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- Para o plâncton tamanho é documento, parte II.
Por Catarina R. Marcolin Olá a todos os queridos leitores do Bate-papo com Netuno! Hoje falaremos mais uma vez sobre tamanhos, plâncton e até sobre comida. Lembram do plâncton? A gente gosta tanto desses pequeninos, que já tivemos algumas postagens sobre eles (clique aqui e aqui). Para chegarmos no assunto de hoje, precisamos primeiro relembrar algumas informações. O plâncton é constituído por organismos muito pequenos. Uma típica espécie fitoplanctônica (vide postagens anteriores mencionadas acima para saber mais sobre o fitoplâncton) que habita nossa região costeira tem menos que 0,3 mm de comprimento. A relação entre organismos desse tamanho e o ambiente em que eles vivem (a água) é regida pelo número de Reynolds, que é uma medida que indica se há predominância de forças inerciais ou viscosas (forças de resistência). Para organismos dessa faixa de tamanho o número de Reynolds é muito baixo. Isso quer dizer que a água é extremamente viscosa para o plâncton, ou seja, se fôssemos do tamanho de uma microalga, sentiríamos como se estivéssemos flutuando em um mar de piche (ou em um pote de mel!). Então você deve imaginar como pode ser difícil encontrar comida nesse cenário...hummmm que fome! Diatomáceas marinas. Fonte Dinoflagelados marinhos. Fonte Outras informações importantes para compreendermos o comportamento alimentar destes microorganismos vem das aulas de física e matemática da escola. Lembram da tal razão superfície/volume? Vamos relembrar: Para calcular a área de um quadrado, por exemplo, basta multiplicar um lado pelo outro, certo (A = L x L = L2)? E para calcular o volume, multiplicamos a área por mais um lado (V = L x L x L = L3). Então enquanto a área é uma grandeza que aumenta ao quadrado, o volume é uma grandeza que aumenta ao cubo! Portanto, a razão superfície/volume (L2/L3) tende a diminuir quanto maior for o tamanho do quadrado (ou organismo), concorda? Se deu um nó na sua cabeça, basta dar uma olhada na imagem ao lado, que mostra diferentes formas, que logo você vai entender. Fonte Essa informação é muito importante, pois tem implicações diretas sobre como o plâncton consegue saciar sua fome e se nutrir. Para entendermos melhor, vamos falar mais especificamente do fitoplâncton. Uma diatomácea (organismos fitoplanctônicos conhecidos por possuírem uma “teca” ou “carapaça” constituída por sílica), por exemplo, apesar de fazer fotossíntese, precisa de nutrientes para sobreviver. Esses organismos adquirem nutrientes principalmente por difusão, ou seja, quando começa a faltar nutriente dentro da célula cria-se um gradiente e essas moléculas passam a se mover em direção ao organismo, até o momento em que o nutriente se esgote no entorno da célula. Como as diatomáceas não tem flagelos para se mover, elas dependem inteiramente da turbulência para que se renove o gradiente dos nutrientes ao seu redor. Cocolitoforídeos (outro grupo fitoplanctônico conhecido por possuir uma teca constituída por carbonato de cálcio), por outro lado, são bem menores, ou seja, possuem mais superfície em relação ao seu volume, e portanto conseguem adquirir nutrientes com mais facilidade por difusão. Você deve estar pensando que ser um cocolitoforídeo é bem mais fácil que ser uma diatomácea! Você está certo e errado ao mesmo tempo! Cada um desses organismos poderá dominar o ambiente, ou seja, ocorrer em maiores densidades, em diferentes situações. Quando há pouco nutriente na água (ambientes oligotróficos), especialmente em regiões estratificadas (onde há pouca mistura da coluna de água), os cocolitoforídeos tendem a dominar, pois são mais eficientes nisso. Quando há bastante turbulência ou em situações de ressurgência (quando o padrão de ventos remove a camada superficial da água do mar e águas mais profundas, ricas em nutrientes literalmente sobem à superfície - observe a figura abaixo), os nutrientes vem com tudo e as diatomáceas fazem a festa, pois elas tem um grande vacúolo onde conseguem guardar esses nutrientes até mesmo para consumir depois. Desenho esquemático de uma ressurgência. Fonte Mas o que temos a ver com isso? Além de ser super interessante simplesmente saber como as coisas acontecem no mundo marinho, podemos entender um pouco do que nos espera no futuro, considerando que vivemos um período de mudanças climáticas. Em um futuro com altas concentrações de gás carbônico (ops, infelizmente já vivemos isso no presente), onde temos um aumento da temperatura e, consequentemente, aumento de regiões estratificadas (e,portanto, diminuição dos nutrientes disponíveis nas águas superficiais), observamos uma mudança na comunidade do fitoplâncton onde cocolitoforídeos passam a dominar ao invés das diatomáceas. Isso é grave porque já existem estudos que demonstram que em regiões dominadas por cocolitoforídeos, o fluxo de carbono para o fundo dos oceanos (a bomba biológica, clique aqui e saiba mais) tende a ser menor do que em regiões onde a comunidade dominante são diatomáceas. Isso significa que nossos queridos oceanos irão ficar menos eficientes em remover carbono da atmosfera. Você lembra que a bomba biológica é um dos principais mecanismos de manutenção do equilíbrio do clima no nosso planeta? Relembre aqui. Já estamos passando pelo período de El-Niño que pretende ser o mais forte dos últimos 100 anos, durando até a primavera de 2016. Ou seja, temos previsão de altas temperaturas superficiais em diversas regiões dos oceanos, o que tende a aumentar a probabilidade de zonas estratificadas. Aproveite essa leitura para pensar se você tem feito algo para diminuir suas emissões de carbono. Num próximo post podemos te ajudar com isso. Até o próximo bate-papo! #ciênciasdomar #catarinarmarcolin #biologiamarinha #bombabiológica #plâncton #zooplâncton
- The ship’s balance...
By Izadora Mattielo Edited by Katyanne M. Shoemaker Have you ever asked how ships are balanced at sea? Or how it can carry people and merchandise without tipping over? It is easy to imagine that there is an ideal maximum weight, designed and calculated by engineers, that the ship can support without sinking. OK. But how does how can this keep its balance when it is empty? The answer is easy: it needs to add weight when it is empty and then release the weight while loading it with people or merchandise. In the beginning, there were several attempts with stones and pieces of wood, but due to the effort required to add and remove these materials, a better thought was to use the seawater! Pumps could be used to pull in and throw out the water when ship was docked. This method is the method we still use today; ships have a ballast tank, which can hold ballast water that is pumped in and released. That is where my story begins! Imagine an empty ship going from China to Brazil, where it will be loaded with merchandise. As already explained, the ship would have to pump water from the Chinese coast to keep balance while traveling. The water pumped in however, is not pure and has a lot of organisms that who are trapped inside the ballast tank. You might be asking: isn’t there a mesh filter that can be used to avoid trapping these organisms? Yes, but it’s not efficient, especially for microorganisms. A second problem is, according to International Maritime Organization (IMO), ships are to exchange water in the open sea, because there are different physical and biological conditions in port that the organisms from the open ocean cannot survive. However, this does not happen. Aside from many ships not changing water at sea, there are several organisms that can resist both the travel and different environmental conditions. When arriving at the destination port, these non-native organisms are discharged along with the ballast water, causing serious problems for the local fauna and flora, as well as public health. Can you imagine the environmental impact? Because of this, there are many countries that belong to IMO doing research to solve this problem. One of these solutions is the treatment of the ballast water inside of the tank. There are many treatment proposals: mechanic, physical, and chemical. These are currently either in testing, generate waste, or are not completely efficient. I did work with phytoplankton, marine microalgae explained here. These microscopic organisms can be resistant to many treatments, and some species are toxic to animals. In fact, red tide is caused by a microalgae group. My challenge was then, to find ways to eradicate these microscopic algae from the ship ballast water. I tested three treatments: exposure to UV, ozone, and Peraclean, a chemical with characteristics similar to hydrogen peroxide. As I developed this project, I knew that these treatments were of huge importance and needed further studies done. The most interesting