DDT (temos um post sobre DDT aqui) somente para o controle da malária e reduzir a produção inadvertida de dioxina e furanos. Os primeiros 12 POPs são todos compostos organoclorados (compostos orgânicos formados por C, H e Cl) que foram divididos em três grupos de acordo com seu uso/produção. O primeiro grupo é dos praguicidas, ou seja, compostos usados para combater pragas, como insetos e ervas daninhas, prejudiciais à produção ou armazenamento de grãos, frutas, legumes, madeira etc. No segundo grupo encontram-se os compostos de uso industrial, como as bifenilas policloradas (PCBs) que foram usadas principalmente em óleo refrigeradores de geradores e transformadores. Por fim, no terceiro grupo se encontram as dioxinas e furanos, que são compostos produzidos de forma não intencional por algum processo industrial. Isso significa que são substâncias que não são produzidas com um fim específico, mas que durante o processo industrial (por exemplo, a metalurgia e a siderurgia) são produzidas e liberadas no ambiente. Ao longo dos anos, durante a Conferência das Partes, mais 17 compostos ou grupos de compostos foram adicionados a lista de POPs. Para definir o que fazer com cada um desses compostos, eles foram classificados em três anexos. Anexo A: compostos que devem ter uso e produção eliminados; Anexo B: compostos cujo uso e produção devem ser restringidos e somente podem ser usados em casos específicos; e Anexo C: compostos cuja produção (não intencional) deve ser controlada visando a contínua minimização, e, onde viável, deve ser eliminado definitivamente. Cada país signatário é responsável por fazer inventários dos estoques, produções e usos dos POPs em seu território. Além disso, deve implementar medidas para reduzir ou eliminar as liberações decorrentes da produção e uso intencionais e não intencionais dos POPs. Em alguns casos, é possível pedir um registro de exceções específicas, ou seja, é possível pedir para usar um dos POPs em casos excepcionais por tempo determinado. Um exemplo é a necessidade do uso do DDT em caso de infestação de Malária. As partes também são responsáveis por realizar monitoramentos sistemáticos para avaliar se as medidas estão sendo efetivas em diminuir os níveis ambientais dos POPs. O Brasil aprovou o texto da Convenção por meio do Decreto Legislativo nº 204, de 7 de maio de 2004, e promulgou o texto da Convenção em 2005, via o Decreto nº 5.472, de 20 de junho de 2005. A implementação da Convenção no Brasil é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) através da Secretaria de Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental. Apesar dos POPs serem usados principalmente em atividades realizadas no continente, o seu transporte para os oceanos é bastante efetivo, seja através do transporte atmosférico, da drenagem urbana ou de efluentes liberados diretamente nas regiões costeiras. Dessa forma, os POPs já foram detectados nos mais diversos compartimentos ambientais (água, ar, solos, sedimento, aves, peixes, mamíferos marinhos, etc), do pico das grandes montanhas até as profundezas dos oceanos, desde a região equatorial até regiões polares (veja um exemplo disso neste post aqui). Ou seja, eles são um grande exemplo de que a contaminação do ambiente não respeita fronteiras e é um problema e responsabilidade de todos. Texto da Convenção de Estocolmo: http://www.mma.gov.br/estruturas/smcq_seguranca/_publicacao/143_publicacao16092009113044.pdf Convenção de Estocolmo – MMA: http://www.mma.gov.br/seguranca-quimica/convencao-de-estocolmo Home Page oficial da Convenção de Estocolmo: http://chm.pops.int/ #ciênciasdomar #oceanografia #oceanografiaquímica #pops #julianaleonel
- Uma breve história do Big-Bang ao alvorecer da vida: Parte III
Por Amanda Bendia Parte III - Sobre as nossas origens químicas: a formação das biomoléculas Imagem artística da Terra primitiva, onde possivelmente foram formadas as biomoléculas. Fonte. Um conjunto de condições incrivelmente raras (Parte II) permitiu que a vida surgisse em nosso planeta a partir de moléculas orgânicas e reações químicas. Todos os organismos vivos que conhecemos são compostos por biomoléculas como proteínas, ácidos nucléicos, polissacarídeos e lipídeos. Estas biomoléculas são constituídas por pequenas unidades interligadas entre si, denominadas monômeros. Os biomonômeros que constroem as proteínas, ácidos nucleicos (DNA e RNA) e polissacarídeos são respectivamente os aminoácidos, nucleotídeos e monossacarídeos. Hoje sabemos que grande parte dos biomonômeros podem ser produzidos espontaneamente dadas as condições necessárias. Uma das primeiras tentativas de produzir biomoléculas em laboratório foi feita por Stanley Miller e Harold Urey em 1953. Eles se basearam em estudos realizados por Alexander Oparin e J.B.S. Haldane que sugeriram que as biomoléculas e a vida teriam surgido em uma sopa primordial, numa atmosfera rica em metano, amônia, hidrogênio e vapor d’água. O experimento de Miller-Urey procurou simular estas condições da Terra primitiva (início do Arqueano) descritas por Oparin-Haldane: em um sistema selado foram inseridos os gases que comporiam a atmosfera primitiva descrita acima, além de descargas elétricas, uma fonte de calor e água líquida. Nestas condições, foram produzidos uma série de biomonômeros, como os aminoácidos glicina e alanina, e outros compostos orgânicos, como uréia e ácido fórmico. Embora estudos recentes indiquem que a composição da atmosfera primitiva não era exatamente como Oparin e Haldane propuseram, a importância dos resultados experimentais de Miller-Urey revolucionaram o nosso conceito a respeito da origem da vida, concretizando a ideia de uma origem química para todos os organismos vivos. Outro grande passo para o surgimento das primeiras células vivas foi a polimerização destes pequenos blocos estruturais chamados biomonômeros. Como os bloquinhos de aminoácidos, monossacarídeos e nucleotídeos se estruturaram para formar respectivamente as cadeias de proteínas, os polissacarídeos ou a estrutura complexa do DNA e RNA? Infelizmente ainda não temos todas as respostas para estas perguntas e as hipóteses que vêm sendo desenvolvidas são difíceis de serem testadas. Tipos de biomoléculas que compõem os seres vivos. Fonte Uma pergunta importante ao se discutir a origem da vida é como estas biomoléculas agruparam-se de maneira a formar o que seria a primeira célula viva, capaz de carregar uma informação genética e se reproduzir. Essa também é uma questão que ainda desafia a ciência mas novamente, muitos pesquisadores buscam explorar novas ideias que expliquem o grande salto de um mundo essencialmente químico para um mundo biológico. Genetic information flux. Fonte Um dos primeiros passos deste grande salto é entender como uma molécula de ácido nucleico desempenhou o papel essencial de guardar uma informação capaz de ser transmitida para as gerações seguintes. Uma