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  • Minhocas peludas indicam a qualidade ambiental do fundo marinho no Banco dos Abrolhos

    Por Michele Quesada-Silva Todos aprendem na escola a importância da minhoca para os solos terrestres. Mas esqueceram de nos ensinar a importância dos seus parentes para os sedimentos do fundo do mar. As minhocas peludas na verdade chamam-se poliquetas e não têm pelos, mas sim cerdas (uma mais linda que a outra!). Os poliquetas pertencem ao mesmo grupo das minhocas (Filo Annelida) e, assim como elas, ventilam e irrigam o sedimento, estimulando o fluxo de nutrientes e a degradação da matéria orgânica. Existem no mundo mais de 11 mil espécies de poliquetas, sendo que eles podem ter diferentes tamanhos, hábitos de vida e hábitos alimentares (de herbívoros a omnívoros). Essa grande diversidade de espécies e hábitos faz com que a presença de determinadas espécies, assim como suas quantidades, indique as características do ambiente. Por isso, estes organismos são comumente utilizados por empresas de consultoria ambiental na caracterização e no monitoramento da qualidade do fundo marinho. Como estudar poliquetas Os poliquetas adultos são geralmente bentônicos, isto é, habitam os fundos marinhos tanto duros (como por exemplo recifes de corais) quanto os sedimentos. A figura abaixo representa a variedade de métodos para coletar os organismos bentônicos. Tradicionalmente, o bentos é dividido segundo uma classificação prática baseada no tamanho da malha das peneiras utilizadas para separar esses organismos do sedimento marinho. Animais retidos por uma peneira de 0,5 mm, por exemplo, compreendem a macrofauna bentônica, que é dominada por poliquetas. No entanto, na peneira não ficam só os organismos… então temos que separá-los em grandes grupos (poliquetas, crustáceos, moluscos, etc) através de um esteromicroscópio e, depois, com a ajuda de um microscópio com lentes de aumento mais potentes, podemos identificá-los em nível de espécie. No caso dos poliquetas, as cerdas que eu comentei anteriormente são muito importantes nessa classificação. Impacto do sedimento terrígeno nos poliquetas ao redor dos recifes de corais do Banco dos Abrolhos A importância ecológica dos poliquetas fez com que eu tivesse vontade de estudá-los durante a minha graduação em Biologia e o meu mestrado em Oceanografia Biológica. Na ocasião, o Instituto Oceanográfico da USP estava desenvolvendo um projeto nos recifes do Banco dos Abrolhos (“Produtividade, Sustentabilidade e Utilização do Ecossistema do Banco dos Abrolhos – PROABROLHOS”). Os recifes de coral estão em constante modificação, sendo ora construídos pelos corais e algas calcárias, ora erodidos pelas ondas ou por algum organismo, como o peixe-papagaio. Os fragmentos resultantes destes processos de erosão espalham-se ao redor dos recifes de coral, ampliando os limites desse ecossistema. E quais são os organismos que dominam nestes fragmentos de recife? Sim, os meus queridos poliquetas! A área de estudo do meu mestrado foi o recife Sebastião Gomes, localizado a menos de 20 km da costa da Bahia. O objetivo do meu trabalho era caracterizar a comunidade de poliquetas que vive ao redor de um recife cujo sedimento é formado tanto por fragmentos recifais quanto por partículas finas que são transportadas principalmente do Rio Caravelas para o pé do recife com ajuda das correntes marítimas e dos ventos. Tipicamente, há maior diversidade e abundância de poliquetas em sedimentos mais grossos devido ao maior espaço entre os grãos. Na época do meu mestrado, o que me preocupava era o aumento do aporte de sedimentos finos devido ao desmatamento das florestas tropicais costeiras para cultivo de eucalipto. Hoje, o que mais me preocupa é a lama contaminada da mineradora Samarco, que tem sido transportada ora para o sul e ora para o norte, até que atingiu o Banco dos Abrolhos em julho de 2016. Os sedimentos mais finos em regiões recifais não são prejudiciais apenas para os poliquetas, mas também para os corais que formam a estrutura do recife. Além de entupir os pólipos dos corais, a presença desse sedimento fino na coluna d’água também dificulta a penetração da luz, essencial para a fotossíntese das microalgas que vivem associadas aos corais. Os dados do meu mestrado foram coletados antes do desastre da Samarco e eu acredito que a utilização desses dados para o monitoramento dos recifes costeiros do Banco dos Abrolhos é um bom exemplo de como integrar a ciência básica com a ciência aplicada (Post: Ciência nada básica), porque não é possível monitorar uma área sem saber como ela era antes do impacto ambiental. No momento, estes dados não são estão sendo utilizados, mas eu espero que a sua recém publicação (o artigo acabou de sair no Brazilian Journal of Oceanography) inspire esse monitoramento! Link para o artigo científico http://www.scielo.br/pdf/bjoce/v65n1/1679-8759-bjoce-65-01-0079.pdf Link para a dissertação de mestrado http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/21/21134/tde-09042014-194321/pt-br.php. Sobre Michele Quesada-Silva: Sou bióloga (com muito orgulho) e mestre em Oceanografia Biológica, além de ser muito metódica (as fotos das caixinhas com a coleção de poliquetas do meu mestrado exemplifica bem isso) e crítica (construtiva!). Nos últimos dois anos, abandonei os meus queridos poliquetas e participei da coordenação de uma equipe de biólogos e analistas de geoprocessamento responsáveis por avaliar o fundo marinho antes da instalação ou da desinstalação de estruturas submarinas da indústria de óleo e gás. Não me preocupo com os títulos e sim com o aprendizado. Por isso, decidi fazer mais um mestrado! Desta vez, na Europa (Espanha, Portugal e Itália) e focado em políticas públicas que visam um melhor planejamento das atividades que acontecem no ambiente marinho. Lattes LinkedIn #abrolhos #animaismarinhos #bentônicos #ciênciasdomar #minhoca #poliquetas #MicheleQuesadaSilva #convidados