stage of this project was the partnership with the company Brasil Ozonio (a company that works with the University of São Paulo). Don’t be afraid to make university-industry partnerships; much of our knowledge doesn’t go forward because the researchers don’t want to expose their work and ideas. This partnership was essential to my work. The most interesting stage of this project was the partnership with the company Brasil Ozonio (a company that works with the University of São Paulo). Don’t be afraid to make university-industry partnerships; much of our knowledge doesn’t go forward because the researchers don’t want to expose their work and ideas. This partnership was essential to my work. After conducting a series of experiments, my best result was with the ozone! I was able to eradicate even the most resistant microalgae (the dinoflagellates), which no other treatment had managed to kill. In addition to being effective, this treatment doesn’t generate waste into the treated water, so it may be safely discharged overboard. In future posts, I will discuss my results in more detail, but if you want to know a little more about it, follow the links about my dissertation: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/21/21134/tde-02022015-135423/pt-br.php http://www.usp.br/aun/exibir.php?id=6118&edicao=1076 See you! #ballastwater #environmentalimpact #microalgae #ozone #chatizadoramattielo #marinescience #chat
- A fertilização dos oceanos e as mudanças climáticas
Por Yonara Garcia Você já ouviu falar de geoengenharia? É uma ferramenta cada vez mais utilizada nos dias de hoje, mas também muitas vezes controversa, pois em alguns casos o resultado pode ser completamente inesperado! Hoje falaremos sobre um polêmico experimento realizado em julho de 2012, por Russ George, um empresário americano, que despejou cerca de 100 toneladas de sulfato de ferro no Oceano Pacífico como parte de um projeto de geoengenharia na costa oeste do Canadá. Fertilização do oceano por sulfato de ferro. Fonte O ferro é considerado um elemento fundamental, muitas vezes limitante, para o crescimento do fitoplâncton. O fitoplâncton é composto por microalgas que realizam fotossíntese, processo no qual utilizam a luz solar como fonte de energia e absorvem dióxido de carbono (CO2) e água para produzir matéria orgânica na forma de carboidratos. A partir desses carboidratos e com a adição de outros nutrientes, como nitrogênio, fósforo e ferro, as microalgas produzem outras substâncias, como proteínas, aminoácidos e outras moléculas que formam as células. Em 1980, o oceanógrafo John Martin propôs que determinadas regiões do oceano (as áreas chamadas HNLC - High Nutrient, Low Chlorophyll), apesar de ricas em nutrientes, seriam pobres em produção primária por conta da falta de ferro. Assim sendo, a adição de ferro deveria aumentar a produção do fitoplâncton e, consequentemente, afetar o ciclo do carbono, diminuindo os níveis de CO2 na atmosfera. Sua célebre frase “Give me half a tanker ful of iron and I’ll give you an Ice Age” (Me dê metade de um barril de ferro e eu te darei uma era do gelo.) causou grande euforia, pois ele acreditava que se certas áreas do oceano fossem fertilizadas, os efeitos do aquecimento global poderiam ser revertidos, resfriando a terra. Assim surgiu a ideia que o empresário americano colocou em prática. Russ e sua equipe despejaram uma certa quantidade de ferro no mar, acreditando que iriam promover o aumento do número de organismos fotossintetizantes e, assim, aumentar a eficiência dos processos de sequestro de carbono no oceano. Sim, bem parecido com o processo de fertilizar/adubar uma plantação para que ela cresça mais rápido! Este assunto gerou muita polêmica, pois entra em conflito com questões éticas e políticas a respeito dos efeitos que uma intervenção como esta traria para um ecossistema tão complexo e ainda pouco conhecido como os oceanos. Para entender melhor porque a ideia deste projeto é tão polêmica, vamos primeiro falar sobre alguns processos importantes que ocorrem no “maravilhoso mundo oceânico”. Você já ouviu falar em “bomba física”? E “bomba biológica”? Não, não é um tipo de arma de guerra para dizimar uma população inimiga! Bomba física é o processo relacionado com a solubilidade do CO2 no oceano (solubilidade = quantidade máxima que uma substância pode ficar dissolvida em um líquido). Já a bomba biológica ocorre depois deste processo, quando uma fração do carbono dissolvido é absorvida pela atividade biológica, através da fotossíntese, nas camadas superficiais do oceano, e transportada para o fundo. Então, vamos entender melhor como ocorre este transporte de carbono no oceano… O CO2 é um gás capaz de se dissolver na superfície dos oceanos. Este mecanismo de solubilidade está relacionado com a concentração desse gás na atmosfera e com a temperatura da água: quanto mais CO2 houver na atmosfera e quanto menor for a temperatura, maior será a quantidade desse gás dissolvido na superfície dos oceanos. Uma vez dissolvido na água, o CO2 passa para uma nova fase do ciclo, na qual será absorvido por organismos fotossintetizantes marinhos. Uma parte da matéria orgânica formada na fotossíntese é utilizada na respiração celular e liberada em forma de CO2. A outra fração, que foi utilizada na formação da célula, é consumida pelo zooplâncton (consumidores primários nas tramas tróficas marinhas - leia mais aqui) e/ou transportada por gravidade para o fundo dos oceanos através da chamada “neve marinha”, formada por fragmentos alimentares e pelotas fecais oriundos da alimentação do zooplâncton, conchas e microrganismos mortos. Esse processo de transferência de carbono para o oceano profundo diminui a quantidade de carbono na zona eufótica (zona que recebe luz solar suficiente para que ocorra a fotossíntese) fazendo com que bilhões de toneladas de carbono sejam sequestrados (retirados) da atmosfera por ano. Alguns estudos estimam que a bomba biológica seja responsável por remover cerca de 5-15 gigatoneladas de carbono por ano (Henson et al., 2011). Marine Phytoplankton. Source E vocês podem imaginar como essa retirada é importante tendo em vista a quantidade enorme de carbono que nossas atividades industriais, carros, aviões têm emitido na atmosfera ao longo dos últimos anos. É importante relembrar que o tão discutido aquecimento global, entre outros problemas, é provocado em grande parte por um excesso de carbono na atmosfera. De acordo com o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) 2014, somente em 2010, 49 gigatoneladas de carbono foram emitidas na atmosfera por atividades antropogênicas. E é justamente por isso que esses experimentos com o ferro ganharam tanta popularidade. Parece simples, não?! Pronto, resolvido o problema do aquecimento global! Vamos fertilizar os oceanos! Mas a coisa não é tão simples assim. Interferir em ecossistemas naturais é um assunto extremamente delicado, que pode causar danos incalculáveis e irreparáveis. Alguns pesquisadores realizaram experimentos semelhantes ao do empresário americano e concluíram que, apesar da fertilização aumentar a taxa de fotossíntese, a mesma pode desencadear alterações na composição química do oceano, alterando o funcionamento de todo o sistema. Por exemplo, o aumento da taxa fotossintética do fitoplâncton é diretamente proporcional à quantidade de dimetilsulfeto (DMS - enxofre volátil na forma reduzida) excretado por essas microalgas na água, que se volatiliza e vai parar na atmosfera (ou seja, mais fotossíntese pelo fitoplâncton, mais dimetilsufeto no ar). Na atmosfera, estas partículas facilitam a formação de nuvens, o que seria ótimo, pois com a maior formação de nuvens poderia haver maior reflexão da radiação solar e assim maior resfriamento do planeta. Contudo, nem todos os tipos de nuvens têm a propriedade de resfriar o planeta. Estudos recentes apontam que outros fatores climáticos também podem afetar a distribuição e as propriedades das nuvens, podendo aumentar a temperatura do planeta. Além disso, foi observado que a fertilização também aumenta a produção de óxido nitroso (N2O), molécula que aquece 320 vezes mais que o CO2. Outro estudo, publicado em abril de 2014 na Geophysical Research Letters, mostrou que mais de 66 % do carbono sequestrado pelo oceano retorna à atmosfera dentro de 100 anos. Ou seja, se por um lado a bomba biológica ameniza a temperatura da Terra, sequestrando o carbono da atmosfera, por outro lado ainda não sabemos o que acontecerá quando houver o retorno deste carbono após certo tempo. Controverso o suficiente pra você? Desta forma, apesar dos processos que ocorrem nos oceanos serem responsáveis pela redução da concentração do CO2 na atmosfera, interferir no sistema pode não ser a melhor solução, pois existem muitos processos químicos, físicos e biológicos que, por não serem compreendidos inteiramente, poderiam resultar em prejuízos não previstos. Enquanto não chegamos numa compreensão mais integrada destes processos, a redução das emissões de CO2 seria muito mais eficiente e segura do que tentar remediar um problema manipulando um processo tão complexo e ainda pouco compreendido. Até a próxima! Literatura consultada: http://www.nature.com/ngeo/journal/v6/n9/full/ngeo1921.html http://www.nature.com/nature/journal/v446/n7139/full/nature05700.html https://www.ipcc.ch/publications_and_data/ar4/wg1/en/ch7s7-3.html http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/2013GL058799/full https://www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar5/syr/AR5_SYR_FINAL_SPM.pdf Henson, S. A., R. Sanders, E. Madsen, P. J. Morris, F. Le Moigne, and G. D. Quartly (2011), A reduced estimate of the strength of the ocean's biological carbon pump, Geophysical Research Letters, 38 #ciênciasdomar #yonaragarcia #algas #bombabiológica #equilíbrio #fitoplâncton #floração #geoengenharia