das hipóteses mais aceitas para a origem da informação genética é a do mundo do RNA, que sugere que o RNA surgiu antes da molécula de DNA. No entanto, em todos os organismos vivos atuais, o fluxo de informação genética inicia-se no DNA. Por que, então, as primeiras células ou proto-células teriam o RNA como a principal fonte de informação genética? O DNA nas células atuais necessita de uma maquinaria complexa de proteínas para ser replicado. Estas proteínas, por sua vez, necessitam de uma molécula de DNA que carregue a informação para a sua posterior tradução. Assim, a dicotomia de quem surgiu primeiro, DNA ou proteína, torna esta questão praticamente insolúvel. Hipótese do mundo do RNA: o RNA teria sido a primeira molécula informacional dos seres vivos primitivos. Fonte Por este motivo, muitos cientistas sugerem que o RNA foi a primeira molécula informacional a surgir, pois ele apresenta duas propriedades essenciais para a manutenção de uma célula primitiva: uma atividade de ribozima, que o torna capaz de catalisar a sua própria replicação, e uma atividade catalítica capaz de sintetizar algumas proteínas. Continuamos sem entender como mutações na molécula de RNA deram origem ao DNA, e como este último foi posteriormente selecionado como principal fonte de informação genética da célula. Outro passo importante para a formação das primeiras células vivas é o surgimento da compartimentalização. Todas as células possuem uma membrana plasmática composta essencialmente de fosfolipídeos que garante a proteção do conteúdo citoplasmático. A compartimentalização delimita as moléculas no interior das membranas, facilitando suas interações químicas. Além disso, a permeabilidade seletiva da membrana plasmática torna a concentração química no interior celular diferente da concentração do meio, e essa característica é fundamental para os processos celulares. Compartimentos lipídicos são facilmente formados de forma espontânea devido à sua natureza anfipática - basta derramar um pouco de óleo num copo com água e observar. Provavelmente na Terra primitiva, os compartimentos formados acabaram encapsulando biomoléculas e alguns constituintes que dariam origem às primeiras formas de metabolismo e funcionamento celular. Gostou? Então, aguarde as cenas dos próximos capítulos! Para acessar a Parte I, clique aqui! Para acessar a Parte II, clique aqui! #amandabendia #ciênciasdomar #astrobiologia #origemdavida #terraprimitiva #biomoléculas
- Roda de conversa “Mulheres nas ciências: desafios e perspectivas
Durante o 38o Encontro Regional de Botânicos (ERBOT) em maio de 2018, nossa editora Catarina Marcolin participou da Roda de conversa “Mulheres nas ciências: desafios e perspectivas”. Além da Catarina, participaram as profas. Olívia Duarte e Flávia Cunha. Foi um momento muito bacana de trocas de experiências e escuta sobre os percalços da jornada feminina nas ciências, incluindo discussões sobre o recorte de raça. #netuniandoporai #catarinarmarcolin #erbot
- Tubarão: caçador ou caça?
Por Cláudia Namiki Ilustração: Joana Ho Se você aprecia uma boa moqueca, já deve ter comido carne de cação. Ou pelo menos já observou as belas postas de cação à mostra em feiras e peixarias. Mas você sabe o que é o cação? Cação nada mais é do que o nome dado à carne dos tubarões e das raias (ou arraias) que comemos (Figura 1). Ou seja, quando compramos cação, significa que vamos comer tubarão! Surpreendentemente, a maioria das pessoas não sabe disso, segundo apontou um estudo realizado em Curitiba, onde mais da metade das pessoas afirmaram que comem cação, mas que nunca comeram raia ou tubarão (Bornatowski et al., 2015). Figura 1: Anúncio das postas de cação comercializadas no CEAGESP em São Paulo. Fonte O problema é que existem 145 espécies de tubarão e raias no Brasil, dentre as quais 33% estão ameaçadas de extinção. Mas, como qualquer espécie de raia ou tubarão é vendida sob o nome de cação, já em postas (provavelmente para não assustar a freguesia), não há como saber exatamente o que está sendo vendido e, dessa forma, ao consumir o cação, podemos estar contribuindo para a extinção de uma espécie. Considerando que o nosso país ocupa o 11º lugar na produção, e o primeiro lugar na lista de importadores de carne de tubarão do mundo (segundo o relatório da FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations), aqui no Brasil, a nossa chance de contribuir para esse terrível fim se torna bastante elevada (Barreto et al., 2017). O consumo das nadadeiras de tubarão em alguns países da Ásia, onde são consideradas uma iguaria e são vendidas por valores elevados, têm contribuído para o aumento da pesca do tubarão. A retirada das valiosas nadadeiras do tubarão é chamada de “finning” (Figura 2). Normalmente, após o finning, os animais são cruelmente jogados no mar ainda vivos, pois o baixo preço de venda da carne do tubarão não compensa o custo do armazenamento. No entanto, a prática do finning é proibida por lei no Brasil. Então os pescadores armazenam o charuto (nome dado ao corpo do tubarão após a retirada das nadadeiras) para ser vendido a um preço muito baixo, incentivando ainda mais o consumo de cação. Se a nem a extinção de uma espécie e nem a crueldade do finning comove algumas pessoas, há ainda outros motivos para se evitar comer a carne de tubarão. Um deles é a preservação da nossa própria saúde: como predador de topo os tubarões acumulam grandes quantidades de metais pesados, como mercúrio e chumbo, em um processo chamado de biomagnificação (já falamos desse assunto aqui no blog). Assim, quando a pessoa come o tubarão se torna o próximo consumidor na cadeia alimentar e acumula os metais pesados presentes em sua carne (Alves et al., 2016, Escobar-Sánchez et al., 2011, Lopez et al., 2013). Os metais pesados são extremamente tóxicos para o organismo, principalmente em grandes quantidades, causando diversos problemas de saúde. O outro motivo é um serviço ecológico: os tubarões controlam o crescimento de populações de diversas espécies, seja por predação direta ou por mantê-las afastadas de determinada área por “medo” de serem devoradas. Grandes tubarões podem se alimentar de outros tubarões, de leões marinhos, de tartarugas e de outros animais da megafauna carismática. Porém, muitas espécies de tubarões se alimentam principalmente de invertebrados, como camarões, siris e caranguejos. Infelizmente até plástico pode fazer parte da dieta do tubarão (Figura 3). Também existe uma espécie filtradora que se alimentam de plâncton, como o tubarão baleia. Recentemente, pesquisadores americanos descobriram que uma espécie de tubarão martelo (Sphyrna tiburo), se alimenta principalmente de gramas marinhas quando jovem. Ainda não se sabe se o jovem tubarão ingere a grama por acidente ao caçar outros animais, ou se ele é realmente capaz de digerir e se alimentar desses vegetais. Essa descoberta pode revelar a existência