  • O Mar Também É História

    Por Alynne Almeida Affonso Ilustração: Silvia Gonsalves É muito comum encontrarmos a oceanografia dividida em quatro grandes áreas: Física, Química, Geológica e Biológica. Essa abordagem pode ser bastante pertinente quando consideramos metodologias práticas e eficientes para estudar ciências complexas, como a Oceanografia. Segmentar o saber facilita ainda a produção de conhecimento, a pesquisa e o ensino, já que é uma forma de classificar e organizar grandes volumes de informação. No entanto, fica o questionamento: será que tudo o que se refere às Ciências do Mar se enquadra nessa divisão em quatro grandes áreas? Sendo a Oceanografia uma ciência bastante multi e interdisciplinar, é quase natural supor que muitos assuntos relacionados aos oceanos acabem ficando à margem dessa divisão clássica. É o caso da Oceanografia Humana. Não é muito comum pensarmos nas Ciências do Mar como uma ciência humana, mas os mares e oceanos têm, sim, uma componente significativa nas ciências sociais. O que faz bastante sentido se pararmos para pensar na zona costeira e na influência que o mar exerce e já exerceu na sociedade. Nem sempre a pesquisa em Oceanografia Humana é classificada como Oceanografia propriamente dita, e isso se deve, possivelmente, à melhor adequação de muitos temas estudados na oceanografia como “ciências duras” (ou, em inglês, hard sciences) – ou seja, rígida em suas fundamentações teóricas e em sua capacidade preditiva. As ciências duras seguem à risca o que, em ciência, se conhece como Método Científico, que é a coleção e observação de dados quantificáveis, aplicação de modelos matemáticos e uso de experimentos controlados, produzindo resultados com grande grau de acurácia. Já as ciências humanas e sociais são classificadas como “ciências moles” (sei que o nome é esquisito, mas vem do inglês soft sciences), preocupadas em investigar o comportamento humano e da sociedade. Estes assuntos podem ser bastante subjetivos, baseados em interações complexas que não se encaixam na abordagem de estudo prevista pelo Método Científico, já que se torna muito difícil estabelecer um critério de análise tão sólido para temas tão abstratos. As ciências sociais podem cruzar o caminho das ciências do mar de muitas formas. A pesquisa na interface entre oceanografia e ciências humanas está bastante focada na compreensão da dinâmica entre as comunidades costeiras e o meio ambiente, uso dos recursos costeiros, uso e ocupação do território costeiro, conflitos ambientais e valoração. Mas, será que alguém se preocupa em estudar o mar em sua componente histórica? Afinal, História é uma das bases das ciências humanas e sociais. O passado, afinal, é a chave para o presente. E a resposta é: SIM! Existe uma ciência toda dedicada ao tema. A História Ambiental é uma disciplina relativamente recente, é verdade, que surgiu nos Estados Unidos durante a onda ambientalista dos anos 60 e 70, e é definida por OOSTHOEK (2005) como “o estudo da interação entre humanos e o meio ambiente no passado. A história ambiental estuda as relações entre humanos e ambiente ao redor, procurando compreender como a interação entre ambos funciona”. A História Ambiental esmiúça o papel da natureza na influência das atividades humanas e em como os humanos moldam o meio ambiente ao longo do tempo. As Zonas Costeiras são suscetíveis a mudanças bruscas e rápidas na sua configuração, induzidas tanto por processos naturais como por pressão antrópica – inclusive, para muitas zonas costeiras ao redor do mundo, a componente humana é a principal forma de alteração do espaço costeiro. O conhecimento histórico, através de uma leitura das questões da natureza, permite verificar a percepção histórica das mudanças ambientais. É possível assimilar as relações entre espécie humana e fatores naturais e investigar as interações entre cultura, natureza e interações entre homem e zona costeira no passado e através do tempo humano. Entender o passado é essencial para modelar e prever o futuro, e aí reside a grande importância da história ambiental. A interpretação histórica das questões ambientais permite a conexão entre geografia física, topografia, geomorfologia costeira a fatores climáticos, oceanográficos e biológicos, aliados a uma perspectiva política, econômica e sociológica. No entanto, é importante analisar as interpretações das ações humanas no mundo natural no passado às mudanças associadas a estes fenômenos com bastante cuidado, porque os problemas que ocorrem no presente podem influenciar a nossa percepção do passado e como interpretamos os acontecimentos pretéritos. A História Ambiental, no entanto, é muito mais que apenas apontar as interações danosas entre sociedade e natureza. Ela trata de interpretações históricas de problemas ambientais, incorporando mudanças que se apoiam na pluraridade das dimensões naturais e culturais relativas às atividades humanas e às diversas formas de percepção do ambiente e sua relação com a vida em sociedade. Uma forma muito eficiente e que tem sido aplicada com bastante frequência para o estudo da História Ambiental é o uso do Sistema de Informações Geográficas (SIG, ou GIS em inglês). O HGIS (ou Historical Geographical Information System do inglês, algo como Sistema de Informações Geográficas Histórico) é uma ferramenta eficiente porque o uso de mapas históricos georreferenciados (ou seja, associados à informações espaciais como coordenadas geográficas) e digitalizados é uma forma visual, qualitativa e quantitativa de observar mudanças ambientais ao longo do tempo, e amplamente utilizada pelos pesquisadores da História Ambiental (Figura 1). Através do HGIS é possível também armazenar, exibir e analisar dados do passado relativos ao meio ambiente e correlacionar os dados espaciais históricos com informações quantitativas como censos e pesquisas sociais realizadas por prefeituras, órgãos públicos e universidades (Figura 2). Essas informações permitem, além da reconstrução de ambientes pretéritos, a observação de mudanças dos parâmetros ao longo do tempo. É o que autores como DONAHUE (2007), CUNFER (2006), TUCCI (2010) fizeram, para citar apenas alguns. DONAHUE e CUNFER usaram mapeamentos históricos e estatísticas de uso do solo para avaliar as condições ambientais e alterações de longo prazo na paisagem induzidas por atividades de agricultura no território norte-americano. Já TUCCI, através da análise de mapas históricos de Milão, acompanhou mudanças na paisagem urbana e nos parâmetros sócio-econômicos, representativos de períodos históricos específicos, e comparou com as características atuais a fim de detectar padrões de evolução da malha urbana ao longo do tempo. Alguns autores como DeBOER & CARR (1969), CHARDON (1982), CLUTTON (1982), LLOYD et al. (1987), HESSLER (2005), além da jovem pesquisadora que aqui vos escreve, escolhemos a zona costeira como alvo dos estudos em História Ambiental. Estes autores reconstruíram, através de mapas históricos e estatísticas, as zonas costeiras alvo de seus estudos e compararam com mapas e índices atuais, a fim de acompanhar a evolução da paisagem e do comportamento do homem em relação ao ambiente (Figura 3). Existem muitos métodos para se efetuar as análises temporais dos ambientes pretéritos, que em geral, são bastante complexos. Dificilmente um autor repete a metodologia de outro passo a passo, já que as peculiaridades das áreas de estudo e objetivos da pesquisa fazem com que os pesquisadores tenham que adaptar as metodologias às suas realidades. Em minha pesquisa de mestrado, por exemplo, eu avaliei as mudanças na paisagem da Baixada Santista ao longo de 4 séculos. Desenvolvi minha própria metodologia de análise, uma vez que a maioria dos autores que eu pesquisei, por serem de fora do Brasil, não ofereciam soluções que eu pudesse aproveitar integralmente. Adaptei técnicas de muitos autores para, no fim, desenvolver algo que funcionasse para o litoral de São Paulo e para o que eu buscava compreender. E esse é o tema do meu próximo artigo para o Bate Papo com Netuno! Vou explicar como se faz essa análise histórica usando mapas antigos, as curiosidades e peculiaridades da cartografia histórica, e mostrar o que eu encontrei para a região de Santos, litoral de São Paulo. Aguardem! Referências: CHARDON, R. 1982. A Best-fit Evaluation of DeBrahm's 1770 Chart of Biscayne Bay. The American Cartographer. 1982, Vol. 9, pp. 47-67. CLUTTON, E. 1982. Some Seventeenth Century Images of Crete: A Comparative Analysis of the Manuscript Maps by Francesco Basilicata and the Printed Maps by Marco Boschini. Imago Mundi. 1982, Vol. 34, pp. 48-65. CUNFER, G. 2006. On the Great Plains: Agriculture and Environment. Environmental History. 1, 2006, Vol. 11, pp. 142-144. DeBOER, G. e CARR, A. P. 1969. Early Maps as Historical Evidence for Coastal Change. Geographical Journal. 1969, Vol. 135, pp. 17-39. DONAHUE, B. 2007. The Great Meadow: Farmers and the Land Colonial Concord. Yale : Yale Publisher Press, 2007. HESSLER, J. 2005. Warping Waldseemüller: A Cartometric Study of the Coast of South America as Portrayed on the 1507 World Map. MAGERT Ala Map and Geography Roundtable. [Online] 2005. http://purl.oclc.org/coordinates/a4.pdf accessed in 01/06/2016. LLOYD, R. e GILMARTIN, P. 1987. The South Carolina Coastline on Historical Maps: A Cartometric Analysis. The Carographic Journal. 1, 1987, Vol. 24, pp. 19-26. OOSTHOEK, K.J. 2005. What is Environmental History? ENVIRONMENTAL HISTORY RESOURCES. [Online] 03 de January de 2005. [Citado em: 17 de 05 de 2016.] https://www.eh-resources.org/what-is-environmental-history/. RUMSEY, D., WILLIAMS, M. 2002. Historical Maps in GIS in Past Time, Past Place: GIS for History. Ed KNOWLES, A.K. ESRI Press, pp.2-18. TUCCI, M., GIORDANO, A. e RONZA, R. W. 2010. Using Spatial Analysis and Geovisualization to Reveal Urban Changes: Milan, Italy, 1737-2005. Cartographica. 1, 2010, Vol. 45, pp. 47-63. Sobre a autora : Alynne Almeida Affonso, 32 anos, Oceanógrafa pelo IOUSP e mestra em Sistemas de Informação Geográficas e Sensoriamento Remoto pela University College Cork (Irlanda). Depois de muito estudar oceanografia geológica, sedimentação marinha, sistemas e processos costeiros, manejo costeiro e aprender a fazer todo tipo de mapas e interpretar imagens de satélite, vive numa busca eterna por uma carreira na interface entre ciências exatas, humanas e sustentabilidade. #ciênciasdomar #oceanografiahumana #silviagonsales #AlynneAlmeidaAffonso #convidados

  • 6 parques brasileiros que ajudam a proteger o bioma marinho

    Por Duda Menegassi Publicação original em Wikiparques Para inspirar a missão de proteger a biodiversidade marinha, o Wikiparques fez uma lista com algumas unidades de conservação que atuam na proteção desse bioma. Não são só os ambientes terrestres que precisam de proteção. A maior parte da biodiversidade, da vida, da Terra está, paradoxalmente, nos oceanos que cobrem 71% de sua superfície.  E o  Brasil, com cerca de 3,5 milhões de km² de litoral, por muito tempo deixou de lado a proteção dos mares e suas respectivas zonas costeiras. Em 2010, durante a 10ª Conferência das Partes -COP 10, em Nagoya, Japão, o Brasil assumiu o compromisso de proteger pelo menos 10% das suas áreas costeiras e marinhas até 2020. Apesar ser o país que mais criou áreas de conservação nos últimos anos, sua região marinha ainda é a menos protegida. Estamos a apenas quatro anos do prazo final, e precisamos correr muito para cumprir a meta. O Wikiparques fez uma lista com bons exemplos nacionais de algumas áreas protegidas existentes que ajudam a conservar o bioma marinho e costeiro. Confira: Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (PE) Fernando de Noronha talvez seja um dos destinos mais famosos do Brasil, mas cabe lembrar que a maior parte da ilha é um importante parque nacional, criado em 1987 para ajudar a preservar o bioma marinho. Além da ilha principal, o território do parque se estende também às 21 ilhas secundárias que compõem o arquipélago de Noronha. Lar e berçário de espécies ameaçadas de extinção, de paisagens com praias de areia branca e águas cristalinas, o Parque Nacional Marinho Fernando de Noronha é considerado um importante santuário na proteção dos frágeis ecossistemas marinhos. O acesso à ilha é feito apenas por barco e avião, dentro do limite estabelecido de visitantes por dia. Parque Nacional Marinho dos Abrolhos (BA) Localizado no litoral sul da Bahia, o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos abrange cinco ilhas e uma área de 91.255 hectares. Criado em 1983,Abrolhos foi a primeira unidade de conservação marinha do Brasil e até hoje permanece como um dos refúgios mais importantes de proteção do ecossistema. Além de abrigar recifes e bancos de corais, e ser ponto de apoio para aves migratórias, o parque também protege importantes berçários das baleias Jubarte, que podem ser avistadas na região de julho a novembro. O acesso ao arquipélago é feito somente de barcos que saem de Caravelas (BA). O desembarque é permitido apenas na ilha de Siriba. Parque Nacional Marinho das Ilhas dos Currais (PR) Criado em 2013, o Parque Nacional Marinho das Ilhas dos Currais foi o primeiro parque marinho do Paraná. Seu território corresponde a três pequenas ilhas sem praias que ajudam a proteger quatro grandes recifes.O parque também protege  o mero (Epinephelus itajara), espécie de peixe criticamente ameaçada de extinção. Um dos únicos lugares disponíveis para o mergulho no litoral paranaense, o acesso ao parque pode ser realizado apenas por via marítima. Parque Nacional do Superagui (PR) Localizado no encontro do continente com o oceano, o Parque Nacional do Superagui corresponde a uma área de aproximadamente 34.000 hectares do litoral norte do Paraná. A Unidade de Conservação, criada em 1989, é considerada uma importante área de conservação do bioma marinho costeiro, e foi declarada Sítio do Patrimônio Natural pela UNESCO. O parque abriga 38 quilômetros de praias virgens e protege áreas como a Baía do rio das Peças, um local com alta concentração de botos. O acesso é possível de barco e de carro, porém a estrada está em más condições e o roteiro mais indicado é o acesso pela via marítima. Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha (PB) Um dos poucos parques estaduais marinhos que existem hoje no Brasil, o Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha é um ponto turístico conhecido na Paraíba. O destino foi transformado em Unidade de Conservação em 2000, com 230 hectares de extensão. O parque é uma área rica em corais, mas hoje grande parte encontra-se destruída como consequência de anos de turismo desordenado e falta de fiscalização. Para mudar isso, entretanto, novas regras de visitação e controle do parque foram implementadas pela Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema). O acesso ao parque é possível apenas de barco. Área de Proteção Ambiental (APA) das Reentrâncias Maranhenses (MA) A APA das Reentrâncias Maranhenses, com impressionantes 2.631.260 hectares de extensão, abrange 16 municípios litorâneos do Estado. Seu território protege uma parcela significativa do litoral maranhense e dos ecossistemas estuarinos, onde o mar encontra o rio. A APA também representa uma importante zona de manguezais e de restinga. Criada em 1991, a Unidade de Conservação é habitat de diversas espécies de peixes, aves migratórias e do peixe-boi-marinho (Trichechus manatus), mamífero considerado vulnerável pela Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza). Gostou da nossa lista? Deixe sua opinião nos comentários se você sentiu falta de alguma Unidade de Conservação marinha que você conhece! Sobre a autora: Duda Menegassi é repórter do site de notícias ambientais ((o)) eco. Apaixonada por trilhas, parques e natureza, integra também a equipe do Wikiparques, plataforma de informação dedicada às Unidades de Conservação. #atoldasrocas #biologiamarinha #ciênciasdomar #ilhasoceanicas #oceanografia #unidadesdeconservação #DudaMenegassi #convidados