- 10 habilidades profissionais que você desenvolve fazendo ciência
Por Lilian Pavani Quem faz (ou já fez) pesquisa científica sabe como é difícil explicar o que faz, uma vez que o seu trabalho não é um estágio ou emprego, você é bolsista de iniciação científica, mestrado ou doutorado, o que te coloca basicamente na posição de estudante. Quem nunca ouviu a frase “você trabalha ou só estuda?”. Ao contrário do senso comum, sim, você trabalha e muito!! Engana-se quem pensa que trabalhar com pesquisa é moleza. Pesquisar vai muito além de ler artigos e livros, e envolve essencialmente a construção de conhecimento novo. Nesse ardoroso caminho, todo cientista é forçado a aprender muita coisa que é valorizada no “mundo real”. Quando eu fazia pesquisa não tinha muita noção de todas as coisas que tinha aprendido, mas quando comecei a trabalhar no mundo empresarial percebi quantas habilidades eu possuía graças à minha iniciação científica e mestrado, ambos em ecologia marinha. Mas independentemente do assunto que você pesquisa, com certeza você concorda com o seguinte: 1. Você sabe usar Word e Excel l Você pode precisar de uma série de softwares complicados para analisar algo específico do seu trabalho, mas jamais vai dispensar uma tabela de dados ou um gráfico feito no Excel, transformando de pizza para barras e trocando cores de séries de dados até achar o modelo que melhor representa seus resultados. E esteja você pleiteando uma bolsa, apresentando resultados ou formatando uma tese, com o perdão do trocadilho, você tira o Word de letra. Você insere tabelas, imagens e referências sem perder de vista a formatação de parágrafos, margens e rodapés. 2. Você sabe fazer belas apresentações em PowerPoint Quem nunca fez um pôster para apresentar em um congresso? E apresentações para uma disciplina da pós ou para sua banca examinadora? Com certeza você desenvolveu um bom senso estético e sabe como escolher a melhor cor de fundo, a melhor fonte, sabe distribuir os elementos do seu slide de forma simétrica e sabe que uma imagem vale mais que mil palavras, apresentando de forma maestral todas as informações importantes adequadas ao tempo disponível, seja 5, 20 ou 50 minutos. 3. Gerenciamento de projetos é algo natural Provavelmente, tudo começou com uma pergunta que você gostaria de responder, uma necessidade que você identificou – etapa de Iniciação. Para responder a essa sua pergunta você precisou escrever um projeto de pesquisa, então teve que levantar informações, definir as atividades necessárias ao seu estudo, estimar os recursos necessários e prazos - etapa de Planejamento. Com sua bolsa aprovada, você desenvolveu as atividades pré-definidas - etapa de Execução – e enquanto o seu projeto estava sendo desenvolvido, de tempos em tempos algumas atividades e processos foram revistos, buscando um ajuste e melhorias - etapa de Monitoramento e Controle. Ao final das atividades você apresentou seus resultados em um relatório final e talvez até um artigo, que passou por rigorosa avaliação do seu orientador e outros pares (praticamente uma auditoria) - etapa de Finalização. Pronto, você pode nunca ter ouvido falar em PMBOK ou MS Project, mas sabe tudo de gerenciamento de projetos! 4. Qualidade é obrigação Os níveis de exigência na área acadêmica chegam a ser estratosféricos. Já vi gente sendo desligada da pós graduação porque suas notas não atingiam o desejado pelo programa, o qual tem uma reputação a zelar junto à CAPES e agências financiadoras. Da mesma forma, se seu resumo não estiver satisfatório você não pode apresentar seu trabalho em um congresso e se seu artigo não estiver bem estruturado não será publicado em nenhum periódico. Os pares avaliam tudo e varrem o seu trabalho em busca de um deslize, portanto, fazer bem feito sempre é a ordem. 5. Você se transforma em uma pessoa criteriosa Em vista da obrigação da qualidade, quanto mais criterioso você for no desenvolvimento do seu trabalho, maior a chance de que ele seja bem feito. Sem perceber você acaba adquirindo esse hábito. 6. Argumentar é mais que necessário Tanto para discutir seus resultados quanto para solicitar financiamento ou convencer seu orientador, você precisa saber embasar, defender e provar seus pontos de vista. 7. Você aprende a lidar com pessoas Durante a sua pesquisa você precisa lidar com pessoas diferentes em diversos níveis hierárquicos o tempo todo. No mínimo você tem um orientador, quando não há também co-orientadores. Se você está no mestrado ou doutorado, você terá colaboradores, os alunos de iniciação científica. E sempre haverá a necessidade de se relacionar com outros membros do departamento onde você trabalha, principalmente outros professores. Quem conhece minimamente a área acadêmica sabe que costuma haver uma guerra de egos, e você estará sob o fogo cruzado, fazendo o possível para manter as coisas caminhando sem prejudicar o andamento da sua pesquisa. 8. Você entende que prazos são importantes e os cumpre Se você possui uma bolsa, você estará sempre atento aos prazos de relatórios de acompanhamento, aos prazos de prestação de contas e liberação de verbas. Se você ainda não tem, você está acompanhando os prazos do programa, bem como os editais para saber quando submeter uma proposta. E se você quer apresentar seu trabalho em um congresso, você tem prazo para envio de resumos (em alguns casos os organizadores podem estender o prazo, mas em geral as pessoas aproveitam a extensão de prazo para revisar). 9. Gerenciamento financeiro faz parte Em geral as bolsas de pós-graduação e algumas de iniciação científica possuem uma reserva técnica, uma verba extra que não remunera o pesquisador, mas serve para a aquisição de equipamentos, livros, realização de saídas de campo, enfim, atividades necessárias ao desenvolvimento da sua pesquisa. Essa verba não é um valor alto e você aprende a gerenciar os recursos financeiros buscando o melhor custo-benefício. Em alguns casos, você aprende até a gerenciar verbas de projetos diferentes para a compra de materiais comuns a todos os envolvidos no laboratório. 10. Você sabe que o seu sucesso depende inteiramente de você O ambiente acadêmico acaba sendo muito hostil, exigindo muita dedicação. Por isso, em geral as pessoas buscam se qualificar o máximo possível e estão sempre em busca do aperfeiçoamento. Portanto, se você tem a intenção de deixar a carreira acadêmica e seguir outra carreira, valorize-se! Você tem muito a oferecer! ;) Sobre Lilian Pavani: Bióloga, mestre em ecologia e especialista em engenharia ambiental pela Universidade Estadual de Campinas, amante de esponjas e outros invertebrados marinhos, principalmente os coloridos. Após navegar entre esponjas, algas, anfípodes e petróleo, as correntes e ventos a levaram literalmente a outras estradas, onde atuou no estudo de fauna atropelada, supervisão e gerenciamento ambiental de obras de rodovias. Nutre interesses muito diversos como educação, inovação e cozinha, toca flauta doce em um grupo amador de música antiga, escreve pensamentos e observa pássaros. Enfim, vive com os pés na areia e meio que assim, entre marés. Lilian Pavani é também autora de outros posts em nosso blog. Clique aqui e leia mais. #vidadecientista #convidados #lilianpavani #interdisciplinaridade #profissão
- As dunas que “andam”