de interações na cadeia trófica marinha até então ignoradas pelos pesquisadores. Figura 3: Tubarão tigre (acima) e alguns de seus itens alimentares (abaixo). Modificado de: Currents, The Ocean Foundation. Fonte Dessa forma, embora tenham criado fama de maus, graças aos filmes da franquia Tubarão e outros filmes trash (na minha humilde opinião), o homem não faz parte da dieta desses animais. Os ataques a seres humanos normalmente ocorrem por engano. Lugares com alta frequência de ataques de tubarão, normalmente estão associados a lugares onde os tubarões costumam se alimentar. Nas praias urbanas de Recife o alto índice de ataques de tubarão se deve a uma série de fatores, entre eles a construção do Porto de Suape, que destruiu o manguezal onde as fêmeas dos tubarões costumavam parir. Sem esse local, os tubarões passaram a frequentar as águas do estuário do rio Jaboatão, que desemboca nas praias, aumentando a frequência de encontro com banhistas e consequentemente elevando o número de ataques. A pesquisadora Dana Bethea, que dedica sua vida a estudar tubarões e raias, sugere algumas medidas para evitar o ataque de tubarões: evitar nadar ao nascer e ao pôr do sol, pois os tubarões estão mais ativos durante o crepúsculo; evitar nadar em águas com pouca visibilidade, dessa forma o tubarão pode te enxergar melhor e não vai mordê-lo; evitar áreas onde os tubarões se alimentam; não nadar sozinho; e remover as jóias antes de entrar na água, pois o brilho das mesmas pode levar o tubarão a crer que você é um peixe prateado saltitante. E se mesmo assim você continuar com medo, Dana sugere que você não entre na água, pois os tubarões não podem sobreviver em terra firme (rsrsrs). O fato é que, embora os ataques de tubarões a seres humanos sejam acidentes muito tristes, eles poderiam ser evitados em sua grande maioria e são estes grandes animais que estão sendo atacados por nós, com uma frequência tão elevada que podemos levá-los à extinção rapidamente. Para saber mais: http://www.sciencemag.org/news/2018/01/meet-world-s-first-salad-eating-shark https://swfsc.noaa.gov/textblock.aspx?Division=FRD&ParentMenuId=87&id=959 https://mundoestranho.abril.com.br/mundo-animal/por-que-ocorrem-tantos-ataques-de-tubarao-em-recife/ https://chooseyourcurrent.org/2017/08/whats-in-a-tiger-sharks-stomach/ http://sero.nmfs.noaa.gov/shark/dana_bethea/index.htmlhttp://www.icmbio.gov.br/cepsul/images/stories/legislacao/Instrucao_normativa/2012/in_inter_mpa_mma_14_2012_normasprocedimentoscapturatubaroes_raias.pdf) Referências Bibliográficas: Barreto, R.R., Bornatowski, H., Motta, F.S., Santander-Neto, J., Vianna, G.M.S., Lessa, R.. 2017. Rethinking use and trade of pelagic sharks from Brazil. Marine Policy, 85: 114–122. Hugo Bornatowski, Raul Rennó Braga, Carolina Kalinowski, Jean Ricardo Simões Vitule. 2015. “Buying a Pig in a Poke”: The Problem of Elasmobranch Meat Consumption in Southern Brazil. Ethnobiology Letters, 6 (1): 196-202. Luís M.F. Alves, Margarida Nunes, Philippe Marchand, Bruno Le Bizec, Susana Mendes, João P.S. Correia, Marco F.L. Lemos, Sara C. Novais. 2016. Blue sharks (Prionace glauca) as bioindicators of pollution and health in the Atlantic Ocean: Contamination levels and biochemical stress responses. Science of the Total Environment, 563–564: 282–292. Sebastián A. Lopez, Nicole L. Abarca, Roberto Meléndez C. 2013. Heavy metal concentrations of two highly migratory sharks (Prionace glauca and Isurus oxyrinchus) in the southeastern Pacific waters: comments on public health and conservation. Tropical Conservation Science, 6 (1): 126-137. Ofelia Escobar-Sánchez, Felipe Galván-Magaña, René Rosíles-Martínez. 2011. Biomagnification of Mercury and Selenium in Blue Shark Prionace glauca from the Pacific Ocean off Mexico. Biol Trace Elem Res 144:550–559. DOI 10.1007/s12011-011-9040-y. #ciênciasdomar #cláudianamiki #cação #joanaho #nadadeiras #tubarão #extinção
- Ocean research is the key to a sustainable future
By Vivian Kuppermann Marco Antonio Illustration by: Joana Ho Did you know that the UN declared next decade (2021-2030) as the decade of ocean science? The ocean covers 71% of the Earth's surface. It helps to regulate the climate and provides a number of essential and, in some cases, untouchable resources for man. The ocean is a source of food, raw materials, energy, and transportation, in addition to being used for recreation and leisure. Currently, more than 40% of the global population lives in regions within 200 km of the sea. In addition, 12 out of 15 megalopolises are coastal. However, rapid industrial development and population growth have deeply impacted the oceans. Climate change, unsustainable exploitation of natural resources, pollution, and habitat degradation threaten the productivity and health of our waters. Storms, proliferation of toxic algae, and coastal erosion are just a few of the consequences of this, which are devastating to communities living in coastal regions. Throughout human evolution, we have devised strategies to increase our resilience to such sea damage. But for how long will that be enough? In 2015, the southwest coast of Brazil recorded winds of 106 km/h – a light hurricane typically has speeds of about 115km/h – so it was almost there. From these winds, the area suffered much damage including fallen trees and billboards as well as the destruction of some buildings. In 2017, a windstorm left 38,000 homes without electricity and knocked down more trees and commercial signs. In the Port of Santos (SP), the largest in Latin America, a man was trapped in a crane. This all happened because the sea water was warmer than normal, generating areas of low pressure and creating instabilities that allowed for the development of these strong winds. And that's not all. Let's think about food: Research shows that more than 50% of the fish species consumed for food in the world are being exploited above the sustainable limit. According to a 2006 study, led by Boris Worm of the University of Halifax in Canada, fish and seafood stocks are expected to collapse by 2048 if nothing is done to contain the loss of marine biodiversity. Brazilian sardines (Sardinella brasiliensis), for example, are widespread throughout Brazilian cuisine. It is an extremely important species for the Southern and Southeastern regions of Brazil. Rich in various nutrients, it has always been considered a low-cost and nutritious food. However, due to overfishing, its price has been rising over the years. Sardine stocks have already collapsed twice, once in 1990 and again in 2000. In addition, sardines are a species that suffers directly from the influence of environmental variation. By 2016, the amount of fished sardines was once again reduced to frightening levels. Some experts even characterized the episode as yet another collapse of the species. This shortage was caused by abnormal water