  • O que são marés e como ocorrem?

    Por Gabrielle Souza Sempre que queremos ir à praia procuramos saber o horário em que a maré vai estar baixa ou alta não é mesmo? Mas você sabe como isso ocorre? A maré consiste em um fenômeno de descida e subida das águas do mar por meio da força gravitacional, que é o resultado da atração entre o Sol e a Lua exercida sobre a Terra. Apesar do Sol possuir mais massa, a Lua está bem mais próxima da Terra, tendo assim o dobro de influência sobre os oceanos. A Lua, como qualquer outro objeto, pode atrair corpos em sua direção por meio das forças gravitacionais. Lembrando um pouco das aulas de física: sabemos que dois corpos se atraem, e que esta atração é proporcional às suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância que separa esses corpos, tomando a distância entre o centro de gravidade dos corpos... Mas calma!!! Não é sobre física que vamos falar, mas para que você entenda como os oceanos são atraídos pela Lua precisa relembrar este conceito. Agora vamos lá! A Lua exerce uma força de atração sobre a Terra, sendo esta atração mais perceptível nos oceanos pois, se tratando de um líquido,  flui livremente. A relação da Lua com as marés pode ser entendida de forma muito simples. As águas, por fluírem de forma mais livre, são mais suscetíveis à atração da Lua. A Lua irá exercer maior atração no ponto da Terra do qual estiver mais próxima. Essa atração forma uma espécie de “bojo de água” no ponto mais próximo à Lua, caracterizando assim maré alta (vide desenho abaixo). Já o segundo bojo observado na figura (o que parece estar sendo atraído pelo Sol) é um pouco mais complicado de explicar. Ele decorre da variação do centro de gravidade do sistema Terra-Lua, que acompanha o movimento da Lua ao redor da Terra. É como se tivéssemos água numa bacia e começássemos a rodar a bacia num movimento circular regular. Esse movimento iria produzir uma "ondinha" que giraria pela bacia apoiada em suas bordas. Aproximadamente seis horas depois a Terra terá feito o seu movimento normal de rotação e este ponto inicial estará agora à 90º da Lua, caracterizando maré baixa. Com isso após aproximadamente 12 horas e 25 minutos a rotação da Terra faz com que o mesmo ponto passe por outra maré alta. Ou seja, ao longo de um dia ocorrem duas marés altas e duas baixas em um mesmo ponto. Maré baixa versus Maré alta. Fonte As fases da Lua, por sua vez, influenciam o volume das águas que se movimentam com as mudanças de marés. Quando o Sol, a Lua e a Terra estão alinhados (ou seja, nas Luas cheia e nova), ocorre  a chamada maré de sizígia ou viva, e assim percebemos maiores variações no nível do mar entre a maré baixa e alta de uma localidade. Por outro lado, durante as Luas minguante e crescente, quando o Sol, Terra e Lua formam um ângulo de 90º, ocorre a  maré de quadratura ou maré morta, ou seja, a diferença do nível do mar entre a maré alta e baixa terá uma menor amplitude. Fonte Posts relacionados: Os pequenos peixes escondidos nas poças de maré Uma história sobre espojas Quer saber mais?? https://www.youtube.com/watch?v=w1Ax_Ej0VM4 https://www.youtube.com/watch?v=VQyBe9xy66g Referências : OLIVEIRA FILHO, Kepler de Souza; SARAIVA, Maria de Fátima Oliveira. Marés. 2008. Disponível em: . Acesso em: 06 jan. 2017. MESQUITA, João Lara. Lua cheia, maré cheia. A Lua e os Oceanos, um caso de atração. 2015. Disponível em: . Acesso em: 06 jan. 2017. TIPOS DE MARÉS: PREIA-MAR E BAIXA-MAR; MARÉS VIVAS E MARÉS MORTAS. Disponível em: . Acesso em: 06 jan. 2017. OLIVEIRA FILHO, Kepler de Souza; SARAIVA, Maria de Fátima Oliveira. Comparação das marés produzidas na Terra pela Lua e pelo Sol. 2008. Disponível em: . Acesso em: 06 jan. 2017. MARÉS. Disponível em: . Acesso em: 06 jan. 2017. #atração #gravidade #lua #marébaixa #maréalta #marés #sol #Terra #gabriellesouza

  • Nem todo coral quer sol e água quente! – Parte II: a importância dos corais frios