Por Nery Contti Neto Originalmente publicado em: https://tenhominhaloucura.wordpress.com Sempre tive uma ligação muito forte com Itaúnas, ES. Minha bisavó nasceu em Itaúnas velha e teve que se mudar, pois sua casa foi lentamente soterrada pelas dunas. Minha primeira pesquisa na faculdade de Oceanografia foi lá, e quando estava no mestrado, fui chamado pelo pessoal do Parque Estadual de Itaúnas (PEI) para responder a seguinte pergunta: as dunas de Itaúnas, que já soterraram a vila antiga, podem ainda soterrar a vila nova? Pois fui tentar responder de uma maneira simples e repasso aqui. Primeiramente, explico o que são as dunas: um depósito arenoso formado pela ação dos ventos quando há areia em abundância – não acontece em um lugar que sofre erosão, por exemplo. Depósito é onde os processos naturais (vento, onda, os rios, etc.) depositam e ganham areia. Erosão é o processo onde um lugar perde material, no caso, areia. As dunas começam a se formar quando o vento carrega grãos de areia, que perdem sua velocidade quando encontram alguma barreira (podendo até ser um objeto). Quando o vento é forte e constante, o que quer dizer mesma direção e sentido por um longo tempo, as dunas se estabilizam. Quando as dunas se estabilizam os grãos de areia vão se empilhando sobre os demais, e assim a duna vai aumentando de tamanho e comprimento, que pode variar de menos de um metro (como a maior parte do litoral capixaba) a dezenas de metro e centenas de quilômetros de extensão, como nos Lençóis Maranhenses. As dunas são importantes porque protegem a praia contra as subidas do mar, como quando entra uma ressaca. São também um hábitat único para diversas espécies de aves, plantas, tartarugas e outros. Servem também como filtros naturais para a água da chuva e subterrânea, podendo até mesmo formar regiões úmidas, o que de fato acontece em Itaúnas, na região dos alagados. Por conta disso tudo as dunas são Áreas de Preservação Permanente, como os manguezais, encostas e topos de morro, nascentes de rio etc. Mas as dunas podem também ser motivo de dor de cabeça para os gestores públicos e ambientalistas. Em períodos de vento mais fraco (ou não tão forte), se não houver muita vegetação, os grãos começam a subir a duna ao invés de serem depositados ao pé dela. E foi o que aconteceu em Itaúnas na vila antiga (e também nas Rendeiras, em Florianópolis). As árvores foram retiradas da restinga na frente da praia no começo da década de 1950, mas principalmente na década de 1970. Com um vento Nordeste constante no verão e muita areia disponível, foi um prato cheio para a formação daquelas dunas, cobrindo a vila que existia. Agora voltando à pergunta: e quanto a vila atual, ela vai também ser engolida? Para responder a essa pergunta, comparei fotografias aéreas da década de 70, feitas pelo Projeto RadamBrasil, o primeiro esforço em escala nacional de fotografar todo o país em um avião, com fotografias recentes, utilizando de um software que permitiu a análise desse tipo de imagens. O uso das fotografias aéreas é uma ferramenta muito importante para quem quer entender processos naturais, e muitas dessas fotografias aéreas estão disponíveis gratuitamente. Na década de 70 a vila antiga (hoje soterrada pelas dunas como falei aqui) já mostrava um processo de soterramento, restando só 30 casas não soterradas. A igreja de São Sebastião, a mais antiga, já estava soterrada e a igreja nova já em construção. A vila atual, que se mudou para atrás do rio, começava a ser ocupada, contando com menos de 10 casas. Em 2012, conversei com moradores da Vila que me disseram que muitos que moravam na vila antiga não passaram para a atual, preferindo ir para Vitória ou Conceição da Barra. O que pude perceber analisando as fotos é que durante os anos de 1971 a 2008, a área das dunas aumentou 96 mil m2 (ou 9,62 hectares). Uma parte considerável da vegetação das dunas foi perdida nas proximidades da antiga vila e, segundo alguns moradores, não houve desmatamento da vegetação que cobria as dunas, portanto isso seria resultante de um processo natural, não provocado por interferência humana. Isso deixo para os historiadores. De qualquer forma, um lugar interessante para ver como a retirada da vegetação influencia na formação das dunas é no Buraco do Bicho (que falei no outro post sobre Itaúnas, que fica a menos de 1 km de distância da praia principal). Essa feição - conhecida como blowout - é uma feição erosiva/deposicional (os dois processos acontecem juntos) com um formato semicircular ou alongado no meio de um campo de dunas. São muito comuns nos locais onde há ventos de alta energia. Eles começam a se formar quando há uma redução da vegetação e vento soprando forte. Os ventos vão então ficando mais fortes por afunilamento e vão retirando a areia desse local e depositando ao seu lado, daí o formato semicircular. Esse efeito continua acontecendo até que o vento remova tanta areia que atinge o lençol freático, deixando o formato assim ó: É possível inferir que as dunas de Itaúnas (as mais famosas) provavelmente começaram com um blowout, logo, o Buraco do Bicho pode também formar novas dunas tão grandes quanto as dunas mais famosas de Itaúnas. Nesse mapinha aí de cima dá para ver que marquei 3 caminhos. O Caminho 1 representa a maior distância percorrida pelas dunas em 37 anos em direção a Noroeste, o Caminho 2 foi o maior caminho que as dunas percorreram no mesmo período em direção a sudoeste e o Caminho 3 foi um caminho que tracei de menor distância entre as dunas e a vila recente. Agora pense comigo: para a duna andar para norte, o vento tem que soprar empurrando a duna para o norte, certo? Mas na oceanografia a convenção é de chamar o vento pela direção que ele vem, e as correntes pela direção que ela vai. Ou seja, o vento vem de sul e vai para norte - empurrando a duna para norte – e tem o mesmo sentido de uma corrente norte, que vem de sul e vai para norte. Dessa maneira, o Caminho 1 é maior distância percorrida pelas dunas em resposta ao vento Sudeste (andando para Noroeste) e o Caminho 2 é a maior distância percorrida pelas dunas em resposta ao vento Nordeste (andando para Sudoeste). Na região o vento de Nordeste sopra a maior parte do tempo, mas é mais fraco do que o vento de Sudeste, que só aparece quando há frentes frias, mas entra com toda a força. Para ajudar, vai uma colinha aí: Para comparar, em Cabo Frio as dunas respondem mais ao vento de Nordeste, enquanto as dunas de Florianópolis respondem mais ao vento sul, que é bem mais forte nesta região. No Rio Grande do Norte o que domina são os ventos alísios de sudeste (um tipo especial, já conhecido pelos navegadores portugueses). E olha a direção que as dunas tomam: Voltando pra Itaúnas, sabendo que com ambos os ventos (NE e SE) as dunas “andaram” 180 m em cada direção entre 1971 e 2008, isso dá uma média de quase 5 metros por ano, e assim dá para calcular quando e se elas um dia vão atingir a vila nova. Além da cidade nova, as dunas estão avançando também para dentro da área de alagado, uma área extremamente sensível e rica em biodiversidade. E isso já está acontecendo, infelizmente. Pois bem, se os ventos continuarem soprando com a mesma força e direção, se as dunas andarem na mesma direção e ainda se houver bastante areia sobrando, as dunas demorariam 147 anos para avançar sobre a cidade nova! E o que pode ser feito? Bom, quando fui lá em 2012, os funcionários do parque já estavam tomando algumas iniciativas, como jogar palha de coco moída para fornecer matéria orgânica para o solo. Isso faz com que a vegetação cresça, ajudando a barrar o transporte de areia e, desta forma, diminui a mobilidade das dunas. Quando voltei, depois de um ano, havia acúmulo de areia nas cercas. Isso é um bom sinal de que a vegetação consegue conter bem o avanço de dunas. Agora é monitorar e ver o que vai acontecer! Uma outra medida muito importante que já foi tomada foi a de proibir a caminhada em qualquer lugar do campo de dunas. É claro que é muito legal fazer sandboard nas dunas, andar por qualquer lugar à vontade e ficar pulando nas dunas, mas em uma cidade em que o turismo é principalmente ecológico, devemos seguir algumas regras básicas. Quando uma pessoa anda sobre as dunas ela está ajudando na sua mobilidade e acelerando esse processo de movimento das dunas. Mas isto não é causado por uma pessoa só, estamos falando de muitas pessoas já que Itaúnas é um dos pontos principais de turismo no Estado. Então respeite essa regra e ande apenas onde já há trilhas demarcadas! A zona de alagado, com toda sua biodiversidade e a cultura da vila nova de Itaúnas, já está sofrendo com essa mobilidade das dunas. E quando for a Itaúnas se informe sobre a história do local, converse com os moradores para perguntar as histórias antigas (eles são super receptivos e adoram conversar) e aumente sua consciência ambiental. Conhecer o passado é muito importante para preservar o futuro! E boa viagem! Quem quiser ler mais sobre esse trabalho envie um e-mail para nerycn@gmail.com. Sobre Nery Contti Neto: Oceanógrafo, músico e apaixonado por viagens. Nasci rodeado pelo mar, morei em mais 4 lugares fora de Vitória e os 3 eram ilhas. Fiz mestrado em Oceanografia Geológica pela USP e atualmente trabalho com instrumentação Oceanográfica, com medição de ondas, correntes e marés. #ciênciasdomar #neryconttineto #convidados #dunas #oceanografiageológica
- Você conhece algum cientista brasileiro?