warming, a process that is associated with both the El Niño phenomenon, which occurred that year, and global climate change. It is worth mentioning that the region is also under political instability, with constant government turnovers and a reduction in ocean investments, which does not help the scenario at all. Now imagine if phenomena like El Niño became more frequent and more intense with climate change? How long will the species last? We need to find new ways to use natural resources and use them conscientiously. However, according to estimates by the UNESCO Intergovernmental Oceanographic Commission (IOC), the average national expenditure on oceanographic surveys varies from 0.04 to 4% of the total invested in research and development. This tiny budget is too little to achieve high-quality studies that involve long-term processes. Oceanographic research is quite expensive, because it requires ships, on-board laboratories, equipment, qualified personnel, et cetera. But there is still time to reverse this situation. Scientists and activists have gradually organized a social movement that led the United Nations, at its General Assembly in December 2017, to declare the next decade as the Decade of Ocean Science for Sustainable Development. The initiative aims to encourage further action for a more integrated and sustainable ocean observing system, in order to facilitate making new discoveries by monitoring the coast and deeper waters, thus broadening research to promote ocean conservation and natural resource management. Activities for this period will be the responsibility of UNESCO's Intergovernmental Oceanographic Commission (IOC). The process was long and hard fought. The 2012 Rio + 20 final document named "The Future We Want" made extensive references to the ocean. In 2013, the Global Ocean Commission was created, and in 2016, released its report about ocean degradation and the need for more effective policies to help restore the health and productivity of these waters. The 2030 agenda for sustainable development, launched by the UN in 2016, also highlighted the oceans as protagonists for conservation actions. This UN statement is a glimmer of hope for a more sustainable future, but it calls for greater engagement of researchers, politicians, government, and the general public. More research, incentives, and respect are essential if we seek to advance our knowledge about the waters around us; we must make better use of available resources to ensure their existence for future generations. It is vital to find solutions that allow us to understand the changes that are taking place and to reverse the damage before it is too late. The UN initiative aims to transform the way global society views and uses the ocean. As suggested by goal 14 of the Sustainable Development Goals (SDG), it will coordinate its actions to foster the conservation and sustainable use of the ocean, seas, and marine resources. Before progress can be made, it is essential to understand the lack of knowledge that we still have when it comes to the blue immensity: There is no internationally accepted methodology for estimating the economic value of services provided by the ocean to the human race Science is not yet able to assess the cumulative impacts of climate change, marine pollution, or anthropogenic activities on ocean health Only 5% of the ocean floor has thus far been mapped Over 250 million km2 of the ocean floor is in complete darkness, yet it shelters possibly millions of still unknown species Only 3 people have ever explored the deepest point of the ocean The next decade will be our time to support, demand, and celebrate new achievements for the health of our ocean, so that we can make the services and resources of the ocean available to future generations. References: Global Ocean Commission. The Future of Our Ocean: Next steps and priorities Report. Available at http://www.some.ox.ac.uk/research/global-ocean-commission (Global Ocean Commission, 2016). Ministry of the Environment. Management Plan for the sustainable use of Sardines-Verdadeira in Brazil. Source: Ibama: http://www.ibama.gov.br/sophia/cnia/livros/planogestaosardinhaverdadeiradigital.pdf (2011). UNESCO. United Nations Decade of Ocean Science for Sustainable Development (2021-2030) UNESCO press release. Available at: https://en.unesco.org/ocean-decade (2017). United Nations General Assembly. The future we want. Rio+20 conference outcome document A/RES/66/288. About Vivian: As an Oceanographer and a Journalist, Vivian sees communication as the best way to spread science around. She has worked with environmental bioindicators in the area of Geological Oceanography, and outside academia, she has experience with writing, graphic design, digital marketing, and social media management. As a contributor to this blog, she hopes to help educate people about our amazing blue ocean. Curriculum #marinescience #invited #viviankuppermanmarcoantonio #joanaho #resilience #sustainability #invited
- Nunca é tarde para florescer!
Por Rosa Gamba Ilustração: Caia Colla Nasci em novembro de 1940, primeira metade do século 20, filha de imigrantes portugueses que vieram para a zona rural e depois migraram para São Paulo em busca de emprego. São Paulo estava no auge da industrialização, principalmente no que diz respeito à indústria têxtil. As famílias portuguesas eram extremamente patriarcais e, em sua maioria, de baixa renda, vivendo em casas onde abrigavam vários membros de uma mesma família. Na grande maioria dessas famílias, os filhos, quando muito, faziam curso primário e depois iam para o mercado de trabalho. Não foi diferente comigo, pois estudar, segundo o conceito geral, era só para ricos, para o meu desespero, já que sonhava com coisas grandes. Porém, minha trajetória mudou quando conheci pessoas que me ajudaram e consegui entrar no curso ginasial já com 17 anos e em seguida fui para o científico. Toda essa trajetória teve muitos problemas por conta da grande resistência familiar. Uma formação muito rara para a época. As mulheres bem nascidas faziam escola normal e iam ser professoras primárias, as mau nascidas na maioria dos casos não terminavam o primário. Com 19 anos comecei a trabalhar como funcionária na Faculdade de Saúde Pública da USP. Depois de fazer um estágio de mais ou menos um ano, consegui ser contratada ocupando o cargo de técnico de laboratório, colaborando com as aulas práticas de bacteriologia e auxílio à pesquisa (1960 a 1968 ). Com 26 anos me casei. Era a rotina de todas as mulheres da época e também, é lógico, era comum se casar com maridos autoritários e repressores. Eu, como toda mulher da época, fazia o que o marido mandasse, e deixei meu trabalho para ser dona de casa por 20 anos. Tive três filhos que me ensinaram muita coisa e me deram mais força ainda para reverter essa história que não aceitava desde criança. Queria