    Por Beatriz Mattiuzzo, Samara da Cunha Oliveira e Ágata Piffer Braga Justamente por serem diferentes dos corais tropicais aos quais estamos acostumados, os corais frios executam papéis únicos e de grande importância no oceano! Em nosso post anterior (disponível em Nem todo coral quer sol e água quente!) tratamos de corais frios, ou corais de águas profundas, organismos que vivem em águas de 4°C a 12°C, entre 50 e 4000 metros de profundidade. Antes de continuar a leitura, dê uma conferida lá! Agora, vejamos um pouco dos papéis que os mesmos desempenham no meio marinho. Importância Biológica e Ecológica Por hora, ainda há pouco para se afirmar sobre a importância dos ambientes de corais profundos para outras espécies, apesar de esta ser potencialmente enorme, pois estes oferecem condições para a vida de outros organismos que dificilmente se encontra em águas tão profundas e frias. Para isso, é preciso considerar a variação no espaço e no tempo. A complexa arquitetura tridimensional e a variabilidade espacial dos corais de águas profundas são essenciais para formação de vários nichos ecológicos, isto é, pequenos ambientes ideais para diferentes tipos de organismos se desenvolverem, assim gerando comunidades que tendem a ser muito diversas. Entretanto, a pesquisa nestes habitats não é possível usando as técnicas amostrais mais comuns para mar profundo, como amostradores de sedimento do fundo, pois os corais são duros e difíceis de serem retirados do substrato limitando o entendimento dos padrões de biodiversidade locais. O fator temporal também é muito importante nos ambientes profundos. Diferentes espécies de corais frios desenvolvem diferentes tipos de habitats, com tamanhos e longevidade muito diferentes. Por exemplo, os corais duros têm um esqueleto rígido que tende a permanecer após sua morte, sendo um ambiente mais estável temporalmente. Já as gorgônias, corais moles, ao crescerem próximas umas das outras formam ambientes densos e muito diversos, porém esse habitat desaparecerá após a morte destes organismos. Apesar da variação no espaço e no tempo, algumas observações muito interessantes já foram feitas em corais frios. Dois cientistas canadenses compilaram uma lista de espécies aparentemente associada a corais de águas profundas. Eles trabalharam com uma base de 980 espécies já registradas associadas à corais frios, e concluíram que 112 espécies estabelecem uma relação mútua de cooperação, enquanto que para outras 30 os corais são essenciais para a vida. No entanto, poucas relações entre corais x organismos já foram descritas a fundo, para se definir o papel exato de cada parte. Como exemplo, pode-se citar a relação entre o coral Scleractinia e Lophelia pertusa e o poliqueta, espécie de anelídeo, Eunice norvegicus, na qual o poliqueta se beneficia da proteção dos tubos de carbonato de cálcio produzido pelo coral, enquanto também protege o mesmo, ao atacar qualquer potencial predador do coral. Corais de águas frias também podem ser hospedeiros de parasitas. O foraminífero Hyrrokkin sarcophagi, por exemplo, faz um buraco no esqueleto e infesta pólipos das espécies coralíneas Lophelia pertusa e Madreporaoculata. Contudo, os exemplos são poucos. Na maioria dos casos, apesar de saber-se da existência de uma relação entre duas  espécies, não se sabe de fato como essa ocorre. É o caso dos gastrópodes Pedicularia com corais da família Stylasteridae, em que não se sabe se é um caso de predação ou “ajuda”, onde o molusco retiraria somente o muco excessivo do hospedeiro. É inegável que os habitats coralíneos frios estão associados com muito menos espécies de peixes do que os corais tropicais, e este número tende a diminuir com o aumento da profundidade em que o recife se encontra. Porém, acredita-se que estes ambientes sejam muito importantes para algumas populações de peixes, por fornecerem abrigo e condições para a reprodução, justamente por serem locais únicos. Este campo de pesquisa tem ganhado destaque nos últimos anos, após evidências de que o arrasto de fundo em habitats recifais frios estaria ligado a reduções dramáticas em algumas populações de peixe de alto valor comercial. Ainda assim, é grande a especulação quanto ao tipo e intensidade das possíveis relações, e mais pesquisas neste campo são fundamentais. Importância Geológica e Paleoceanografia Apesar de o ciclo de vida de um conjunto de pólipos, organismos formadores de coral, não ser, geralmente, muito longo, nos recifes verdadeiros as estruturas calcárias, “esqueletos” dos pólipos, podem durar por milhares de anos. Além da alta longevidade, a distribuição cosmopolita e a formação de esqueleto bem demarcado durante os ciclos geológicos tornam os corais frios ótimos arquivos paleoceanográficos, isto é, eles refletem condições dos oceanos de milhares a milhões de anos atrás. Como os oceanos são um dos controladores do clima do planeta, devido à sua capacidade de reter calor, os principais estudos realizados com corais de águas profundas buscam entender o clima do passado e, assim, constituir bases científicas para previsões futuras. Nesse sentido, um dos principais ramos de estudos paleoceanográficos são estudos e datação de períodos interglaciais. Como os corais Scleractinia e os Lophelia pertusa não conseguem sobreviver em águas mais frias do que 4°C, ao mesmo tempo em que rapidamente colonizam ambientes quando a temperatura se eleva a esse patamar, os recifes destas espécies em altas latitudes têm registros claros de intercalação dos períodos glaciais. Esta relação está ilustrada na figura 2. Além disso, ao estudar isótopos estáveis (variações da massa de um mesmo elemento químico) e analisar a química dos esqueletos dos recifes é possível obter estimativas detalhadas de paleo-temperatura da água e análise de massas de água atuantes no passado. Isótopos estáveis de oxigênio podem ser usados para estimativas de salinidade e temperatura, mas a relação não é direta – os esqueletos de corais não se formam em equilíbrio isotópico com a água, porém estão associados com a taxa de calcificação do coral, provavelmente também ligado a fatores sazonais nas águas profundas. Apesar da complexa relação, alguns estudos já chegaram a resultados promissores neste campo. A mudança na circulação profunda ao longo do tempo afetou profundamente não só a biologia destes animais, mas também o clima. Correlacionando os dados de temperatura, salinidade e nutrientes dos registros de corais frios é possível definir as massas de água que atuavam em eras passadas, e assim compreender melhor o padrão de circulação do oceano profundo ao longo do tempo, e, por fim, a distribuição de calor e clima. Por exemplo, ao usar a datação de corais por U/Th, somado a datação do carbono inorgânico por 14C, um estudo sugeriu que os corais Desmophyllum cristagalli estavam banhados por uma água pobre em nutrientes do Atlântico Norte no início da sua vida, enquanto tiveram acesso a águas ricas em nutrientes do Sul no final desta. A partir de informações deste tipo, podemos supor o que aconteceria, por exemplo, com o aquecimento do planeta ao mudar o padrão de circulação oceânica. Assim, conseguimos ver um pouco do papel que os corais frios podem desempenhar na biota e na interpretação do passado, ajudando a determinar o futuro. Estes organismos estão ameaçados pela pesca de arrasto profundo e pela acidificação dos oceanos. Justamente por isso, há necessidade de se aumentar rapidamente as pesquisas em corais frios, especialmente no Hemisfério Sul. Estes estudos são caros e difíceis, mas os corais profundos têm enorme importância e potencial a ser explorado, e com certeza conhecê-los melhor só nos trará benefícios. Referências Bibliográficas: Roberts, J.M., Wheeler, A.J. and Freiwald, A., 2006. Reefs of the deep: the biology and geology of cold-water coral ecosystems. Science, 312(5773), pp.543-547. Roberts, J.M., 2009. Cold-water corals: the biology and geology of deep-sea coral habitats. Cambridge University Press. Rogers, A.D., 2004. The biology, ecology and vulnerability of deep-water coral reefs. IUCN. Turley, C.M., Roberts, J.M. and Guinotte, J.M., 2007. Corals in deep-water: will the unseen hand of ocean acidification destroy cold-water ecosystems?.Coral reefs, 26(3), pp.445-448. Appeltans W, Bouchet P, Boxshall G. A, Fauchald K, Gordon D. P, et al., editors. (2011) World Register of Marine Species. Disponível em: http://www.marinespecies.org. Acesso em 29 de maio de 2016. Cairns, S.D., 2011. Global diversity of the Stylasteridae (Cnidaria: Hydrozoa: Athecatae). PloS one, 6(7), p.e21670. NOAA Deep-sea Coral Data – World Map. Disponível em: https:/deepseacoraldata.noaa.gov/ website/AGSViewers/DeepSeaCorals/mapSites.htm. Acesso em: 28 de maio de 2016. Roberts, J.M., Wicks, L. L. Lophelia.org. Disponível em http://www.lophelia.org/. Acesso em: 29 de maio de 2016. Mortensen, P. B. and Buhl-Mortensen, L. (2004). Distribution of deep-water gorgonian corals in relation to benthic habitat features in the Northeast Channel (Atlantic Canada). Marine Biology, 144, 1223–1238. Freiwald, André, and J. Murray Roberts, eds. Cold-water corals and ecosystems. Springer Science & Business Media, 2006. Freiwald, A.; Fosså, J. H.; Grehan, A.; Koslow, T.; Roberts, M.; Arrecifes de coral de agua fría - Fuera de la vista – pero ya no de la mente. Serie de Biodiversidad del Centro. Centro Mundial de Monitoreo de la Conservación del PNUMA. Reino Unido. 2004 WWF. (2004) Cold Water Corals Fragile havens in the Deep. WWF- World Wide Fund for Nature. pp 1-12. Sobre as autoras: Beatriz Mattiuzzo, 22 anos, estudante de oceanografia desde 2013 e apaixonada pelo oceano desde sempre. Sou aventureira, mas com certeza minha maior Aventura começou quando entrei  no Instituto Oceanográfico da USP.  Atualmente, estudo cetáceos marinhos, com enfoque em bioacústica. Samara da Cunha Oliveira, 22 anos, faço graduação no Instituto Oceanográfico. Minha preocupação com o meio ambiente veio desde que aprendi o ciclo do carbono na escola, assim encontrei o curso de Oceanografia e me encantei. Estou iniciando meus estudos no assunto de percepção ambiental. Ágata Piffer Braga, 23 anos, estudante de oceanografia desde 2012 no Instituto oceanográfico da USP.  Minha grande paixão é a oceanografia física. Estou desenvolvendo meu trabalho de graduação no Laboratório de Dinâmica Oceânica, onde através de uma nova climatologia  procuro representar a Bifurcação de Santos (Circulação “profunda” da costa sudeste brasileira). #convidados #marprofundo #corais #ciênciasdomar #BeatrizMattiuzzo #SamaradaCunhaOliveira #ÁgataPifferBraga