Por Izadora Mattielo Lembro-me de uma vez, quando eu estava fazendo o mestrado, que uma criança me perguntou o que eu fazia. Na hora eu fiquei paralizada por vários segundos, porque se já era difícil explicar para os meus pais o que eu fazia, imagina para uma criança! Mas na hora respondi: sou cientista! - achando que a criança iria entender e ter curiosidade para saber mais daquela instigante profissão. Mas pela cara de interrogação dela, vi que se eu tivesse falado que fazia mestrado com corantes vitais para monitorar o fitoplâncton marinho da água de lastro de navios, ia dar na mesma! Fonte Como eu já estava acostumada com essas reações, após eu contar o que eu fazia, nem fiquei frustrada. Mas até hoje tenho um sentimento de que podemos e devemos divulgar mais a ciência! Não é culpa da criança não entender o que um cientista faz. O que falta é divulgação desta carreira, não só através da mídia e dos diversos canais de comunicação, como também por nós cientistas. Um estudo divulgado na 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), sobre o interesse dos brasileiros em Ciência e Tecnologia (C&T) demonstrou que os brasileiros possuem 67% de interesse em C&T, enquanto os europeus manifestam 53% de interesse. Porém, a pesquisa enfatiza que apesar deste grande interesse dos brasileiros, há baixo acesso a esse tipo de informação no país e que as pessoas têm dificuldades para saber onde encontrar estes assuntos, ainda mais de fontes confiáveis, sendo que a maioria delas buscam em programas de televisão. Fonte Apesar do significativo interesse em ciência da população brasileira, os cientistas possuem certas dificuldades para divulgar sua pesquisa para a sociedade. Embora o currículo lattes já tenha um local especial para indicar quando o pesquisador trabalha com popularização de ciência e tecnologia, essas atividades tendem a ser deixadas para segundo plano, pois dentro das universidades e centros de pesquisa, a pressão para publicar os resultados em revistas científicas específicas é muito grande e a linguagem utilizada nessas revistas é bem diferente da linguagem de divulgação para o grande público. E mesmo que o pesquisador tenha vontade de divulgar sua pesquisa em outros canais de comunicação, este tipo de atividade ainda não é amplamente valorizada no mundo acadêmico, embora os três pilares da universidade sejam ensino, pesquisa e extensão. Para quem não sabe, extensão tem a ver com a interação entre universidade e comunidade, e divulgação de ciência é uma atividade de extensão. Infelizmente, o que ocorre é que se o pesquisador investir tempo em divulgar suas descobertas e avanços em uma linguagem mais acessível, geralmente em blogs, redes sociais, revistas gerais e reportagens, ele pode ficar em desvantagem em sua carreira científica por não alcançar a produtividade esperada, em termos de publicação em periódicos internacionais específicos. Afinal de contas, a principal métrica utilizada para avaliar a produtividade de um pesquisador é baseada na quantidade de artigos publicados em periódicos internacionais de sua área específica. Na prática o que acontece é: se um pesquisador não alcançar um certo número de artigos publicados nessas revistas por ano ele vai sofrer as consequências, podendo chegar a ser descredenciado de cursos da pós-graduação. Em outras palavras, ele pode ficar mal posicionado perante seus colegas e às agências financiadoras, que hoje valorizam apenas um único tipo de produção acadêmica no momento da liberação de verbas para pesquisas. Fonte Mas não é apenas dentro das universidades e centros de pesquisa que essa falta de incentivo ocorre. Faltam também alicerces para que jovens cientistas possam se interessar, estudar e exercitar a divulgação científica em massa. No Brasil ainda são poucos os cursos voltados para a formação de “Divulgadores Científicos”, à exemplo dos cursos oferecidos pelo Labjor e pelo Museu da Vida. Para algumas pessoas pode ser mais fácil, mas na maioria das vezes não é trivial “traduzir” um estudo técnico científico para uma linguagem clara e amplamente acessível, sendo de grande valor uma formação especializada. Esta é uma profissão igualmente apaixonante e muitos profissionais dedicam-se somente à esta atividade, “traduzindo” estudos das mais variadas áreas para o público geral. São cientistas, jornalistas e profissionais da comunicação que se dedicam em restabelecer a “ponte” entre os produtores de ciência e sociedade. Mas será que toda a origem deste problema está nas universidades e na ineficiência da divulgação? Não podemos deixar de mencionar o papel do ensino fundamental e médio em estimular o interesse das crianças e adolescentes pela ciência! Não é apenas para formar profissionais da área, mas as competências desenvolvidas quando se faz ciência como curiosidade,organização, elaboração de experimentos, métodos, testar hipóteses, solucionar problemas e raciocínio lógico, são muito importantes para o desenvolvimento humano em qualquer área. Apesar de ainda haver poucas escolas com disciplinas dedicada à filosofia da ciência, existem algumas iniciativas de Institutos, Fundações e até mesmo de universidades. Um exemplo é o programa Febrace da Universidade de São Paulo, que tem como objetivo aproximar escolas públicas e privadas das universidades e estimular o contato de adolescentes com a ciência através de projetos criativos e inovadores (detalhes aqui). No final do programa, há premiação para os alunos com os melhores projetos. Quem sabe, deste programa não surgirão futuros jovens cientistas? Pelo menos todos terão a experiência de ter feito ciência e saberão um pouco mais sobre essa profissão. Fonte Um outro déficit é a pequena divulgação da pesquisa científica para as empresas do país. Muitas acabam importando a tecnologia de fora ou gastando tempo e dinheiro nos seus setores de Pesquisa e Desenvolvimento, sendo que alguma universidade já está desenvolvendo o mesmo feito. Ou seja, a falta de comunicação entre eles reflete até na baixa contratação dos jovens cientistas que querem atuar na pesquisa aplicada. A Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e diversas agências de inovação das universidades têm feito grande esforço para aproximar e fomentar a inovação entre universidades e empresas (tema para outro post). Mas não são só problemas. Uma recente tecnologia tem aproximado mais a sociedade dos cientistas. O crowdfunding é uma plataforma online em que as pessoas postam seus projetos para conseguir financiamento coletivo. Neste caso, o pesquisador posta seu projeto de pesquisa, explicando seus objetivos de maneira clara, além dos benefícios que trará e os custos de cada etapa. Neste momento é crucial explorar o “marketing científico”, pois a própria população irá julgar o projeto e aqueles que se engajarem na causa contribuirão financeiramente para o projeto acontecer. Resumindo, apesar destas excelentes iniciativas, ainda estamos longe do ideal de divulgação da ciência e tecnologia no Brasil. Vamos fazer um pequeno teste: Você sabe me dizer o nome de um grande cientista brasileiro? E o que ele fez? Comente no final desse post e conte para nós qual cientista brasileiro você conhece! Se a ciência fosse mais incentivada no país, teríamos mais divulgação desta carreira, maior valorização e um número maior de jovens interessados, com potencial para se tornarem grandes cientistas, melhorando o desenvolvimento tecnológico e econômico do nosso país. #vidadecientista #izadoramattielo #ciência #ciênciaetecnologia #pesquisa
- Three minutes, one slide, and lots of fish eggs
By Jana M. del Favero Edited by Katyanne M. Shoemaker Would you be able to explain your research to an audience of academics from all different disciplines, in just 3 minutes, with only one slide? That is the premise of a competition called the Three Minute Thesis (3MT). 3MT was created at the University of Queensland, Australia in 2008, and it has been performed at the University of Massachusetts Dartmouth, USA since 2011. (Details about the competition can be found here: http://www.threeminutethesis.org). While thinking about the goals of this blog, I decided to participate in the competition this year, as it does exactly what we try to do here: talk about science to a diverse audience while keeping it interesting and educational. I signed up thinking only about the training; I would have to prepare and memorize my text and then deliver the presentation (in English!). Of course, I also had the ultimate goal of winning (who turns down a chance to earn $1,000?). Unfortunately, I did not get rich on April 29th, 2015, but as expected, it was great practice and lots of fun. It was interesting to watch presentations about the research from various fields: engineering, arts, administration, etc. There were nervous people and people who seemed to have come straight from a theater stage. You can watch some videos of previous years by visiting the following website: http://www.umassd.edu/graduate/spotlights/three-minutethesiscompetition/. You can read the transcript of my talk and learn more about my research below: Many people do not know, but fisheries management is not just based on adult population data. It is also important to study early life stages for better stock management. For example, as fish eggs are usually spawned in the water column, knowing when and where they are helps to define spawning sites and periods. But, before doing any kind of fish studies, it is necessary to know who they are. Fish egg identification is time consuming and difficult. After sampling on board, you need to sort all of the fish eggs from the plankton sample, using a microscope. Sorting the eggs from the family I am studying is easy because their eggs have an ellipsoid shape. The problem is reaching the species identification. As each group presents different size and shape, the identification has previously been done by manually measuring each egg and then counting. In my doctoral thesis, I want to verify long-term fluctuations in the abundance and distribution of eggs from a fish named Argentine anchovy on the Brazilian coast. This small fish is one of the most common fisheries resources in Argentina and Uruguay. At the Brazilian coast they haven’t been commercially fished yet, but some studies have suggested that Argentine anchovy can be sustainably fished in Brazilian waters. Coming back to my thesis, when I mentioned that I am studying long-term fluctuations, I didn’t mention that by long-term I meant 40 years of data, totaling almost 2000 samples. That is a huge amount of samples and it would take my whole PhD period just to identify all the eggs. The solution was to create a faster and more accurate methodology, so I did it. I used a digital camera attached to a microscope to image the eggs, and using the photos, I got the measurements. After that, I created a model that automatically gave me the counts of eggs within each species. This new model has over 90% accuracy and can be used by any researcher to optimize their time and effort. In the end, besides taking four years to identify the eggs for my thesis, I identified more than 100,000 anchovy eggs in just one year, allowing enough time to continue my research project. If you are interested in this methodology, the paper is already in publication, and it can be accessed in the following link or requested by email. http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jfb.12594/abstract See you soon. #fisheggs #chatjanamdelfavero #ocean #marinescience #chat
- Devastatingly beautiful: the growing problem of Lionfish