mudança. Levei essa vida como pude, mas sempre com a ideia de algum dia dar uma girada de 360°. Entre 1980 e 1985 morei no Estado de Goiás, passando por três cidades Niquelândia, Uruaçu e Goiânia. No início de 1986 voltei para São Paulo determinada a voltar ao mercado de trabalho, e entrei em contato com pessoas que foram meus contemporâneos na Saúde Pública. Em setembro de 1987, então com 47 anos, eu estava de volta, praticamente, ao meu primeiro emprego em um outro tempo e espaço físico diferente. Até o nome havia mudado, e a instituição agora se chamava Instituto de Ciências Biomédicas da USP (São Paulo), fazendo basicamente o que fazia em 1960, me envolvendo com a didática e pesquisa e sempre muito feliz com meu trabalho. Ufa! estava mudando minha história. Bem, no segundo semestre de 1989 eu arrisquei e prestei vestibular no Mackenzie, em busca do meu segundo sonho: ser química ou matemática. Bem, como a química tinha mais a ver com o que eu fazia, foi nela que foquei. E consegui! Meu nome saiu na terceira lista, foi inacreditável! Comemorei com muito vinho! Aos 49 anos, segunda metade do século 20, estava eu na sala de aula de uma universidade e levei bem, fui até o fim, trabalhando durante o dia e estudando à noite (anos dourados), me senti como se tivesse a mesma idade da galera e o interessante é que eles me tratavam assim. Meu outro desafio, mas esse nunca foi meu sonho, foi o mestrado. Fui praticamente empurrada para ele pela Profa. Vivian Pellizari, agora docente do Instituto Oceanográfico da USP, com quem trabalho até o momento. Meu mestrado foi no programa de Biotecnologia Interunidades e o tema foi com saneamento básico estudando a presença de Oocistos (uma fase intermediária no ciclo de vida de protozoários) de Criptosporidim em mananciais e água tratada. Tudo parecia já realizado quando o inesperado aconteceu: “ANTÁRTICA”!!!!! Em 1998/99 recebi o maior prêmio da minha vida, fui para Antártica, com o projeto de pesquisa coordenado pela Profa. Rosalinda Montone (IOUSP) do qual também fazia parte a profa. Vivian Pellizari, então docente no ICB-USP. E veja bem, fui porque na última hora a pessoa indicada não pôde ir. Permaneci na estação durante 3 meses. Fiz coleta de solo e água e processamento das amostra como parte do monitoramento da Baía do Almirantado, local onde fica a Estação Científica Brasileira Comandante Ferraz. Como se uma vez não fosse um sonho, ainda fui mais duas vezes: em 2000/2001, durante dois meses e em 2004 durante um mês. Com 77 anos estou no IOUSP há sete e me sinto com 30 anos no meio de toda essa energia da juventude! Faço tudo que posso para ver essa gente crescer, acreditar na vida e acreditar que tem muito mais além do que podemos enxergar, pois podemos sentir também. Concluindo, o que mais eu poderia querer?! Obrigada às pessoas que fizeram parte da minha história de vida, que muito me enriqueceram a ponto de conseguir escrever esse texto. Sobre a autora: Hoje em dia a Rosa, ou Rosinha como é carinhosamente chamada, está aposentada pelo ICB, depto de Microbiologia, mas trabalha no Laboratório de Ecologia Microbiana (LECOM) do IOUSP desde 2011, a convite da Profa. Vivian Pellizari, com quem trabalha há 30 anos. Além de ser responsável pela administração e logística do LECOM e realização de aulas práticas, salva e inspira a vida de todos os alunos com sua força, dedicação e amor. Curriculum Lattes #mulheresnaciência #rosagamba #caiacolla
- Sedimentos marinhos
Por Jana M. del Favero A maior parte do fundo oceânico é coberta por camadas de sedimentos. O sedimento é um material sólido fragmentário produzido pelo intemperismo, ou seja, alterações físicas e químicas das rochas, como o basalto ou o granito. Os sedimentos marinhos também podem ser formados pelo acúmulo de carapaças de organismos mortos. Portanto, o sedimento marinho pode ser composto de partículas minerais ou orgânicas (fósseis) e a mistura de ambos os tipos pode ser encontrada em muitos lugares no fundo do mar. Os geólogos classificam os sedimentos marinhos com base no tamanho de suas partículas (tamanho do grão) ou no seu modo de formação. Das maiores para as menores partículas comumente encontradas nos sedimentos temos o cascalho (diâmetro maior que 2 mm), a areia (diâmetro entre 0,0625 e 2 mm), o silte e a argila (que são normalmente misturados e formam um depósito de lama com partículas de diâmetro variando entre 0,0625 e 0,0002 mm, menor que a espessura de um fio de cabelo). Podemos ignorar os colóides (partículas com diâmetro menor que 0,0002 mm), pois eles não são significativos como sedimentos. Os depósitos sedimentares mais comuns no mar são lama e areia. Com relação ao modo de formação, os sedimentos são subdivididos em cinco categorias: 1) terrígenos - produzidos pelo intemperismo e erosão (deslocamento) das rochas em terra (ex. areias e lamas); 2) biogênicos - derivados das partes duras de organismos, como conchas e detritos esqueléticos (ex. lamas carbonáticas - compostas de carbonato de cálcio - e silicosas - compostas de sílica); 3) autigênicos - partículas precipitadas por reações químicas ou bioquímicas na água do mar próximo ao fundo (ex. nódulos de manganês e os de fosfato; 4) vulcanogênicos: partículas que são expelidas de vulcões (ex. as cinzas); 5) cosmogênicos: minúsculos grãos que se originam no espaço sideral e tendem a ser misturados aos sedimentos terrígenos e biogênicos. Os dois principais fatores que determinam a natureza de um depósito de sedimentos são a distribuição do tamanho das partículas e a quantidade de energia no local da deposição. Em condições de grande energia, a alta velocidade e turbulência da água mantém os grãos finos em suspensão e ressuspende as partículas finas que já estavam no fundo do oceano. Isto separa os grãos pequenos e os transporta para águas mais calmas. Por outro lado, um sedimento mais grosso é depositado sob condições de alta energia. Por isso ambientes de baixa energia, onde as correntes são fracas e a água é calma, não recebem suprimentos de grãos grossos, pois não conseguem transportá-los para esse locais. Assim sendo, nestes ambientes, normalmente, ocorre o acúmulo de lamas. Agora vamos nadar em uma praia. Ao mergulhar sob uma onda que ainda não quebrou, notamos que a água se torna cada vez mais calma com a profundidade, certo? Podemos assim inferir que a energia no fundo induzida pelas ondas da superfície deve diminuir com a distância da costa, pois as profundidades aumentam em direção ao mar aberto. Consequentemente, há uma diminuição sistemática no tamanho do grão, ou seja, indo a partir da praia, que é composta por areia média, grossa e cascalho, em direção ao mar aberto, o tamanho do grão diminui e apresenta-se na seguinte ordem: areia fina, areia lamacenta (areia com um pouco de lama), lama arenosa (lama com um pouco de areia) e, finalmente, lama. No entanto, é preciso lembrar que devido às