  • Desafios enfrentados por Mulheres na Ciência

    Por Catarina R. Marcolin Recentemente assisti a um debate realizado no Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP) chamado “As Mulheres na Universidade e na Ciência: Desafios e Oportunidades” que me chamou muita atenção. Vale a pena assistir na íntegra o vídeo de mais de uma hora em que três mulheres cientistas nos inundam com estatísticas e fatos surpreendentes, alguns até difíceis de acreditar, sobre a participação das mulheres no meio acadêmico. O vídeo foi recomendado por uma professora do IO-USP, a Mary Gasalla, mais uma mulher cientista que nos serve de inspiração. Ilustração Caia Colla No Bate-papo dessa semana, vamos discutir alguns assuntos abordados neste debate, assim, fui em busca de mais alguns dados para seguirmos na reflexão sobre o assunto. Primeiramente, fiquei feliz em saber que nós mulheres representamos cerca de 50% dos estudantes na grande parte dos cursos de graduação do país, em alguns cursos somos até maioria. Entretanto, quando olhamos para as ciências exatas e as engenharias, somos menos de 40% do total. Além disso, é impossível não se impressionar com o fato de que nós mulheres somos apenas 15% dos estudantes nas engenharias da USP. Se olharmos para a quantidade de bolsas de iniciação científica e de pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado) veremos que também temos ganhado tantas bolsas quanto os homens. Inclusive, em 2010 tivemos mais mulheres do que homens com título de mestrado e doutorado. Mas novamente, isso não é a realidade nas engenharias e nas ciências exatas. Parece que algo tem nos afastados dessa área, que inclui a oceanografia. Mas os números mais chocantes são relacionados à distribuição das bolsas de produtividade em pesquisa, ou bolsas PQ, que são bolsas que premiam pesquisadores por sua excelência em pesquisa. Essas bolsas determinam a distribuição dos recursos financeiros para projetos de pesquisa no país e, portanto, afetam diretamente nosso desempenho enquanto pesquisadores. As bolsas PQ tem vários níveis e a participação das mulheres fica cada vez menor à medida que subimos nesses níveis. Note que sempre temos menos de 39% de participação nessas bolsas. Notem que, olhando apenas para estes dois gráficos, percebemos uma segregação horizontal (entre áreas, mulheres estão concentradas em certas carreiras) e uma segregação vertical, pois temos uma baixa representação feminina nas posições de poder. Podemos encontrar ainda mais exemplos se buscarmos por posições de liderança em grandes grupos de pesquisa. Você já ouviu falar dos INCTs? Os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia são responsáveis pela articulação em rede dos principais projetos de pesquisas em áreas de fronteira da ciência. Bem, do total de 126 institutos existentes, 109 são coordenados por homens e apenas 17 por mulheres. Temos atualmente seis INCTs na área de oceanografia/ciências do mar, dos quais cinco são coordenados por homens. Encontrei apenas um INCT com coordenação feminina e maioria de Pesquisadoras (INCT Antártico de Pesquisas Ambientais - INCT-APA). O pior cenário me parece o da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Os próximos dados apresentados foram citados pela física Carolina Brito (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) no debate que mencionei no início deste post. Bem, para se filiar na ABC, o(a) pesquisador(a) é indicado por algum membro da ABC e um comitê decide pela entrada ou não. Este comitê é formado massivamente por homens. O resultado não é nada animador. No próprio site da ABC é possível obter uma lista de quem são seus membros. Olhando pra essa lista, constatei que temos 795 homens para 122 mulheres na ABC. Destes, 15% dos homens não tem bolsa 1A, e  apenas 1% das mulheres não tem bolsa 1A. A interpretação mais rápida, talvez mais rasa também, que podemos fazer desses dados, é que para ser membro da ABC, se você é mulher, é praticamente obrigatório ser pesquisadora nível 1A. Para homens, isso não tem a mesma importância. E infelizmente, essa realidade não tem melhorado nos últimos anos. Afinal de contas em 2008, 20% das universidades tinham mulheres como reitoras, enquanto em 2016, apenas 10% das universidades têm mulheres neste cargo. Como explicar que, apesar de termos 48% de doutoras, temos apenas 23% de mulheres em cargos de professoras em nossas universidades públicas? Em alguns posts do BPCN, você já deve ter lido sobre alguns motivos pelos quais mulheres abandonam a carreira acadêmica mais do que homens (O 'sexo' realmente importa; Quando colocar filhos no cronograma; Após a maternidade, de acadêmica a empresária). E agora mulheres, o que podemos fazer para mudar esse quadro? 1 - Os dados apresentados aqui são muito escassos, precisamos de números, precisamos de mais indicadores! 2 - Precisamos de formação sobre questões de gênero. Na França, recentemente foram criadas disciplinas/cursos para discutir gênero em todos os cursos de graduação. 3 - Precisamos financiar projetos de mulheres, fornecer bolsas, premiá-las. Temos pouquíssimas iniciativas, mas estas surtem efeitos incríveis. Veja o post Encontrando autoconfiança como mulher na ciência para ler o depoimento da Deborah sobre a importância de ser reconhecida em sua área. O que nos leva ao próximo ponto: 4 - Precisamos de modelos: a mulher não se enxerga em posições de poder. Socialmente, somos desestimuladas a seguir carreiras científicas consideradas “difíceis”. Desde muito pequenas somos bombardeadas com clichês da idade da pedra de que temos que cuidar da casa, temos que ser boas esposas, mães, verdadeiras senhoras de nossos lares (leia mais sobre isso aqui). Temos que dar oportunidades para que nós mulheres possamos nos sentir capazes de nos apaixonar pela ciência. A Fundação L’Oreal realizou recentemente uma pesquisa de opinião que demonstrou a visão dos europeus em relação à atuação da mulher nas ciências. Cinco mil pessoas foram ouvidas (entre homens e mulheres) e o resultado é: 67% disse que a mulher não está qualificada para ocupar postos de alta responsabilidade; O principal motivo: porque “as mulheres sofreriam de falta de perseverança, falta de espírito prático, rigor científico, espírito racional e analítico”. Depois de tudo isso, só tenho a dizer: Mãos à obra! No VII Congresso Brasileiro de Oceanografia tivemos uma mesa redonda sobre o assunto, com sala lotada e com muita participação e engajamento da plateia. Apesar de ter sido uma excelente experiência, não chegamos perto de esgotar o assunto. Então quero convidá-los para continuar a discussão. Vamos discutir gênero nos espaços que ocupamos, semeiem essa ideia! Organizem uma roda de conversa no seu ambiente de estudo ou trabalho e compartilhem com a gente essa experiência. Sites Consultados: http://cnpq.br/estatisticas1 http://memoria.cnpq.br/estatisticas/bolsas/sexo.htm http://inct.cnpq.br/institutos/ #mulheresnaciência #poderfeminino #caiacolla #catarinarmarcolin

  • Divisões Oceanográficas

    Por Gabrielle Souza Os oceanos podem ser subdivididos de acordo com diferentes critérios. Sob o ponto de vista ecológico, os cientistas dividem os oceanos em duas zonas: pelágica e bentônica.  Pelágico se refere a tudo que se encontra na coluna d'água, abrangendo desde a superfície até áreas próximas ao fundo. Já o ambiente bentônico corresponde ao fundo dos oceanos e abrange costas, áreas litorâneas e recifes de corais. Também dividimos os oceanos de acordo com a distância da costa e a profundidade. Assim temos as regiões neríticas, que estão sobre a plataforma continental, e as regiões oceânicas que estão além da plataforma continental. A região nerítica varia com o nível do mar e tem uma profundidade média de 200 metros. Nesta encontramos a maior diversidade de vida marinha, por ser uma região onde penetra mais luz. Divisões básicas das zonas oceânicas sob o ponto de vista ecológico. Adaptado Se considerarmos a variação na incidência da radiação solar de acordo com a profundidade, ou seja, a proporção de radiação luminosa capaz de penetrar na coluna de água, podemos dividir os oceanos em: 1) zona fótica, onde existe luz suficiente para a fotossíntese, atingindo entre os 100 e 200 metros de profundidade; 2) zona disfótica conhecida também como zona do crepúsculo, onde apenas 5% da luz solar penetra e essa luz é fraca para a fotossíntese e 3) zona afótica, onde não penetra luz.  Essa distribuição da radiação luminosa afeta diretamente os tipos de organismos que vivem nestes ambientes. Podemos dividir o ambiente bentônico de acordo com a variação de maré e a morfologia do fundo: Supralitoral, Litoral, Sublitoral, batial, abissal, hadal; e o ambiente pelágico quanto a profundidade do oceano: Epipelágica (0 – 200m), Mesopelágica (200 – 1000m), Batipelágica (1000 – 4000m), Abissopelágica (4000 – 6000m), Hadopelágica (> 6000m). Divisão básica das zonas oceânicas sob o ponto de vista morfológico. Adaptado Os organismos que habitam os oceanos também são classificados de acordo com cada ambiente, bem como por sua mobilidade, tamanho e modo de alimentação. Nos ambientes bentônicos vivem plantas e animais associados ao fundo do mar, como por exemplo as cracas, esponjas e estrelas-do-mar. Já o ambiente pelágico compreende o plâncton, que são organismos com locomoção limitada, que não conseguem vencer as correntes marinhas, e o nécton, que compreende os organismos com maior capacidade de locomoção, como peixes, baleias e golfinhos. Referências: LALLI, Carol M.; PARSONS, Timothy R.. BIOLOGICAL OCEANOGRAPHY: AN INTRODUCTION. 2. ed. Vancouver, Canadá: Elsevier Butterworth-heinemann, 1997. 307 p. Sites consultados: TREE OF LIFE Web Project: Explore the Tree of Life. 1995-2005. Disponível em: . Acesso em: 06 nov. 2016. Como o Ouriço-do-mar pode contribuir com o sequestro de carbono. Disponível em: . Acesso em: 07 nov. 2016. As baleias que se comunicam em código. Disponível em: . Acesso em: 06 nov. 2016. MEIRINHO, Patrícia do Amaral. Ecologia do zooplâncton. PPG Ecologia, Depto. de Ecologia, IB, USP, São Paulo, SP, Brasil. Disponível em: . Acesso em: 06 nov. 2016. Introduction to Oceanography: Classifying by Availability of Light. 1999-2007. Indiana University. Disponível em: . Acesso em: 16 nov. 2016. Posts relacionados: A fertilização dos oceanos e as mudanças climáticas #divisõesoceanográficas #gabriellesouza #descomplicando

  • Nem todo coral quer sol e água quente!