By Corey Eddy and Jana M. del Favero Edited by Katyanne M. Shoemaker Two lionfish have been sighted in Brazil, both in the southeastern area of Arraial do Cabo (Rio de Janeiro). The first one was in 2014 and another more recently in March 2015. But with only two individuals spotted, why should we care? Brazilian experts are still debating how these lionfish ended up in the Brazilian waters and if there may be more individuals in deeper waters, not observable by divers (details here). While there is no consensus, I asked a colleague, Corey Eddy, to write about the invasive population of lionfish in Bermuda; I wanted to know what is being done there and what measures could be adopted in Brazil. Below it is the text he wrote: "Since the discovery of lionfish in Florida in 1985, their population expanded rapidly to stretch from Venezuela to Rhode Island (US). It was thought their range of invasion could eventually stretch as far south as Uruguay. As lionfish are recognized and avoided by prey in their native territory, they have evolved into opportunistic predators with broad diets. However, due to prey naivety in their invasive range, lionfish are able to consume large quantities of invertebrates, juvenile fish, and small-bodied adult fish, many of which play important ecological or economic roles. Consequently, research shows that lionfish can reduce juvenile reef fish populations by nearly 80% in as little as five weeks. Bolstered by the lack of any natural predator, lionfish populations in the Atlantic have reached densities far greater than in their native range, with the potential to affect community structure, biodiversity, and the health of coral reef ecosystems. Fortunately, they are delicious and it only takes one minute to remove their dangerous spines, making them perfectly safe to handle. If we can create a fishery for them, we can save the ocean. We have to eat them to beat them." Representation of the worldwide lionfish distribution. Diagram by Naira Silva. Lionfish illustration's Source. My doctoral work is part of a larger project, funded through the UK’s Department of Environment, Food and Rural Affairs, that is investigating the biological and ecological characteristics of the lionfish population around Bermuda and the potential impact lionfish may have upon the structure and function of Bermuda’s coral reef ecosystem. For my first chapter, I will be using the data we collect on lionfish abundance and distribution to estimate the population size. Our team is assessing lionfish abundance via underwater visual surveys at 15 sites in each of five depth zones across the Bermuda platform (10, 20, 30, 45, and 60m) using SCUBA or appropriate technical diving equipment (i.e. trimix diving with multiple tanks). Using a roving search protocol that encompasses cryptic habitats, divers record all lionfish seen and attempt to capture each individual using a pole-spear. Following capture, all lionfish are measured, weighed, dissected, and processed for further analyses. Belt-transect surveys of reef fish, focusing upon small and cryptic species, are conducted concurrently to determine the abundance and distribution of potential prey. A number of these sites are being resurveyed after one year to assess re-colonization rates. This data will also facilitate the development of a distribution map that aids removal activities targeting lionfish at key locations and times that account for seasonal population fluctuations and movement patterns. My next two chapters will document the life history characteristics of this species to estimate population growth as it pertains to their potential ecological impact. In chapter two, I will examine the demographics of the lionfish population as well as growth rates and longevity of lionfish in Bermuda. This work utilizes standard otolith (“fish ear bone”) aging techniques applied to specimens captured during our underwater surveys and opportunistically from other divers, commercial fishermen, and permitted lionfish hunters. Following this, my third chapter will examine the reproductive condition and quantify the fecundity of lionfish. Gonads will be weighed, sectioned, and analyzed by traditional histological methods to determine overall fecundity, reproductive seasonality, and the developmental stage of fish, thus providing an estimate of the reproductive potential driving the overall population growth. In my final chapter, we are investigating the feeding ecology of lionfish to explore the impact they may have on the native fish and invertebrate communities, as well as the entire local ecosystem, and to identify factors driving the population’s distribution. This research involves conventional stomach content analysis (SCA) complemented with more advanced stable isotope analysis (SIA) that reveals details not detectable through traditional methods. Because the stable isotope ratios of carbon (13C/12C) and nitrogen (15N/14N) in the tissues of predators are directly related to the ratios found in their prey, the change in these ratios relative to a standard, δ13C and δ15N, are used to indicate the primary carbon sources for a consumer and an estimate of trophic position, respectively. To further indicate the potential impact of lionfish on Bermuda’s reef ecosystem, we will also perform this analysis on prey species (i.e. those identified by the SCA) and others we know are competing with lionfish for these same resources. By plotting δ13C and δ15N of lionfish and these various species, we can see the extent to which lionfish are utilizing resources needed by native species. When completed, this project will estimate the extent to which invasive lionfish could impact Bermuda’s coral reef ecosystem and help mitigate that impact by providing data on lionfish abundance and distribution to assist the Bermuda Lionfish Task Force and the Department of Environmental Protection (http://www.lionfish.bm) in developing a comprehensive plan that facilitates large-scale, long-term removal of this species from local waters. Controlling and reducing the continued growth of the lionfish population is a crucial part of any effort to minimize negative impacts on native fish species and coral reef ecosystems, and avoid secondary impacts on fisheries and tourism. In addition to my doctoral research, I am heavily involved in public education and one of the projects I work on may be very useful to implement in Brazil. As a volunteer for the Ocean Support Foundation (http://www.oceansupport.org), I run the Bermuda Lionfish Culling Program on behalf of the Department of Environmental Protection. This program allows any Bermudian resident, over 16 years of age, to receive the proper training and a special permit to hunt lionfish. This is different from a traditional spearfishing license because permitted lionfish hunters are allowed to hunt lionfish while using SCUBA, within one mile of shore, and on shipwrecks and other protected sites, situations normally forbidden by Bermuda law. To date, we have certified over 500 hunters, all of whom are a major help in removing lionfish and keeping Bermuda’s reefs clean and healthy. As Brazil has only recently been invaded, these early days are the perfect opportunity to mobilize SCUBA and free divers, fishermen, and environmentalists to get into the water and start hunting. Every lionfish that is removed greatly helps to preserve and protect Brazil’s marine environment, especially at this early point, when there may be very few lionfish around. Corey Eddy biography: Corey Eddy is a PhD candidate at the University of Massachusetts Dartmouth. He received his bachelor’s degree from the University of Rhode Island, whose study abroad program first brought him to Bermuda for a semester at the Bermuda Institute of Ocean Sciences. He is also a Fellow through the National Science Foundation’s Graduate Research Program and a member of the Bermuda Lionfish Task Force. As a volunteer for the Ocean Support Foundation, he developed and currently manages the Bermuda Lionfish Culling Program on behalf of the Department of Environmental Protection. His research interests focus on studying the life history characteristics, habitat use, and feeding ecology of ecologically important predators. Contact: corey.eddy@umassd.edu #conservation #invited #chatjanamdelfavero #lionfish #nairasilva #coreyeddy #marinescience #chat
- Um “mar” de algas
Por Cássia Goçalo e José Eduardo Martinelli Filho Você já deve ter ido a uma praia e se decepcionado quando viu muitas algas marrons boiando na água do mar. Além do mal cheiro, uma grande dificuldade ao nadar... Pois é, essas algas são geralmente inofensivas aos seres humanos e podem ser fontes de substâncias anticoagulantes, antioxidantes, antipiréticos e analgésicos, além de funcionarem como biofiltros da poluição marinha causada pelos seres humanos. Está ocorrendo um aumento na frequência e na intensidade das algas encalhadas nas praias ao redor do mundo. O fenômeno chamado de “marés de algas” seria explicado pela eutrofização costeira (aumento de nutrientes no ambiente marinho, relacionado a poluição). As “marés de algas” podem prejudicar as economias locais baseadas no turismo, aquicultura e a pesca artesanal tradicional, impedindo pequenos barcos de navegarem e entupindo tanques de cultivo. Há algumas semanas houve uma invasão de Sargassum (um tipo de algas marrons ou pardas) no litoral do estado do Pará. As algas também foram registradas em grandes quantidades em Fernando de Noronha e no estado do Maranhão. Como relatado pelo Prof. Martinelli da Universidade Federal do Pará “Elas são transportadas pelo oceano através das correntes marinhas por quilômetros de distância. A floração de algas que ocorreu no Brasil, possivelmente é provinda do mar do Sargaço e do Caribe. Essas algas podem ser utilizadas como fertilizante, sendo colhidas antes de atingir a costa, processadas e distribuídas aos agricultores tradicionais”. Confira a reportagem completa aqui. Algas pardas do gênero Sargassum encalhadas na praia do Atalaia, em Salinópolis, Estado do Pará, durante o mês de maio de 2015. As algas do gênero Sargassum são encontradas em bancos de algas nos mares tropicais e subtropicais e conseguem flutuar pois possuem “bolsas” de ar. Servem como habitat de muitos organismos marinhos e espécies de peixes como o “porquinho”, até mesmo golfinhos e tartarugas foram observados entre as algas. No post Algas flutuantes: o meio de transporte dos invertebrados marinhos vimos como os animais são transportados por macroalgas flutuantes do gênero Macrocystis, da mesma forma que ocorre com o Sargassum. O encalhe de algas no litoral do Pará é um fenômeno recente, só chamou a atenção quando em 2013, grandes quantidades foram relatadas uma vez no município de Salinópolis. Já em 2014, pilhas de algas se acumularam durante dois períodos no mês de maio. Em 2015, até o momento, já foram três eventos. Para ilustrar o tamanho do problema, para uma única praia (Atalaia, município de Salinópolis) o professor estimou cerca de 174 e 234 toneladas de alga para os dois encalhes ocorridos em 2014. Tais eventos duram entre 2 a 5 dias, período em que as praias ficam lotadas de algas. O turismo é afetado uma vez que, expostas ao sol, as plantas entram em rápida decomposição, liberando um cheiro desagradável para a maioria dos banhistas. Já as crianças que moram no local se divertem com a pilha de algas, enquanto pescadores reclamam da grande quantidade do material em suas redes de arrasto. Algas pardas do gênero Sargassum encalhadas na praia do Atalaia, em Salinópolis durante o mês de maio de 2015. Descrevendo assim, as algas até parecem nocivas para o ambiente e para as atividades humanas, mas tais organismos podem ser benéficos, inclusive para a economia local se forem utilizadas as estratégias necessárias. Outras espécies de Sargassum são utilizadas em países como o Japão e a China na alimentação e também como fertilizantes, além de matéria-prima para a extração de gelatina e até mesmo de álcool. Para a região afetada na costa paraense, o mais viável, num primeiro momento, seria a coleta das algas e distribuição para os agricultores locais, para a produção de adubo. Vale lembrar que o complexo de espécies Sargassum natans/fluitans são algas que podem fechar seu ciclo de vida na coluna de água, ou seja, independente do fundo marinho. As algas encontradas nas praias da região Norte do Brasil e em Fernando de Noronha pertencem justamente a tais espécies. As mesmas também são responsáveis pela formação do mar de Sargassum no Caribe. O professor Martinelli apresenta duas explicações sobre a origem das algas: a primeira é de que essas algas se desprendam do mar de Sargaço e sejam transportadas até a costa norte do Brasil. A segunda é de que uma população dessas algas já esteja se desenvolvendo recentemente na costa da região norte do Brasil. Amostras de algas foram enviadas para as professoras Maria Teresa Széchy e Beatriz de Barros Barreto, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, para sequenciamento do DNA e assim dar subsídios para as explicações levantadas. Estudos sobre as marés de algas são considerados essenciais para se obter reais perspectivas ambientais e econômicas futuras para o Brasil, em termos de viabilidade e aproveitamento deste recurso natural ao invés de apenas considerá-las como "ervas daninhas". Saiba mais em: http://oceanexplorer.noaa.gov/explorations/03edge/background/sargassum/sargassum.html Artigos e sites recomendados: Montes, R. C. Estudo Ficoquímico da alga marinha Sargassum vulgare var. nanum E. de Paula (Sargassacea) do litoral paraibano. Universidade Federal da Paraíba. Dissertação de Mestrado, João Pessoa, 2012. 115 p. Smetacek, V.; Zingone, A. 2013. Seaweed tides on the rise. Nature. Vol 504 p. 84-88. http://g1.globo.com/pa/para/jornal-liberal-1edicao/videos/t/edicoes/v/toneladas-de-algas-marinhas-invadiram-as-praias-de-salinas-no-nordeste-do-para/4111340/ Sobre o convidado: O professor José Eduardo Martinelli Filho (também conhecido como Zé Du) foi aluno de mestrado e doutorado do Instituto Oceanográfico da USP e colega das editoras deste blog. Foi professor substituto na UNESP São Vicente em 2008, professor assistente na UFPA campus de Altamira entre 2009 a 2012 e professor adjunto da Faculdade de Oceanografia da UFPA em Belém, desde 2012. Formado em Biologia, atua principalmente nos temas Oceanografia Biológica, Ecologia Marinha e Zoologia de Invertebrados. #algas #convidados #floração #cássiaggoçalo #joséeduardomartinellifilho #ciênciasdomar
- Pelo nosso imenso amor...... ao mar!!!!