glaciações e degelos no passado geológico, o nível do mar subiu e desceu. Algumas vezes, inundou a plataforma como é atualmente, e em outros momentos, expôs a plataforma, permitindo que ela ficasse coberta por prados e florestas. Isso explica por que sedimentos grossos (areia e até mesmo cascalho) são encontrados na plataforma externa onde as águas são profundas e o fundo é calmo. Esses sedimentos que se acumularam em tempos pretéritos e sob condições deposicionais muito diferentes são chamados de sedimento relíquia. Para coletar as amostras de sedimentos, os cientistas contam com a ajuda de diversos equipamentos. Um dos mais antigos são a draga, que raspa o fundo do oceano ao ser arrastada, e pegadores tipo Van Veen (busca-fundo), que “abocanham” uma parte do fundo com suas “mandíbulas” de metal e fecham firmemente em torno da amostra de sedimentos. Porém, ambos os aparelhos citados coletam apenas a camada superficial do sedimento. Para coletar amostras mais profundas, os pesquisadores normalmente utilizam testemunhador por gravidade (gravity corer) ou o testemunhador a pistão (piston core). O primeiro coleta amostras entre 1 e 2 metros de comprimento através de um tubo de metal oco (barrilete de testemunhagem ou core barrel) que é empurrado para dentro do sedimento pela força da gravidade. Já o segundo coleta amostras (também chamadas de testemunhos) por mais de 20 metros pois conta com a ajuda do pistão, que desliza para cima do barrilete de testemunhagem à medida que penetra no fundo e faz com que a água saia a partir do barrilete, o que permite que o testemunho dentro do tubo de revestimento seja minimamente perturbado e fique compacto (veja a figura abaixo). Hoje em dia, a melhor técnica (mas também a mais cara) para amostrar o fundo do oceano é a perfuração de plataforma, que foi desenvolvida por engenheiros de petróleo para as áreas terrestres e foi adaptada para o oceano. Com ela são obtidas amostras de sedimento com mais de um quilômetro de comprimento. Agora você já deve estar se perguntando: mas por que estudar e conhecer o sedimento marinho? Os sedimentos acumulados no fundo do mar e suas camadas representam um registro histórico do passado geológico. Estudos de amostras de sedimentos retiradas do fundo do mar por todo o mundo estão em andamento para documentar as variações climáticas e as flutuações do nível do mar que ocorreram há centenas de milhões de anos. Eles ajudam a entender os fatores que possivelmente induziram às mudanças climáticas no passado e ajudam os cientistas a melhorar as condições de prever o clima futuro, antecipando os efeitos que as mudanças globais acarretarão sobre os processos ambientais e as formas de vida, inclusive sobre você! Fonte: PINET, Paul R. Fundamentos de Oceanografia. LTC, 05/2017. VitalBook file. #ciênciasdomar #descomplicando #janamdelfavero #oceanografia #oceanografiageológica #sedimentos
- Estudo dos oceanos é a chave para um futuro sustentável
Por Vivian Kuppermann Marco Antonio Ilustração: Joana Ho Vocês sabiam que a próxima década (2021-2030) foi declarada pela ONU como a década da ciência dos oceanos? Os oceanos cobrem 71% da superfície da Terra. Eles regulam o clima e fornecem diversos recursos essenciais e, em alguns casos, ainda intocáveis para o Homem. São fonte de alimento, matérias-primas, energia e transporte, e ainda são usados para recreação e lazer. Hoje, mais de 40% da população global mora em regiões de até 200 km de distância do mar. Além disso, 12 entre 15 megalópoles são costeiras. No entanto, o rápido desenvolvimento industrial e o aumento populacional desordenado têm impactado demais os oceanos. Mudança climática, exploração não sustentável de recursos naturais, poluição e degradação de habitat ameaçam a produtividade e a saúde das nossas águas. Tempestades, proliferação de algas tóxicas e erosão de costa são apenas algumas das consequências disso e são devastadoras para comunidades que vivem em regiões litorâneas. Ao longo da evolução humana, nós criamos estratégias para aumentar a nossa resiliência a esses danos causados pelo mar. Mas até quando isso será suficiente? Para se ter ideia, em 2015, a baixada santista registrou ventos de 106 km/h – um furacão leve apresenta velocidades de cerca de 115km/h – foi quase lá. Com esses ventos, as cidades sofreram diversos estragos. Árvores e placas caídas, destelhamento e destruição de algumas construções. Em 2017, o vendaval voltou, deixando 38 mil imóveis sem luz, além de derrubar mais árvores e letreiros comerciais. No Porto de Santos (SP), o maior da América Latina, um homem ficou preso em um guindaste. O fenômeno foi causado pelo fato da água do mar estar mais quente que o normal, gerando áreas de baixa pressão e criando instabilidades que permitem o desenvolvimento desses fortes ventos. E não é só isso. Vamos pensar em comida: Pesquisas mostram que mais de 50% das espécies de peixes consumidos para alimentação no mundo estão sendo exploradas acima do limite. Segundo um estudo de 2006, liderado por Boris Worm, da Universidade de Halifax, no Canadá, a previsão é de que estoques de peixes e de frutos do mar entrem em colapso até 2048 se nada for feito para conter a perda da biodiversidade marinha. A sardinha brasileira (Sardinella brasiliensis) por exemplo, está muito presente na alimentação do brasileiro. É uma espécie extremamente importante para as regiões Sul e Sudeste do Brasil. Rica em diversos nutrientes, ela sempre foi considerada um alimento de baixo custo e nutritivo. Mas já reparou como o preço dela subiu? Pois é, o seu estoque já colapsou duas vezes, nos anos de 1990 e 2000, por excesso de pesca. Além disso, a sardinha é uma espécie que sofre influência direta de variações ambientais que, somadas à pesca intensa, levam à depleção do estoque desses animais. Em 2016, a quantidade de sardinha pescada voltou a cair a níveis assustadores. Alguns especialistas, inclusive, caracterizaram o episódio como mais um colapso da espécie. Essa escassez foi causada pelo aquecimento anormal das águas, processo que pode estar associado tanto ao fenômeno El Niño, que ocorreu naquele ano, como também às mudanças climáticas globais. Vale dizer que a instabilidade política do setor, com trocas constantes de ministros, extinção de ministérios e diminuição de investimentos, não ajuda em nada o cenário. Agora imaginem se esses fenômenos como o El Niño tornam-se mais frequentes e mais intensos com as mudanças climáticas? Até quando as espécies resistirão? Precisamos encontrar novas formas de utilizar os recursos naturais e utilizá-los de maneira consciente. No entanto, segundo estimativas da Comissão Intergovernamental Oceanográfica (IOC) da UNESCO, o gasto nacional médio com pesquisas oceanográficas varia de 0,04 a 4% do total investido em pesquisa e desenvolvimento. É muito pouco para conseguirmos estudos de alta qualidade, que envolvam processos de longo