    Por Ágata Piffer, Beatriz Mattiuzzo e Samara Oliveira Pense em corais e qual imagem lhe vem à cabeça? Aposto que a de  corais de água quentes, claras e rasas, como os da Grande Barreira de Coral australiana. Pois saiba que nem todos os corais são assim! Corais são comumente associados com ambientes tropicais e rasos, porém outro tipo desses organismos também está presente em nossos oceanos: os corais de águas frias ou corais de águas profundas. Sabe-se da existência de corais frios desde o século XVIII, contudo foi somente nas últimas décadas, com o aumento da exploração de águas profundas e melhores condições para a pesquisa, especialmente através de submersíveis e técnicas acústicas, que se teve noção da abundância e distribuição destes corais. O nome destes animais refere-se ao ambiente em que são encontrados, caracterizados por temperaturas da água entre 4° e 12°C e profundidades desde 50 metros, em altas latitudes, até cerca de 4000 metros, próximo aos trópicos. Logo, os corais de águas frias são cnidários azooxantelados, isto é, não possuem as algas que tipicamente fazem simbiose com os corais em águas rasas e tropicais. São essas algas, chamadas de zooxantelas, que possibilitam que os corais quentes realizem fotossíntese.  Como a fotossíntese é impossível nas condições de baixa luz e temperatura no mar profundo, os corais frios não se associam com as zooxantelas. A estratégia destes animais é se alimentar como filtradores, se aproveitando da matéria orgânica suspensa na água marinha (bactérias, protozoários, zoo e fitoplâncton). Os corais de águas profundas podem ser subdivididos em quatros categorias: 1) corais duros ou Scleratinia, que formam recifes; 2) corais moles ou Octocorallia, que não tem esqueleto de carbonato para formar recifes; 3) corais negros, exclusivos de águas profundas, e 4) hidrocorais, que alternam entre uma fase de pólipo, estrutura fixa, com uma fase de medusa, como uma água viva. Ainda não é possível fazer estimativas significativas da biodiversidade associada a estes organismos, mas alguns estudos no Atlântico Nordeste apontam para mais de 1300 espécies entre corais frios e outros animais associados a esses ambientes (no Brasil foram registradas até o momento 56 espécies de corais frios, sendo Lophelia pertusa e Solenosmilia variabilis as mais abundantes). Esse número seria comparável a diversidade dos recifes tropicais. A grande diferença é que somente cerca de 10 espécies de corais profundos formam estruturas permanentes, os chamados recifes verdadeiros, que permanecem mesmo após a morte dos organismos, enquanto em águas quentes há mais de 800 espécies deste tipo. Distribuição, Desenvolvimento e Endemismo Os corais de águas profundas estão restritos a águas oceânicas e relativamente frias, contudo ainda não se tem uma visão completa de sua distribuição global, que depende muito dos esforços de pesquisa realizados nas diferentes regiões do planeta. Ou seja, o baixíssimo registro em grandes áreas da África e América do Sul não necessariamente reflete de fato a ausência destes organismos em tais locais, mas sim os poucos esforços de pesquisa. Apesar da aparente distribuição mundial desigual, novas descobertas são constantes, e hoje acredita-se que até poucos anos atrás os cientistas subestimavam a dimensão dos recifes frios. Com os avanços nas pesquisas, já foi possível notar alguns padrões na distribuição destes organismos. A distribuição dos corais Scleractinia (corais duros) depende principalmente da química do carbonato na água, sendo que para que existam devem estar acima do horizonte de saturação da aragonita (ASH – Aragonite saturation horizon, que determina a profundidade máxima em que podemos encontrar este carbonato antes deste dissolver na água). Isto ajuda a explicar a abundância de registros no Atlântico Nordeste, na figura 2a, onde o ASH estimado seria 92000 metros de profundidade, ou seja, inclui toda a coluna de água. Explica também a ausência de recifes em áreas polares e no Pacífico Norte, onde o ASH é raso, entre 50 e 600 metros de profundidade, logo a fauna é dominada por corais moles como mostrado na figura 2b. Além de dependerem da presença de aragonita, os corais frios também estão associados à produção primária superficial, isto é, a produção de matéria orgânica e seu transporte para águas profundas, pois uma produção alta na superfície significa disponibilidade de alimento para estes organismos no fundo. Assim, os corais frios estão presentes em locais com correntes de fundo rápidas, ou em áreas distantes da costa em que ondas e marés levam a um aumento da chegada de alimento para estes organismos. Também são encontrados ao redor de montes submarinos, onde a dinâmica de correntes aprisiona águas enriquecidas em nutrientes sobre os bancos, favorecendo o desenvolvimento de corais profundos. É o que ocorre, por exemplo, nos Bancos Porcupine e nos Montes Darwin, no Atlântico Nordeste, onde já se registrou matéria orgânica de fácil assimilação, como lipídios e ácidos polisaturados em até quase mil metros de profundidade. A aparente dependência de padrões de circulação localizados, como em montes submarinos, tende a limitar a capacidade de dispersão e favorecer com que muitos corais de águas frias sejam espécies exclusivas de uma determinada área,  o que os cientistas chamam de endemismo. Por exemplo, um estudo recente no Pacífico Sudoeste resultou em 34% das espécies observadas como novas e potencialmente endêmicas. Assim como os recifes de corais tropicais, os recifes profundos se desenvolvem após um assentamento inicial das larvas sobre um substrato duro. Com o crescimento da estrutura, outros organismos são atraídos pelo potencial habitat e o recife vai crescendo conforme novos pólipos se estabelecem sobre ele, usando o esqueleto das porções mais antigas, o que faz estas estruturas durarem muito tempo. Porém, pouco se sabe sobre a reprodução dos corais de águas frias. Algumas teorias defendem que fluxos sazonais de alimento, ligado às florações sazonais do fitoplâncton na superfície, influenciariam o transporte de carbono e forneceriam as condições periódicas ideais para a reprodução dos corais frios. Contudo, ainda é preciso realizar muitas pesquisas nesse campo, e nesse sentido estudos em andamento com marcadores moleculares parecem promissores. Ameaças Ainda há muito a se estudar sobre os corais de águas frias para ser possível determinar o que de fato pode ameaçar estes organismos. Até o momento, temos ciência de três principais ameaças: redes de arrasto de fundo, exploração de óleo ou gás e acidificação dos oceanos. Sua alta vulnerabilidade deve-se ao seu modo de vida, de modo que todos os corais de água fria são extremamente frágeis e vulneráveis a perturbações físicas. Como estão atrelados a uma fauna e flora de alto valor econômico, eles não podem escapar de arrasto pesado ou de correntes marítimas cheias de poluentes ou de sedimentos que podem ser depositados, ocasionando o entupimento dos pólipos. Há evidências de grandes impactos em corais frios através de atividades de pesca de arrasto, especialmente em altas latitudes, onde estes corais não estão tão profundos. Idealmente, até que se tenha melhor dimensão dos impactos, deve-se adotar o princípio da precaução e limitar a pesca em tais regiões. Afinal, no mundo todo a pesca de arrasto se mostra um fator de grande destruição de habitats, e quando voltada para  peixes de águas profundas pode ser ainda mais danosa. A maior ameaça potencial aos recifes de águas profundas, contudo, é a mesma para os recifes tropicais: a acidificação dos oceanos. Apesar de ainda não terem sido feitos estudos voltados exclusivamente aos corais de águas frias, sabe-se que o limite de saturação do carbonato para águas mais profundas mudaria em até centenas de metros, gerando uma enorme perda de habitat para estes organismos. Ilustração: Joana Ho. Por fim, há necessidade de se aumentar rapidamente as pesquisas em corais frios, especialmente no Hemisfério Sul. Apesar das condições para tais estudos serem caras e desfavoráveis, a potencial importância destes habitats está cada vez mais clara no âmbito biológico, químico e geológico, reforçando a necessidade do rápido levantamento de mais informações precisas. Referências Bibliográficas: Appeltans W, Bouchet P, Boxshall G. A, Fauchald K, Gordon D. P, et al., editors. (2011) World Register of Marine Species. Disponível em: http://www.marinespecies.org. Acesso em 29 de maio de 2016. Cairns, S.D., 2011. Global diversity of the Stylasteridae (Cnidaria: Hydrozoa: Athecatae). PloS one, 6(7), p.e21670. Freiwald, André, and J. Murray Roberts, eds. Cold-water corals and ecosystems. Springer Science & Business Media, 2006. Freiwald, A.; Fosså, J. H.; Grehan, A.; Koslow, T.; Roberts, M.; Arrecifes de coral de agua fría - Fuera de la vista – pero ya no de la mente. Serie de Biodiversidad del Centro. Centro Mundial de Monitoreo de la Conservación del PNUMA. Reino Unido. 2004 NOAA Deep-sea Coral Data – World Map. Disponível em: https:/deepseacoraldata.noaa.gov/ website/AGSViewers/DeepSeaCorals/mapSites.htm. Acesso em: 28 de maio de 2016. Roberts, J.M., Wheeler, A.J. and Freiwald, A., 2006. Reefs of the deep: the biology and geology of cold-water coral ecosystems. Science, 312(5773), pp.543-547. Roberts, J.M., 2009. Cold-water corals: the biology and geology of deep-sea coral habitats. Cambridge University Press. Rogers, A.D., 2004. The biology, ecology and vulnerability of deep-water coral reefs. IUCN. Turley, C.M., Roberts, J.M. and Guinotte, J.M., 2007. Corals in deep-water: will the unseen hand of ocean acidification destroy cold-water ecosystems?.Coral reefs, 26(3), pp.445-448. Roberts, J.M., Wicks, L. L. Lophelia.org. Disponível em http://www.lophelia.org/. Acesso em: 29 de maio de 2016. Mortensen, P. B. and Buhl-Mortensen, L. (2004). Distribution of deep-water gorgonian corals in relation to benthic habitat features in the Northeast Channel (Atlantic Canada). Marine Biology, 144, 1223–1238. WWF. (2004) Cold Water Corals Fragile havens in the Deep. WWF- World Wide Fund for Nature. pp 1-12 Sobre as autoras: Beatriz Mattiuzzo, 22 anos, estudante de oceanografia desde 2013 e apaixonada pelo oceano desde sempre. Sou aventureira, mas com certeza minha maior Aventura  começou ao entrar no Instituto Oceanográfico da USP.  Atualmente, estudo cetáceos marinhos, com enfoque em bioacústica. Samara da Cunha Oliveira, 22 anos, faço graduação no Instituto Oceanográfico. Minha preocupação com o meio ambiente veio desde que aprendi o ciclo do carbono na escola, assim encontrei o curso de Oceanografia e me encantei. Estou iniciando meus estudos no assunto de percepção ambiental. Ágata Piffer Braga, 23 anos, estudante de oceanografia desde 2012 no Instituto oceanográfico da USP.  Minha grande paixão é a oceanografia física. Estou desenvolvendo meu trabalho de graduação no Laboratório de Dinâmica Oceânica, onde através de uma nova climatologia  procuro representar a Bifurcação de Santos (Circulação “profunda” da costa). #convidados #corais #joanaho #oceanoprofundo #ciênciasdomar #ÁgataPiffer #BeatrizMattiuzzo #SamaraOliveira