Por Cássia Gôngora Goçalo Cássia e Newton, biólogos e amantes do mar. Trocamos nossos primeiros olhares em uma comemoração de defesa de mestrado que acontecia no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo e, deste dia em diante, nos apaixonamos cada vez mais. Acreditem... foi amor à primeira vista!!! A cada dia, mês e ano que passava o nosso relacionamento se tornava mais intenso e a necessidade de fazer as coisas do dia a dia juntos aumentava. Foi assim que conseguimos administrar nosso tempo como casal em casa e como equipe em laboratórios do IOUSP e em embarques científicos. Após anos de relacionamento ficamos noivos e o mar continuou a nos acompanhar. Mudamos para o litoral norte de São Paulo para desenvolver um projeto de pesquisa juntos e então tínhamos que fazer coletas mensais, sendo a equipe praticamente nós dois, daí nos tornamos cada vez mais um só. Conseguimos conciliar o trabalho, o lazer e o lar. A parceria em ter uma pessoa de confiança te apoiando e auxiliando nas atividades em laboratório ou em campo fazia a nossa relação se fortalecer mais. Poder viajar e participar de congressos também era um ponto forte a nosso favor, assim como o auxílio nas correções de trabalhos e elaboração de pôsteres. Montamos um micro laboratório em casa, onde conseguimos analisar amostras e ensinar um ao outro os nossos conhecimentos, eu de ictioplâncton e Newton de zooplâncton marinho. Essa parceria nos rendeu diversos trabalhos de consultoria ambiental juntos, pois o conhecimento e os trabalhos se completavam. A minha mãe sempre dizia a todos: “a Cássia só poderá casar com um biólogo, para poder compreendê-la na sua dedicação à ciência”. Na mosca... praga de mãe pega kkkkk... e assim se sucedeu, eu e Newton resolvemos casar e celebrar nossa união, junto à quem???? Ao mar... só poderia ser o MAR. Nos casamos em Ubatuba - SP, sendo a cerimônia e a festa realizadas na praia, pé na areia. E claro, a lua de mel não poderia ser longe “dele”! Mas toda essa experiência que vivemos foi fundamental para que eu pudesse concluir meu doutorado, com dedicação de 24 horas à tese, uma fase muito intensa para quem está na elaboração do trabalho e mais intensa para as mulheres, que precisam deixar de lado algumas tarefas de casa, o marido, o cachorro e até mesmo as festas de família... Não é NADA fácil... O apoio do Newton e sua compreensão neste momento era o que me dava forças para continuar na frente do computador, lendo artigos e escrevendo os parágrafos (veja aqui sobre meu trabalho de doutorado). Atualmente Newton está trabalhando offshore (embarcado em navios de apoio às plataformas de petróleo), desenvolvendo um projeto de monitoramento ambiental, o que exige que ele fique 14 dias embarcados e 14 dias em terra. Esse trabalho permitiu que vivêssemos uma nova fase do nosso relacionamento, pois acostumados a estar juntos em todos os períodos do dia, agora estamos ligados pelo coração em alto mar (e pelo WhatsApp kkkk ...). Como todo relacionamento, também tivemos momentos de tempestades e calmarias, assim como no mar, mas aprendemos a lidar com as situações e a enfrentar as tempestades, para ser sincera tivemos mais momentos de boas pescarias!!! Aprendemos que o RESPEITO é a base do relacionamento. A AMIZADE é a sustentação e viver intensamente a vida é o AMOR. Dedico este post a todos os casais que se conheceram através do mar... e que esse gigante possa inspirar mais pessoas a se apaixonarem. Feliz Dia dos Namorados!!! #amor #apaixonados #diadosnamorados #oceano #mulheresnaciência #cássiaggoçalo
- Bonitinho, mas... ordinário
Por Corey Eddy e Jana M. del Favero Dois peixes-leão já foram avistados no Brasil, ambos na região de Arraial do Cabo (RJ), um primeiro em 2014 e o segundo agora recentemente, em março de 2015. Mas, se só foram dois exemplares, por que se preocupar? Antes de continuar a leitura assistam o curto vídeo do programa Fantástico da rede Globo (acesse aqui), para maiores informações dos problemas que essa espécie, de origem do Indo-Pacífico, causa atualmente no Caribe e para que se tenha uma noção do quão rápido que ela se alastrou por lá. Os especialistas brasileiros ainda estão debatendo como esses Peixes-leão foram parar em águas brasileiras e se há mais indivíduos em águas mais profundas, que não seriam observados por mergulhadores (detalhes aqui). Porém, enquanto não há um consenso, fui conversar com um colega da University of Massachusetts (EUA) que estuda a população invasora de Peixe-leão nas Bermudas, para saber o que está sendo feito por lá e que medidas poderiam ser adotadas no Brasil. Abaixo traduzo o que ele me contou: Desde a descoberta do Peixe-leão na Flórida (EUA) em 1985, sua população expandiu rapidamente da Venezuela até Rhode Island (EUA). Pesquisadores acreditam que sua expansão pode eventualmente atingir até o Uruguai. E então, desde o ano passado, dois Peixes-leão já foram avistados no Brasil! Esquema representativo da distribuição do peixe-leão ao redor do mundo. Diagramação por Naira Silva. Fonte Como em seu ambiente de origem, o Indo-Pacífico, os Peixes-leão são reconhecidos e evitados pelas suas presas, eles evoluíram para predadores oportunistas com dieta ampla (em outras palavras, comem de tudo o que tiver disponível). Porém, devido a ingenuidade de suas presas no ambiente invadido, os Peixes-leão são capazes de selecionar e consumir grandes quantidade de invertebrados, peixes juvenis e peixes adultos pequenos, muitos dos quais desempenham importantes papéis ecológicos e econômicos. Para se ter um ideia, os Peixes-leão podem reduzir as populações de peixes juvenis de um recife em quase 80% em menos de cinco semanas! Além disso, amparado pela ausência de um predador verdadeiro, populações de Peixe-leão no Atlântico têm atingido densidades bem maiores do que no Pacífico, afetando a estrutura da comunidade, a biodiversidade e a saúde de recifes de coral. Felizmente, eles são deliciosos, e demora somente 1 minuto para remover os perigosos espinhos, tornando-os perfeitamente seguros para manusear. Se houver pesca de Peixe-leão, nós poderemos salvar o oceano. “We have to eat them to beat them” (Nós temos que comê-los para vencê-los). Meu trabalho de doutorado é parte de um projeto financiado pelo “UK’s Department of Environment, Food and Rural Affairs” que está investigando características biológicas e ecológicas da população de Peixe-leão ao redor das Bermudas e o impacto que eles podem causar na estrutura e funcionamento do ecossistema recifal de lá. Para o meu primeiro capítulo eu vou utilizar dados de abundância e distribuição do Peixe-leão para estimar o tamanho populacional. Os peixes são coletados através de mergulhos em 15 locais e em 5 diferentes profundidades (10, 20, 30, 45 e 60 m) usando uma lança. Todos os indivíduos coletados são pesados, medidos, dissecados e processados para futuras análises. Depois de um ano, todos os locais são novamente observados para calcular a taxa de recolonização. Esses dados também irão facilitar o desenvolvimento de um mapa que auxiliará as atividades de remoção do Peixe-leão em locais-chave. Nos próximos capítulos estudarei a história de vida dessa espécie para calcular o seu crescimento populacional. Para calcular crescimento e quanto tempo o Peixe-leão vive, utilizarei o otólito dos indivíduos capturados tanto durante a pesquisa, quanto por outros mergulhadores e pescadores (Não lembra o que é otólito? Clique aqui). Além disso, através das gônadas vou analisar os aspectos reprodutivos e estimar a fecundidade (quantos “ovos” são desovados por cada fêmea em média). Por fim, analisarei o estômago do Peixes-leão amostrados para saber o que eles estão comendo nas Bermudas, investigando os