prazo. E pesquisas oceanográficas são caras, sim, pois exigem embarcações, navios, laboratórios a bordo, equipamentos, pessoas qualificadas... Mas ainda há tempo de reverter essa situação. Cientistas e atores sociais vêm, aos poucos, organizando um movimento de conscientização que levou a Organização das Nações Unidas, em sua Assembleia Geral, em dezembro de 2017, a declarar a próxima década como a Década da Ciência do Mar para o Desenvolvimento Sustentável. A iniciativa visa encorajar novas ações para um sistema de observação mais integrado e sustentável dos oceanos para facilitar novas descobertas e o monitoramento da costa e de águas mais profundas, ampliando, assim, as pesquisas para promover a conservação dos oceanos e a gestão dos recursos naturais. As atividades para esse período serão de responsabilidade da Intergovernmental Oceanographic Commission (IOC) da UNESCO. O processo foi longo. O Documento Final da Conferência Rio + 20, “The Future we want”, de 2012, fez uma extensa referência aos oceanos. Em 2013, a Global Ocean Commission foi criada e, em 2016, lançou o seu relatório relatando a degradação do oceano e a necessidade de políticas mais efetivas para ajudar a restaurar a saúde e produtividade dessas águas. A agenda de 2030 para o desenvolvimento sustentável, lançada pelo ONU em 2016, também destacou os oceanos como protagonistas para as ações de conservação. Essa declaração da ONU é uma gota de esperança para um futuro mais sustentável, mas exige maior engajamento de pesquisadores, de políticos e governantes, e da população em geral. Mais pesquisas, incentivos e respeito são essenciais para podermos avançar no conhecimento que temos sobre as águas que nos cercam, aproveitando melhor os recursos disponíveis e ainda para garantir a sua existência para as gerações futuras. É fundamental encontrar soluções que nos permitam a entender as mudanças que estão ocorrendo e reverter a degradação antes que seja tarde demais. A iniciativa da ONU pretende transformar a forma como a sociedade global enxerga e usa os mares, por isso começa a coordenar as suas ações no sentido de fomentar a conservação e o uso sustentável dos oceanos, mares e recursos marinhos, como sugere o objetivo de número 14 do Sustainable Development Goals (SDG). E para começar a prática, é essencial entender a falta de conhecimento que ainda temos quando o assunto é a imensidão azul: Não existe uma metodologia internacionalmente aceita para estimar o valor econômico dos serviços providos pelos oceanos para a raça humana; A ciência ainda não é capaz de avaliar os impactos cumulativos da mudança climática, da poluição marinha e das atividades antrópicas sobre a saúde do oceano; Apenas 5% do fundo oceânico já foi mapeado; Mais de 250 milhões de km2 de área do fundo do oceano está em completa escuridão e pode ser moradia para até milhões de espécies ainda desconhecidas; Apenas 3 pessoas exploraram o ponto mais profundo dos oceanos até o momento. A próxima década será a nossa hora, como sociedade, de apoiar, exigir e celebrar novas conquistas para a saúde dos nossos oceanos, para que possamos, lá na frente, brindar os serviços e recursos disponíveis às futuras gerações. Referências: Global Ocean Commission. The Future of Our Ocean: Next steps and priorities Report. Available at http://www.some.ox.ac.uk/research/global-ocean-commission (Global Ocean Commission, 2016). Ministry of the Environment. Management Plan for the sustainable use of Sardines-Verdadeira in Brazil. Source: Ibama: http://www.ibama.gov.br/sophia/cnia/livros/planogestaosardinhaverdadeiradigital.pdf (2011). UNESCO. United Nations Decade of Ocean Science for Sustainable Development (2021-2030) UNESCO press release. Available at: https://en.unesco.org/ocean-decade (2017). United Nations General Assembly. The future we want. Rio+20 conference outcome document A/RES/66/288. Sobre Vivian: Formada em Oceanografia pela Universidade de São Paulo e em Jornalismo pelo Fiam-Faam Centro Universitário, vê a comunicação como a melhor maneira de espalhar a ciência por aí. Trabalhou com bioindicadores ambientais na área de Oceanografia Geológica. E, fora da academia, tem experiência com redação, assessoria de imprensa, design gráfico, marketing digital e gestão de mídias sociais. Atualmente, é mestranda em Oceanografia Química pela USP. Link para currículo Lattes #ciênciasdomar #viviankuppermannmarcoantonio #joanaho #resiliência #sustentabilidade
- Big Bang to the Dawn of Life: A Brief History - Part I
By Amanda Bendia English edit: Katyanne M. Shoemaker Part I - Big Bang: the origin of atoms and explosion of stars It is estimated that the number of species that inhabit the Earth currently exceeds 8.7 million. Not included in this calculation are the bacteria and archaea, which are microscopic prokaryotes. These microscopic organisms are single celled and devoid of a nucleus and membrane-bound organelles. The number of species of these prokaryotic microorganisms, surprisingly, surpasses the estimated 8.7 million eukaryotic inhabitants of the planet (eukaryotes have a more complex cellular structure with nuclei and membrane-bound organelles and encompass all animals, plants, fungi, protozoa, etc.). Such immense values make us reflect on how such incredible diversity may have arisen throughout the history of our planet and the Universe. To begin to discuss this question, we need to go back 15 billion years ago, to a point where everything we now know was concentrated in one single point. Can you imagine this? All of the humans and all other organisms that have inhabited the Earth, all of the objects we have produce with our technology, all of the molecules that make up our planet, all of the atoms of the billions of stars that we have already detected in the Universe, all of the Cosmos, gathered in this singularity. And then, there was the biggest “explosion” of all time: the Big Bang. Fourteen billion years ago: from the singularity to the greatest explosion of all time, the Big Bang. Font The Universe expanded, cooled and darkened. The first atoms formed and their accumulation generated large clouds of cosmic dust that would give rise to the galaxies. Within the galaxies, the first generation of stars formed; within them, atoms fused, first of hydrogen, but then giving rise to heavier chemical elements. When the fuel was depleted, the stars exploded and released these elements, enriching the stellar gases. A new generation of stars began recycling these elements, and even heavier atoms were formed. The accumulation of clouds filled with cosmic dust - the nebulae - gave rise to planetary systems, including our solar system. During the formation of planet Earth, approximately 4.5 billion years ago, organic molecules composed of carbon formed and created all of the ingredients essential for the development of life. The origin of our solar system: the ingredients for the origin of life in a cloud of stellar dust. Font #chatamandabendia #marinescience #astrobiology #atoms #stars #chatkatyanneshoemaker