  • Encontrando autoconfiança como mulher na ciência

    Por Deborah Apgaua Ilustração: Caia Colla Recebi nesse ano de 2016 um prêmio internacional que mudou a minha vida e visão sobre muitos aspectos da ciência. Este prêmio destina-se a mulheres de países em desenvolvimento, para que realizem pesquisa nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática, em universidades e instituições com excelência internacional. Objetiva, portanto, formar uma rede transformadora da sociedade onde homens e mulheres possuam oportunidades semelhantes no mercado de trabalho. Ser mulher na ciência ainda é um desafio, especialmente em um país onde a maior parte dos professores universitários das áreas de exatas são homens, e existe um desequilíbrio de gênero em cargos relacionados a lideranças. Conforme o texto já publicado neste blog (o sexo realmente importa?), aceitar que esta diferença existe, o que ainda não acontece, pode ajudar a reverter este cenário. Ainda mais importante, o aumento da autoconfiança das mulheres ajudaria a quebrar esta barreira para a maior participação feminina. É claro que a possibilidade de realizar uma pesquisa de pós-doutorado no exterior é uma parte importante da satisfação que sinto após a conquista deste prêmio. Porém, estar inserida em um grupo que busca uma nova direção para a ciência no mundo (esta “comunidade” tem o nome de “Faculty for the Future” e abre para novas propostas todos os anos, neste site), aumentou a minha autoconfiança para desenvolver pesquisa e me tornar um exemplo que inspire outras mulheres a seguir caminho semelhante. Portanto, muito antes de começar de fato minha pesquisa, tenho sentido uma grande diferença na forma com que exponho minhas ideias e guio estudantes em seus trabalhos. Quando decidi tentar este programa, precisei relembrar e organizar toda a minha carreira acadêmica desde a graduação até o doutorado. Tive que buscar o valor de cada experiência e relacionar como isto pode me levar a um lugar que inspire outras mulheres. Então descobri uma nova força que estava dentro de mim, algo que não conhecia. Antes de submeter a proposta de trabalho fiz uma releitura e me senti realizada, independente do resultado da aplicação. Eu me pergunto quantas mulheres poderiam sentir esta satisfação se relembrassem cada passo de sua caminhada e colocassem valor em seu trabalho. Por exemplo, percebi que eu possuo mais prática em ensinar do que havia me dado conta. Durante a minha graduação, desenvolvi trabalhos em comunidades tradicionais onde participei da devolução de resultados da pesquisa e ministração de minicursos. Além disso, durante a minha pós-graduação adquiri experiência através de estágios em docência, mesmo que assistida por meu orientador. Quando estive no exterior fazendo parte de meu doutorado, mantive contato com meus colegas de trabalho e auxiliei na correção de textos. Consegui, portanto, ver a relevância de todos estes momentos quando precisei convencer a Schlumberger foundation, criadora deste programa, que eu era uma candidata que merecia a premiação. Para acreditar nesta realidade sem me diminuir, e sim encontrar merecimento em minhas escolhas acadêmicas, não me preocupei com o que eu poderia ter feito e não fiz. Quando fui submetida a uma entrevista em inglês que buscou confirmar o que eu tinha escrito, não me apresentei de forma séria e durona tentando demonstrar um estereótipo masculinizado para expressar poder. Ao contrário, fui simpática e feminina e encontrei confiança sendo eu mesma. Ao receber o resultado positivo de minha proposta, a menina insegura que não consegue expressar suas ideias científicas por não acreditar que elas sejam relevantes, já não existia mais. Como concordo com a filosofia proposta pelo programa Faculty for the Future, resolvi encarar a missão de engajar e encorajar mais mulheres na ciência.  Decidi incorporar a mulher forte que estava adormecida dentro de mim e me ver como uma cientista que busca cada vez mais vivências e que sabe que ainda tem muito a aprender. A partir deste momento, com a autoconfiança revitalizada, converso com mulheres na minha universidade e em outras instituições e vejo o semblante se modificando à medida que aponto a possibilidade de um caminho simples para suas conquistas. A mudança está dentro de nós, porque muitas vezes nos boicotamos pela insegurança e baixa estima. Foco e autoconfiança são as palavras chave para nossa transformação. Em conversas com alunas da pós-graduação, percebi que algumas mulheres possuem medo de se tornar apenas uma “sombra” de outros homens (talvez resultado de um ambiente de trabalho predominantemente masculino, onde de 31 professores apenas 3 são mulheres). Porém, o medo paralisa, e age no sentido contrário de ações que podem nos libertar da subordinação. Assim, quando superamos a insegurança e o medo de nos tornarmos menores que homens na ciência, nos autoafirmamos para agirmos no caminho do conhecimento que levará ao sucesso acadêmico. O resultado dessas mudanças também é facilitado quando compreendemos que não fazemos ciência sozinhas e a colaboração é essencial. Assim, podemos transformar competição em colaboração e aceitar com mais facilidade que em nenhum passo acadêmico devemos estar sozinhas, pois precisamos lapidar o nosso trabalho. Sejam homens ou mulheres, acreditar que a ciência avança com colaboração diminui nosso ego e o peso da responsabilidade de deter um conhecimento que está constantemente sendo construído. Links relevantes: https://www.researchgate.net/profile/Deborah_Apgaua http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0130799 http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1365-2435.12787/abstract http://www.ufla.br/ascom/2016/09/06/estudante-da-ufla-e-contemplada-com-premio-internacional/ https://www.youtube.com/watch?v=deUQFTSX0EY Sobre Deborah: Sou doutora ecóloga florestal, apaixonada pelas florestas tropicais do mundo. Graduei-me em biologia e nesta fase busquei abordagens etnobiológicas. Já no meu mestrado e doutorado, trabalhei com ecologia florestal para estar em contato direto com as florestas brasileiras, mas no meu doutorado acabei indo parar na Austrália onde desenvolvi meu projeto com características funcionais das plantas de floresta úmida. Atualmente estou me preparando para voltar à Austrália e realizar pós-doutorado com o apoio de um prêmio que recebi para mulheres na ciência. Pretendo compreender as características de plantas que serão mais favoráveis em cenários de secas extremas causadas por mudança climática e trazer o conhecimento para o Brasil. Espero inspirar outras mulheres a seguir carreira acadêmica. #autoconfiança #autoestima #mulheresnaciência #netunoconvida #poderfeminino #caiacolla #convidados #DeborahApgaua

  • Quem estuda o feio, bonito lhe parece

    Por Jana M. del Favero Ilustração: Joana Ho Você sabe o que o golfinho-rotador, a tartaruga marinha e o urso panda têm em comum? Todos são considerados espécies-bandeira, ou seja, espécies carismáticas que conseguem chamar a atenção do público para uma causa conservacionista. Esse conceito surgiu na década de 80, pois como não era possível financiar projetos de proteção para todas as espécies de uma área, ao elevar o status de uma espécie carismática era possível assegurar a conservação da biodiversidade em geral. Lembro-me que quando estagiei no Projeto Tamar ao receber turistas na base de Ubatuba e falar sobre as tartarugas marinhas, eu acabava falando também sobre os peixes que elas consumiam, os danos que o lixo e o uso do carro em áreas de desova causavam e assim ia passando várias outras mensagens junto com o recado principal... Ou seja, ao falar da importância de se preservar a espécie-bandeira em questão, falava também da importância de se preservar todo o ecossistema. Embora seja um conceito eficiente (quem não pensa no mico-leão-dourado ao lembrar da preservação da Mata Atlântica?), é preciso cautela ao aplicá-lo. Ao priorizar as espécies-bandeiras, corre-se o risco de não preservar quem mais precisa, quem está mais em risco de extinção. E diversas são as espécies ameaçadas de extinção. Alguns cientistas até defendem que estamos passando pela sexta grande extinção da Terra (episódios no qual grandes números de espécies foram extintas em um curto período de tempo). Veja na figura abaixo quais foram as grandes extinções e suas causas. Adaptado Conforme mostrado na figura acima, todas as extinções em massa foram causadas por catástrofes naturais, como a queda de um meteorito. Agora pasmem, a sexta extinção está sendo causada por NÓS! Paradoxalmente, os causadores da sexta extinção são também os que podem evitar que ela seja mais trágica. Pois bem, foi pensando em proteger um grupo de animais ameaçados de extinção e “desfavorecidos” que o biólogo Simon Watt criou a “Sociedade de Preservação dos Animais Feios” (Ugly Animal Preservation Society). Sim, eu não escrevi errado, a ideia desse biólogo foi justamente contrária ao uso das tradicionais espécies-bandeira. Segundo o criador, não é justo que o panda fique com toda a atenção. A ideia inovadora do Simon Watt não parou ao criar a sociedade e divulgar espécies feias e ameaçadas. Para levantar fundos e salvar as espécies esteticamente não privilegiadas, ele e um grupo de artistas se aventuraram pelo Reino Unido apresentando noites teatrais, como um stand up comedy, no qual cada artista apresentava um animal feio e no fim de cada noite as pessoas podiam votar qual seria o mascote da sociedade. E no meio do mais esquisito sapo, salamandra, lesma ou inseto, o grande mascote vencedor foi um peixe marinho, o blobfish ou peixe-bolha ou peixe-gota. Este peixe, cientificamente chamado de Psychrolutes marcidus, além de ser feio, habita as águas profundas (entre 600 e 1200 metros de profundidade) do sul da Austrália, incluindo a Tasmânia. Eles não possuem bexiga natatória, têm o mínimo de ossos necessário, e o corpo com consistência gelatinosa, conseguindo, deste modo, combater a alta pressão do ambiente em que vivem ao terem a água ao seu redor como seu principal mecanismo estrutural. Mas confesso que achei a votação um tanto injusta, pois sabendo que a cada 10 metros que mergulhássemos para encontrar o blobfish a pressão aumentaria 1 atm, encontraríamos a feia criatura em um ambiente com mais de 60 atm e provavelmente nossos órgãos se esmagariam e nós pareceríamos uma pasta (na verdade já íamos ter morrido bem antes!), enquanto o blobfish estaria parecendo um peixe “comum” e não aquela criatura gelatinosa que julgamos tão feia ao analisá-la na superfície terrestre, em apenas 1 atm. Outro peixe marinho que concorria como o animal mais feio era a enguia europeia (nome científico: Anguilla anguilla). Apesar de criticamente ameaçada e de parecer mais uma cobra do que um peixe, acredito que essa espécie nem devia estar nesta competição. A enguia europeia é uma espécie de peixe eurialino, que aguenta grande variação de salinidade, e catadrómico, que cresce em rios e desovam do mar. Além do mais, possui larvas do tipo leptocéfalas, que são lindas, duram cerca de 3 anos e chegam a atingir 8 cm de comprimento. E agora, consegui convencer que a enguia europeia e o blobfish não são feios, mas que sim, precisam da nossa atenção e proteção?! E para você, qual animal ameaçado de extinção é feio de dar dó e deveria ser preservado? Saiba mais: Sobre a sexta extinção: http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2015/06/humanos-estao-causando-sexta-extincao-em-massa-da-terra.html Sobre a Ugly Animal Preservation Society (entre e ria muito vendo os vídeos): http://uglyanimalsoc.com #biodiversidade #blobfish #ciênciasdomar #conservação #janamdelfavero #joanaho #peixebolha #peixegota