impactos que eles podem estar causando em peixes e invertebrados nativos e identificando fatores que podem influenciar a distribuição da população. Quando finalizado, meu doutorado irá ajudar o “Lionfish Task Force Bermuda” (http://www.lionfish.bm) e o Departamento de Proteção Ambiental local no desenvolvimento de um plano para a remoção a longo prazo desta espécie de águas locais. Controlar e reduzir o crescimento contínuo da população de Peixe-leão é uma parte crucial de qualquer esforço para minimizar os impactos negativos sobre as espécies de peixes nativas e os ecossistemas de recifes de coral, e evitar impactos secundários sobre a pesca e o turismo. Além de minha pesquisa de doutorado, estou profundamente envolvido na educação pública e uma das minhas atividades pode ser uma ideia muito útil para o Brasil. Como voluntário para a “Ocean Support Foundation” (http://www.oceansupport.org), eu gerencio “Bermuda Lionfish Culling Program” (programa de abate do Peixe-leão). Este programa permite que qualquer residente das Bermudas, com mais de 16 anos de idade, possa receber a formação adequada e uma autorização especial para caçar Peixe-leão. Até o momento, temos certificadas mais de 500 caçadores, os quais são uma grande ajuda na remoção do Peixe-leão e na manutenção dos recifes. Como o Brasil foi invadido só recentemente, o momento inicial é perfeito para mobilizar mergulhadores, pescadores e ambientalistas para entrar na água e começar a caçada. Cada Peixe-leão que é removido ajuda muito para preservar e proteger o ambiente marinho do Brasil, especialmente quando ainda são poucos os Peixes-leão observados nas redondezas. Sobre o convidado: Corey Eddy é doutorando na Universidade de Massachusetts Dartmouth (EUA). Ele fez a graduação na Universidade de Rhode Island (EUA), cujo programa levou-o para Bermudas por um semestre no “Bermuda Institute of Ocean Sciences”. Quando estava por lá passou a realizar as atividades descritas no texto. Os seus interesses concentram-se em estudar as características da história de vida, uso de habitat e ecologia alimentar de predadores ecologicamente importantes. Contato: corey.eddy@umassd.edu #conservação #convidados #nairasilva #peixes #janamdelfavero #coreyeddy
- Duas razões para assistir o documentário “Mission Blue”
Por Jana del Favero e Catarina R. Marcolin No nosso primeiro post da sessão mulheres “ Desafios antigos para mulheres atuais” recebemos uma sugestão do Prof. Otto Müller P. Oliveira para que fizéssemos uma postagem sobre o documentário “Mission Blue”. E de fato, esse documentário merece uma menção especial em nosso blog, pois além da excelente produção, o conteúdo é inspirador. O documentário “Mission Blue” foi lançado em 2014 e conta a história desta incrível bióloga marinha, Sylvia Alice Earle, exploradora, autora, mãe, avó (entre outros mil títulos possíveis) e sua campanha para criar uma rede global de áreas marinhas protegidas, as chamadas “Hope Spots” (áreas de esperança). Ao assistir o filme é impossível não se apaixonar e se inspirar por dois "personagens". O primeiro é a própria organização, também chamada de Mission Blue, que foi formada em resposta ao prêmio recebido por Sylvia Earle no ano de 2009 no “TED PRIZE WISH” (assista a palestra aqui). Nessa palestra, a Dra. Earle faz um apelo para que se usem todos os meios possíveis (filmes, expedições, internet, novos submarinos) numa campanha para conquistar apoio público que suporte uma rede global de áreas marinhas protegidas. Se esses “pontos de esperança” forem grandes o suficiente, será possível salvar e restaurar o coração azul do planeta! Hoje o Mission Blue é formado por mais de 100 grupos que se preocupam com a conservação dos oceanos, desde empresas multinacionais até equipes de cientistas. O site do Mission Blue traz uma interessante e assustadora estatística: atualmente apenas 2% dos oceanos estão completamente protegidos, indicando a importância deste tipo de iniciativa. Fonte O segundo motivo é a personagem principal, Sylvia Earle, uma senhora que fará 80 anos em agosto deste ano e continua ativamente estudando, explorando, mergulhando e defendendo os oceanos (saiba mais). Sylvia terminou o colégio com apenas 16 anos, a graduação com 19 e o mestrado com 20. Durante o doutorado esse ritmo foi diminuído, devido ao casamento e filhos, mas logo Sylvia retornou ao seu ritmo frenético. Em 1964, quando seus filhos tinham apenas 2 e 4 anos ela viajou por 6 semanas para participar de uma expedição no Oceano Índico. Segundo Sylvia, ela não sabia que seria a única mulher a bordo, pois tinha sido convidada como única botânica, não como única mulher. Um repórter a abordou em Mombassa, no Kenia, de onde o navio partiria, e Sylvia relata que estava interessada em falar do trabalho, mas tudo que o repórter queria saber era como seria sua estadia em alto mar com tantos homens. No final, a chamada da matéria foi: "Sylvia Sails Away With 70 Men, But She Expects No Problems" (Sylvia navegará com 70 homens, mas ela não espera problemas). Apesar de tudo ter corrido aparentemente bem, Sylvia deixa implícito em algumas entrevistas que as expedições científicas podem ter levado ao fim o seu primeiro casamento. Essa é uma dificuldade recorrente encontrada no mundo científico, afinal de contas são muito comuns os trabalhos onde o(a) cientista precisa se ausentar por dezenas de dias, às vezes meses, sem comunicação alguma com a família. Em 1966 Sylvia terminou seu doutorado e em 1968 viajou à 30 m de profundidade nas águas de Bahamas a bordo de um submersível, estando grávida de 4 meses do seu terceiro filho e já no seu segundo casamento. Em 1969 ela se inscreveu para participar do projeto Tektite, no qual cientistas viveram semanas em um laboratório no fundo do mar, a 15 m de profundidade. Apesar de mais de 1000 horas de mergulho e da excelente proposta escrita, não foi permitido à Sylvia que convivesse com outros homens debaixo d’água no Tektike I. Mas no ano seguinte, houve o convite para que Sylvia liderasse o Tektite II, então com uma equipe só de mulheres. O sucesso dessa equipe de mulheres foi um importante marco e abriu precedentes para que futuras expedições aquáticas incluíssem mulheres em suas equipes, e isso influenciou ainda a inclusão de mulheres em expedições espaciais. Depois de sua experiência como “sereia”, Sylvia se tornou um rosto popular na mídia e sua carreira decolou (diríamos que além de tudo, ela tem um rosto muito belo). Em 1979 Sylvia caminha no fundo oceânico em uma profundidade nunca então pisada por qualquer outro humano, usando o chamado JIM SUIT, a quase 400 m de profundidade. Essa aventura resultou no livro “Exploring the Deep Frontier”. Na década de 80, junto ao engenheiro Graham Hawkes, ela começou uma empresa para criar veículos submersíveis, como o Deep Rover. Essa parceria culminou em seu terceiro casamento, sendo que dessa vez seus únicos filhos foram os submarinos por eles criados. Uma de suas filhas atualmente trabalha com ela em sua empresa. Ao perguntarem se Sylvia teve problemas em conciliar família e carreira, ela diz que sim, vários, e que ela tentou rearranjar sua vida, tendo um laboratório e uma biblioteca dentro de casa. Para as mulheres que sonham em seguir uma carreira científica e formar famílias, Sylvia aconselha: “Tentem, nunca se saberá como será se não tentar”. Fonte Além do próprio documentário, recomendamos a entrevista em: http://www.achievement.org/autodoc/page/ear0int-1 E que vejam o curto vídeo: http://voices.nationalgeographic.com/2013/06/14/in-her-words-sylvia-earle-on-women-in-science/?source=newsbundlearticles #biologiamarinha #carreira #mulheresnaciência #oceano #TEDtalks #catarinarmarcolin #janamdelfavero