- O assoalho oceânico: margens continentais, bacias oceânicas e cordilheiras meso-oceânicas
Por Jana M. del Favero Até a Segunda Guerra Mundial acreditava-se que o assoalho oceânico (ou seja, o fundo marinho) fosse plano e sem nenhuma característica marcante. Porém, após a guerra, uma nova tecnologia, a ecossondagem, permitiu que os pesquisadores começassem a explorar e mapear o fundo oceânico. Na ecossondagem, um transmissor de som, montado na parte inferior de uma embarcação, envia um pulso sonoro para dentro da água. Este pulso é refletido pelo fundo e volta para a superfície do mar, onde é gravado por um dispositivo de escuta chamado hidrofone. A profundidade da água é igual à metade do tempo de viagem do pulso sonoro (pois o tempo de viagem total considera o tempo gasto na ida e na volta), multiplicada pela velocidade do som na água (como quando calculamos a distância que percorremos em um carro quando sabemos a velocidade do veículo e o tempo que demoramos no percurso). O que foi descoberto com a medição da profundidade dos oceanos (a batimetria) é que, assim como a topografia dos terrenos montanhosos que conhecemos, o assoalho oceânico também é irregular. Assim, de um modo geral, a batimetria dos oceanos pode ser subdividida em três grandes áreas: margens continentais, bacias oceânicas e cordilheiras meso-oceânicas, que descrevo a seguir. Margens Continentais Para entender o que são margens continentais basta imaginar que as bacias oceânicas estão cheias demais de água, transbordando e inundando as margens dos continentes. Nos pontos de alagamento das bordas continentais (como as bordas de uma piscina), sedimentos erodidos dos continentes e transportados para a costa por rios e geleiras se acumulam e são moldados por processos oceânicos em uma vasta e espessa cunha sedimentar (depósito de sedimentos localizado acima de outro depósito): as margens continentais. Essa província oceanográfica é ainda dividida em três partes: 1) plataformas continentais - planícies “quase retas” com aproximadamente 60 km de largura; elas se iniciam nas bordas dos continentes e terminam em seu lado oceânico na quebra da plataforma, onde a inclinação do fundo do mar se acentua drasticamente; ocorrem geralmente a 130 m de profundidade; 2) talude continental - ocorre após a quebra da plataforma, apresentando um declive ainda mais acentuado; 3) elevação (ou sopé) continental - vasta planície submarina de sedimentos que ocorre na base de muitos taludes, quando a inclinação do fundo do oceano é reduzida. Bacias oceanográficas Já as bacias oceanográficas se encontram além das margens continentais, e apresentam topografia variada, desde planícies até elevados picos montanhosos. Em cada bacia oceanográfica é possível encontrar as seguintes feições: 1) planícies abissais - áreas mais planas da Terra, encontradas em profundidades de 3 a 5 km; 2) colinas abissais - domos ou colinas alongadas, com alturas inferiores a 1000 m e largura variando entre 100 m a 100 km; 3) montes submarinos - muitos são vulcões ativos ou não, com topos cônicos e encostas íngremes que chegam a mais de 1000 m acima do assoalho marinho, mas não alcançam ou ultrapassam a superfície do oceano; 4) fossas oceânicas (ou abissais) - correspondem às regiões mais profundas da Terra. São relativamente íngremes, longas, com depressões estreitas, algumas são de 3 a 5 km mais profundas do que o assoalho oceânico ao redor. Cordilheiras meso-oceânicas Por fim, as cordilheiras meso-oceânicas são cadeias de montanhas submarinas conectadas uma a outra, representando o mais longo e mais contínuo cinturão de montanhas do mundo, estendendo-se por mais de 60.000 km. Elas são geologicamente ativas, caracterizadas por frequentes terremotos, muitas falhas e vulcanismo. Post relacionado: E se o mar secasse Fonte: Pinet, P.R. 2014. Invitation To Oceanography. 7a edição. Jones & Bartlett Learning. 662 p. #descomplicando #janamdelfavero #assoalhooceânico #baciasoceânicas #cordilheirasmesoceânicas #margenscontinentais
- Uma breve história do Big-Bang ao alvorecer da vida: Parte II
Por Amanda Bendia Sobre as condições essenciais para o surgimento da vida na Terra A Terra nos seus primórdios (concepção artística). Fonte Os primeiros 400 milhões de anos da Terra foram hostis e desoladores: temperaturas de mais de 200ºC tornavam a crosta liquefeita e gases vulcânicos, especialmente CO2, eram lançados em grandes quantidades na atmosfera em formação. Conforme a Terra foi resfriando, a crosta tornou-se sólida e a temperatura mais baixa permitiu a presença de água líquida em sua superfície. Esse foi provavelmente um fator fundamental para o surgimento da vida. Além disso, as moléculas orgânicas, geradas na nebulosa que deu origem ao nosso Sistema Solar, sofreram reações químicas, resultaram em moléculas orgânicas ainda mais complexas, compostas especialmente por Carbono, Hidrogênio, Oxigênio, Nitrogênio, Fósforo e Enxofre. Esses foram os blocos de construção iniciais para as primeiras moléculas biológicas. Outro evento importante que propiciou o desenvolvimento e manutenção da vida no planeta foi o impacto de um corpo do tamanho de Marte, logo no início da formação da Terra, que deu origem à nossa Lua. É curioso pensar que uma colisão com 100 milhões de vezes mais energia do que o impacto que extinguiu os dinossauros pode ter auxiliado o estabelecimento da vida durante a história do planeta. O que acontece é que a força gravitacional da Lua estabiliza a inclinação do eixo da Terra. Sem esta estabilidade, grandes mudanças climáticas ocorreriam, e possivelmente formas de vida complexas não teriam se desenvolvido. A origem da Lua: quando um corpo do tamanho de Marte colidiu com a Terra e formou o nosso satélite natural (concepção artística). Fonte Outras características do nosso planeta também foram fundamentais para o surgimento e manutenção da vida, como a presença de um núcleo metálico, que gera um campo magnético e atua como um escudo protetor contra radiações cósmicas; a presença de um manto e sua movimentação abaixo da crosta promove as atividades tectônicas, vulcanismo e movimentações continentais. O vulcanismo, por sinal, foi muito importante para o surgimento da vida, uma vez que suas emissões gasosas forneceram nutrientes que podem ter sido utilizados pelos primeiros organismos unicelulares, como dióxido de carbono e sulfeto de hidrogênio. Os vulcões também ajudam na manutenção das condições climáticas do planeta e auxiliam na reciclagem do carbono que é, depois da emissão, utilizado pelos organismos vivos em seus processos metabólicos. Gostou? Então, aguarde as cenas dos próximos capítulos! Para acessar a Parte I, clique aqui! #amandabendia #ciênciasdomar #astrobiologia #origemdalua #terraprimitiva