  • Osmose e Osmorregulação

    Por Gabrielle Souza Os seres vivos marinhos mais simples que conhecemos vivem em equilíbrio com o meio hídrico onde estão inseridos. Porém, de modo geral, quanto maior a complexidade do organismo, mas sua constituição interior difere do meio ambiente onde vive e por isso é preciso adaptar-se fisiologicamente, utilizando um processo natural denominado de osmorregulação. Antes de falarmos de osmorregulação é importante definir o que é osmose! Osmose é simplesmente o movimento da água através de uma membrana permeável, regido pela diferença de concentração entre solutos. Ou seja, a água sempre tende a atravessar uma membrana permeável do local menos concentrado (hipotônico) em direção ao local com maior concentração de solutos (hipertônico). E isso acontece naturalmente, sem gasto de energia. Agora sim, sabendo do que se trata a osmose, podemos te dizer que a osmorregulação é o nome que damos à capacidade de um organismo de regular a quantidade de água e/ou solutos em seu interior, independente do que aconteceria se apenas a osmose estivesse acontecendo. Essa é uma estratégia amplamente utilizada por organismos marinhos para regular os sais e a água em seus corpos, mantendo-se diferentes do meio externo. Fonte Existem diversos animais que realizam este processo, são alguns exemplos: peixes, baleias, golfinhos, moluscos, crustáceos, entre outros. Na imagem abaixo pode-se analisar como a osmorregulação é feita por peixes de água salgada, mas lembre-se que há uma diferença com os peixes de água doce. Afinal de contas, a quantidade de sais na água do mar é bem diferente da água doce. Fonte Existem mais sais na água do mar do que dentro do corpo dos peixes marinhos, por isso haverá uma perda de água constante para o meio, pela osmose, o que levaria a uma rápida desidratação. Porém, os peixes marinhos têm o comportamento de ingerir a água do mar, repondo essa perda de água. Mas... e os sais ingeridos junto com essa água salgada? Eles devem eliminar este excesso de sais no corpo. E como isto é feito? Esse é um trabalho para as brânquias! Isso mesmo. Além das trocas gasosas, as brânquias são também responsáveis por eliminar o excesso de sais no corpo do peixe. Já nos peixes de água doce a situação é inversa. O meio é menos concentrado e o interior do peixe é mais concentrado. Neste caso a água entra por osmose no corpo do peixe, através da sua superfície. Estes peixes não ingerem água e suas brânquias, por sua vez, acabam absorvendo os sais. Não é incrível? Post relacionados: Querida, estou grávido Para saber mais: Schmidt Nielsen, Knut. Fisiologia Animal - Adaptação e Meio Ambiente. Quinta Edição, Livraria Santos Editora, São Paulo. 2002, 600 p. Eckert, R; Randall, D; Burggren. W. Fisiologia Animal. Mecanismos e Adaptações. Guanabara ed. 4ª. Edição. 2011. 729p #descomplicando #gabriellesouza #osmorregulação #osmose #peixes

  • Um novo lar para o Nemo

    Por Cathrine Boerseth Ninguém gosta de ter sua casa destruída, isso inclui as pessoas e os animais. Ursos não gostam, pássaros não gostam, peixes não gostam e até mesmo o menor animal planctônico, que às vezes até esquecemos que existe, não gosta de ter o seu lar destruído.  Alguns desses animais planctônicos são na verdade meroplanctônicos, ou seja, flutuam ao sabor das correntes apenas nos estágios iniciais do seu ciclo de vida, e para se tornarem adultos precisam assentar em algum lugar: um bom lar, com uma boa base. Para muitos organismos essa boa base seria um superfície dura, como um costão rochoso ou um recife de coral. Infelizmente, na costa norte do estado do Paraná muitas dessas superfícies duras (que já são raras) são constantemente destruídas por métodos de pesca destrutivos, como o arrasto de camarão. As larvas do meroplâncton estão flutuando pelo oceano, mas há poucos lugares para elas assentarem. No mundo biológico um fato sempre afeta o outro : peixes se alimentam de organismos que vivem em ou perto de substratos rochosos, assim a falta de um habitat rochoso apropriado para o assentamento de larvas do meroplâncton significa menos alimento disponível para os peixes, e como consequência diminui o tamanho dos estoques pesqueiros. Mas, e se a gente construísse casas novas para esses animais? E se essas casas fossem tão fortes que os arrastos não fossem capazes de destruí-las? Pois bem, foi exatamente isso que pesquisadores fizeram entre 1997 e 2003 na costa do Paraná, construindo alguns recifes artificiais. Recifes artificiais são estruturas feitas pelo Homem, que podem ser  de rochas, blocos de concreto ou até mesmo navios, que possuem uma variedade de buracos e fissuras e são afundadas no oceano, provendo abrigo para os mais diversos organismos marinhos. Bactérias e algas são geralmente os primeiros organismos a chegarem, seguidas pelas larvas do meroplâncton que assentam e se desenvolvem em uma infinidade de animais, de anêmonas a caranguejos. Essa variedade de animais atraem os peixes que estão em busca de alimentos, e esses peixes vão, consequentemente, atrair outros peixes maiores e/ou outros predadores. Passado algum tempo,  o ecossistema do recife artificial passa a ser um lugar com alimento disponível e proteção para um grande número de organismos marinhos. Os recifes artificiais no Paraná foram feitos de cubos de concreto com buracos em forma de um trevo de quatro folhas, disponibilizando um local para os animais se esconderem ou assentarem. Porém, mesmo depois da construção do recife artificial, um monte de questões continuavam sem resposta: os organismos meroplanctônicos vão realmente assentar no local? Eles vão  atrair peixes? Esses peixes vão usar a área para reprodução? O ecossistema resultante será parecido com um recife rochoso natural? A resposta para as duas primeiras questões é um grande SIM, mas as outras perguntas ainda precisavam de respostas, e foi exatamente isso que eu resolvi pesquisar. Para responder essas questões, decidimos estudar ovos e larvas de peixes. Para amostrá-los usamos uma rede presa a uma scooter subaquática (legal né?!) e uma armadilha de luz (veja fotos). Com esses métodos fui capaz de amostrar larvas e ovos que estavam bem perto do recife artificial, sendo que a rede capturou os ovos e as larvas em estágios iniciais de desenvolvimento, enquanto a armadilha capturou larvas maiores. Nós também amostramos a uma certa distância do recife (seria a abundância do ictioplâncton diferente lá?) e em  um ambiente recifal rochoso natural nas redondezas (o lindo arquipélago de Currais). As amostras foram realizadas em meses entre julho de 2014 a abril de 2016, sempre que as condições climáticas e de ondas permitiam. A armadilha de luz (esquerda) e a rede fixada na scooter subaquática (direita). Então, o que os nossos dados nos mostraram? O número de ovos e larvas de peixes foi maior no recife artificial do que a uma certa distância dele. Além disso, o fato das amostras conterem ovos ou larvas recém eclodidas significa que os peixes estão usando o recife artificial ou uma área bem próxima a ele, para a reprodução. Nossos dados ainda mostraram que muitas larvas coletadas no recife artificial pertencem a espécies que habitam naturalmente recifes rochosos e espécies pelágicas, que vivem em águas oceânicas. E o que isso significa? Significa que o recife artificial está começando a agir como um recife natural (ótimo!), mas ainda tem um longo caminho a percorrer. Os peixes ainda são mais abundantes no recife natural e muitos são apenas “visitantes”, como espécies pelágicas. Porém todos são bem vindos! O recife artificial provém comida e proteção para todos! Os visitantes pelágicos são atraídos pela comida e assim se tornam a comida de outros peixes. Mas não se preocupe, isso é ótimo, pois é assim que um ecossistema funciona! Pode até parecer que os recifes artificiais são a solução para todos os nossos problemas, e você deve estar querendo levantar sua mão para o céu e gritar: vamos construir recifes artificiais em todos os mares, no mundo todo! Mas infelizmente como a maioria das coisas da vida, isso não é tão simples. Há muitos fatores a serem considerados, uma vez que a construção de um recife artificial é uma intervenção humana na natureza  e pode causar mais prejuízos do que benefícios. Por isso, uma pesquisa cuidadosa em cada situação é mais que necessária! E o que aprendemos com tudo isso? A natureza acha o seu jeito! Nós humanos somos destrutivos e para construir nossas próprias casas, destruímos os lares de outros seres. Felizmente, muitos ecossistemas são resilientes e voltam à vida. Recifes artificiais podem até não ser a resposta para todos os nossos problemas, mas na costa do Paraná,  um pequeno ecossistema destruído está se reconstruindo graças a eles! Sobre Cathrine: Bióloga, atualmente me preparando para defender minha dissertação de mestrado em Oceanografia Biológica na USP. Sou Norueguesa e me apaixonei pelo mar mergulhando nas águas congelantes do norte. Moro no Brasil há quatro anos e não vejo a hora de descobrir onde a vida vai me levar daqui para a frente. O que eu sei com certeza é que eu quero trabalhar e viver em proximidade com a natureza, seja nos trópicos lindos do Brasil ou no Ártico maravilhoso da Noruega (ou em algum lugar entre os dois). #cathrineboerseth #convidados #peixes #ciênciasdomar #recifesartificiais

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